Ba n king hospitais Coimbra destrona São João ao fim de três anos Saúde. O Centro Hospitalar de Coimbra ultrapassa pela primeira vez o Hospital de São João, do Porto, na avaliação da Escola Nacional de Saúde Pública. A unidade do Centro foi a que mais reduziu o número de mortes por doenças como diabetes ou pneumonia Entrevista Constantino Sakellarides analisa dados na última página do DN Cardiologia Santa Marta é centro de referência nas doenças vasculares Interior Tondela- -Viseu quer fazer melhor a pesar de cortes Reportagem Coimbra também lidera no combate ao cancro Análise Os melhores hospitais a tratar as oito doenças que mais matam Pediatria São João, o melhor serviço do País, aposta na proximidade
DIANA MENDES É a primeira vez que o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) lidera o rankingdos hospitais. E foram os ganhos na redução da mortalidade e das complicações, ao analisar dados de 20 12, que o levaram a destronar o Centro Hospitalar de São João. A unidade do Norte do País, que esteve três anos em primeiro lugar, acabou por ser a que menos reduziu a mortalidade em relação ao ano anterior, apesar de ser ainda a melhor de todas neste indicador. Os resultados fazem parte da "Avaliação de Desempenho dos Hospitais Públicos de 20 12 ", desenvolvida pela Escola Nacio - nal de Saúde Pública, que analisa 41 hospitais e centros hospitalares em Portugal em vários indicadores relacionados com o internamento de doentes. Carlos Costa, o coordenador do trabalho em conjunto com Sílvia Lopes, disse ao DN que o CHUC conseguiu ser "o segundo hospital a melhorar mais em termos de mortalidade, e foi o que melhores resultados conseguiu nas complicações de cuidados", que podem explicar-se com erros ou eventos adversos. O São João, "embora ocupe aprimeira posição namortalidade em 2012, foi o que teve piores resultados em comparação com o ano anterior". Nas complicações de cuidados, apesar das melhorias, não está sequer entre os dez primeiros. E nos 17 grupos de doenças avaliados apenas melhorou em dois. No CHUC, houve nove áreas que melhoraram. Os três primeiros lugares foram ocupados pelos três maiores hospitais do País: a Coimbra e São João junta-se o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, de que faz parte Santa Maria. Mas Carlos Costa diz que a relação produção-qualidade não é assim tão linear, porque há unidades com menos produção no Top 10. 0 Centro Hospitalar do Porto, que em 20 1 1 nem sequer estava nos dez melhores, é agora quinto. "Foi o hospital que mais melhorou nos resultados de mortalidade e nas readmissões de doentes. Melhorou muito em relação a ele próprio." Estes dados são um "sistema de informação para os utentes, que pode ajudar a escolher as unidades, em especial na resposta a doenças específicas. Mas, para já, ainda não há uma verdadeira liberdade de escolha". Para os profissionais e para os gestores é também umaforma de melhorar as respostas aos doentes.
Melhores nas doenças que mais matam Unidades evitam maior número de mortes Melhoria. Coimbra volta a destacar-se e está no Topõáe sete em oito das principais causas de morte, como pneumonias e diabetes DIANA MENDES Cortes de financiamento, redução de camas e internamentos. Os hospitais resistiram a todas as intempéries e conseguiram mesmo aumentar em 28,8% o número de mortes evitáveis em apenas sete anos. Os dados, apurados no estudo, comparam as mortes evitadas no internamento, "tendo como comparação as mortes esperadas nos EUA", explica Carlos Costa. A melhoria foi em todos os anos, mas em 2010 houve o valor mais elevado: 7,2%. Em 2012, a melhoria foi de 4,4%. "Aparentemente as mudanças não tiveram impacte negativo no desempenho dos hospitais públicos de Portugal Continental dado que estes ganhos respeitam a todos os hospitais." Entre as principais causas de morte, destaca-se o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, que está no Top 5 de sete em oito das principais causas de morte. E lidera mesmo na resposta nas pneumonias, cancro do pulmão e diabetes. No cancro da mama e do cólon e reto, é o IPO do Porto que que melhores resultados tem. Nas doenças cardiovasculares as unidades do Norte distinguem- -se: o São João no enfarte do miocárdio, seguido de Braga, e no AVC é um hospital mais pequeno a liderar: Tondela- Viseu, seguido do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Santa Maria, o maior hospital do País, que se destacava em 2011 napneumoniaouavc, deixou a liderança. Aliás, nas sete doenças mais fatais, aparece em quinto no cancro colorretal, em segundo na pneumonia e em quarto noavc. Oinvestigador lembra que compete aos hospitais e Governo investigar as causas dos resultados. Autor entende que compete às unidades explicar resultados
Instituto Português de Oncologia do Porto > Centro nortenho recebe mil novos casos de cancro da mama por ano, um quarto do total do País, e tem uma alta taxa de sobrevivência. Conhecimento explica resultados tradição O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPOP) tem o melhor desempenho no cancro da mama, de acordo com o trabalho da Escola Nacional de Saúde Pública. O orientador da clínica da mama, Joaquim Abreu, admite "algumas reservas em relação à metodologia do estudo, que usa poucos indicadores para fazer a análise comparativa da performancedos hospitais portugueses". Na oncologia, explica, "o mais importante é a taxa de sobrevivência", e o estudo incide sobre a mortalidade a 30 dias. Realçando que os hospitais que tratam maior número de doenças têm melhores resultados, o coordenador da clínica da mama considera que o sucesso do IPOP no tratamento do cancro da mama se deve ao "conhecimento consolidado, à investigação clínica, à formação contínua". O IPOP recebe mil novos casos de cancro da mama por ano, "um quarto do total do País", e tem uma das taxas de sobrevivência mais elevadas da Europa: "86 por cento de sobrevivência aos cinco anos. O IPOP tem uma longa tradição no tratamento da doença." J.C. Formação, investigação e protocolos O conhecimento acumulado, a investigação clínica regular e os protocolos de tratamento muito bem definidos para todos os cancros da mama são elogiados. Destaque, ainda, para os recursos técnicos e humanos do hospital no seu todo e para o rigor técnico e a eficiência do serviço. Otimizar, aprender e inovar A organização por clínicas de patologia permite a diferenciação das pessoas e o trabalho multidisciplinar no IPO do Porto. A organização faz que áreas específicas consigam otimizar-se e aprender mais. Dispõe de tratamentos inovadores, como a radioterapia intraoperatória. Instituto Português de OncoLogia do Porto > 900 pacientes passam por ano no IPO Porto. Dos casos mais complexos aos mais simples, tudo reverte em experiência para as equipas. Clínicas de patologia são resposta rigor O cancro colorretal mata mais de dez pessoas por dia em Portugal. Estima-se que afete cerca de um milhão em todo o mundo. Nesta doença, o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPOP) lidera o ranking, sendo o hospital com menor taxa de mortalidade. O coordenador da Clínica de Patologia Digestiva do IPOP Flávio Videira, mostra-se "muito satisfeito" com o resultado, uma vez que "o hospital tem uma atividade muito intensa e um grande rigor no tratamento da doença." A forma como o IPOP está organizado, por clínicas de patologia, é, para o coordenador, uma das chaves do sucesso, bem como "ainteração entre os profissionais", que gera "bons resultados." O serviço do Instituto Português de Oncologia do Porto trata aproximadamente 900 doentes por ano com cancro do cólon e do reto. "Dos casos mais simples aos mais complexos, o que cria experiência na patologia." Flávio Videira destaca, ainda, "a dedicação e o empenho de todos os profissionais", cujas preocupações vão "do rastreio dos familiares aos tratamentos diferenciados." J.C.
Centro HospitaLar e Universitário de Coimbra > Doença motivou mais internamentos em 2013, aumento que está a ser investigado. EspeciaLista entende que que "se trabalha bem nesta área". Organização na base de bons resultados vanguarda A pneumonia afeta sobretudo os grupos mais jovens e mais idosos. "Trabalha-se francamente bem nesta área em Portugal", afirma o diretor do serviço de pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC), Mário Loureiro, que neste ano lidera no combate à doença. O responsável considera que os hospitais "desta dimensão são competentes e encontram-se bem classificados". No caso concreto do CHUC, Mário Loureiro diz que os bons resultados estarão relacionados com o facto de "ser vanguardista ao nível da organização e na mobilização por parte dos profissionais". O diretor do serviço destaca, ainda, que "este primeiro lugar é atribuído a um conjunto de doenças relacionadas com o pulmão". Em 2012, o serviço de pneumologia contabilizou 1600 internamentos, "e a pneumonia ocupou uma fatia significativa desse número." A patologia tem sido "objeto de pesquisa", atéporqueem2ol3 houve "um acréscimo de internamentos devido à doença. Tem havido mais investigação a fim de se perceber o porquê desse crescimento." J.C. Assistir, ensinar e investigar com excelência O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra obedece a um plano de organização com as valências de assistência, docência e investigação. Há a pretensão de atingir a excelência por parte da administração do hospital e uma forte dedicação de todos os grupos profissionais. Via prioritária e motivação dos profissionais O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra tem uma via prioritária para os doentes com cancro do pulmão, um acesso rápido a todos os exames necessários para o diagnóstico ou para a elaboração de um plano. O conselho de administração é elogiado por apoiar os profissionais. Centro HospitaLar e Universitário de Coimbra > Proximidade aos doentes, que são considerados "família", e relação de "confiança mútua" explicam resultados de excelência. Equipa dedicada em todo o processo humanismo O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) volta a liderar o ranking, como melhor desempenho ao nível do cancro do pulmão. Para Alice Pego, da Comissão de Coordenação Oncológica do CHUC, os bons resultados devem-se "a uma equipa médica multidisciplinar, de enfermagem e outros, que nos últimos anos, com muito entusiasmo e humanismo, tem vindo a dedicar- se a esta patologia tão difícil". Coimbra destaca-se na mortalidade, mas também nas complicações dos cuidados e nos reinternamentos após alta. Alice Pego diz que a equipa trabalha "todos os dias para alcançar os melhores resultados". No entanto, não são as posições no rankingque mais interessam aos profissionais do CHUC: "O que nos importa é o tratamento dos doentes, que consideramos como a nossa família." Há um trabalho de proximidade com o doente e a família, com base numa relação de "confiança mútua", "transmitindo sempre uma ideia de esperança." Em segundo lugar neste ranking aparece o Centro Hospitalar de São João, no Porto. J.C.
Centro HospitaLar de São João > VaLorizar o aspeto humano e motivacional é uma das explicações avançadas para os bons resultados que se repetem nos últimos anos Boa articulação entre sectores referência O Centro Hospitalar de São João evidenciou-se, uma vez mais, na abordagem à doença isquémicado coração (inclui enfarte do miocárdio), liderando a tabela da Escola Nacional de Saúde Pública, com a menor taxa de mortalidade. Para Júlia Maciel, diretora do serviço de cardiologia do Hospital de São João, não é fácil explicar este resultado: "Tenho dificuldade em explicar porque é que ficamos em primeiro lugar há vários anos. Não fazemos nada diferente do que se faz nos outros hospitais." Dentro "do contexto atual, todos dão o seu melhor, existindo uma boa articulação de todos os sectores." Há uma preocupação em "rentabilizar, valorizando os aspetos humanos e a motivação". O diretor do Programa Nacional para as Doenças Cerebrovasculares diz que o CHSJ "é seguramente umareferência a nível nacional, isso não se coloca em causa", mas critica o ranking que é feito. "Apenas analisa uma fração do problema. Não tem em conta a acessibilidade, por exemplo, nem as transferências entre unidades hospitalares", aponta o responsável. J.C. Via verde acelera assistência O São João tem uma equipa multidisciplinar motivada e preocupada em dar uma resposta rápida ao doente. A via verde coronária é muito importante na acessibilidade, uma vez que permite aos doentes que demonstrem dificuldades cardíacas um acesso rápido aos cuidados. Via verde antecipa sequelas graves O hospital destaca a sua via verde intra-hospitalar, que permite que os doentes com sintomas de AVC sejam rapidamente observados e facilita uma utilização atempada de terapêutica. De realçar, ainda, a unidade dedicada à doença, a humanidade no tratamento e profissionais dedicados. Centro HospitaLar de TondeLa e Viseu > Todos os anos, entram mil doentes com AVC na unidade de Viseu e TondeLa, 440 seguem para a unidade especializada, aberta há cinco anos. Casuística elevada é motor de experiência resposta As doenças cerebrovasculares estão entre as que mais matam em Portugal. A cada meia hora dá entrada num hospital português uma vítima de acidente vascular cerebral (AVC). Nesta área, o estudo da Escola Nacional de Saúde Pública destaca o Centro Hospitalar de Tondela eviseu, com a menor taxa de mortalidade. O CHTV abrange uma extensa área geográfica, com uma população muito envelhecida, sendo a idade avançada um dos fatores de risco para a doença. Para Alexandra Guedes, adjunta da direção clínica, "uma casuística elevada de AVC é uma das explicações para os bons resultados" desta unidade. Anualmente entram mil doentes com AVC no CHTVe 440 - "os casos mais graves" - seguem para a unidade de AVC, aberta há cinco anos. "Uma casuística deste tipo obriga a uma resposta organizada e de qualidade. E é um bom motor para a experiência", realça Alexandra Guedes. Com avia verde pré e intra-hospitalar, há uma preocupação permanente "em atender o mais breve possível e com a melhor qualidade", conclui a adjunta da direção clínica. J.C.
Centro Hospitalar Universitário de Coimbra > Em todas as equipas há médicos e enfermeiros sensibilizados para a diabetes que fazem a ponte nos casos em que é necessário intervir Coimbra investe na área da diabetes APOSTA O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) destaca-se não só com a menor taxa de mortalidade na diabetes, mas também nas complicações nos cuidados e nos reinternamentos após alta. Para José Boavida, coordenador do Programa Nacional para a Diabetes, "o conhecimento técnico e científico sobre a doença está generalizado, não existindo grandes diferenças entre os hospitais". A diabetes "é uma doença mais dos cuidados primários do que dos hospitais". A coordenadora do Plano Nacional para a Diabetes do CHUC, Margarida Bastos, refere que "o grupo constituído por médicos, enfermeiros, nutricionistas, faz formação na área da diabetes, existindo elos em todos os serviços do hospital". Além da formação de alunos e profissionais, a mesma realça "o investimento que tem sido feito na área da diabetes, com diferenciação de cuidados e reforço dos profissionais especializados". Entre as mais-valias do CHUC no tratamento da doença estão "a consulta do pé diabético e a área de monitorização contínua da glicose." j.e. Ensino especializado e sensibilização Em todos os serviços existe um médico e um enfermeiro com formação especializada em diabetes. O hospital diz ter o maior serviço de endocrinologia do País, com 16 camas de internamento. Os médicos são docentes na faculdade e começam logo aí a sensibilização para a patologia. Rapidez na cirurgia é princípio O Centro Hospitalar da Cova da Beira destaca o acompanhamento que é feito aos doentes, normalmente seguidos em consulta externa em tempo útil, e o cuidado em operar o mais cedo possível, que são de extrema importância em patologias mais difíceis como o cancro da próstata. Centro Hospitalar da Cova da Beira > Quatro urologistas e uma grande organização neste hospital do Interior do País, que se afirma do cancro da próstata Sempre com boas classificações no tratamento qualidade Todos os anos surgem quatro mil novos casos de cancro da próstata em Portugal, o cancro mais frequente no homem. O ranking dos hospitais destaca o Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB), colocando-o em primeiro lugar, com a menor taxa de mortalidade pela doença. António Coelho, diretor do serviço de urologia, realça que "analisando a mortalidade, é preciso ter em conta que há uma unidade de cuidados paliativos e alguns doentes que acabam por falecer, não sendo contabilizados na estatística do serviço". Além da qualidade dos cuidados prestados, António Coelho adverte que "há essa razão que desvirtua os resultados". A equipa do serviço, que em 20 12 registou 687 internamentos, é constituída por quatro urologistas. "Há uma otimização dos recursos", diz diretor do serviço de urologia da Cova da Beira, salientando que "o serviço de urologia tem tido boas classificações nos últimos anos". Todos "fazem o melhor possível, com os mesmos meios que nos outros hospitais, e eventualmente até menos em determinadas áreas", j.e.