CONTEXTUALIZAÇÃO DA GUERRA DO PARAGUAI NOS LIVROS DIDÁTICOS CONTEXT OF THE PARAGUAYAN WAR IN THE TEXTBOOKS

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Transcrição:

CONTEXTUALIZAÇÃO DA GUERRA DO PARAGUAI NOS LIVROS DIDÁTICOS CONTEXT OF THE PARAGUAYAN WAR IN THE TEXTBOOKS Luiz Paulo Ferreira 1 Eva Faustino da Fonseca de Moura Barbosa 2 RESUMO: Em 2014, alguns historiadores realizaram pesquisas que revolucionaram antigas versões sobre a economia do Paraguai antes do conflito, e, o verdadeiro interesse da Inglaterra na Guerra. Sendo assim, esse trabalho analisou a maioria dos atuais conteúdos sobre a Guerra do Paraguai, descritos nos livros didáticos utilizados nas escolas públicas estaduais de Campo Grande - MS, e, as correlações destes conteúdos com as novas pesquisas apresentadas em 2014. Nessa pesquisa foram adotados os procedimentos sugeridos por Lakatos e Marconi, como, por exemplo, levantamento de fontes variadas, ou seja, pesquisa documental, fontes secundárias do meio eletrônico e pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Guerra do Paraguai. Livros didáticos. Fronteira. ABSTRACT: In 2014, some historians conducted research that revolutionized older versions of Paraguay's economy before the conflict, and the true interests of England in the war. Thus, this study analyzed the most current content on the Paraguayan War, described in textbooks used in public schools of Campo Grande - MS, and the correlations of these contents with the new research presented in 2014. In this research were adopted procedures suggested by Lakatos and Marconi, such as: desk research, secondary sources of electronic media and bibliographic research. Under these circumstances, consolidated in a varied collection of sources, for the base of research. Keywords: War of Paraguay. Textbooks.Border. INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho é analisar as divergências encontradas entre as atuaispesquisas e os livros didáticos sobre a Guerra do Paraguai ocorrida no período de dezembro de 1864 a março de 1870. Novas pesquisas de historiadores revelam como eram a economia da República do Paraguai antes da Guerra, os interesses da Inglaterra neste mercado e os ataques as cidades brasileiras muito além da fronteira reivindicada sem declaração de Guerra, contradizendo a maioria dos atuais textos dos livros didáticos. Uma breve contextualização dos historiadores esclarece novos pontos da história da Guerra do Paraguai. 1 Acadêmico do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). luizpauloferreira2013@gmail.com. 2 Professora Adjunta do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). evamoura@terra.com.br.

Em 1811 uma das províncias da Espanha conquistou sua independência e se tornou a República do Paraguai, mesmo nome do rio que corta o seu território. Sobre o Governo de José Gaspar Rodrigues de Francia, o novo país ficou isolado por vinte e seis anos. O primeiro presidente eleito pelo Congresso Paraguaio foi Carlos Antônio López em 1844, assim, Ele manteve o controle sobre o Estado, investiu em infraestrutura e começou a abrir o Paraguai ao mundo (Farias, 2014). Segundo o historiador Argentino IgnácioTelesca (2014), houve um desenvolvimento econômiconeste período comparado com o que existia antes, [...] Porém não existia uma potência comparável aos Estados Unidos, ao Brasil, ou à Inglaterra, como muitas vezes se defende, não. [...] Em 1852, quando Rosas cai (na Argentina), e se reconhece a independência do Paraguai, então há a relação entre a Argentina e o Paraguai como dois Estados independentes, aí existe um desenvolvimento muito maior porque o Paraguai pode começar a vender e exportar seus produtos e a trazer gente de fora. E aí começam a surgir uma série de estabelecimentos industriais, podemos dizer, como o estaleiro, a fundição de ferro, também a ferrovia. Ou seja, há um desenvolvimento industrial voltado, primeiramente, para a Guerra. (TELESCA, 2014). Em 1850 o Paraguai fechou o acesso do Brasil ao Rio Paraguai alegando problemas de fronteiras, reivindicando parte do território de Mato Grosso até o Rio Branco. Ameaçado com uma Guerra, o Paraguai recuou e assinou um tratado de livre navegação em 1856. Após a morte do Presidente Paraguaio Carlos Antônio López em 1862, assumiu o seu filho Francisco Solano López com a seguinte recomendação de seu pai: O Paraguai tem muitas questões pendentes, mas não busque resolvê-las pela espada, mas sim pela caneta. Principalmente com o Brasil. (Filme: A Última Guerra do Prata, 2014, Doc. TV Escola). Em 1860, o partido Blanco assumiu o Governo Uruguaio e o Presidente Bernardo Berro buscando a proteção do Paraguai,em troca, ofereceu acesso para o Mar.Segundo a historiadora Uruguaia Ana Ribeiro o apoio do Governo Paraguaio ao Partido Blanco do Uruguai, ocorreu devido o acesso para o Mar [...] O Paraguai buscava uma saída para o Mar. Mas além da saída para o mar, queria marcar uma forte presença na região, que não tinha por causa de sua antiga e histórica política de isolamento. [...] (RIBEIRO, 2014).Em 1863 o presidente Uruguaio do partido Blancoentrou em conflito com o Brasil. O Governo Blanco não renovou o tratado de comércio e navegação e depois investiu contra os estancieiros gaúchos que possuíam terras no país, aumentou os tributos do comércio na fronteira, proibiu o trabalho escravo em terras de brasileiros e se recusou a devolver escravos fugitivos [...]. (FARIAS, 2014). O Imperador do Brasil Dom Pedro II enviou o conselheiro do Império Antônio José Saraiva a Montevidéu, mas não houve acordo de paz e em 04 de agosto de 1864 o Brasil emitiu um ultimato ao Governo Uruguaio para que fossem atendidas as reivindicações brasileiras. A resposta do Governo Uruguaio foi o rompimento das

relações com o Governo Brasileiro e o envio de uma cópia do documento ao Governo Paraguaio de Francisco Solano López.Em setembro de 1864 a esquadra da Marinha Brasileira saiu da Bahia da Guanabara (RJ) para derrubar o Governo Uruguaio. A vitória brasileira concede posse ao governo do partido Colorado e Venâncio Flores assumiu em fevereiro de 1865 como novo Presidente Uruguaio.A nota oficial do Governo Paraguaio em resposta ao ultimato do Governo Brasileiro ao Uruguai foi a seguinte: O Senhor Presidente da República, ordena declarar que o Governo da República do Paraguai considera qualquer ocupação do território Oriental como atentatória do equilíbrio dos Estados do Prata, que interessa a República do Paraguai como garantia de sua segurança, paz e prosperidade e que protesta de maneira solene contra tal ato encarregando-se desde já de toda a responsabilidade das implicações dessa presente declaração.(nota Oficial de LÓPEZ. 1863. Apud, FARIAS. 2014) Em retaliação a Guerra do Brasil com o Uruguai, Francisco Solano López, sem declarar Guerra, apreende em dezembro de 1864 o navio brasileiro Marques de Olinda que passava por Assunção capital do Paraguai transportando o novo Presidente da Província de Mato Grosso. Em seguida invadiu com o seu exército o território brasileiro. [...] sem declarar Guerra, as tropas paraguaias invadiram a província do Mato Grosso, rapidamente tomaram o Forte de Coimbra na fronteira e avançaram sobre as cidades de Miranda, Corumbá, Dourados e Coxim [...] (FARIAS, 2014). No dia 27 de novembro de 1864 ocorreu o ataque do Forte de Coimbra, situado as margens do rio Paraguai entre os morros da Marinha e Coimbra em território brasileiro. [...] Em 1864, o forte foi atacado pelos paraguaios, que, na Guerra da Tríplice Aliança, invadiram a então província de Mato Grosso. Depois de poucos dias de resistência, o coronel Hermenegildo Portocarrero resolveu evacuá-lo, sendo, logo após, tomado pelos paraguaios,que aí se mantiveram até abril de 1868 [...]. (ENCICLOPÉDIA DAS ÁGUAS DE MATO GROSSO DO SUL, 2014. p. 71). Em maio de 1865, assinam o Tratado da Tríplice Aliança, Brasil, Argentina e Uruguai que determinam as questões e objetivos da Guerra: Sua Majestade o Imperador do Brasil, a República Oriental do Uruguai e a República Argentina se unem em aliança ofensiva e defensiva na Guerra promovida pelo Governo Paraguaio. [...] Os aliados se comprometem solenemente a não deporem as armas se não de comum acordo, bem como a não negociar separadamente com o inimigo comum. No Artigo XVI, fica estabelecido que os aliados exigirão do Governo do Paraguai, que celebrem com os respectivos Governos Tratados definitivos de limites sobre as seguintes bases. (Tratado da Tríplice Aliança apud, FARIAS, 2014). Além disso, o Tratado da Tríplice Aliança também estabeleceu que os limites das fronteiras do Brasil com o Paraguai permaneceria o Rio Apa e o limites da fronteira da

Argentina com o Paraguai avançariam do Rio Pilcomayo até o Rio Paraguai, fronteira com Mato Grosso.No decorrer da Guerra, com seguidas vitórias dos aliados, Solano López tentou negociar um acordo com o Presidente Argentino Bartolomeu Mitre no famoso encontro de Tuyuti Cora. Segundo a historiadoraparaguaia Milda Rivarola, após a derrota de Tuyuti, [...], supunham que López iria aceitar o armistício e a derrota. E inclusive, a oferta que trazem é que ele vá para a Europa. E no final López diz não. Isso é o que não dá pra entender. Ou seja, desde Tuyuti a Cerro Corá que não se entende a guerra. Porque isso é destruição pura. Destruição das tropas aliadas e destruição do próprio lado paraguaio. É só matança sem sentido. Aí já não houve batalha. (RIVAROLA, 2014). Um dos episódios mais conhecidos da Guerra do Paraguai é a Retirada da Laguna (1868),narrada pelo combatente Visconde de Taunay. Tropas brasileiras que foram por terra de São Paulo até Mato Grosso para combaterem os invasores paraguaios, após dois anos em marcha, famintos e doentes foram expulsos pelo exército paraguaio, além de morte por fome e doenças como a cólera. Alguns dos combatentes desse episódio, como Cel. Camisão, Ten. Antônio João, Guia Lopes, foram homenageados com uma cripta no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro/RJ. ANÁLISE DOSLIVROS DIDÁTICOS Para a realização da pesquisa foram adotados os procedimentos metodológicos sugeridos por Lakatos e Marconi (2012). Foram analisados os conteúdos de livros didáticos de História distribuídos à Rede Pública de Educação Básica de Escolas Estaduais de Campo Grande/MS, a saber: Campos (2013), Rodrigues (2012), Gressler (2011). Os historiadores citados neste trabalho estão participando do Filme A Última Guerra do Prata (2014, TV Escola). Segundo o historiador e professor universitário, os resultados das pesquisas dos historiadores demoram a chegar às escolas, Leva alguns anos até os resultados de uma pesquisa original chegarem aos livros didáticos dos Ensinos Fundamental e Médio. [...] (Doratioto, 2013). Porém, explica o que ocorre na maioria das vezes, exemplificando o que aconteceu em sua graduação, [...] Fiz minha graduação durante a Ditadura Militar e tudo o que o regime afirmava a gente pensava o contrário. Se o regime apresentava Caxias como herói, nós éramos contra. Este foi um grande prejuízo para o mundo intelectual brasileiro: a polarização política e a falta de liberdade acadêmica levaram a interpretações que, em outras condições, não teriam prosperado, e uma delas é o equívoco na interpretação da figura de Caxias. (DORATIOTO,2013, p. 43). A Guerra do Paraguai, com quase cento e cinquenta anos de seu fim, apresenta inúmeras obras escritas por autores das mais diversas partes do Mundo. Um dos pontos mais debatidos atualmente sobre a Guerra é sem dúvida as críticas às ordens dos

comandantes de Campanhas contra crianças, mulheres e idosos. Importante salientar um trecho da introdução do livro Reminiscências da Campanha do Paraguai (1980), Porém não basta alguém determinar-se à crítica. Torna-se mister possuir acuidade para surpreender os pontos discutíveis, e, depois disso, é preciso dispor de um forro de conhecimentos em que se apoiem as soluções acaso sugeridas em substituição ao que foi apontado como defeituoso.(peregrino, 1980, p. 34). São várias as tentativas de explicar as causas da Guerra do Paraguai nos livros didáticos, com teorias que divulgam o interesseda Inglaterra em derrubar um país autônomo. Segundo o historiador brasileiro Ricardo Salles, após a Guerra da Cisplatina (1825-1828) o Brasil não tinha nenhum interesse em ampliar seus territórios, além disso, não interessava a Inglaterra um Brasil forte no Rio da Prata. (SALLES, 2014). Em 2014, historiadores dos quatro países envolvidos no episódio, também conhecido como A Grande Guerra divulgaram parte de suas análises mais recentes na longa metragem exibida pela TV Escola (A Última Guerra do Prata, 2014), do pré ao pósguerra do Paraguai. Dessa forma, o que se pôde concluir nesse trabalho inicial, onde se analisou alguns vídeos de entrevistas de historiadores dos países envolvidos na Guerra do Paraguai, documentários, e livros didáticos do ensino regular, é que os conteúdos atuais inseridos nos livros didáticos sobre a Guerra do Paraguai não mais correspondem, em parte, a veracidade dos fatos, necessitando assim de novas edições. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRAIS, Alan (diretor). AÚltima Guerra do Prata. Produtora: TV Escola/Digitallcine. 2014. Longa metragem 1:49min. BARATTA, Victoria. Historiadora - Argentina In:A Última Guerra do Prata.Produtora:TV Escola/Digitallcine. Diretor: Alan Arrais. Brasil - 2014.Longa metragem 1:49min. CAMPOS, Flávio de. Oficina de História: volume 2. 1ª ed. São Paulo: Leya, 2013. p. 222-224. FARIAS, Júlio. A Última Guerra do Prata.Produtora:TV Escola/Digitallcine. Diretor: Alan Arrais. Brasil - 2014. Longa metragem 1:49min. GRESSLER, Lori Alice. História de Mato Grosso do Sul, 4º/5º ano. 1. ed. São Paulo: FTD, 2011. p. 73-84. DORATIOTO, Francisco.Pense no Paraguai.In: REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL.Guerra do Paraguai: Documentos inéditos detalham o fim do conflito. Ano 9, nº 97. Outubro 2013. p. 43.

. Historiador - Brasil. A Última Guerra do Prata.Produtora:TV INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MATO GROSSO DO SUL. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. 2014. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projetos e relatório, publicações e trabalhos científicos. 7. ed. 7. reimpr. São Paulo: Atlas, 2012.p. 43-44. MATO GROSSO DO SUL. Secretaria de Educação. Referencial Curricular 2012 Ensino Médio. Campo Grande: Secretaria de Estado de Educação do MS, 2012. p. 229-236. PEREGRINO, Umberto. In: Reminiscências da Campanha do Paraguai. 1980. p. 34. RIBEIRO, Ana. Historiadora Uruguai.A Última Guerra do Prata.Produtora:TV RIVAROLA, Milda. Historiadora Paraguai.A Última Guerra do Prata. Produtora:TV RODRIGUES, Joelza Ester Domingues. História em Documento: imagem e texto, 8º ano. 2. ed. São Paulo: FTD, 2012. p. 266-267. SALLES, Ricardo. Historiador Brasil.A Última Guerra do Prata.Produtora:TV TELESCA, Ignácio. Historiador - Argentina.A Última Guerra do Prata.Produtora:TV TAUNAY, Visconde de.aretirada da Laguna.São Paulo: Martin Claret, 2005.