COLEÇÃO Aprenda com quem tem história para contar RODRIGO GONÇALVES DE SOUZA Aprovado no concurso do TRF da 1ª Região MAGISTRATURA FEDERAL Guia completo sobre como se preparar para a carreira 2017
PARTE I INTRODUÇÃO Dizem que as grandes tristezas e as grandes alegrias tendem a vir de coisas que nunca passaram pela nossa cabeça preocupada e nos pegam no ponto fraco na tarde de uma terça-feira sonolenta. No meu caso, a grande alegria veio na tarde de uma sexta-feira nublada e despretensiosa. Reunido em casa com alguns amigos do trabalho logo após o expediente, comendo batata ruffles e jogando conversa fora. O celular começou a apitar desesperadamente. Conferi o que estava acontecendo no Whatsapp. Eram mais de sessenta mensagens simultâneas recebidas no grupo de candidatos do XV Concurso da Magistratura Federal do TRF da 1ª Região. Todos comemoravam a aprovação na última etapa do concurso: meu nome estava entre os aprovados para o cargo de Juiz Federal Substituto. A sexta-feira despretensiosa tornou-se um dos dias mais importantes da minha vida. A simples reunião de amigos do trabalho acabou sendo uma festa de comemoração e, infelizmente, de despedida.
16 MAGISTRATURA FEDERAL Rodrigo Gonçalves de Souza O concurso da Magistratura Federal está entre os mais difíceis e cobiçados da República. Todos os anos são realizados concursos para provimentos de cargos de juízes federais substitutos entre os cinco Tribunais Regionais Federais. Milhares de candidatos sonham em ocupar uma das cadeiras para juízes federais e, movidos pela paixão, se preparam arduamente para as provas. No entanto, algumas vezes, não chegam a ser preenchidas sequer metade das vagas disponíveis. É isso mesmo: sempre sobram vagas para juízes federais! É difícil pensar como um concurso tão concorrido e com tantos candidatos bem preparados possa ser concluído com menos da metade das vagas ocupadas... Precisamos, então, retirar dessa dificuldade o nosso estímulo diário. Assim, se por um lado o não preenchimento das vagas mostra um elevado nível de dificuldade do concurso, por outro serve de incentivo aos candidatos que têm a certeza de que sempre haverá algum certame da Magistratura Federal em andamento. A postura correta diante das dificuldades é o primeiro passo rumo ao sucesso. Em quase tudo na vida, é você quem decide se o copo pela metade está quase cheio ou quase vazio. Particularmente, optei pela postura mais otimista: a fé na vitória deve ser inabalável. Certamente, o otimismo não é suficiente para o sucesso. Há vários outros fatores envolvidos, tais como estratégia de estudo, força de vontade, controle emocional, maturidade e uma boa dose de... sorte! Os concursos públicos de alta complexidade, ou seja, aqueles que possuem várias etapas e elevadíssimo grau de dificuldade, demandam uma preparação específica por parte dos candidatos. O sucesso do concurseiro dependerá, sobretudo,
Iparte Parte I 17 da estratégia adotada ao longo das diversas etapas previstas no edital. Nos certames da Magistratura Federal, o processo seletivo está dividido nas seguintes etapas: Prova objetiva Prova discursiva Provas de sentenças cível e penal Inscrição definitiva e exame de vida pregressa Prova oral. A prova objetiva é a que mais reprova, mas, geralmente, não é a etapa mais difícil do concurso. A prova discursiva e as provas de sentença são as mais difíceis em termos técnico- -jurídicos, pois, demandam um conhecimento jurídico muito bem consolidado para a redação de questões discursivas e de sentenças cível e penal. A etapa de inscrição definitiva e de exame de vida pregressa é um complicador na vida do candidato, pois, justamente durante o período de preparação para a prova oral, faz-se necessário reunir dezenas de documentos, exames médicos e formulários a serem apresentados ao Tribunal para a efetivação da inscrição. Por fim, vem a derradeira fase do concurso: a temida prova oral, que apesar de não ser a etapa que mais reprova ou que mais exige conhecimentos técnicos, certamente é aquela que demanda do candidato capacidade de argumentação e, sobretudo, controle emocional. Veremos nos próximos capítulos que a preparação do candidato deve ser diferenciada e específica para cada uma dessas fases do concurso. Assim, a metodologia de estudo, a bibliografia adotada e a forma de preparação deverão ser continuamente revisadas ao longo do certame. Compreender essa dinâmica peculiar na preparação do concurseiro é o segredo para o sucesso no concurso para juiz federal. Aqui, vale aquele conselho de Benjamin Franklin: falhar em se preparar é se preparar para falhar. A estratégia de preparação dependerá das peculiaridades de cada um e, nesse sentido, certamente, não há uma receita de bolo para a aprovação. Entretanto, conhecer um pouco das
18 MAGISTRATURA FEDERAL Rodrigo Gonçalves de Souza experiências daqueles que já passaram pelo mesmo percurso pode ser importante para que o candidato reveja algumas posturas e não cometa os mesmos erros que outros concurseiros mais experientes. A proposta do presente estudo é apresentar ao candidato um pouco da estratégia que adotei especificamente para o concurso da Magistratura Federal ao longo da minha longa trajetória como concurseiro. Desde já, quero enfatizar que não há método de estudo perfeito ou infalível. Tampouco existe método de estudo que seja adequado para qualquer pessoa. Cada concurseiro é um universo particular e o que se adapta a um não será adequado a outro. A melhor estratégia de preparação é aquela que seja adequada para você. Além disso, qualquer estratégia adotada deve estar sujeita a constantes (re)adaptações conforme as modificações surgidas em sua vida. O presente livro será dividido em quatro partes. No primeiro capítulo, falarei um pouco sobre a minha história com os concursos públicos. No segundo capítulo, mostrarei de forma detalhada como foi minha estratégia de preparação especificamente para o concurso da Magistratura Federal. O terceiro capítulo será dedicado para ajudá-lo a montar sua própria estratégia de preparação ao longo de cada uma das etapas do concurso. Por fim, o quarto capítulo traz algumas estatísticas sobre os concursos da Magistratura Federal. Vamos caminhar juntos ao longo da sua trajetória rumo à Magistratura Federal. Tenha pressa sim, mas, não seja imediatista. O caminho será longo e este é apenas o primeiro passo de uma jornada. Como última ressalva, nunca trabalhei com coaching. O presente livro não tem qualquer pretensão de se enveredar por esse tipo de atividade profissional. Na verdade, até pouco tempo
Iparte Parte I 19 atrás, nem sabia direito como isso funcionava. Na minha época de estudos, praticamente não existia essa tão disseminada figura de treinador. Ofereço uma proposta mais objetiva: compartilhar minhas experiências pessoais como concurseiro para que outros colegas possam aproveitar aquilo que for pertinente para suas realidades cotidianas. UM POUCO DA MINHA TRAJETÓRIA NOS CONCURSOS PÚBLICOS Minha trajetória no mundo dos concursos é um pouco peculiar. Sou concurseiro desde meus 19 anos. Atualmente, tenho 35 anos de idade. Ou seja, já acumulo 17 anos quase metade da minha vida dedicada aos concursos públicos. Sou o primeiro da família a ingressar na área jurídica. Minha família é a típica família de classe média. Ou seja, com muito esforço, meus pais conseguiram dar uma boa educação aos filhos, mas, para conseguir custear minhas despesas diárias e meu lazer, trabalhei praticamente desde que passei no vestibular. Aliás, minha primeira aprovação em vestibular foi para o curso de Direito da Universidade Católica de Brasília. Naquela época, fiquei muito feliz e vaidoso com a aprovação. Eu tinha 17 anos de idade. A Universidade era muito boa, mas, tinha um probleminha: o preço das mensalidades. Minha família tinha dificuldades para pagar as mensalidades e, em função disso, decidi que o ideal seria voltar a estudar para tentar uma vaga no curso de Direito da Universidade de Brasília UnB. Tranquei o curso de Direito da UCB e me inscrevi em um cursinho pré-vestibular. Foi uma das épocas mais difíceis da minha vida. Estudava desesperadamente. Passava horas e horas em cima dos livros e nunca faltava às aulas.
20 MAGISTRATURA FEDERAL Rodrigo Gonçalves de Souza Reprovei três vezes no vestibular da UnB. Cada reprovação era como se fosse o fim da minha vida. Fiz cursinho durante um ano e meio, quando, finalmente, fui aprovado. Quando passei no vestibular para Direito na Universidade de Brasília UnB, o curso era matutino. Comecei a fazer o curso pela manhã e já percebi a dificuldade que teria para conseguir trabalhar e estudar. E eu sabia que precisava trabalhar logo... Fui até a reitoria da Universidade para me informar sobre a mudança de turno. Expliquei que eu havia sido aprovado para o curso matutino, mas, precisava estudar à noite. A resposta foi: só dá para mudar se houver vaga sobrando no próximo semestre.... É óbvio que não ia faltar vaga no semestre seguinte! O vestibular da UnB é um dos mais concorridos do país! Então tomei uma atitude drástica no semestre seguinte: me inscrevi, novamente, para o vestibular do curso de Direito da UnB, mas, agora, para o curso noturno. Todo mundo achou que eu estava ficando louco. Meus colegas de faculdade morriam de rir! Alguns brincaram e disseram que iriam até o meu local de prova só para tirar fotos do meu novo vestibular... Meus colegas não foram até o local de prova do vestibular seguinte, mas, eu fui. Apesar de não ter sequer pegado em um livro para estudar, fiz o vestibular novamente. E o mais impressionante: fui aprovado mais uma vez! Nem eu acreditei na minha segunda aprovação para o curso de Direito da Universidade de Brasília UnB. Parecia um feito inacreditável! Meus pais contavam isso para as pessoas e tinha gente que nem acreditava. Refletindo sobre o que havia ocorrido, cheguei à conclusão de que eu só havia sido aprovado por que o conteúdo estava muito bem fixado em minha mente, mas, principalmente, por que consegui manter a tranquilidade. Como eu já estava cursan-