XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Documentos relacionados
ANÁLISES DA PRECIPITAÇÃO NA BACIA DO ALTO JAGUARIBE BASEADO NA TEORIA DA ENTROPIA

Relatório de Categorização MTur - Ministério do Turismo Categorização dos municípios das regiões turísticas do mapa do turismo brasileiro

PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL E A CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NO ESTADO DA PARAÍBA

ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO EM CATOLÉ DO ROCHA-PB UTILIZANDO A TEORIA DA ENTROPIA

PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA SOBRE TORCIDAS DOS TIMES DE FUTEBOL DA PARAÍBA

Revista de Geografia (UFPE) V. 32, No. 2, REVISTA DE GEOGRAFIA (UFPE)

ANÁLISE DE INTENSIDADES MÁXIMAS DE CHUVA NO ESTADO DA PARAÍBA

PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA SOBRE TORCIDAS DE FUTEBOL

Governo do Estado da Paraíba Concurso Público EDITAL N.º 01/2012/SEAD/SEE.

Posição em 01/02/ :53:40

DOCUMENTAÇAO ENTREGUE FUNDOS E PREFEITURAS MUNICIPAIS 2013

1ª apresentação dia 22 João Pessoa

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA PLUVIOMETRIA EM ÁREAS HOMOGÊNEAS DO ESTADO DA PARAÍBA

Relatório de Situação de Entrega dos Municípios

Agreste da Agricultura Familiar

AVALIAÇÃO DA TENDÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NA LOCALIDADE DE FLORESTA, ESTADO DE PERNAMBUCO

ANÁLISE TEMPORAL DE PRECIPITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SERRA GRANDE-PB

SISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA PARAÍBA PISF

PREVISIBILIDADE DAS CHUVAS NAS CIDADES PARAIBANAS DE CAJAZEIRAS, POMBAL E SÃO JOSÉ DE PIRANHAS

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO REGIME TEMPORAL DA CHUVA EM UMBUZEIRO, PB.

Verifica~ao da Homogeneidade dos Dados de Precipita~ao Pluviometrica das Microrregioes do Estado da Paraiba

Monica Cristina Damião Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC

PADRÃO ESPACIAL PLUVIOMÉTRICO NO ESTADO DO CEARÁ.

CORRELAÇÃO DA PRÉ-ESTAÇÃO COM A ESTAÇÃO CHUVOSA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DAS CHUVAS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE, REGIÃO AGRESTE DA PARAÍBA

ESTIMATIVAS DAS COTAS DO FPM. PARAíBA

ESTIMATIVAS DAS COTAS DO FPM. PARAíBA

ESTIMATIVAS DAS COTAS DO FPM. PARAíBA

NÚMERO MÁXIMO DE VEREADORES POR MUNICÍPIO, NA ELEIÇÃO DE 2012, SEGUNDO OS DADOS DO CENSO 2010 PARAÍBA

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE

ESTUDO DA VARIABILIDADE ANUAL E INTRA-ANUAL DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS CHUVOSOS NO ESTADO DA PARAÍBA

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NO COMPORTAMENTO PLUVIOMÉTRICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO DURANTE O ANO DE 1998

ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS USANDO DADOS PLUVIOMÉTRICOS REFERENTES AO ESTADO DA PARAÍBA

ANÁLISE COMPARATIVA DECADAL DO BALANÇO HÍDRICO PARA O MUNICÍPIO DE PARNAÍBA-PI

Estudo de secas moderadas no estado da Paraíba identificadas pelo IPP-24 meses

ADELGICIO FARIAS BELO FILHO A TEORIA DA ENTROPIA APLICADA NO ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL E DA VAZÃO FLUVIAL NO NORDESTE DO BRASIL

MODELO ESTATÍSTICO PARA PROGNÓSTICO DAS CHUVAS DE OUTONO NOS SERTÕES DA PARAIBA PARA O ANO DE 1999 RESUMO

RENDIMENTO DAS CULTURAS DE SEQUEIRO NO NORDESTE DO BRASIL. PARTE II: ASSOCIAÇÃO COM EL NIÑO E DIPOLO RESUMO

LOCALIZAÇÃO UF AGÊNCIA ENDEREÇO COMPLETO TELEFONE

DISTRIBUIÇÃO SAZONAL DO ÍNDICE DE EROSIVIDADE DA CHUVA PARA AS MICROREGIÕES DO ESTADO DO TOCANTINS RESUMO

VARIABILIDADE ESPACIAL DE PRECIPITAÇÕES NO MUNICÍPIO DE CARUARU PE, BRASIL.

VARIABILIDADE INTERANUAL E ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO COM DADOS DO CPC PARA O ALTO SERTÃO PARAIBANO

O Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, TCE-PB, é uma instituição pública de CONTROLE EXTERNO. Sua principal função é FISCALIZAR O USO DOS

UFPA- FAMET- Brasil- Belém-

ANÁLISE DO ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO DA REGIÃO GEOADMINISTRATIVA DE POMBAL-PB ATRAVÉS DA GERAÇÃO DE ISOEITAS

VARIABILIDADE NO REGIME PLUVIAL NA ZONA DA MATA E AGRESTE PARAIBANO NA ESTIAGEM DE

Mudança climática global e o comportamento da precipitação de longo prazo no estado da Paraíba

o presente trabalho visa identificar sub-regiões homogêneas

SEMIDESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE DO BRASIL. (1) Professor DCA/CCT/UFPB,

RELAÇÕES DAS PRECIPITAÇÕES DA PRÉ-ESTAÇÃO COM O PERÍODO CHUVOSO NO ESTADO DA PARAÍBA

EDITAL N o. 001/2013 PROCESSO DE SELEÇÃO

ANÁLISE DA VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRINHAS PB A PARTIR DE SÉRIES HISTÓRICAS

PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DA PARAÍBA

Revista Brasileira de Geografia Física

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR,2002

COMPORTAMENTO DO REGIME PLUVIOMÉTRICO MENSAL PARA CAPITAL ALAGOANA MACEIÓ

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE BRASILEIRO ( ) PARTE 1 ANÁLISE ESPACIAL RESUMO

VARIABILIDADE TEMPORAL DE PRECIPITAÇÕES EM CARUARU PE, BRASIL

Climatologia da Precipitação no Município de Igarapé-Açu, PA. Período:

ANÁLISE ESTATÍSTICA DO REGIME PLUVIOMÉTRICO E DE SUA TENDÊNCIA PARA OS MUNICÍPIOS DE PORTO DE PEDRAS, PALMEIRA DOS ÍNDIOS E ÁGUA BRANCA

ESTADO DA PARAÍBA SECRETARIA DE ESTADO DA RECEITA _

ATUAÇÃO DO PAR ANTICICLONE DA BOLÍVIA - CAVADO DO NORDESTE NAS CHUVAS EXTREMAS DO NORDESTE DO BRASIL EM 1985 E 1986

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA E DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVA EM CALÇOENE LOCALIZADO NO SETOR COSTEIRO DO AMAPÁ

PRECIPITAÇÕES MÁXIMAS DIÁRIAS PARA REGIÕES DO ESTADO DE ALAGOAS RESUMO INTRODUÇÃO

ANÁLISE TEMPORAL DO REGIME PLUVIOMÉTRICO NO MUNICÍPIO DE CATOLÉ DO ROCHA-PB

ANÁLISE DOS EVENTOS PLUVIAIS EXTREMOS

ANÁLISE TEMPORAL DA DISTRIBUIÇÃO DE CHUVAS NO SERTÃO NORDESTINO

PLUVIOSIDADE HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE-PB PARA PLANEJAMENTO AGRÍCOLA E CAPTAÇÃO DE ÁGUA

ANÁLISE DE SÉRIE HISTÓRICA DE PRECIPITAÇÃO. ESTUDO DE CASO: PRINCESA ISABEL PB

EVAPORAÇÃO MENSAL E ANUAL PELO MÉTODO DE THORNTHWAITE PARA MATINHAS - PARAÍBA, BRASIL

INFLUÊNCIA DO RIO SÃO FRANCISCO NO MICROCLIMA DE SUAS MARGENS. Antônio Heriberto de Castro TEIXEIRA. 1, Bernardo Barbosa da SILVA 3 RESUMO

ENTROPY OF RAINFALL IN RAIN CABACEIRAS MUNICIPALITY - PB, BRAZIL

CLIMATOLOGIA PLUVIOMÉTRICA PARA O MUNICÍPIO DE POMBAL-PB

BALANÇO HÍDRICO CLIMÁTICO DE JUAZEIRO - BA

ESTIMATIVA DA PRECIPITAÇÃO EFETIVA PARA A REGIÃO DO MUNICÍPIO DE IBOTIRAMA, BA Apresentação: Pôster

ANÁLISE DA VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS PB: SÉRIE HISTÓRICA DE 1911 À 2016

PLANEJAMENTO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA A PARTIR DE UM TELHADO DE 75 M2 NO MUNICIPIO DE AREIA

CHUVAS INTENSAS NO ESTADO DA PARAÍBA. Ricardo de Aragão 1 Eduardo E. de Figueiredo 2 Vajapeyam S. Srinivasan 3 Raimundo S. S.

ANALISE DA VARIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE POMBAL/PB: A PARTIR DA SÉRIE HISTÓRICA DE 1911 Á 2016

CONDIÇÕES HÍDRICAS DO ESTADO DA PARAÍBA SOB DIFERENTES CENÁRIOS DO TEMPO.

ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL DO ESTADO DA PARAÍBA PARA OS ANOS DE 1994 A 2014

NOTA TÉCNICA No. 014/2012/CAPRE/CDP/INMET

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PÃO DE AÇÚCAR DURANTE 1977 A 2012

APTIDÃO AGROCLIMÁTICA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAUEIRA NO MUNICÍPIO DE FLORIANO, PI RESUMO

CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM REGIÕES DE GRANDE VARIABILIDADE INTERANUAL E INTERDECADAL DE PRECIPITAÇÃO

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE PETROLINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

A CULTURA DO FEIJÃO CAUPI (Vigna unguiculata (L.) Walp.) NO ESTADO DA PARAÍBA E SUA APTIDÃO CLIMÁTICA

ÁREAS DO ESTADO DA PARAÍBA COM PREDISPOSIÇÃO AMBIENTAL AO PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DO SUB-MÉDIO SÃO FRANCISCO EM EVENTOS CLIMÁTICOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

EVENTOS DE CHUVAS INTENSAS EM PERNAMBUCO DURANTE A ESTAÇÃO CHUVOSA DE FEVEREIRO A MAIO DE 1997: UM ANO DE TRANSIÇÃO

XII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS VARIABILIDADE DAS PRECIPITAÇÕES PLUVIOMÉTRICAS NO ESTADO DO PARANÁ.

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL E EROSIVIDADE MENSAL E ANUAL NO ESTADO DO TOCANTINS

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

A ANOMALIA DE CHUVAS NO ANO 2016 NO SEMIÁRIDO PARAIBANO

FLUTUAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ALAGOA NOVA, PARAÍBA, EM ANOS DE EL NIÑO

Análise da influência do sistema Cantareira na sub-bacia do rio. Atibaia através do Multiscale Sample Entropy (MSE)

DINÂMICA DA PRECIPITAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A VAZÃO NA BACIA DO RIO TAPEROÁ

ANÁLISE DA FREQUENCIA DA PRECIPITAÇÃO DIÁRIA NO MUNICÍPIO DE ÁGUIA BRANCA ES.

MONITORAMENTO DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE PE UTILIZANDO A TÉCNICA DOS QUANTIS. 3

ANÁLISE TEMPORAL DO REGIME FLUVIOMÉTRICO DO RIO PIANCÓ AO LONGO DE 41 ANOS: ESTUDO DE CASO DA ESTAÇÃO PAU FERRADO

Transcrição:

A TEORIA DA ENTROPIA NO ESTUDO DA VARIABILIDADE ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL DO ESTADO DA PARAÍBA Vicente de Paulo Rodrigues da Silva, Enilson Palmeira Cavalcanti, Cleiber Pereira Neves e João Hugo Baracuy da Cunha Campos Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências e Tecnologia, Departamento de Ciências Atmosféricas Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande, PB, CEP: 58 109 970 e-mail: vicente@dca.ufpb.br ABSTRACT The objective of this research was the evaluation of the rainfall variability degree in Paraíba state. Daily rainfall observed at a network of 58 raingauges in Paraíba State is analyzed using Shannon`s entropy theory. The results showed that rainfall entropy is height in sites and periods with height rainfall values and is low in sites and periods with small rainfall values. INTRODUÇÃO A precipitação pluvial média anual no semi-árido do Estado da Paraíba é inferior a 800 mm e na parte litorânea os totais anuais podem superar a 1500 mm. A variação espacial da precipitação pluvial nesse Estado é provocada por diferentes sistemas atmosféricos que atuam na costa leste do Nordeste do Brasil e delimita áreas pluviometricamente homogênea na região. ROUCOU et al. (1996) observaram que a precipitação pluvial no Nordeste do Brasil também é associada aos movimentos verticais ascendentes de ar e a migração da zona de convergência intertropical (ZCIT). De acordo com SILVA (1996) a distribuição anual e intranual das chuvas nas microrregiões do Estado da Paraíba é muito semelhante àquelas das microrregiões circunvizinhas; e, apesar de sua pequena área (56.584,6 Km 2 ), esse Estado apresenta as estações chuvosas bem definidas, ou seja, no sertão de janeiro a março, no Cariri e Agreste de março a maio e na Mata Paraibana de abril a junho. O termo entropia, como conceito científico, é originário da Física e foi inicialmente utilizado em termodinâmica por Clausius em 1850. Sua interpretação probabilística, dentro da mecânica estatística, é atribuída a Boltzmann em 1877, tendo o seu relacionamento com probabilidade sido registrado vários anos depois, em 1906, por Planck. Posteriormente, SHANNON (1948) utilizou o conceito de entropia em análise econômica e na solução de problemas relacionados com a teoria de codificação e transmissão de dados. Essa contribuição à teoria moderna da informação tem sido atualmente aplicada em diversas áreas do conhecimento, tais como hidrologia (SINGH, 1987), matemática (DRAGOMIR et al., 2000), economia (KABERGER & MANSSON, 2001), ecologia (RICOTTA, 2001), climatologia (KAWACHI et al., 2001) e medicina (MONTAÑO et al., 2001), dentre outras. CHAPMAN (1986) aplicou o conceito de entropia condicional para comparar a eficiência de modelos hidrológicos. RAJAGOPAL et al. (1987) apresentaram novas perspectivas para aplicação potencial da entropia em pesquisas relacionadas com recursos hídricos. SONUGA (1976) descreveu a aplicação do princípio da entropia no processo de modelagem de chuva-vazão e observou que essa técnica pode ser utilizada quando a disponibilidade de dados é mínima. KAWACHI et al. (2001) utilizaram o conceito de entropia para avaliar o grau de variabilidade da precipitação pluvial no Japão e obtiveram mapas de disponibilidade de água. O tamanho reduzido das amostras tornam a análise da distribuição de probabilidade da variável, por métodos convencionais, muito difícil. Esse problema pode ser evitado através do uso da teoria da entropia, que é capaz de determinar distribuições de probabilidades menos parcial com pequenas amostras de dados. Essa característica da entropia é particularmente eficiente em estudos onde a escassez de dados é grande. A teoria da entropia oferece uma forma natural para determinar os riscos associados aos sistemas ambientais ou de recursos hídricos, e pode servir, também, como base de análise de confiança. Sua natureza é, particularmente, estatística ou probabilística, e pode ser interpretada como uma medida da quantidade do caos ou como a falta de informação sobre o sistema. O desenvolvimento da teoria da entropia por SHANNON em 1940 e o princípio da máxima entropia por JANES em 1950 têm sido amplamente utilizados em ciências ambientais em diversos países do mundo, entretanto, no Brasil, essa metodologia é ainda incipiente. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo aplicar a teoria da entropia nas séries temporais de precipitação pluvial do Estado da Paraíba, com vistas à delimitação de áreas com o mesmo grau de variabilidade temporal. 338

MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas 58 séries diárias de precipitação pluvial do Estado da Paraíba com 10 anos de dados. O período de estudo de cada série variou em função do critério de utilizar apenas aquelas com 10 anos de dados contínuos e absolutamente sem falhas. A Tabela 1 exibe a relação dos postos pluviométricos, com suas respectivas coordenadas geográficas, utilizados neste estudo. A entropia de uma variável aleatória contínua, X, pode ser obtida como (LATHI, 1968): + H( X) = f(x) log[f(x)]dx (1) - em que x é uma observação de X, f(x) é a função de densidade de probabilidade de X e H(X) é a estimativa da entropia que descreve a informação contida em X. A função de densidade de probabilidade definida pela Eq.1 foi discretizada para se obter as médias anuais da entropia da precipitação pluvial, através da seguinte equação: H = k p i log p i (2) em que p i é o resultado da probabilidade da enésima variável aleatória discreta, k é uma constante positiva, cujo valor depende das unidades utilizadas, e H é a entropia da variável aleatória discreta. A unidade de entropia pode ser bit para a base 2, napiers ou nats para a base neperiana e hartley para a base 10. Neste trabalho foi utilizada a unidade bit para entropia, com k = 1, que significa dígito binário, ou seja, a menor unidade na notação numérica binária, que pode assumir o valor 0 ou 1. Tabela 1 - Relação dos postos pluviométricos do Estado da Paraíba e suas respectivas coordenadas geográficas. Nº Nome do posto Período Latitude Longitude Altitude (metros) 1 Alagoa Grande 1977-1986 -7,04-35,63 180 2 Aguiar 1935-1944 -7,09-38,17 280 3 Alhandra 1939-1948 -7,43-34,91 049 4 Areia 1912-1921 -6,98-35,72 445 5 Antenor Navarro 1924-1933 -6,74-38,45 240 6 Aparecida 1963-1972 -6,79-38,08 170 7 Araçagi 1967-1976 -6,83-35,39 170 8 Aroeiras 1971-1980 -7,55-35,71 340 9 Barra de Santa Rosa 1943-1952 -6,73-36,06 440 10 Barra de São Miguel 1963-1972 -7,75-36,32 520 11 Balanças 1963-1972 -6,99-38,73 400 12 Belém do Brejo do Cruz 1948-1957 -6,19-37,54 190 13 Boqueirão 1965-1974 -7,49-36,14 380 14 Cabaceiras 1981-1990 -7,49-36,29 390 15 Cajazeiras 1967-1976 -6,89-38,54 291 16 Camalaú 1982-1991 -7,89-36,83 565 17 Campina Grande 1965-1974 -7,23-35,90 508 18 Caraúbas 1971-1980 -7,73-36,49 460 19 Catolé do Rocha 1972-1981 -6,34-37,75 250 20 Condado 1970-1979 -6,92-37,59 260 21 Congo 1963-1972 -7,80-36,66 500 22 Engenheiro Avidos 1976-1985 -6,94-38,44 250 23 Ibiara 1970-1979 -7,51-38,41 330 24 Imaculada 1982-1991 -7,38-37,51 750 25 Ingá 1977-1986 -7,29-35,61 144 26 Itaporanga 1968-1977 -7,30-38,15 230 27 Jericó 1979-1988 -6,56-37,80 215 28 João Pessoa 1960-1969 -7,20-34,81 005 29 Mamanguape 1949-1958 -6,84-35,12 054 Continua. 339

Continuação da Tabela 1. Nº Nome do posto Período Latitude Longitude Altitude (metros) 30 Manaira 1975-1984 -7,71-38,15 605 31 Mataraca 1976-1985 -6,60-35,05 035 32 Monteiro 1953-1962 -7,89-37,13 596 33 Nazarezinho 1966-1975 -6,92-38,32 265 34 Olho D'Água 1982-1991 -7,23-37,75 275 35 Olivedos 1961-1970 -6,99-36,24 545 36 Patos 1967-1976 -7,00-37,31 250 37 Pedra Lavrada 1978-1987 -6,76-36,46 525 38 Picuí 1979-1988 -6,51-36,35 450 39 Pilar 1923-1932 -7,27-35,26 035 40 Pombal 1979-1988 -6,77-37,80 178 41 Princesa Isabel 1982-1991 -7,73-37,99 660 42 Salgadinho 1982-1991 -7,10-36,85 410 43 Salgado de São Félix 1979-1988 -7,36-35,43 400 44 Santa Luzia 1970-1979 -6,87-36,92 290 45 São João do Cariri 1959-1968 -7,38-36,53 445 46 São João do Tigre 1981-1990 -8,08-36,85 616 47 S. José de Lagoa Tapada 1981-1990 -6,94-38,16 260 48 São José de Espinharas 1979-1988 -6,85-37,33 185 49 São José de Piranhas 1982-1991 -7,12-38,50 300 50 São Mamede 1980-1989 -6,93-37,10 270 51 São Seb. Do Umbuzeiro 1972-1981 -8,15-37,01 600 52 Seridó 1976-1985 -6,94-36,38 420 53 Soledade 1980-1989 -7,06-36,36 560 54 Sumé 1965-1974 -7,67-36,90 510 55 Taperoá 1940-1949 -7,22-36,83 500 56 Teixeira 1974-1983 -7,22-37,25 770 57 Uirauna 1979-1988 -6,52-38,41 300 58 Umbuzeiro 1970-1979 -7,70-35,66 553 Se todos os pi s são iguais, isto é p i = 1, então a entropia é: H = log n n 2. Assim, H é uma função monotonicamente crescente em n. Para um dado n, H é máximo quando todos os p i s são iguais. Ao contrário, H é mínimo e igual a zero quando todos p i`s, exceto um, é zero. Isso significa que todo resultado da variável aleatória é sempre o mesmo e, portanto, um dos p i s torna-se unitário. Os mapas de isoentropias (linhas de igual entropia), correspondentes o período anual e aos trimestres seco e chuvoso, serão construídos com a utilização do pacote gráfico GrADS (Grids Analysis and Display System). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os mapas de isoentropias anual e dos trimestres chuvoso e seco do Estado da Paraíba são apresentados nas Figuras de 1 a 3. A análise das isolinhas correspondentes à média anual de entropia revela máximos praticamente em todo Litoral do Estado e na microrregião da Borborema, com valores superiores a 6,0 bits, e mínimos no Cariri e Curimatau, com isolinhas de até 3,9 bits (Figura 1). As microrregiões com mínimo de entropia são também as que chove menos no Estado, e Cabaceiras, que fica localizada no Cariri paraibano, é conhecida como a cidade que menos chove em todo Brasil, com média climatológica de pouco mais de 300 mm anuais. Nas microrregiões do Litoral, Brejo, Agreste e pequena parte do Sertão (Oeste do Estado) a entropia foi superior a 5,0 bits. Na grande dessa última microrregião, obteve-se isoentropias com valores intermediários entre 4,0 e 5,0 bits. Isso significa que a variabilidade da precipitação pluvial anual do Estado da Paraíba aumenta do Litoral para o Sertão, sendo mínima na zona da mata e máxima no Cariri e Curimatau. Esse padrão de comportamento da isoentropia também é observado no trimestre seco (Figura 2). A entropia decresceu da Zona da Mata para o Sertão, com máximos no Litoral Norte, pequena parte do Litoral Sul e na microrregião da Borborema, com valores de aproximadamente 0,4 bits. Ainda no trimestre seco, o menor valor da entropia foi de 0,2 bits, entre a 340

microrregião da Borborema e o Oeste do Estado, durante a estação de baixa pluviosidade. Essa análise evidencia que durante a estação seca a variabilidade da precipitação pluvial é menor no Litoral e maior nas demais áreas do Oeste do Estado. Os baixos valores apresentados da entropia para esse período são atribuídos a alta variabilidade da precipitação pluvial. No trimestre chuvoso (Figura 3), onde ocorre baixa variabilidade decorrente dos altos valores da isoentropia, quando comparados com os do trimestre seco (Figura 2). KAWACHI et al. (2001) obtiveram valores de entropia que variaram de 5,7 a 6,7 bits quando analisaram o padrão de comportamento da precipitação pluvial no Japão. O mapa de isoentropias do trimestre chuvoso exibido na Figura 3 apresenta máximos de entropia no Oeste e mínimos no Litoral do Estado. Esse comportamento é aparentemente conflitante quando comparado com a distribuição de entropia anual e do trimestre seco. Entretanto, para ilustrar as distribuições de precipitação pluvial e de entropia nessas regiões, a Tabela 2 exibe a percentagem dos totais pluviométricos dos trimestres secos e chuvosos e as médias da entropia anual e dos dois trimestres, correspondentes a seis localidades do Estado da Paraíba, sendo três localizadas no Litoral e no Brejo paraibano (Araçagi, Areia e Alhandra) e três no Sertão (Belém do Brejo do Cruz, Aguiar e Aparecida). Tabela 2 - Precipitação pluvial dos trimestres (Prec-T) chuvoso e seco, em relação ao total, em percentagem, entropia dos trimestres (Ent-T) chuvoso e seco e entropia anual (Ent-Anual), em bits, em diferentes regiões do Estado da Paraíba Localidades Prec-T chuvoso (%) Prec-T Seco (%) Ent-T Chuvoso ( bit ) Ent-T Seco ( bit ) Ent-Anual ( bit ) Período chuvoso Período seco Araçagi 47,16 6,59 2,32 0,39 5,10 mai-jul out-dez Belém B. Cruz 74,34 1,46 3,03 0,05 4,20 fev-abr ago-out Aguiar 67,78 2,63 3,33 0,19 5,14 fev-abr ago-out Areia 44,84 6,12 2,74 0,44 6,20 mai-jul out-dez Aparecida 67,36 1,33 3,28 0,08 5,05 fev-abr ago-out Alhandra 46,10 5,44 2,68 0,43 6,03 mai-jul set-nov Figura 1- Mapa de isoentropias anual do Estado da Paraíba, com base na média de dez anos de dados 341

Figura 2 - Mapa de isoentropias do trimestre chuvoso do Estado da Paraíba, com base na média de dez anos de dados Figura 3 - Mapa de isoentropias do trimestre seco do Estado da Paraíba, com base na média de dez anos de dados 342

A Tabela 2 evidencia, ainda, que nas localidades de Araçagi, Areia e Alhandra, pertencentes as microrregiões do Litoral e Brejo paraibano, a precipitação pluvial do trimestre chuvoso foi inferior a 50% do total anual e a entropia foi, respectivamente, 2,32; 2,74 e 5,44 bits. A precipitação nesse trimestre, entretanto, nas localidades de Belém Brejo do Cruz, Aguiar e Aparecida, localizadas no Sertão paraibano, foi em torno de 70% do total anual e a entropia foi, respectivamente, 3,03; 3,33 e 3,28 bits. Nas microrregiões do Oeste do Estado, a maior parte da precipitação pluvial anual concentra-se no trimestre chuvoso, enquanto no Brejo e Litoral a chuva é melhor distribuída ao longo do ano. O percentual do total precipitado no trimestre seco foi maior nas localidades do Brejo e Litoral que nas localidades do Sertão. A entropia também manteve-se maior nas localidades de maior pluviosidade nesse período. Ressalta-se que a precipitação média anual do Brejo e Litoral do Estado da Paraíba é superior 1.500 mm e no Sertão, que encontra-se inserido no interior do semi-árido nordestino, é inferior a 800 mm anuais. Em resumo, ao contrário da distribuição anual e do trimestre seco, em geral, a entropia da precipitação no trimestre chuvoso nas localidades do Sertão é maior que a entropia das localidades do Litoral e Brejo paraibano, embora a precipitação média anual dessas microrregiões seja bastante superior a do Sertão. Assim, no trimestre chuvoso a variabilidade da precipitação é maior no Litoral e Brejo e menor no Sertão, justamente o inverso do comportamento anual e do trimestre seco. Esses resultados indicam que a entropia da precipitação é maior nos locais e períodos de maior pluviosidade e menor quando esses locais e períodos estão sujeitos a baixos índices de precipitação pluvial. A evidência desse resultado leva à constatação de que a variabilidade da precipitação pluvial no Estado da Paraíba é menor no Litoral e Brejo e maior no Sertão, durante o ano e o trimestre seco. Por outro lado, durante o trimestre chuvoso a variabilidade é maior no Litoral e Brejo e menor no Sertão. CONCLUSÕES Os resultados aqui apresentados permitem concluir que a entropia da precipitação no Estado da Paraíba é maior nos locais e períodos de maior pluviosidade e menor quando esses locais e períodos estão sujeitos a baixos índices de precipitação pluvial. A variabilidade da precipitação pluvial nesse Estado é menor no Litoral e Brejo e maior no Sertão, durante o ano e o trimestre seco; enquanto, durante o trimestre chuvoso a variabilidade é maior no Litoral e Brejo e menor no Sertão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DRAGOMIR, S.S.; SCHOLZ, M.L.; SUNDE, J. Some upper bounds for relative entropy an applications. An International Journal Computers and Mathematics with Applications, v.39, p.91-100, 2000. CHAPMAN, T.G. Entropy as a measure of hydrologic data uncertainty an model performance. Journal Hydrolohy, v.85, p.111-126, 1986. KABERGER, T.; MANSSON, B. Entropy and economic processes physics perspectives. Ecological Economics, v.36, p.165-179, 2001. KAWACHI, T.; MARUYAMA, T.; SINGH, V.P. Rainfall entropy delineation of water resources zones in Japan. Journal of Hydrology, v. 246, p.36-44, 2001. LATHI, B.P. An introduction to random signals and communication theory. International texbook company, Scanton, Pennsylvania, 1968. MONTAÑO, M.A.J.; EBELING, W.; POHL, T.; RAPP, P.E. Entropy and complexity of finite sequences as fluctuating quantities. BioSystems, n.64, p.23-32, 2001. RAJAGOPAL, A. K.; TEITLER, S.; SINGH, V.P. Some new perspectives on maximum entropy techniques in water resources research, in Singh, V. P. (Ed) Hydrologic frequency modeling. D. Reijel Publishing Dordrechet, p.247-366, 1987. RICOTTA, C. Bridging the gap between ecological diversity indices and measures of biodiversity with Shannon s entropy: comment to Izák and Papp. Ecological Modeling, n.46, p.1-3, 2001. ROUCOU, P.; ARAGÃO, J.O.R.; HARZALLAH, A. ; FONTAINE, B.; JANICOT, S. Vertical motion, changes to Northeast Brazil rainfall variability: A GCM simulation. International Journal of Climatology, v.16, p.879-891, 1998. SHANNON, C.E. The mathematical theory of communications. I and II Bell System Tech. Journal, 1948. SILVA, V.P.R.; AZEVEDO, P.V.; BRITO, J.I.B. Origem do máximo relativo de pluviometria no extremo oeste do Estado da Paraíba. In: Congresso Argentino de Meteorologia, 7, Congresso, Latinoamericano e Ibérico de 343

Meteorologia, 7, 1996, Buenos Aires, Anais... Buenos Aires: Centro Argentino de Meteorológos y Federación Latinoamericana Y Ibérica de Sociedade de Meteorologia, p.101-102. 1996. SINGH, V. P.; AND RAJAGOPAL, A. K. Some recent advances in application of the principle of maximum entropy (POME) in hydrology. IAHS 194, p.353-364, 1987. SONUGA, J.O. Entropy principle applied to the rainfall-runoff process. Journal of Hydrology, n.30, p.81-94, 1976. 344