ORAÇÃO DE PERDÃO Uma coisa feita por Deus permanentemente: abençoar e perdoar. Se o imitares, serás feliz e nunca perderás a alegria. A oração de arrependimento abre o nosso coração ao perdão, à reconciliação e à justificação que vem de Deus. 1. O perdão recebido leva-nos a perdoar A oração de perdão move o nosso coração a perdoar aos outros, a perdoar a nós próprios... como Deus perdoou. Diz Jesus: Mt 5,7: ditosos os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia. Lc 6,3: Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Perdoando sereis perdoados. A medida... A misericórdia experimentada e partilhada, o perdão recebido e concedido redime a nossa vida diária, faz dela um exercício de amor. O amor cobre muitos pecados, ou seja, alcança o perdão de todos os pecados (1Ped 4,8) Mt 6,9-15: Pai nosso... o pão nosso de cada dia nos dai hoje, e perdoai... como nós perdoamos... O perdão de Deus é-nos tão necessário como o pão de cada dia. Devemos pedi-lo e aceitá-lo e ser consequentes. Existe uma relação directa
entre ser perdoados e perdoar. O perdão que recebemos de Deus, se arrependidos, está vinculado à nossa decisão de perdoar aos outros e a nós mesmos como Deus nos perdoou. 2. Características do perdão Ef 4, 30-32: Perdoai-vos uns aos outros como Deus vos perdoa. O perdão de Deus é e o nosso deve ser: a) Gratuito: Deus vê-nos e perdoa-nos em Cristo Jesus, que morreu por todos: 2 Co 5.14.19.21; Col 1,20. A oração de perdão ensina a perdoar gratuitamente em Cristo e desde Cristo: Jo 14,20. b) compreensivo e compassivo: Mt 18,21 ss. A oração ajuda a colocarte na pele da pessoa que te ofendeu. c) silencioso: sem ruído, sem sermão, sem humilhações, com naturalidade. Lc 15, 20. 30: Contraste entre o pai e o filho mais velho. d) construtivo e terapêutico: longe do desânimo e do complexo, conduz ao início de uma nova vida. Exemplo: Jo 4,29 (Samaritana); Jo 8,11 (Adúltera); Lc 19, 8 10 (Zaqueu). e) completo: sem fazer contas ao mal e ao número de vezes que se perdoa: Heb 10, 16 ss; 1 Co 13,5; Mt 18, 21 ss. A oração de perdão necessita, muitas vezes, de se complementar com a oração de apagamento de recordações. f) frequente: Col 3,13: perdoar sempre que um tem queixa contra outro: algo muito frequente... 3. Bênçãos do perdão a) Aproximamo-nos do ideal da perfeição cristã, Deus Misericordioso: Mt 5,45.48 ou Lc 6,36; Ef 5,1 s. b) Garante a misericórdia e o perdão de Deus: At 5,7; L6, 37 s; Sant 2,13.
c) Associado à fé, mobiliza o poder de Deus e torna possível os milagres: Mc 11, 22-26. d) Protege do demónio (Ef 4,26 s) e do pessimismo. e) supera o maior obstáculo (ódio, ressentimento, rancor...) no sentido da cura psicossomática. e) Desbloqueia o caminho para o diálogo construtivo. f) Transforma inimigos em amigos: Rom 12,17-21. 4. Santa Teresa e o perdão Comentando a petição do Pai Nosso: perdoai-nos... como nós perdoamos, diz Santa Teresa: «Vede aqui como os santos se alegravam com as injúrias e perseguições, porque tinham coisa a apresentar ao Senhor quando Lhe pediam. Que fará uma tão pobre como eu, que tão pouco tenha tido a perdoar e tanto que se perdoe? Coisa é esta, irmãs, para olharmos muito a ela; uma coisa tão grave e de tanta importância como é o perdoarnos Nosso Senhor as nossas culpas - que mereciam fogo eterno se nos perdoem uma coisa tão pequena como é o nós perdoarmos. E ainda destas pequenezes tenho tão pouco a oferecer, que a troco de nada me haveis de perdoar, Senhor! Aqui, tem lugar a Vossa misericórdia.» (C 36, 2). «E depois chegaremos até a pensar que temos feito muito se perdoamos uma coisita destas, que nem era agravo, nem injúria, nem nada; e tal como quem tem feito algo, viremos pedir ao Senhor que nos perdoe, pois temos perdoado! Dai-nos, meu Deus, a entender que não nos entendemos, e que estamos com as mãos vazias, e perdoai-nos Vós por Vossa misericórdia!» (C 36.6). Quando uma pessoa «a quem Deus faz mercê das coisas que disse na oração de contemplação perfeita, não sai muito determinada a perdoar qualquer injúria, por grave que seja, não estas ninharias a que chamam injúrias e, quando se oferece ocasião, não o põe por obra, não há muito que fiar da sua oração. À alma que Deus chega a Si em oração tão subida, essas coisas não chegam, nem a ela se lhe dá mais ser estimada ou não. (...)
porque, quando deveras o Senhor lhe deu aqui o Seu reino, ela já não o quer neste mundo...» (C 36,8). «Não posso eu crer que uma alma, que tão junta se chega à mesma Misericórdia, onde conhece quem é e o muito que Deus lhe tem perdoado, deixe de perdoar com toda a facilidade...» (C 36,12). «Ó Senhor, Deus meu! Não por mim, Senhor, que não o mereço, mas pelos méritos do Vosso Filho. Vede as Suas chagas, Senhor, e, pois, Ele perdoou aos que lhas fizeram, perdoai-nos Vós a nós também». (Exclamações 11,3). 5. Santa Teresinha (Uns três meses antes da sua morte) «Este ano, Deus concedeu-me a graça de compreender o que é a caridade... Meditando as palavras de Jesus, vi quão imperfeito era o amor que eu tinha às minhas irmãs. Vi que não as amava como Deus as ama. Agora compreendo que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não escandalizar-se com as suas debilidades, em descobrir o valor positivo dos mais pequenos actos de virtude que sejam capazes de praticar... Oh senhor, quanto amo este mandamento, pois, dá-me a certeza de que é Vossa vontade amar em mim todos aqueles a quem me mandais amar! (e perdoar em mim todos...) Se sei quando sou caritativa, é só Jesus que trabalha em mim... (quando perdoo desde Jesus, é o mesmo). «Quando o demónio trata de colocar diante dos olhos da minha alma esta ou aquela irmã que me é menos simpática, apresso-me a procurar as suas virtudes e as suas boas intenções. Penso que, se a vi cair uma vez, terá podido alcançar um grande número de vitórias que oculta por humildade; e, até o que me parece uma falta, pode muito bem ser um acto de virtude e causa de recta intenção» (A experiência ensinou Teresa a não julgar e não dar importância aos juízos humanos). «Há na comunidade uma irmã que tem o dom de não me agradar minimamente. Os seus modos, as suas palavras, o seu carácter, tudo nela me desagrada totalmente. No entanto, trata-se de uma religiosa que deve ser muito agradável a Deus... Então, dediquei-me a relacionar-me com ela
como se fosse com a pessoa de quem mais gosto. Cada vez que a encontrava, pedia por ela a Deus, oferecendo-lhe todas as suas virtudes e méritos. Apercebia-me de que isto agradava a Jesus, pois não há artista que não goste de receber louvores pelas suas obras. E a Jesus, o Artista das almas, agrada-lhe que, em lugar de nos fixarmos no exterior, penetremos na intimidade do santuário que Ele escolheu como morada, admirando a sua beleza... Quando sentia a tentação de a confrontar de forma desagradável, limitava-me a dirigir o melhor dos meus sorrisos, procurando mudar de assunto, pois diz-se na Imitação: É melhor que fique cada um com a sua ideia que ficarem a discutir... Muitas vezes os combates eram demasiado violentos, e eu fugia como uma desertora» (Ms C 12 r-14 r).