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editorial Emergindo do mar revolto Consectetur adipiscing elit. Suspendisse sit amet ligula non dolor sollicitudin egestas. Nunc quis augue quis mauris ultricies congue sit amet at ante. Sed lectus nunc, mollis accumsan vehicula eu, rutrum quis turpis. Curabitur vel dolor metus. Duis magna nisi, dapibus eget accumsan sit amet, laoreet a arcu. Aenean sit amet lorem sem, ut placerat lorem. Pellentesque habitant morbi tristique senectus et netus et malesuada fames ac turpis egestas. Vivamus orci purus, sodales eget mollis vitae, imperdiet ut urna. Maecenas vel sem sem, a suscipit ligula. Maecenas et erat arcu, a vestibulum urna. Aliquam egestas metus et odio feugiat eu sodales dolor pharetra. Sed vehicula dignissim libero, vitae volutpat libero pharetra vel. Aenean sed est libero, eget molestie nunc. Sed libero nisi, ullamcorper molestie malesuada sit amet, suscipit eu libero. Fusce in enim nisl. Quisque arcu quam, consectetur in dapibus in, feugiat id eros. In convallis congue mi, vitae molestie ante blandit id. Mauris sit amet urna ut massa malesuada accumsan ac dictum neque. Nulla vulputate, velit at sollicitudin pellentesque, magna lorem consectetur ante, at sollicitudin sem diam nec leo. Maecenas a nisl eu lacus feugiat tincidunt. Quisque venenatis placerat consequat. Nulla non ultrices eros. Aenean ullamcorper auctor ultricies. Ut non dictum nunc. Morbi viverra, lectus et convallis commodo, odio enim pretium tortor, eu accumsan massa lectus leviatã de papel edição #1 maio de 2012 Colaboradores: Fulano, fulana, ciclano, ciclana, beltrano, beltrana. davi, golias, sansão guliver. Editora Artesanal Monstro do Mares Centro de Inovação Social Rua Quinze de Novembro, 931 Centro - Cachoeira do Sul 96501-751 Uma obra está no domínio público quando é de livre utilização, por qualquer pessoa, para qualquer propósito, sem restrições de direito autoral. edição #01 - outubro - 2012 2

Edição #1 Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. (pág 4) In aliquam orci in dui blandit rutrum. (pág 5) Especial Artigo de Maísa Pardo Democracia Legítima e Cultura Popular (pág 12) 3 leviatã de papel

especial Se você vencer no jogo deles, você perdeu. por Crimethinc. (traduzido por protopia) www.crimethinc.com www.protopia.at edição #01 - outubro - 2012 4

Dentro do Sistema Então... você tem uma banda, com uma mensagem realmente importante e quer levá-la ao maior número de pessoas possível estão tentando ficar muito populares e vender muitos e muitos discos. Ou talvez você seja um ativista político e você acha que é necessário usar a grande mídia para educar as pessoas sobre certos assuntos. Parece fazer sentido que você deva usar esses métodos para alcançar pessoas porque, de outra forma, quem vai lhe ouvir? Sim, você se dá conta de que está se envolvendo com o mesmo sistema que você está tentando combater, mas vai valer a pena no final... e todos precisamos ceder algumas vezes, não temos? Vale a pena pensar se precisamos mesmo, assim como é bom nos questionarmos se avançar neste sistema consumista e de competição brutal pode de alguma forma nos ajudar a melhorar o mundo. O que aconteceria se parássemos de abrir exceções, parássemos completamente de jogar o jogo deles e concentrássemos todos nossos esforços em criar nossos próprios canais e espalhar idéias de novas formas? 5 leviatã de papel

A Revolução Não Pode Ser Televisionada. É óbvio que eles te querem no seu programa de televisão, programa de rádio, festival de rock, gravadora. Eles não se importam se estão vendendo anti-séptico bucal ou revolução anarquista contanto que isso mantenha as pessoas assistindo e comprando. Eles sabem que mais cedo ou mais tarde as pessoas irão se entediar com toda baboseira supérflua e inócua que eles normalmente têm a oferecer, e eles contam contigo para que hajam sempre novas idéias e estilos a serem explorados; sem isso, não teriam nada de novo para vender para as pessoas. Eles sabem que se eles conseguirem encontrar maneiras de vender a expressão da tua própria revolta de volta para ti, para lucrar com cada frustração que o seu sistema cria, estarás derrotado. Pois eles sabem que nenhuma mensagem que tu puderes passar pelos seus canais pode ser mais poderosa que a mensagem que é passada quando usamos os meios deles: fiquem ligados. Toda consciência e percepção que tu conseguires levar às pessoas com tuas aparições na TV e CDs vendidos nos shopping centers não é mais importante do que a consciência do poder dos indivíduos de agirem por si próprios. Assistir televisão e comprar no supermercado mantém as pessoas passivas, observando coisas que elas nunca podem participar e pessoas que elas nunca podem encontrar, comprando o que é anunciado pelas corporações ao invés de fazerem sua própria música, terem suas próprias idéias, viverem suas próprias vidas. Para motivar as pessoas a agirem por si mesmas, tu tens que contatá-las de uma forma mais direta. edição #01 - outubro - 2012 6

Os Valores da Produção em Massa. Somos ensinados a pensar sobre o nosso sucesso na forma de números, não é mesmo? Se tocar a vida de uma pessoa é uma boa coisa, então tocar a vida de mil pessoas deve ser algo ótimo. É fácil ver onde aprendemos a pensar deste modo: toda nossa sociedade gira em torno da produção em massa. Quanto mais unidades pudermos mover, mais clientes pudermos atender, mais votos obtivermos, mais dinheiro e coisas acumularmos, melhor é, certo? Talvez não seja possível tocar mil pessoas de forma tão profunda e poderosa quanto tocaríamos uma ou dez pessoas. E talvez não seja tão revolucionário no final das contas ter uma pessoa ou grupo dizendo a todos outros o que é certo. Não seria melhor tentarmos de uma maneira descentralizada onde todos agem em proximidade com aqueles ao seu redor, ao invés de algumas pessoas liderando uma massa anônima? Tu, ou a tua banda, ou o teu selo, têm que salvar o mundo sozinhos? Por que você não confia em outras pessoas para compartilhar essa tarefa? (E tu já percebeste o quanto tens que pisar nos outros para conseguir aquele sucesso necessário para difundir tuas idéias?) Uma banda política fazendo um show para novecentas pessoas pode recitar slogans revolucionários a todos ali presentes, mas eles ficam fora do alcance da maioria dessas pessoas, em cima de um pedestal como músicos, artistas, heróis. Por outro lado, uma banda tocando um show tão empolgante para quarenta pessoas, em um ambiente mais íntimo, pode interagir pessoalmente com todos presentes, e deixar claro que todos são capazes de fazer o que eles fazem. Assim eles têm o potencial de darem origem a quatro outras bandas (ou projetos revolucionários), aumentando o seu impacto exponencialmente. O mesmo vale para selos de discos, escritores, oradores e artistas, e é claro, para organizadores e líderes de qualquer tipo. 7 leviatã de papel

Trabalhando Dentro do Sistema. A maioria de nós não obtém muito prazer das coisas que temos para fazer dentro do sistema. Preferimos ler livros sozinhos do que fazer trabalhos para a escola, preferimos usar nossas habilidades, energia e tempo para trabalhar em projetos de nossa própria escolha do que nos vender para empregadores. Mas sentimos que precisamos trabalhar para eles, quer queiramos ou não. Nunca nos ocorre quão mais divertido, e talvez mais eficiente, poderia ser tirarmos nosso trabalho das mãos deles e fazer outra coisa com ele. Claro, seria difícil no começo, mas o que poderia ser mais difícil do que agüentar toda esta merda para o resto de nossas vidas? Melhor nos dedicarmos a substituí-lo do que a aceitá-lo. Mas, você protesta, ainda estaremos lutando contra o status quo, vamos mudar as coisas de dentro, certo? Isso é o que eles lhe dizem, pelo menos. É claro que o sistema tem procedimentos adequados para pessoas com queixas seguirem para tentar fazer as coisas melhorarem; esta é a válvula de segurança para liberar pressão quando as pessoas ficam muito inquietas. Você acha que os poderes que estão aí deixariam você utilizar as suas próprias leis e métodos para depô-los? Se este sistema fornecesse oportunidades para mudanças reais, as pessoas as teriam utilizado muito tempo atrás. Incontáveis gerações tomaram iniciativa certos de que iriam obter sucesso onde os outros falharam você sabe, é daí que vem repórteres e advogados. Eles são os cadáveres céticos de jovens idealistas que pensaram que o sistema poderia ser reformado. edição #01 - outubro - 2012 8

Além disso, você pode se confiar para trabalhar dentro do sistema pelos motivos certos? Somos todos programados para querer sucesso, a nos medir ela riqueza e status social que obtemos, quer gostemos ou não. Será que pode ser que você quer ser um jornalista, professor de ciências poĺíticas ou astro de rock porque você não consegue considerar outras opções seriamente, porque você tem medo de cortar a fita de segurança que te amarra à segurança do estilo de vida imposto pela nossa sociedade. E como você pode ter certeza de que não é um canto sombrio do seu coração que te empurra para buscar o sucesso, a parte que adora a atenção e os sentimentos de grandiosidade que a sua popularidade e posição social lhe trazem? É claro que nos sentimos ótimos ao contar a nossos pais quais são nossos objetivos e eles aplaudem nossas decisões... mas isso é forma de se decidir como mudar o mundo? Vamos ouvir nossos corações, confiar nos nossos instintos, e recusar participar em qualquer coisa que nos deixe entediados ou indignados. Precisamos nutrir o nosso idealismo e nossa vontade de correr riscos, não trabalhar novas formas de integrar nossa frustração e nosso desespero para retornarem à sociedade que os gerou. Lembre-se, todo dia que passamos usando o sistema é outro dia que teremos que esperar até que novas redes e melhores modos de vida substituam os antigos. 9 leviatã de papel

Como saímos daqui? Sim, freqüentemente temos a impressão de que não há alternativa a trabalhar dentro do sistema se quisermos que as coisas sejam feitas e não quisermos deixar nossas idéias em quarentena dentro dos espaços confinados do alternativo. Mas porque manter o alternativo confinado em espaços limitados? Com certeza se pusermos toda nossa energia em expandir os espaços nos quais interagimos como seres humanos iguais e livres, ao invés de tentar consertar a máquina fumegante desta sociedade condenada, poderíamos pelo menos causar algum impacto. Imagine o que poderíamos alcançar se mantivéssemos todo nosso potencial em nossas próprias mãos, e para sempre nos recusássemos a gastá-lo trabalhando para o seu sistema, mesmo que por um único minuto. Não há desculpa para deixarmos que uma fração de nossas vidas passar fazendo coisas que não amamos, ou deixarmos que alguns de nossos talentos e esforços sirvam para promover uma ordem mundial a qual nos opomos. Pelo contrário, vamos lutar e viver tão bravamente que outras pessoas dentro das jaulas da vida padronizada possam nos ver e se inspirem para se juntar a nós em nossa rejeição total do velho mundo e toda sua porcaria. E vamos tornar nossas comunidades em algo melhor do que são; vamos torná-las mais abertas e mais capazes de oferecerem condições de vida, para que outros sejam capazes de se juntar a nós. O sistema no qual vivemos oferece somente jogos no quais todos perdem - então porque jogá-los? Cabe a nós inventarmos jogos novos, mais alegres e empolgantes que os antigos. Não vamos tentar derrotá-los em seus próprios jogos, mas fazê-los participarem dos nossos! edição #01 - outubro - 2012 10

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edição #01 - outubro - 2012 12

Conto Meio Fio por Maicon Ristow Sassá. Estava chegando de viagem a uma cidade grande, descendo de uma passarela. Quando vejo uma movimentação estranha. Algumas poucas pessoas em volta de alguém sentado, cabeça baixa. Cheguei mais perto e vi sangue. Era um homem, de uns 45 anos de idade. Tinha sangue escorrendo do nariz e um pouco na testa. A rua era movimentada, passavam muitos carros e pedestres, mas pude notar que tinha sangue no asfalto. O que indicava que ele tinha sido atropelado. Mas o homem estava bem, não havia risco de morte e nem o porquê levá-lo a um hospital. Ele era só mais um mendigo atropelado por algum carrão. Na verdade as pessoas ao seu redor nem estavam dando importância, só queriam ver o que outras pessoas também estavam vendo. Era só um mendigo atropelado. Ele fedia muito. Não cheguei perto. Na verdade nem senti seu cheiro. A cidade toda fedia. Mas por sua aparência ele fedia muito, óbvio! O que me chamou atenção foi seu semblante. Estava ali, sentado. Parado. Com as mãos na cabeça e um olhar triste, distante. Uma expressão de cansaço. O que me levou a pensar; antes de ser atropelado como estava seu rosto? Acredito que exatamente o mesmo de agora, porem, sem sangue. Ele já devia ter um rosto cansado. Olhos fundos e voz de bêbado. Por um minuto tive pena. Pena do mendigo, não de mim. Só se tem pena do que acha inferior. Ele era inferior a mim. Eu tenho uma casa com grama na frente, em um bom bairro. Eu tenho uma mulher e um filho por chegar. Tenho um cachorro que come ração. Tenho um emprego, acordo todo dia às 7 horas, pego meu carro e dirijo meia cidade até meu trabalho. Na hora do almoço como em algum fast- -food, depois do trabalho volto pra casa pra assistir novela com minha esposa que passa o dia nos afazeres do lar. Isto claro, durante a semana. Domingo é dia de churrasco e alegria com os amigos. Nossa... Agora deu mais pena do mendigo atropelado. Ele não tem uma vida. Acorda todo dia bêbado em uma sarjeta diferente, usando o meio fio como travesseiro. Não tem comida todo dia, é como um animal que deve sair à procura, talvez encontre, talvez não. Vai depender de seu empenho ao procurá-la. Como na comida, mulher tem que ser procurada, caçada. Deve passar meses sem o calor de uma mulher. E provavelmente quando encontra uma, ela seja no mesmo tipo dele. Suja. Imunda. Também sem vida. Nunca vai saborear uma dessas que vemos na TV, loira com nariz empinado, bunda no lugar e siliconada. Tenho nojo só de imaginar que tipo de mulher ele deve pegar, bêbada, estranha, que definitivamente não se enquadra nessas da TV. E como eles fariam sexo? Imagine, nem ela sendo do mesmo nível dele teria coragem de chupá-lo. Se nem minha mulher me chupa, ela diz que tem nojinho. Às vezes ganho um 13 leviatã de papel

boquete em troca de algum presentinho. Um colar, ou roupa. Ela me ama mais quando lhe dou presentes. Ela faz qualquer coisa pra aparecer pra suas amigas, até chupar meu pau. Mas e o mendigo? Como vai pagar por um boquete? Se bem que sua companheira não precisaria de um colar, talvez um gole de cachaça. Cidade grande é uma merda. Ainda bem que estou só a trabalho. Só vim assinar uns papéis e logo pego o primeiro ônibus de volta a minha cidade, que é bem menor e sem mendigos. Assinar papéis, este é meu trabalho. Com o que o mendigo se ocupava durante o dia? Além de ser atropelado e dar pena as pessoas. Devem existir vários mendigos já atropelados nesta cidade. Mas com certeza devem existir muitos caras com uma vida legal igual a minha e que trabalham assinando papéis. Que merda! Não consigo parar de comparar a vida do mendigo com a minha. Tudo resolvido era hora de voltar pra casa. Estava bem cansado, tinha assinado vários papeis. Como era perto da rodoviária e já tinha ido mesmo a pé, resolvi voltar caminhando. Mentira. Queria ver se o mendigo ainda estava lá. Mas não, já tinha ido. Ainda tinha um pouco de sangue e agora um carrinho hot- -dog ao lado. O lugar fedia muito. Comprei minha passagem. Tive que esperar um tempo até o horário do ônibus. Onde o mendigo havia ido? Não conseguia imaginar o que ele estava fazendo agora. Senti um tipo desespero ao pensar sobre isso. Eu sabia onde estava indo. Qualquer pessoa que me olhasse por 2 minutos deduziria que eu estava ali esperando a merda de um ônibus cheio de gente que também estava indo pra puta que pariu. Qualquer pessoa perceberia que eu tinha uma casa e uma esposa. Um cachorro que come ração. Mas e o mendigo? Onde foi?! O que foi fazer?! Acho que nem ele tinha planejado o que fazer, simplesmente foi fazer. E eu? Puta merda! Esse mendigo veado não pode ser mais livre que eu. Mas eu também não planejei vir aqui assinar um monte de papeis. Alguém planejou pra mim! Que merda de vida enlatada comprada na TV! Todos os dias se vendem vidas iguais as minhas, por que aquele bosta não junta dinheiro e compra uma vida igual a minha?! Preciso imaginar um destino pro mendigo, pra tirar essa paranóia da cabeça. Hoje é quarta-feira, são 2 da tarde. Deve ser um dia comum pra ele. Mendigos sempre têm cachorro. Isso! Ele foi comprar ração pro seu cachorro. Não... Ele não deve ter dinheiro sobrando pra isso. Deve ter ido procurar algo pra comer. Mas seu cachorro foi junto. Por que diabos o cachorro ainda o segue se ele nem comida têm pra dar?! Será que meu cachorro só gosta de mim por causa da ração que lhe compro? Tenho certeza que o cachorro do mendigo era mais amigo dele, pura camaradagem. Os dois compartilham de uma vida sofrida. Um não ajuda ao outro. Simplesmente resistem lado a lado. Meu cachorro não faria o mesmo por mim. Ordinário, só quer comer minha ração! Chegou meu ônibus. Poltrona 31, janela. Assim que pude entrei edição #01 - outubro - 2012 14

e me assentei. A lateral do ônibus estava virada pra o lado onde o mendigo estava, era alto e eu poderia ver mais longe. Enquanto os passageiros embarcavam fiquei ali, procurando o mendigo. Na esperança de ver ele mal de alguma forma. Merda de pessoas irritantes. Pessoas velhas são irritantes. Entram no ônibus com a passagem na mão e olhando poltrona por poltrona pra no final sentar na numero 41. Que diabo! Não passou pela cabeça em ir direto ao fundo do ônibus?! O numero era a 42. Quase acertei! Mas precisava verificar o numero de cada poltrona até o fim do ônibus? E pior, ainda conferida cada vez o bilhete. Como se esquecesse cada vez que levantava a cabeça pra ler os números do assento. Velha idiota. Enfim ela sentou-se e os outros passageiros puderam sentam em seus lugares. Mas ela não parou por ai. Começou a tagarelar sem parar. Por que os velhos com o tempo perdem o olfato, a audição, a visão, mas não perdem a fala?! A velha desgraçada não calava a boca. Assuntos sem nexo. Por que falar sobre as cortinas das janelas? Que merda! Será que o mendigo se importaria se as cortinas combinavam com as poltronas? Claro que não, o idiota agora deve estar conversando com seu cachorro. E pior, ele responde. Então o mendigo ri. E o cachorro faz alguns truques, parecem mímicas. Os palhaços devem estar debochando de mim, de minha vida que segue a manada. Essa manada idiota que corre toda junta para o precipício, e me arrasta. O mendigo também está indo para o precipício, não há como fugir. Mas ele está indo por conta própria, sem pressa, sem medo. Afinal, o que tem ele a perder? Eu tenho muito a perder, e ele muito a ganhar. Merda, ele vai acabar me ganhando. Estava escuro quando cheguei. Ainda tinha grama em frente a casa, igual quando sai. Igual a casa do vizinho. Meu cachorro sanguessuga estava dormindo. Minha mulher estava deitada assistindo algo na TV. Mas tinha deixado minha comida pronta, era só esquentar. Não tomei banho, e fui deitar com ela. - Amor, me amaria se eu fosse um mendigo? - Claro que sim, prometi estar contigo na riqueza ou na pobreza, lembra? - Mas e se tivesse me conhecido já mendigo, seria capaz de me amar? - Bem... Não sei, é difícil responder. Uma mulher falava sem parar na TV, tenho quase certeza que era a mesma velha do ônibus, ou no mínimo o mesmo assunto. Com a cabeça já descansando sobre o macio travesseiro ainda pensei um tempo sobre o mendigo e toda essa afronta que cometera contra mim. Com sua indômita liberdade, tripudiando sobre minha vida, meus sonhos. Já nem sei se esses sonhos eram meus, nem se nasci com eles, nem o porquê devia correr atrás deles. Só sei que precisava realizá-los, se não... Mas de momento eu só precisava relaxar. - Amor, já ia esquecendo, lhe trouxe um presente da viagem. 15 leviatã de papel

Escrito Mendigo por Matheus Longaray. Tentando ganhar espaços em lugares que nem sombras ousam entrar até pode se chamar de lembranças remediadas, esses lugares que muitas vezes eu perco os passos e não vejo inicio e nem fim esses lugares ficam na minha mente, os cantos mais escuros dela Lá eu posso brincar com todas as coisas que um dia me feriram e se eu pudesse saber quais novos brinquedos irei adquirir pararia de me preocupar com os antigos Poderia ter descoberto outros caminhos para o mesmo lugar mas o tempo foi o maligno disso tudo, não me deixou escolhas peguei o pior caminho para o mesmo lugar - o mesmo fim - Deveria estar em outro lugar a não ser aqui olhando para as paredes, quando você vai aparecer? edição #01 - outubro - 2012 16

Poderíamos (eu e você) enterrar todas essas pessoas descaradas, mentirosas, falsas, ignorantes, carentes em um lugar da nossa mente que não fossemos buscar um lugar tão morto quanto folhas secas no outono Mas não quando nos encontramos a desertos de distancia a lágrima evapora antes mesmo de cair nessa areia Não irei buscar o que não me foi prometido continuarei com as agulhas presas nas mãos tecendo com o fio de pecados que a minha mente pensou usarei para me cobrir essa noite esse pano para lembrar de como é frio essa cidade que nas suas ruas a solidão existe de sobra. 17 leviatã de papel