COLEÇÃO Aprenda com quem tem história para contar BRENO BORGES BRASIL MAGISTRATURA ESTADUAL Guia completo sobre como se preparar para a carreira 2017
3 O COMEÇO DOS ESTUDOS Comecei a trabalhar ainda no terceiro período da faculdade de Direito, após aprovação em concurso público para escriturário do Banco do Brasil. Exerci este emprego público durante todo o curso. Aliado às deficiências do curso de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Piauí (ausência de professores, principalmente), posso dizer que pouco aprendi antes de me formar (nem o truco que jogava nas aulas sem professor ficou na memória). Sempre fui muito dependente de alguma orientação e aquilo que estudei sozinho não era suficiente para uma formação jurídica mínima. Sem muita bagagem (jurídica), sem ter estagiado, sabendo mais sobre títulos de capitalização, investimentos, previdência privada, seguros de vida e outras tantos produtos bancários, do que sobre direito, iniciei o último ano do curso (que infelizmente já era o sexto em razão do trabalho). Naquele momento, na iminência de concluir a graduação, só gostaria de exercer a profissão que tinha escolhido. Sem método, sem organização e sem muito objetivo, me matriculei em diversos cursos preparatórios em Teresina, daqueles que saem às vésperas de uma prova (técnicos e analistas de tribu-
66 MAGISTRATURA ESTADUAL Breno Borges Brasil nais diversos). Depois de tentar alguns concursos, não obtive nenhum sucesso. Mas tudo bem, pois tinha acabado de começar os estudos e nem formado estava. De início, esclareço que nunca deixei de viver. Fora em situações críticas como as vésperas de uma segunda fase ou de prova oral, nunca deixei de jogar meu futebol nas tardes de sábado, beber uma cervejinha à noite ou participar dos muito disputados campeonatos de PES aos domingos (o velho Winning Eleven de guerra é infinitamente melhor que o Fifa e é ridículo qualquer comparação). Creio que ninguém deva esperar passar em um concurso para ser feliz. Com disciplina, continuidade e flexibilidade, as horas de folga e as atividades lúdicas podem ser mantidas. Aliás, acho pouco provável alguém apenas estudar durante dois, três ou mais anos. Não funciona por inúmeros motivos, biológicos e psicológicos. Digo também que não me deixei afetar por redes sociais e aplicativos de mensagem instantânea. Felizmente eu não tinha smartphone quando prestei o concurso para a magistratura. O celular com acesso à rede mundial de computadores nos tira muito tempo, especialmente os aplicativos de mensagens. Por outro lado, há ferramentas muito úteis nos smartphones, como os aplicativos de questões, Youtube e Periscope (permite acompanhar breves aulas e dicas de estudo de professores renomados). Deve-se usar o aparelho celular com sabedoria. Pois bem, no último semestre do curso de Direito (em 2009) ouvi falar de um curso telepresencial que a quase totalidade dos colegas de classe frequentava: Curso Luiz Flávio Gomes-LFG. Sem muito rumo na carreira, fiz minha matrícula. No fim deste semestre já tinha uma aprovação para Defensor, uma para Técnico Judiciário e outra para Oficial de Justiça, todos no meu estado. Já nos primeiros meses de formado (primeiro semestre de 2010) atingi o primeiro objetivo: exercer a atividade jurídica, com
O começo dos estudos 67 amparo legal (cargo exclusivo de bacharel em Direito). Foram dois anos como Oficial de Justiça e Avaliador que me habilitaram a concorrer na maior parte dos concursos (Defensor Público Federal, Defensor Público Estadual, membro da Advocacia-Geral da União, Procurador do Estado, Procurador do Município etc.). Posteriormente, de maio de 2012 a maio de 2014, mais dois anos como Analista Processual do Ministério Público do Piauí. 3 capítulo Ao longo de três anos de estudo consegui aprovações em primeiras fases, segundas fases e terceiras fases, fracassando em todas as etapas possíveis e obtendo alguns poucos sucessos. Cabe aqui uma explicação: sempre que tratar de primeira fase, faço referência à prova objetiva; segunda fase corresponde à prova discursiva (englobando questões, sentenças e peças jurídicas diversas); e terceira fase diz respeito à prova oral. Em outro momento explicarei de forma mais detalhada todas as etapas do concurso para Juiz de Direito, nos termos da Resolução n.º 75/2009 do CNJ. Daí a primeira conclusão desta vida concurseira : o concurso público não é só um jogo de mérito, mas também de probabilidade. Num concurso com milhares de pessoas, algumas centenas possuem condições de serem aprovadas e somente algumas delas terão a sorte (veja que só se tem sorte com o mérito) de lograrem êxito no certame. Se já fazia muitos concursos, passei a fazer mais: analistas estaduais, federais, defensorias públicas, procuradorias do Estado, Município, União, advogado de empresas públicas, Câmara de Vereadores, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Justiça Militar, Justiça do Trabalho, Justiça Federal e Justiça Estadual. Só não fiz concursos da área fiscal (devia ter feito, não é?). Mas, apesar de fazer tantos concursos, somente focava em um e somente estudava os conteúdos relativos a esta carreira: Advocacia Pública da União (quatro carreiras da AGU, para ser mais exato).
68 MAGISTRATURA ESTADUAL Breno Borges Brasil Quanto ao método de estudo, devo dizer que não existe fórmula mágica. Conheci aprovados que estudavam das mais variadas formas. Um colega, aprovado entre os primeiros colocados em concursos de procuradorias em diversos estados me disse, certa vez, que não gostava de aulas. Estudava apenas por livros e de uma maneira ainda mais peculiar: esgotando o conteúdo de cada matéria antes de passar para outra. Assim, estudava todo o conteúdo de Direito Civil, doutrina, jurisprudência e questões e somente aí passava para Direito Penal. Isto pode funcionar para o amigo leitor, mas fora este rapaz (que possui inteligência muito acima da média), só conheci outra pessoa que conseguia estudar bem desta forma. O método de estudo que utilizei não tinha nada de extraordinário e nem de original, mas creio que possa ser usado pela maioria das pessoas. Inicialmente, organizava o horário de estudo da seguinte forma: 1) Horário de Estudo: a) de segunda a sábado, assistia às aulas do cursinho preparatório, que tinham duração de três horas; b) de segunda à sexta, no período livre, estudava na biblioteca durante quatro horas diárias; c) tarde de sábado e domingo livres para atividades recreativas; d) alternar o estudo na biblioteca, ou sala de estudo, e no cursinho (acompanhando as aulas) fazia com que fosse possível estudar quase quarenta horas semanais. Conheci um professor na Universidade de Coimbra (na graduação consegui uma bolsa de estudos para fazer intercâmbio) que dizia ser possível estudar 70 horas semanais, mas creio que esses indivíduos devem estar no MIT ou coisa do gênero. Ao fim e ao cabo,
O começo dos estudos 69 essas 40 horas eram tudo o que meu corpo e cabeça aguentavam, e só aguentavam por causa da alternância entre aula e estudo solitário. 2) Quanto à forma de estudo: 3 capítulo a) o estudo no cursinho consistia em acompanhar aulas expositivas dos excelentes professores do LFG. Um conselho: tente anotar a matéria em cadernos (um caderno por matéria). Os cadernos de matéria única (90 páginas) costumam ser suficientes. Não recomendo a utilização de computadores, pois o ato de escrever, por si, já é um treino para a segunda fase, em que será necessária a utilização de letra cursiva legível, administrando um tempo relativamente curto. Fichários com folhas soltas também podem ser utilizados, mas a consulta posterior para revisão costuma ser mais fácil em cadernos. Cabe aqui uma observação: durante todo o período de estudo, sempre estive matriculado em algum curso, ainda que tivesse que repetir alguns (intensivos I e II fiz duas vezes, por exemplo). Das vezes em que repeti um curso, os professores se repetiram também e as aulas e anotações eram praticamente as mesmas. Chegava ao ponto de eu lembrar as próprias piadas e histórias (estórias) dos professores. Tudo isso me ajudou demais. Isso porque o conteúdo jurídico, por vezes, acaba sendo de difícil assimilação e somente a repetição para consolidar certas matérias; b) no turno livre (sem trabalho e sem o curso), estudava em bibliotecas ou salas de estudo. Estudar em casa, para aqueles que não possuem tanta disciplina e controle, é extremamente tormentoso. Tudo é motivo para pausa: uma visita, um familiar. Fome e sede então? Quantas vezes fazia aquela pausa quilométrica para beber ou fazer um lanchinho? Até as moscas pare-
70 MAGISTRATURA ESTADUAL Breno Borges Brasil cem mais agitadas em casa. Enfim, o melhor mesmo é sair de casa com sua barra de cereais e sua garrafinha com água; c) inscrição em todas as provas possíveis. No meu caso, desde os primeiros meses de estudo, fazia quaisquer concursos (de técnico, analista, advocacia pública, magistratura etc.) na medida das minhas disponibilidades (econômicas). Inicialmente fazia todas as provas no meu estado ou região. Posteriormente, já fazia concursos em todo Nordeste e parte do Centro- -Oeste, especialmente Brasília. Para passar num bom concurso é preciso treinar bastante, apostar um pouco na sorte e não se importar com o que os outros pensam. Não há vergonha em participar de um certame e não ser aprovado. Aliás, cito até o causo do meu concurso para a magistratura do Piauí. Estava na casa de um amigo de infância participando do campeonato mensal de PES (Pro Evolution Soccer- jogo de videogame), regado a muito luxo (cerveja e frango com farofa- tem coisa melhor?) quando outro amigo soube que tinha me inscrito para a prova da magistratura e disse: nossa, nunca conheci alguém que tenha feito concurso para juiz. Veja só: o que para muitos pode ser motivo de apreensão (se inscrever em um concurso, ser reprovado e frustrar a expectativa de familiares, amigos e outros sabotadores), é na verdade motivo de orgulho. Significa ter uma formação superior (fruto do trabalho próprio ou de alguém) e concorrer a cargos disputadíssimos, de grande respeito entre as pessoas. Não acredito em fórmulas de sucesso certo, mas vejo certos padrões no fracasso. Não fazer provas, ter medo e vergonha de fracassar é um fator muito presente em quem fica pelo caminho.
O começo dos estudos 71 3) Quanto à organização do estudo na biblioteca: a) Primeira etapa: nas quatro horas de estudo, alternava duas ou três disciplinas. Num primeiro momento, de estudo mais organizado, havia focado em disciplinas chaves, que servem para quaisquer concursos: Constitucional, Administrativo, Civil, Processo Civil, Penal, Processo Penal, Empresarial. Esta primeira etapa durou seis meses e compreendia o estudo de manuais e cursos famosos (Marcelo Novelino, Carvalho Filho, Pablo Stolze etc.), além da legislação correspondente a cada assunto. Além disso, treinava questões dos últimos concursos de bancas variadas, principalmente a banca CESPE. O estudo da jurisprudência, neste momento, restringia-se àquela trazida pelos próprios livros. Neste aspecto, penso que o amigo leitor pode fazer melhor. Sugiro usar duas horas por semana, que pode ser meia hora por dia ou mesmo duas horas no sábado (pouco antes daquela pelada com os amigos) para leitura de jurisprudência do STF e STJ. Há vários sítios na rede mundial de computadores que disponibilizam os julgados mais importantes (trabalhando em cima dos informativos) acrescidos de explicações e doutrina de forma gratuita. Recomendo o www. dizerodireito.com.br, escrito pelo Juiz Federal Márcio Cavalcante. 3 capítulo b) Segunda etapa: num segundo momento, o esquema da alínea anterior foi repetido para outras matérias como: Tributário, Financeiro, Previdenciário, Trabalho, Processo do Trabalho, Fazenda Pública em Juízo, Estatuto da Criança e Adolescente, Direito do Idoso e Consumidor. Para o concurso da magistratura (lembrando que meu estudo era focado na Procuradoria Federal), deve-se substituir Previdenciário, Trabalho e Processo do Trabalho por Eleitoral, Ambiental e Agrá-
72 MAGISTRATURA ESTADUAL Breno Borges Brasil rio (conforme o estado). Disciplinas como Tributário, Financeiro e Fazenda Pública em Juízo devem ser estudadas por manuais (Marcelo Alexandre, Leonardo Carneiro, etc.) enquanto para as demais recomendo a coleção de leis para concurso, da Juspodivm. c) Concluídas estas duas fases, o que pode durar um ano ou mais (isso vai depender bastante da base conseguida na faculdade, que no meu caso foi bem pequena), o que vai ditar o estudo são as provas. A cada prova realizada, devidamente corrigida e estudada, deve-se analisar a quantidade de acertos em cada matéria, além da própria constatação subjetiva que se deve fazer do nível de dificuldade do candidato em cada disciplina. Assim, se o resultado foi ruim em direito ambiental, vale a pena estudar esta disciplina com mais afinco. A mesma coisa se teve dificuldade com a terminologia e referências legislativas da prova (sinal de desatualização), ainda que a nota tenha sido boa. Segue um exemplo de quadro de estudos para um ano (ou mais):
O começo dos estudos 73 3 QUADRO DE ESTUDOS- 1º SEMESTRE E A E A A A A E A A Administra vo P. Civil Civil Administra vo P. Civil Civil Penal P. Penal Cons tucional Penal P. Penal Cons tucional Jurisprudência Jurisprudência Jurisprudência Jurisprudência QUADRO DE ESTUDOS- 2º SEMESTRE E A E A A A A E A A Empresarial Eleitoral ribut rio Empresarial Eleitoral Empresarial Consumidor ECA Ambiental Consumidor ECA Consumidor Jurisprudência Jurisprudência Jurisprudência Jurisprudência capítulo