A QUESTÃO DA MEDICINA NATURAL NO AMBIENTE URBANIZADO

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Transcrição:

A QUESTÃO DA MEDICINA NATURAL NO AMBIENTE URBANIZADO Hayala Katarine Dias Ribeiro Alves¹, André Luiz Caes² ¹Graduada em História, bolsista da CAPES do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ambiente e Sociedade/ PPGAS, Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos - GO, hayalakatarine@gmail.com. ²Pós-Doutor em História, docente da Graduação e Pós-Graduação, Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos GO. INTRODUÇÃO A medicina natural e os usos das plantas medicinais, tem sido utilizado pelo homem desde o início de sua história. A busca pelo tratamento de doenças sempre foi uma preocupação constante da humanidade. Há relatos do uso de plantas medicinais e tóxicas nas civilizações mais antigas, constatando o fato de que as plantas é a forma primária na busca de cura das enfermidades do homem. (ANDRADE; CARDOSO; BASTOS, 2007). O estudo das ervas medicinais data de mais de cinco mil anos, na época dos antigos sumerianos 1. O uso de plantas medicinais pelos povos egípcios, contribuíram primordialmente para o desenvolvimento da terapêutica moderna. E antes mesmo da medicina grega, a medicina natural praticada pelos chineses já era conhecida a 2.500 a.c. Um exemplo do uso de plantas medicinais é o Papiro de Ebers, de 1550 a. C., encontrado em Luxor, no Egito, no qual estão relacionadas cerca de 700 drogas diferentes, incluindo extratos de plantas, metais (chumbo e cobre) e veneno de animais (BANOSKI, 2010). O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza, muitas vezes, o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais de todo mundo, mantém em voga a prática do consumo de fitoterápicos, tonando válidas as informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos (MACIEL et al., 2002, p. 1 No artigo Estudo sobre gengibre na medicina popular da revista científica eletrônica de agronomia, os autores trazem a informação de que há registros históricos de cinco mil anos a.c. que mostram que os sumérios já usavam ervas para fins terapêuticos. Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015

429). Portanto, a medicina científica se originou a partir da tradição ocidental que se expandiu pelo mundo. A medicina científica se impôs e obtém espaço decisivo nas ciências como a fisiologia, da química orgânica, da farmacologia e da bioquímica, dentre outras áreas. No século XIX se iniciou a procura pelos princípios ativos presente nas plantas medicinais a partir disso foi criado os primeiros medicamentos com as características que nós conhecemos nos dias atuais. O crescimento populacional e urbanização das cidades, dentre outros aspectos, dos processos de industrialização e globalização cultural e econômica, iniciada um século antes (século XVIII), geraram problemas ambientais e sociais, como a descaracterização da identidade local, o que acarretou na desvalorização de elementos do conhecimento tradicional, no caso, o uso de plantas medicinais. Contudo, segundo a Organização Mundial de Saúde, 80% da população mundial, faz utiliza medicamentos com bases naturais para a cura de enfermidades. O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, sobre o tema proposto e tem a finalidade de analisar a questão da medicina natural a partir do advento da urbanização, dando enfoque aos aspectos ambientais e sociais do crescimento econômico, visando contribuir para um maior entendimento acerca destas questões, além de contribuir no exercício da cidadania na transformação da sociedade atual em uma sociedade com crescimento sustentável. Especificamente, pretende-se estudar as transformações dos modos de utilização das plantas para fins curativos no discorrer da história, principalmente com a instituição da medicina, como ciência, que se deu a partir da modernização e desenvolvimento crescente da tecnologia nesta área. OBJETIVO(S) Geral: O presente trabalho se objetiva em compreender e analisar a relevância do uso da medicina natural no contexto histórico atual, relacionando a pratica da utilização das plantas medicinais com os avanços tecnológicos da indústria química na área medicamentosa e a qualidade de vida no meio

urbanizado. Específicos: 1) Destacar a importância da relação da medicina natural em parceria com os avanços da indústria farmacêutica a partir da produção de medicamentos com base nas plantas medicinais. 2) Averiguar os benefícios e a importância que a fitoterapia possui na sociedade urbanizada e moderna. METODOLOGIA Para a efetivação do presente artigo, metodologicamente se utilizou de procedimentos a partir da pesquisa bibliográfica. Inicialmente foi efetuado o levantamento de referencias bibliográficas, buscando informações e conhecimentos bastante amplos sobre o tema. Obtiveram prioridade os textos que abordaram os aspectos históricos e culturais das práticas de medicina popular e que destacam as origens e desenvolvimento dessas práticas, e a decadência dessas práticas a partir dos processos de industrialização e urbanização. Ainda nesta abordagem, procuramos os significados históricos atribuídos às práticas populares de medicina, visando o entendimento das mudanças de status sofridas nos diversos contextos históricos, principalmente com a modernização da ciência. Num segundo momento da pesquisa bibliográfica, buscou-se levantar as publicações existentes sobre Medicina Natural Popular, Plantas Medicinais, fitoterapia, indústria química farmacêutica e de urbanização, buscando estudar os meios e formas de divulgação das praticas do uso da medicina natural nas sociedades contemporâneas no mundo editorial, visando entender a mudança de significados e espaços da Medicina natural em relação ao meio ambiente e a sociedade, a partir do surgimento e desenvolvimento da tecnologia. Como exemplo dessas publicações têm Barbieri (1997), Castells (2007), Silva (2009), Soares (2007), etc. Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015

Uma vez realizado o levantamento temático, em um terceiro momento, foi possível fazer uma leitura mais criteriosa de cada texto, categorizar as relações de convergências e pertinentes de cada um para a realização deste estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou que o Brasil possui de 15 a 20% da biodiversidade do planeta, possui, portanto, a maior biodiversidade do mundo. Com isso, a biodiversidade brasileira oferece recursos para cura de vários problemas que afligem os seres humanos. Além disso, muitas práticas não convencionais de saúde, como a fitoterapia conquista espaços cada vez maiores, de modo complementar às terapias que possuem base em medicamentos alopáticos (OMS, 2012). No Brasil, a medicina popular está intimamente ligada aos conhecimentos e práticas que estão conectados às tradições dos antepassados, tanto à cultura indígena quanto aos valores trazidos pelos colonizadores e imigrantes e até mesmo a grande influencia trazida pelos negros africanos. Esses conhecimentos foram incorporados pela população e são respeitados no cotidiano, fazendo parte de hábitos e costumes. As plantas medicinais continuaram ocupando um lugar de destaque no arsenal terapêutico sendo muitas vezes, o único recurso de várias comunidades (Maciel et al., 2002). O conhecimento sobre as plantas medicinais sempre tem acompanhado a evolução do homem através dos tempos. Remotas civilizações primitivas se aperceberam da existência, ao lado das plantas comestíveis, de outras dotadas de maior ou menor toxicidade que, ao serem experimentadas no combate às doenças, revelaram, embora empiricamente, o seu potencial curativo. Toda essa informação foi sendo, de início, transmitida oralmente às gerações posteriores e depois, com o aparecimento da escrita, passou a ser compilada e guardada como um tesouro precioso. (ARAÚJO et al., 2007, p. 45). Assim, pode-se dizer que, ao lado dos conhecimentos e tratamentos estabelecidos pela Medicina Científica e que são hegemônicos no Sistema de Saúde Pública, sobrevivem na memória do povo às concepções, crenças e costumes que compõem a Medicina Popular, isto é, os conhecimentos tradicionais sobre tratamentos com plantas que desde o início da colonização do

Brasil passaram de geração em geração por meio da transmissão oral e familiar. A associação entre esses dois tipos de conhecimento e tratamento das doenças constitui hoje um interessante aspecto de nossa cultura. Entretanto a expansão urbana que é irreversível em todo o planeta, trouxe a modernidade, produziu e vem produzindo modos de vida desenraizados dos modos de vida tradicionais, além disso, trouxe consigo alguns, problemas socioambientais. O período de 1870 a 1930, como demonstra Abreu (2001), foi a época da transição do Brasil rural para o Brasil urbano-industrial: Trata-se de período importante da história do país, que inclui a superação do escravismo, o início da industrialização e a decolagem do crescimento urbano. (p.35), foi nessa fase que os interesses capitalistas se impuseram nas cidades Brasileiras. O que era chamado de progresso das cidades culminou em várias consequências como a destruição de várias áreas verdes para que desse lugar ao crescente espaço urbano. Carlos et. al. (2011), destaca que os problemas de dilapidação da natureza não são novos (p. 2). A partir do século XX, surgiram movimentos ambientalistas que chamavam atenção das autoridades para as questões ambientais, por conta do desenvolvimento e modernização desenfreada de muitos países, como demonstra as citações acima. Dentro desta perspectiva, é possível constatar que problemas da cadeia da produção das plantas medicinais começam com os ambientais. Como assinala Barata (2005): Das 400 plantas medicinais comercializadas no Brasil, 75% são de origem extrativa, coletadas diretamente de seu habitat na mata atlântica, Amazônia, caatinga e cerrado, sem qualquer manejo, o que gera grande pressão ambiental no ecossistema causando problemas na sustentabilidade e risco de extinção. (BARATA, 2005, p. 4) Com a degradação do meio verde a partir da efetivação da urbanização nas cidades e ao vasto extrativismo exploratório de grandes habitats, dentre outros problemas ambientais, fomenta o risco de desaparecimento de diversas espécies de plantas (MENDES et. al., 2005). Além disso, o avanço tecnológico valorizou a evolução na área da química, na produção de remédios sintéticos e como consequência houve a desvalorização do empirismo da alquimia. Vale ressaltar que a medicina científica contribuiu e muito, para a melhoria da qualidade de vida do homem, proporcionando um maior tempo de vida para as pessoas desde o seu surgimento Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015

(GERBER, 1988). Contudo, nas últimas décadas, foi notável um crescente interesse pelo uso de plantas medicinais, no ramo da fitoterapia, servindo para auxiliar nos cuidados iniciais da saúde e um complemento para a medicina científica, como aponta França et.al, (2008): Estudos sobre a medicina popular vêm merecendo atenção cada vez maior, devido ao contingente de informações e esclarecimentos que vêm sendo oferecidos à Ciência. Esse fenômeno tem propiciado o uso de chás, decoctos, tisanas e tinturas, fazendo com que, na maioria dos países ocidentais, os medicamentos de origem vegetal sejam retomados de maneira sistemática e crescente na profilaxia e tratamento das doenças, ao lado da terapêutica convencional. (FRANÇA et al., 2008, p. 202) Segundo o autor, recentemente há um interesse dos governos em fazer parcerias com as universidades, com o intuito de integrar o progresso tecnológico ao conhecimento popular, do senso comum, associando isso ao desenvolvimento dos centros urbanos e melhoria da qualidade de vida das pessoas de forma sustentável. Muitas publicações e documentos oficiais estão sendo realizados, como prova da crescente busca por este conhecimento. O Brasil detém de uma medicina integrativa, bastante aceitável no meio populacional. O país é visto em proeminência por possuir por volta de 20% das espécies vegetais que existem, ou seja, possui a maior biodiversidade do planeta (BRANDÃO, 2003). Essa imensa cobertura vegetal, faz com que as pesquisas e o próprio desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos ganhem destaque no meio científico internacional, que legitimam a eficácia das plantas medicinais para fins terapêuticos, através de pesquisas químicas e farmacológicas Prova disso é a crescente comercialização de fitofármacos no mundo, que movimenta cerca de 15 bilhões de dólares. (YUNES et al., 2001). Segundo o Ministério da Saúde através de um levantamento realizado no ano de 2004, evidencia que 116 municípios de 22 estados brasileiros utilizam medicamentos fitoterápicos (Brasil, 2006a). Isso ressalta como a medicina natural é bastante procurada no país, como uma prática integrativa à medicina convencional. Os avanços tecnológicos da indústria química medicamentosa associada aos estudos científicos acerca das plantas medicinais são de suma importância para a população que se encontra em regiões urbanizadas, onde apesar de se ter o acesso mais fácil a tudo, senso dificultado o acesso aos benefícios dos medicamentos naturais, sem muitos efeitos colaterais. Esses estudos favorecem a

saúde dos seres humanos, envolvem diferentes áreas de estudo, com o objetivo de preparar fitoterápicos que vão auxiliar no tratamento de doenças de forma mais natural e sustentável. (Maciel et al., 2002). A comprovação da eficácia destes medicamentos naturais, através das pesquisas, evidencia a importância que a medicina natural possui e o tanto que ainda precisa ser estudado e explorado pela ciência acadêmica, para que sejam levados medicamentos e produtos naturais menos agressivos que os alopáticos para que a população possa fazer o uso de forma racional desses medicamentos. Com este intuito, segundo Franco (2003), o Ministério da Saúde tem estabelecido políticas que encorajam o desenvolvimento de estudos com plantas medicinais, indicando e ensinando as formas de uso de forma adequada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde o início da existência do homem, a cura através de ervas e plantas medicinais sempre esteve presente. O conhecimento empírico era essencial para os povos que tinham apenas os recursos naturais a disposição para tratar suas enfermidades. Entretanto, esse conhecimento passado através da oralidade, de pai para filho, continuou sendo utilizado, cada vez menos por conta dos processos de industrialização, onde as sociedades passaram a se organizarem diferente, dado início a urbanização de centros urbanos. A expansão tecnológica e a modernização impulsionada pelo capitalismo, a partir da Revolução Industrial, permitiram e produziram melhorias no campo do desenvolvimento das indústrias químicas, como se nota na fabricação de medicamentos alopáticos, para os tratamentos de doenças. É evidente que a essas medidas ocasionaram transformações positivas e necessárias à economia de modo geral dos países, também no Brasil se viu esse processo. Contudo, com a urbanização, houve a migração campo-cidade, esse processo fez com que se perdesse parte das tradições da agricultura familiar, que foram sendo perdidas na sociedade. O crescimento de forma desordenada das áreas urbanas sobre as áreas verdes prejudica a Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015

biodiversidade dos recursos naturais, no caso das plantas medicinais, causam grandes percas de espécies, acarretada pelos problemas ambientais que surgiram com o advento da urbanização. Essas questões relacionadas ao meio ambiente afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas, principalmente nas áreas periféricas de grandes centros urbanos (BRASIL, 1995). Além disso, a urbanização e modernização tem desencadeado uma crescente aculturação, o que torna indispensável e necessário o empenho em resgatar o conhecimento empírico que as pessoas detêm sobre o uso de recursos naturais, para que seja possível colocar em práticas pesquisas sobre a medicina natural que levam a um desenvolvimento de forma sustentável, onde se respeita e preserva os recursos naturais, além de fazer o uso correto desses recursos em benefícios da população. A partir da ação conjunta das instituições e do mercado farmacêutico, é possível que haja a conscientização dos governos para uma necessidade de haver um planejamento urbano, econômico, etc. em conjunto com os planejamentos ambientais e sociais, adotando medidas de prevenção para um desenvolvimento sustentável. Incentivar as pesquisas de medicamentos à base de plantas medicinais, desperta a necessidade de legitimar as práticas da medicina natural. Por fim, como demonstrado ao longo do texto, que tratou da relação da medicina natural popular com os impactos socioambientais e culturais do crescimento desordenado das cidades e destacou a importância de pesquisas que trabalhem o tema propondo modos sustentáveis de aproveitar o desenvolvimento das indústrias químicas a partir de produção de medicamentos fitoterápicos em parceria com as universidades e com o governo para que a população obtenha acesso mais facilmente de forma consciente dos medicamentos e produtos naturais. AGRADECIMENTOS Deixo expressos meus agradecimentos, às instituições e pessoas que ajudaram e incentivaram na realização deste trabalho. Agradeço ao professor Dr. André Luiz Caes pela sua imprescindível orientação acadêmica. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ambiente e Sociedade/ PPGAS.

Agradeço a agencia de Fomento Capes que incentiva as pesquisas e viabiliza através da concessão de bolsa, dedicação e exclusividade, resultando em maior qualidade na pesquisa. REFERÊNCIAS ABREU, M. de A. Cidade brasileira 1870-1930: In: SPÓSITO, M. E. B. (org). Urbanização e Cidades: perpectivas geográficas. Presidente Prudente: UNESP, 2001. P. 35-44. ANDRADE, S.F.; CARDOSO, L.G.; BASTOS, J.K. Anti-inflammatory and antinociceptive activities of extract, fractions and populnoic acid from bark wood ofaustroplenckia populnea. Journal of Ethnopharmacoly, v.109, n. 3, p. 464-471, 2007. ARAÚJO, E.C. et al. Use of medicinal plants by patients with cancer of public hospitals in João Pessoa (PB). Revista Espaço para a Saúde, v. 8, n. 2, p. 44-52, 2007. BANÓSKI, S. A. Ervas medicinais. 2010. Disponível em: http://ebookbrowse.com/3-ervasmedicinais-solange-aparecida-banoski-pdf-d140761709. Acesso em dez/2014. BARATA, L.E.S. Empirismo e ciência: fonte de novos fitomedicamentos. Ciência e Cultura, v.57, p.4-5, 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s00067252005000400002>. Acesso em: 10 jun. 2015. BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da Agenda 21. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1997. BRANDÃO, M. G. L. Plantas Medicinais e Fitoterapia. Belo Horizonte: Faculdade de Farmácia da UFMG, 2003. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Portaria n. 6 de 31 de janeiro de 1995. Diário Oficial da União de 31 de Janeiro de 1995. Brasília. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>, Acesso em: jan/2015. BRASIL. Ministério da saúde. Portaria nº 971 de 3 de maio de 2006. Brasília, 2006a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0971_03_05_2006.html Acesso em jan/2015. Pirenópolis Goiás Brasil 20 a 22 de outubro de 2015

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