Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais

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Transcrição:

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros * Guilherme Cardoso ** R E S U M O No presente artigo, os autores dão a conhecer um estudo acerca das cerâmicas de modelagem manual e brunidas, respeitantes ao período compreendido entre os finais do século XVI e inícios do século XVIII. São apresentadas cronologias referentes a estas cerâmicas depois de analisados os espólios provenientes de intervenções arqueológicas efectuadas em Almada, Cadaval e Cascais. A B S T R A C T The authors present a set of hand made burnished wares dating from the end of the 16 th century up to the turn of the 17 th /18 th centuries found during excavations that took place on Almada, Cadaval and Cascais. Nas escavações arqueológicas que englobam o Período Moderno, mais concretamente entre os finais do século XVI e os inícios do século XVIII, têm aparecido na região de Lisboa alguns fragmentos de recipientes de cerâmica que, pelas suas características, sobressaem dos restantes modelos e fabricos. As pastas são grosseiras, a modelagem é completamente manual e a cozedura é redutora. Até ao momento, são conhecidos três tipos de recipientes. O primeiro e mais antigo, de que apenas conhecemos um exemplar, do tipo 3, é uma panela (Figs. 1 3), de uma ou duas asas (um fragmento do lábio, pança e arranque de uma asa) com bordo arredondado bífido, decoração digitada e bojo decorado com encrespado modelado com uma palheta. A cozedura foi feita em ambiente redutor, dando lhe uma coloração cinzenta. É prove Fig. 1 Almada. Fragmento de panela encrespada (Des. Luísa Batalha). 347

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Fig. 2 Almada. Fragmento de panela com decoração a encrespado. Fig. 3 Almada. Pasta do fragmento de panela do tipo 3. 348

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros Guilherme Cardoso niente das escavações realizadas, em 1992, na Rua da Cerca, em Almada, junto ao Palácio da Cerca, na parte alta da cidade (Fig. 4, n.º 1). O sítio foi identificado durante a colocação de condutas de água (Fig. 5). Tratava se de duas bolsas de detritos, sendo a primeira datável do século XIV (D. Dinis) e a segunda de finais do século XVI, inícios do XVII. Nesta segunda lixeira (Fig. 6) foram recolhidos diversos fragmentos de caçoilas e frigideiras de pegas triangulares, cerâmicas modeladas, alguidares em barro fosco e vidrados, fogareiros, testos, malgas e pratos esmaltados a branco, faiança majólica italiana e holandesa, porcelana chinesa da dinastia Ming e azulejos hispano árabes de aresta. Para além do material cerâmico, surgiram no mesmo contexto da fossa moedas de D. Manuel I, D. João III e D. Sebastião (tostão de prata), moneta moneta, conta em topázio, turquesa em bruto e uma cabeça de crocodilo em marfim produzido no Benim. Fig. 4 Planta de Almada. 1, Rua da Cerca; 2, Paços do Concelho; 3, Rua Henriques Nogueira. 349

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Fig. 5 Almada. Rua da Cerca, sondagem 2. Fig. 6 Almada. Rua da Cerca. Corte da sondagem. Os outros dois tipos de recipientes foram identificados em Almada, Alapraia (Cascais) e em Montejunto (Cadaval). Do tipo 1 (Cardoso, 2009, p. 54) apresentamos um pote ou panela, corpo globular, bordo reentrante boleado e pegas em orelhas horizontais, semelhante a um puxador. Temos fragmentos de uma peça de Almada (Figs. 7 9) proveniente das escavações dos Paços do Concelho (Fig. 4, n.º 2) realizadas em 1983 por elementos do Centro de Arqueologia de Almada e da Câmara Municipal de Almada (Sabrosa & Espírito Santo, 1992, pp. 7 e 8). Encontrava se no último nível sobre a rocha base, constituída por argilas azuis do Miocénico, conjuntamente a faianças portuguesas com decoração a azul e a vinhático e uma moeda de D. Pedro II, podendo esta datar se dos finais do século XVII/ inícios do XVIII. 350

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros Guilherme Cardoso Fig. 7 Almada. Panela do tipo 1 (Des. Luísa Batalha). Fig. 8 Almada. Panela do tipo 1. Fig. 9 Almada. Pasta do fragmento de asa do tipo 1. 351

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Do convento dominicano de N.ª Sr.ª das Neves (Montejunto), são provenientes fragmentos do mesmo tipo (Figs. 10 14) e que pertencem a três vasilhas diferentes. Estas apresentam engobe exterior vermelho-escuro, brunido, e o núcleo cinzento ou negro, obtido através de uma cozedura redutora. Fig. 10 Cadaval. Fragmento de panela do tipo 1 (Des. Luísa Batalha). Fig. 11 Cadaval. Fragmentos de bordo de panela do tipo 1 (Des. Luísa Batalha). Fig. 12 Cadaval. Pega de panela do tipo 1 (Des. Luísa Batalha). 352

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros Guilherme Cardoso Fig. 13 Cadaval. Panelas do tipo 1. Fig. 14 Cadaval. Pasta do fragmento de panela do tipo 1. O tipo 2 (Cardoso, 2009, p. 54), é uma panela de boca vertical, com asas horizontais de secção circular e corpo globular. Apresenta acabamento brunido sobre engobe e cozedura redutora que lhes dá uma coloração castanha escura a negra. Em 1992, num prédio localizado na Rua Henriques Nogueira (Fig. 4, n.º 3), durante a recuperação de um imóvel ao abrigo do RECRIA, foi realizada uma escavação em pequenas unidades. Dali são provenientes a parte superior de uma panela e um fragmento de asa de outra guardadas no Museu de Almada (Figs. 16 19). As duas peças são provenientes da sala 1 da C4 e da C7 (Fig. 15), datadas da mesma época (século XVII). Aliás as camadas de C3 a C7 foram todas datadas do século XVII e correspondiam a arranjos de pavimentos, daí o material recolhido ser relativamente escasso, sendo na sua maioria constituído por cerâmica fosca, como caçoilas e frigideiras de asa triangular, panelas, alguidares, testos, taças em faiança branca e azul e faiança com decoração a azul e vinhático. Na camada 4 foi recolhido um ceitil de D. Afonso V. 353

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Fig. 15 Almada. Prédio escavado na Rua Henriques Nogueira. Fig. 16 Almada. Panela do tipo 2 (Des. Luísa Batalha). 354

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros Guilherme Cardoso Fig. 17 Almada. Panela do tipo 2. Fig. 18 Almada. Asa de panela do tipo 2 (Des. Luísa Batalha). Fig. 19 Almada. Pasta do fragmento de panela do tipo 2. 355

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais No convento de Montejunto também foram recolhidos fragmentos deste tipo de panela (Cardoso, 2009, p. 54): dois bordos, três asas inteiras e cinco metades de exemplares diferentes, de paredes negras com manchas vermelhas (Figs. 20 23). Fig. 20 Cadaval. Bordo de panela do tipo 2 (Des. Luísa Batalha). Fig. 21 Cadaval. Asas de panela do tipo 2 (Des. Luísa Batalha). 356

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros Guilherme Cardoso Fig. 22 Cadaval. Asas de panela do tipo 2. Fig. 23 Cadaval. Pasta do fragmento de panela do tipo 2. Durante a limpeza do interior do antigo lagar de vinho do Casal das Grutas, em Alapraia, Estoril, efectuada pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Cascais (Cardoso, 1990), foram recolhidos dois fragmentos de asas deste tipo (Fig. 24), de cor castanha avermelhada escura e brunidas. Encontravam se no meio da terra que constituía o piso do lagar sobre o afloramento calcário local alguns materiais: ferros, vidros, fragmentos de faiança portuguesa e fosca dos séculos XVII XVIII e contemporâneos. 357

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Fig. 24 Alapraia. Fragmentos de asas do tipo 2 (Des. Luísa Batalha). Temos dois fundos encontrados no antigo pátio do convento de Montejunto (Fig. 25) que, com algumas reservas, incluímos no tipo 2. São ambos de cor negra, apresentando vestígios de fogo. Foi naquele convento que se encontraram o maior número de fragmentos deste tipo de peças distribuindo se da seguinte maneira (Figs. 26 e 27): 20 fragmentos são provenientes do estrato IV, dezoito do estrato III, 25 do estrato II e 6 do estrato I. Ao todo recolheram se 62 fragmentos dos quadrados 1, 2, 4 e 5, lado norte; e somente sete fragmentos dos quadrados 8 e 12, do lado sul, pelo que as panelas dos tipos 1 e 2 do convento se podem datar dos finais do século XVII às primeiras décadas do seguinte. Fig. 25 Cadaval. Fundos de panela do tipo 2? (Des. Luísa Batalha). 358

Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Luís Barros Guilherme Cardoso Fig. 26 Convento de Montejunto. Planta da localização dos quadrados abertos no pátio. Fig. 27 Convento de Montejunto. Pátio. Corte a b (Des. Teresa Julião). 359

Luís Barros Guilherme Cardoso Cerâmicas manuais dos séculos XVI a XVIII de Almada, Cadaval e Cascais Conclusões A ligação destes recipientes a conjuntos de faianças e cerâmica fosca nacionais, bem como a porcelana chinesa dos séculos XVII e XVIII, no caso dos tipos 1 e 2 já caracterizados e identificados em Alapraia, Almada e Cadaval, não deixa dúvida de que a data da sua produção se pode localizar num período cronológico compreendido entre a segunda metade do século XVII e os meados do século XVIII. Ainda não se sabe onde era produzida esta cerâmica primitiva. Pensamos que o centro produtor possa ter existido nas cercanias de Lisboa ou que sejam trabalhos individuais de quem dominava a técnica de fabrico, possivelmente escravos, pelo facto de os modelos das peças terem semelhanças com alguns da olaria tradicional africana. NOTAS * Arqueólogo da Câmara Municipal de Almada. ** Arqueólogo da Assembleia Distrital de Lisboa. Bibliografia SABROSA, Armando; ESPÍRITO SANTO, Paulo (1992) Almada medieval/moderna: um projecto de investigação. Al madan. Almada. II Série. 1, pp. 5 12. CARDOSO, Guilherme (1990/06/01) Na Alapraia, limpeza do casal saloio junto às grutas trouxe novidades. Jornal da Costa do Sol. Cascais. CARDOSO, Guilherme (2009) Sondagens arqueológicas no Convento de Nossa Senhora das Neves (Serra de Montejunto, Cadaval). In Actas do 1.º Encontro de Cultura e Património do Cadaval Conhecimento e valorização cultural no concelho do Cadaval, 19 de Maio de 2007. Cadaval: Câmara Municipal, pp. 43 82. CARNEIRO, Eugénio Lapa (1989) Encrespado, técnica de decoração cerâmica. Fichas de Olaria, n.º 3. Museu de Olaria. Barcelos. 360