DIVERSIDADE DE AVES E REPRODUÇÃO DE PASSERIFORMES EM ÁREAS DE CERRADO SENSU STRICTO E VEREDA

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Transcrição:

PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA DIVERSIDADE DE AVES E REPRODUÇÃO DE PASSERIFORMES EM ÁREAS DE CERRADO SENSU STRICTO E VEREDA Zélia da Paz Pereira 1 Celine Melo 2 Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG. E-mail: zelia_paz@yahoo.com.br Resumo: O presente trabalho objetivou realizar o levantamento de espécies de aves em fitofisionomias de cerrado sensu stricto e vereda e monitorar a reprodução de Passeriformes na Reserva Ecológica do Clube Caça e Pesca de Uberlândia-MG, entre março de 2008 e janeiro de 2009. Foi delimitada áreas de 2,5ha em cada fitofisionomia. Foram amostrados 20 pontos em cada área para realização de censos de espécies mensais. A procura de ninhos foi realizada diariamente observando todos os substratos com potencial para nidificação. Foram registradas 97 espécies de aves no cerrado sensu stricto e 87 na vereda, com registro de espécies endêmicas. Foram encontrados 26 ninhos no cerrado sensu stricto e 24 na vereda. O sucesso reprodutivo foi menor no cerrado (5,89%; N=1) do que na vereda (45%; N=9). Causas de insucesso incluíram predação (40%; N=20), abandono (8%; N=4), e destruição de ninhos por intempéries (65%; N=3). Os dados de reprodução encontrados para o cerrado sensu stricto mostram um sucesso reprodutivo muito baixo durante o período analisado. São necessários mais estudos para entendimento das conseqüências sobre as populações de aves e sobre os fatores que interferem neste padrão. Palavras-chave: riqueza avifaunística, nidificação, sucesso reprodutivo, predação. 1. INTRODUÇÃO O Cerrado é um dos biomas brasileiros com elevada diversidade biológica, possui cerca de 10.000 espécies de plantas e mais de 1.200 espécies de vertebrados, sendo o grupo das aves o mais representativo com 837 espécies, 29 endêmicas (BRASIL, 1999; Myers et all, 2000). Considerado hotspot de biodiversidade (Myers et al., 2000), o Bioma tem sofrido intensa destruição por desmatamentos (Ratter et all, 1997), o que tem contribuído para a perda de diversidade e alteração em aspectos de história de vida dos organismos como reprodução e sobrevivencia. Uma das fitofisionomias de Cerrado que também tem sofrido com perturbações são as veredas, caracterizadas por área de nascentes com elevado nível de umidade no solo e densa vegetação (Araújo et all, 2002; Guimarães et all, 2002). Existem alguns estudos relativos à nidificação de Passeriformes em cerrado sensu stricto (Lopes e Marini, 2005; Medeiros e Marini, 2007), porém não há trabalhos em ambientes de vereda. A observação e monitoramento de ninhos em ambas as áreas, de forma comparativa, permite coletar dados sobre sucesso reprodutivo, história de vida e manutenção de populações, aspectos importantes para a conservação de espécies no Cerrado. Assim, este trabalho buscou realizar levantamentos das espécies de aves presentes no cerrado sensu stricto e na vereda, bem como monitorar a reprodução de Passeriformes. 1-Graduado do Curso de Ciências Biológicas 2-Orientador 1

2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Área de Estudo e Procedimentos As coletas foram realizadas em áreas de cerrado sensu stricto e vereda da Reserva Ecológica do Clube Caça e Pesca Itororó de Uberlândia, MG (18 55'23 S e 48 17'19 W). O clima da região é do tipo Aw, megatérmico, sendo sazonal com verão chuvoso e inverno seco (Rosa et all, 1991). O estudo foi conduzido em uma área de 5 ha, sendo 2,5 ha em ambiente de cerrado e 2,5 ha em ambiente de vereda. Foram monitorados grids com 250 m de comprimento e 50 m de largura em cada uma das duas áreas, nos quais os pontos estão nas intersecções a cada 25m. No total, em cada área, foram 55 pontos, cada ponto foi identificado com uma letra (referente ao quadrante) e número, destes 20 foram utilizados para censos de espécies. Os censos foram realizados nas estações seca e chuvosa, em seções de 15 minutos em cada ponto, entre 6:30 e 10:00h. O Índice de Similaridade de Jaccard foi utilizado para determinar se há diferenças na riqueza de espécies entre as áreas analisadas. Para a parte de reprodução, cada ninho encontrado, foram realizados os seguintes procedimentos: identificação da espécie em nidificação; estágio reprodutivo (construção, postura/incubação, presença de filhotes, ou inativo); altura; substrato utilizado para nidificação; localização do ninho, tendo como referência os pontos marcados dos grids. O conteúdo de cada ninho encontrado foi monitorado duas vezes por semana, desde sua descoberta até sua inatividade. Foi considerado sucesso, ninhos com presença de filhotes no ninho. As estimativas de densidade populacional foram realizadas através de censo por pontos em ambas as áreas. 3. RESULTADOS Foram encontrados 26 ninhos de Passeriformes na área de cerrado sensu stricto, sendo 17 ativos. Destes, apenas um ninho obteve sucesso reprodutivo (5,89%), pertencente à espécie Stelgidopteryx ruficollis (Tabela 1). Elaenia chiriquensis foi a espécie com maior número de ninhos (61,54%; N=16), porém esta não alcançou sucesso na área. A maior causa de falha reprodutiva foi predação, responsável pela perda de 76,47% (N=13) dos ninhos, seguida por abandono (11,76%; N=2) e destruição de ninhos por intempéries (5,88%; N=1) (Tabela 1). Tabela 1: Lista de espécies que nidificaram nas duas áreas de estudo entre março de 2008 e janeiro de 2009, com seus respectivos destinos (N: número total de ninhos da espécie; Sc: número de ninhos com sucesso; Pr: número de ninhos predados; In: número de ninhos inativos; Ab: número de 2

ninhos que foram abandonados ao longo do estudo; Ds: número de ninhos destruídos por intempéries). Espécies Cerrado sensu strictu Vereda N Sc Pr In Ab Ds N Sc Pr In Ab Ds Caprimulgus parvulus - - - - - - 1 1 - - - - Elaenia chiriquensis 16-10 6 - - 15 5 4 4-2 Elaenia flavogaster - - - - - - 2 1 1 - - - Eupetomena macroura 1-1 - - - - - - - - - Melanopareia torquata 1 - - - - 1 - - - - - - Mimus saturninus - - - - - - 2 1 1 - - - Phacellodomus ruber - - - - - - 2 1 - - 1 - Stelgidopteryx ruficollis 1 1 - - - - - - - - - - Thamnophilus torquatus 4-2 2 - - 1-1 - - - Tyrannus melancholicus 3 - - 1 2-1 - - - 1 - Total 26 1 13 9 2 1 24 9 7 4 2 2 Na área de vereda foram encontrados 24 ninhos, 20 ativos. Assim como na fitofisionomia de cerrado sensu stricto, E. chiriquensis contribuiu com maior número de ninhos (62,5%; N=15) na vereda, porém obteve sucesso em 5 ninhos. O sucesso reprodutivo geral foi superior ao encontrado na área de cerrado, registrado em 45% (N=9) dos ninhos ativos. Apesar disto, houve perda de 55% (N=11) dos ninhos, principalmente por predação (35%; N=7), acompanhada de abandono (10%; N=2) e destruição por chuvas intensas (10%; N=2) (Tabela 1). Quando comparadas é possível observar picos reprodutivos nas duas áreas (Figura 1). Para o cerrado sensu stricto observam-se dois picos principais, um em março e outro em outubro. Na vereda também são dois picos, um em junho e um segundo também em outubro. Comparativamente, o período de setembro a novembro parece ser o mais importante para a reprodução de aves, pois representa a ocasião de maior investimento em reprodução tanto na área de cerrado sensu stricto como na vereda. Assim que se inicia a estação seca, em meados do mês de abril e maio, o número de ninhos cai abruptamente na área de cerrado, enquanto na vereda ainda há espécies se reproduzindo e obtendo relativo sucesso. 3

Figura 1: Panorama da distribuição dos ninhos, entre março de 2008 e janeiro de 2009, para as duas áreas de trabalho. Através dos censos de espécies foram registradas 97 espécies de aves no cerrado sensu stricto com um total de 3261 indivíduos registrados e 87 em área de vereda (Tabela 2). As famílias mais representativas foram Tyrannidae (8,69%) e Trochilidae (5,43%). No Cerrado foram 1684 registros de espécies de aves, sendo as espécies mais registradas: Elaenia chiriquensis (6,82%, N=115), Patagioenas picazuro (6,29%, N=106) e Gnorimpsar chopi (4,69%, N=79). Para a vereda foram 1524 registros e as espécies mais registradas foram: Tachornis squamata (6,23%; N=95) e E. chiriquensis (6,1%; N=93). Houve similaridade, segundo o Índice de Jaccard, entre a riqueza de espécies de aves encontrada nas duas áreas (Cj: 0,67). Entre as espécies comuns às duas fitofisionomias estão: Crypturellus parvirostris, Ictinea plúmbea e Tyrannus melancholicus (Tabela 2). Algumas espécies ocorreram exclusivamente na vereda como: Gallinago gallinago, Gubernetes yetapa e Phacellodomus ruber, enquanto no cerrado sensu stricto foram: Megascops choliba, Nystalus maculatus e Melanopareia torquata (Tabela 2). As espécies registradas endêmicas do bioma Cerrado foram: Melanopareia torquata, Cyanocorax cristatellus, Neothraupis fasciata, Coryphospingus cucullatus, Saltator atricollis e Basileuterus leucophrys. Tabela 2: Espécies de aves registradas e a área de registro, com média de indivíduos amostrados. Guilda alimentar: ONI = Onívoros; INS = Insetívoros; GRA = Granívoros; FRU = Frugívoros; CAR = Carnívoros; NEC = Nectarívoros; DET = Detritívoros. Para determinação das guildas alimentares foram utilizadas as seguintes referências: Sick, 1997 e Sigrist, 2006. FAMÍLIA/ESPÉCIE TINAMIDAE GUILDA ALIMENTAR CERRADO Abundância relativa VEREDA Abundância relativa Crypturellus parvirostris ONI 1,17 1,4 Rhynchotus rufescens ONI 1 - CARIAMIDAE Cariama cristata ONI 2-4

RALLIDAE Pardirallus nigricans ONI - 1 THRESKORNITHIDAE Mesembrinibis cayennensis ONI 2,16 2,37 Theristicus caudatus ONI 1,64 1,66 ANATIDAE Cairina moschata ONI 2 1 ARDEIDAE Syrigma sibilatrix ONI 1,44 - Egretta thula ONI 1 - SCOLOPACIDAE Gallinago gallinago ONI - 1 CHARADRIIDAE Vanellus chilensis ONI 2 3 CATHARTIDAE Cathartes aura DET 1 - Coragyps atratus DET 3,25 3,41 ACCIPITRIDAE Buteogallus meridionalis CAR - 1 Ictinia plumbea INS 1,12 1,16 FALCONIDAE Caracara plancus CAR 1,33 1,71 Falco femoralis CAR 1 1 Falco sparverius CAR 1 - Herpetotheres cachinnans CAR 1,33 1 Milvago chimachima CAR 1,33 1 STRIGIDAE Megascops choliba INS 1 - CAPRIMULGIDAE Caprimulgus parvulus INS 1 1 COLUMBIDAE - 1 Columbina talpacoti GRA 1,18 1,24 Patagioenas cayennensis FRU 1 1,85 Patagioenas picazuro FRU 2,52 1,98 Zenaida auriculata GRA 1,52 1,5 PISITTACIDAE Amazona aestiva FRU 2,09 2,15 Aratinga aurea FRU 2,2 2,06 Aratinga leucophthalma FRU 5,63 3,08 Brotogeris chiriri FRU 3,01 3,04 Diopsittaca nobilis FRU 3,07 3,96 Forpus xanthopterygius FRU 2 - Orthopsittaca manilata FRU 4 4,14 5

CUCULIDAE Crotophaga ani INS - 2 APODIDAE Streptoprocne zonaris INS 32 - Tachornis squamata INS 2,72 3,1 TROCHILIDAE Amazilia fimbriata NEC 1,14 1 Amazilia lactea NEC 1 1 Amazilia versicolor NEC 1,18 - Aphanthochroa cirrochloris NEC 1 - Anthracothorax nigricollis NEC 1 - Chlorostilbon lucidus NEC 1,12 1,25 Colibri serrirostris NEC 1,12 1,25 Eupetomena macroura NEC 1,05 1,33 Heliomaster squamosus NEC 1 2 Thalurania furcata NEC 1 - Phaethornis pretrei NEC - 1 BUCCONIDAE Nystalus maculatus INS 1,66 - RAMPHASTIDAE Ramphastos toco ONI 1,48 1,25 PICIDAE Colaptes campestres INS 1 1 Colaptes melanochloros INS 1 1 Melanerpes candidus INS 6,4 1 Veniliornis passerinus INS 1 - MELANOPAREIDAE Melanopareia torquata INS 1,1 - THAMNOPHILIDAE Formicivora rufa INS 1,43 1 Thamnophilus doliatus INS 1,2 1,2 Thamnophilus torquatus INS 1,09 1,25 DENDROCOLAPTIDAE Lepdocolaptes angustirostris INS 1 1 FURNARIDAE Phacellodomus ruber INS 1,5 1,41 TYRANNIDAE Camptostoma obsoletum INS 1,12 1,2 Elaenia chiriquensis FRU 1,59 1,27 Elaenia cristata ONI 1,46 1,12 Elaenia flavogaster ONI 1,82 1,6 Elaenia spectabilis FRU 1,09 1,14 Empidonomus varius INS 1 1 6

Gubernetes yetapa INS - 1,66 Megarhincus pitangua ONI 1 1 Myiarchus fexox INS - 2 Myiarchus tyrannulus INS 1,43 1 Myiarchus swainsoni INS 1 - Myiophobus fasciatus INS - 1 Phaeomyias murina INS 1 1 Pitangus sulphuratus ONI 1,1 1,25 Tyrannus albogolaris INS 1,26 1,25 Tyrannus melancholicus INS 1,46 1,27 Tyrannus savana INS 2,06 1,7 Xolmis cinereus INS 1,14 1,06 VIREONIDAE Cyclarhis gujanesis ONI 1,07 1,18 CORVIDAE Cyanocorax cristatellus ONI - 1 Cyanocorax cyanopogon ONI 1 3,66 HIRUNDINIDAE Hirundo rustica INS 1,5 - Progne tapera INS 2 2,5 Stelgidopterys ruficollis INS 1,31 2 TURDIDAE Turdus amaurochalinus ONI 1 1,66 Turdus leucomelas ONI 1,15 1,14 MIMIDAE Mimus saturninus ONI 1,67 2,23 THRAUPIDAE Dacnis cayana ONI 1 - Tangara cayana ONI 1,66 2 Tersina viridis ONI 1 - Thraupis palmarum ONI 1,61 1,62 Thraupis sayaca ONI 1,4 1,37 Schistoclamys ruficapillus GRA 1 1,21 Neothraupis fasciata ONI 1,2 - COEREBIDAE Coereba flaveola NEC 1 - EMBEREZIDAE Coryphospingus cucullatus GRA 1,53 1,37 Emberizoides herbicola GRA - 1,33 Sporophila caerulescens GRA 1,66 1,33 Sporophila nigricollis GRA 1,71 1 Sporophila plumbea GRA 1,09 1,28 Volatinia jacarina GRA 1,33 1,6 7

CARDINALIDAE Saltator atricollis ONI 1,78 2 Saltator similis ONI 1,25 1 ICTERIDAE Gnorimopsar chopi ONI 1,91 2,16 Icterus cayanesis ONI - 1,5 Molothrus bonariensis ONI 2,4 1,87 FRINGILIDAE Basileuterus leucophrys ONI - 1,25 Euphonia chlorotica ONI 1 1,66 TOTAL 64 - - Houve diferenças no término do período reprodutivo para Passeriformes nas duas áreas. Para o cerrado, aparentemente, o término do período reprodutivo foi no mês de abril, que caracteriza o fim da estação chuvosa na região de estudo. Isto é explicado pelo fato de muitas aves se concentrarem em reprodução durante esta estação, quando recursos como frutos e insetos são mais abundantes (Piratteli et all, 2000 e Marini, 1992). A vereda, no entanto, apresentou um padrão peculiar, o término do período reprodutivo se prolongou até junho, estação seca, com alguns ninhos apresentando relativo sucesso reprodutivo. 4. AGRADECIMENTOS A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). 5. REFERÊNCIAS Andrade, M. A. 1997 Aves silvestres: Minas Gerais. Belo Horizonte: Conselho Internacional para Preservação das Aves, 176p. Appolinário, V.; Schiavini, I. 2002 Levantamento fitossociológico de espécies arbóreas de Cerrado (strictu sensu) em Uberlândia-MG, Brasília, B. Herb. Ezechias Paulo Heringer, v.10, p.57-75. Araújo, G. M.; Barbosa, A. A. A.; Arantes, A. A.; Aamaral, A. F. 2002 Composição florística de veredas do Município de Uberlândia, MG. Revista Bras. Bot. v.25, p. 475-493. Brasil. Ministério do Meio Ambiente. 1999Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade do Cerrado e do Pantanal. Brasília, DF. Funatura, Conservation International, Fundação Biodiversitas, Universidade de Brasília. 8

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