Sobre os limites da interpretação em uma perspectiva wittgensteiniana de linguagem

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Transcrição:

Ana Paula Grillo El-Jaick Sobre os limites da interpretação em uma perspectiva wittgensteiniana de linguagem Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Letras da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientadora: Profª. Drª. Helena Franco Martins Rio de Janeiro Fevereiro de 2005

Ana Paula Grillo El-Jaick Sobre os limites da interpretação em uma perspectiva wittgensteiniana de linguagem Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo programa de Pós- Graduação em Letras do Departamento de Letras do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Profa. Dra. Helena Franco Martins Orientadora Departamento de Letras PUC-Rio Prof. Dr. Danilo Marcondes de Souza Filho Departamento de Filosofia PUC-Rio Prof. Paulo Fernando Henriques Britto Departamento de Letras PUC-Rio Prof. Dr. PAULO FERNANDO CARNEIRO DE ANDRADE Coordenador Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas Rio de Janeiro, de de.

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e da orientadora. Ana Paula Grillo El-Jaick Graduou-se em Direito na UFF (Universidade Federal Fluminense) em 1999. Graduar-se-á em Letras pela mesma Universidade em agosto de 2005. Cursou Filosofia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) entre 2000 e 2002. É doutoranda em Letras na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), desenvolvendo pesquisa na linha das Abordagens nãorepresentacionistas do significado: aporias e perspectivas, sob orientação da Prof. Helena Franco Martins. El-Jaick, Ana Paula Grillo Ficha Catalográfica Sobre os limites da interpretação em uma perspectiva wittgensteiniana de linguagem / Ana Paula Grillo El-Jaick; orientadora: Helena Franco Martins. Rio de Janeiro : PUC- Rio, Departamento de Letras, 2005. 147 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras. 1. Letras Teses. 2. Interpretação. 3. Critérios. 4. Antirepresentacionismo. 5. Wittgenstein, Ludwig, 1889-1951. 6. Compreensão. I. Martins, Helena Franco. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Letras. III. Título. CDD: 400

Para meus pais.

Agradecimentos À minha orientadora Professora Helena Franco Martins pela paciência e parceria para a realização deste trabalho. Aos melhores pais do mundo e que, de certa forma, começaram este jogo, José e Therezinha. Aos meus irmãos, Márcio e Ju, por todos os significados da palavra fraternidade. A Liani, por me acompanhar até nos últimos lances. Aos meus avós, Grillo e Lair, pelo carinho de sempre. A todos os meus amigos, uma vez que nenhum interpreta papel coadjuvante na minha vida. Aos professores Maria Paula Frota e Paulo Henriques Britto, pelas contribuições sempre bem-vindas. Aos professores Sílvio Renato Jorge e Teresinha Bittencourt, ambos da Universidade Federal Fluminense, pela ajuda e pelo carinho. Ao CNPq e à PUC-Rio pelos auxílios concedidos, sem os quais esse trabalho não poderia ter sido realizado.

Resumo El-Jaick, Ana Paula Grillo; Martins, Helena Franco. Sobre os limites da interpretação em uma perspectiva wittgensteiniana de linguagem. Rio de Janeiro, 2005. 147p. Dissertação de Mestrado Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ao negar que o significado seja imanente à letra e enfatizar a multiplicidade não inventariável de interpretações que cada texto pode ter, abordagens nãorepresentacionistas da linguagem vêm gerando, entre alguns de seus adeptos importantes, apreensão quanto aos limites da interpretação. No debate motivado por essa apreensão, destacam-se indagações como: Em que sentido se pode dizer hoje que certas interpretações não são admissíveis? Abordagens nãorepresentacionistas levam necessariamente a interpretação a um regresso ao infinito? Autorizam a validade de qualquer interpretação? A interpretação é a substituição de um signo lingüístico por outro? Ela é sempre necessária? Ela tem um fim? O objetivo desta dissertação é mostrar como a perspectiva de linguagem de L. Wittgenstein permite-nos repensar de modo frutífero a questão dos limites da interpretação. Para isso, identificam-se na concepção de linguagem do autor aspectos relevantes para o tema em foco; analisam-se reflexões que ele desenvolveu explicitamente sobre o tema da interpretação; e estabelece-se um contraponto entre a sua perspectiva e uma abordagem a que se tem atribuído um relaxamento excessivo quanto aos limites da interpretação, a desconstrução. Palavras-chave Interpretação; critérios; anti-representacionismo; Wittgenstein; compreensão.

Abstract El-Jaick, Ana Paula Grillo; Martins, Helena Franco (Advisor). On the limits of interpretation under a Wittgensteinian view of language. Rio de Janeiro, 2005. 147p. MSc. Dissertation Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Denying the immanence of meaning and emphasizing the inexhaustible multiplicity of interpretations that each text can accommodate, some distinguished supporters of non-representationalist approaches to language have recently been manifesting concern as to the limits of interpretation. The debate motivated by this concern raises such questions as: In what sense can one say today that certain interpretations are not admissible? Do non-representationalist approaches necessarily lead interpretation to an infinite regress? Do they give license to any interpretation? Is interpretation the replacement of one linguistic sign with another? Is it always necessary? Does it have an end? The major aim of this dissertation is to show how L. Wittgenstein's view of language can throw a light on the issue of the limits of interpretation. Aspects of Wittgenstein's view of language that are relevant to the topic are identified; some of his explicit reflections on interpretation are analyzed; and a comparison is established between his view and a contemporary approach that is often criticized for encouraging excessive flexibility in interpretation, namely deconstruction. Key words Interpretation; criteria; anti-representationalism; Wittgenstein; understanding.

Sumário 1. Introdução 11 1.1 Preparação 18 1.2 Objetivo 19 1.3 Como jogar 19 1.4 O jogo 21 2. Interpretações 23 2.2 Aristóteles dá as cartas 25 2.3 Tradição semântica 30 2.4 Tradição hermenêutica 37 2.5 Fim da segunda rodada 45 3. Fundo e superfície dentro da tradição semântica 48 3.1 O fundo da linguagem 48 3.2 Não há fundo na linguagem 51 3.2.1. Aqui a palavra, ali o significado: um paradigma míope para o entendimento da linguagem 52 3.2.2. A linguagem como jogo 57 3.2.3. Nada está encoberto: a essência está na gramática 60 3.2.4. Você me deve ainda a definição de exatidão (semelhança de família) 64 3.2.5. As (in)tolerantes regras da linguagem 71 3.2.6. Você está entendendo até aqui? (Compreender é dominar uma técnica) 74 3.3. Fim da terceira rodada 77 4. A cara da mãe, o focinho do pai... As várias facetas da interpretação 79 4.1. A definição ostensiva pode ser interpretada em cada caso como tal e diferentemente (IF 28) 82

4.2. (In)determinabilidade ou (in)exatidão do sentido 85 4.3 Seguimento de regra 90 4.4 Sentido de um texto 94 4.5 Percepção de aspectos 97 4.6 Nonsense filosófico 101 4.7 Fim da quarta rodada 104 5. O jogo das aporias e como sair de uma sinuca 107 5.1 Fazendo o jogo da desconstrução 108 5.2 De vertigens e aporias 115 6. Conclusão 133 7. Referências bibliográficas 143

O trabalho em filosofia tal como muitas vezes o trabalho em arquitetura é, na realidade, mais um trabalho sobre si próprio. Sobre a nossa própria interpretação. Sobre a nossa maneira de ver as coisas (E sobre o que delas se espera). Wittgenstein, Cultura e Valor A pessoa distraída que, ao receber a ordem direita!, vira-se para a esquerda e, então, batendo a mão na testa diz ah, sim! à direita e vira-se para a direita. O que lhe veio ao espírito? Uma interpretação? Wittgenstein, Investigações Filosóficas