Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí. Caixa Postal 360, Itajaí, Santa Catarina, Brasil.

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5 ASPECTOS REPRODUTIVOS DE ESPÉCIES ICTIÍCAS DO GÊNERO Stellifer (PISCES, SCIAENIDAE) CAPTURADAS COMO FAUNA ACOMPANHANTE DA PESCA DO CAMARÃO, Xiphopenaeus Kroyeri, NA REGIÃO DE ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, PENHA, SC, BRASIL. Rodrigues-Filho, Jorge Luiz; Verani,José Roberto; Branco, Joaquim Olinto; Peret, Alberto Carvalho Departamento de Hidrobiologia, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, km 35, 3565-95 - São Carlos, São Paulo, Brasil - jorlrf@gmail.com Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí. Caixa Postal 36, 883-97 - Itajaí, Santa Catarina, Brasil. RESUMO O presente estudo teve por objetivo analisar aspectos reprodutivos das espécies ictiícas Stellifer rastrifer, Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis capturadas como fauna acompanhante da atividade camaroeira, na região de Armação do Itapocoroy, município de Penha, Santa Catarina. As amostragens das três espécies foram realizadas durante o período de março de 6 a abril de 7 sendo os exemplares considerados fauna acompanhante da pesca direcionada ao camarão Xiphopenaeus kroyeri na região. Pode-se confirmar, por meio das análises gráficas das variações mensais das frequências de ocorrência dos estádios de maturação gonadal e dos valores médios do Índice Gonadossomático (), assim como pela classificação dos resultados obtidos do Índice de Atividade Reprodutiva (IAR), que na região de Armação de Itapocoroy a primavera é o principal período de reprodução das três espécies de Stellifer estudadas, coincidindo com o período de proibição da pesca de arrasto direcionada ao camarão sete-barbas na região sul e sudeste do Brasil, informações estas imprescindíveis para a sustentabilidade e o manejo adequado da atividade pesqueira artesanal local. As diferenças registradas nos valores de L 5 para as três espécies de Stellifer, quando comparados aos de outras regiões, parecem estar relacionadas a variações intraespecíficas em função de condições ambientais, como temperatura e disponibilidade de alimento. ABSTRACT The present study aimed to analyze some aspects on the reproduction of the fish species Stellifer rastrifer, Stellifer stellifer and Stellifer brasiliensis, accompanying fish species, captured together with shrimps during fishing activity in the region of Armação de Itapocoroy, city of Penha, Santa Catarina state, Brazil. Monthly samplings were performed during the period between April 6 and March 7 and the fishes captured as bycatch during sea-bob (Xiphopenaeus kroyeri) shrimp fishing in the region. Based on the monthly frequency distribution of gonadal maturation states, monthly variation of the gonadossomatic index values (GSI) and the resulting classification of the reproductive activity index (RAI), it

5 was found that the spring season is the period of reproductive activity for all three Stellifer species. The length of first gonadal maturation (L 5 ) for S. rastrifer, S. stellifer and S. brasiliensis, considered as the size when the fish species begin their reproductive activities, was estimated. The differences found in the values of L 5 for the three species of the genus Stellifer appear to be related to intra-specific variations related to environmental variables as temperature and food availability. These informations are considered essential for adequate management aiming the sustainability of artisanal fishing activities in the studied region. INTRODUÇÂO A pesca do Xiphopenaeus kroyeri no litoral brasileiro é reconhecida por capturar grandes quantidades de organismos não alvo, considerados como fauna acompanhante ou bycatch, sendo que a porção representada pelos peixes tem como um dos principais componentes os do gênero Stellifer (Branco & Verani, 6). O continuo descarte de organismos gera impactos biológicos e ecológicos como alterações na cadeia trófica e nas interações entre os organismos e mudanças nas transferências de energia no nível ecossistêmico, além de desperdiçar valiosos recursos vivos e ameaçar populações de grande valia econômica e/ou ecológica (Diamond, 5). Devido à importância do assunto, o by-catch tornou-se uma questão prioritária na atividade pesqueira, sendo sua gestão e a mitigação de suas conseqüências, um dos principais desafios enfrentados pela indústria da pesca no mundo (Hall & Mainprize 5). OBJETIVOS O presente estudo objetivou analisar aspectos reprodutivos das espécies ictiícas Stellifer rastrifer, Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis capturadas como fauna acompanhante da atividade camaroeira na região de Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC. MATERIAL E MÉTODOS As coletas ocorreram em três áreas de atuação da pesca artesanal do camarão setebarbas na Armação do Itapocoroy, Penha, Santa Catarina (6 4-6 47 S, 48 36-48 38 W), no período de amostragem que se estendeu de abril de 6 a março de 7.

5 Figura I - Mapa da Armação Itapocoroy, Penha, SC, indicando as três áreas tradicionais da pesca de camarão sete-barbas, locais das coletas do presente estudo. Os peixes do gênero Stellifer foram capturados no arrasto direcionado à captura do X. kroyeri (Branco & Verani, 6), separados dos demais componentes do bycatch e identificados conforme Menezes & Fiqueiredo (98). Tais exemplares foram submetidos à biometria e posteriormente seccionados para observação, pesagem e classificação das gônadas de acordo com Vazzoler (996). O índice gonadossomatico () (Santos, 978) e o índice de atividade reprodutiva (IAR) (Agostinho et al, 993) foram calculados, e suas variações permitiram determinar o período de reprodução das espécies. A análise dos aspectos reprodutivos foi complementada pela estimativa do tamanho de primeira maturação gonadal (L 5 ) das fêmeas de cada espécie, empregando-se a técnica descrita por Santos (978). RESULTADOS E DISCUSSAO As variações de da espécie S. rastrifer demonstra que pode ocorrer um período reprodutivo iniciando no mês de setembro, atingindo seu pico nos meses de primavera (outubro e novembro) (Fig. a). A queda nos valores nos meses seguintes indica a ocorrência da desova. Um segundo aumento nesse índice pode ser observado no verão. Chaves & Vendel (997) registraram altos valores de e uma maior freqüência de S. rastrifer com características que denotam atividade reprodutiva maior durante os meses de primavera. A variação do para S. stellifer sugere que a espécie apresenta um período reprodutivo que se estende do final do inverno até o verão, com maior intensidade na primavera (Fig. b). Almeida & Branco () citam que o mostrou-se adequado como um estimador da época de desova de S. stellifer, indicando que a reprodução da espécie ocorreu na primavera e com menor intensidade no outono. As variações dos valores do de S. brasiliensis (Fig. c) indicam que o período reprodutivo inicia-se no final da primavera prolongando-se até o verão. Cunninghan &

53 Diniz-Filho (99) observaram que os indivíduos tinham altas freqüências de gônadas em processo de maturação na primavera e no verão, indicando que o período de desova ocorre no outono/inverno. % 6 8 6 4 a 5 4 3 Estádio B Estádio C Estádio D a abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar meses % 4 8 6 4 3 Estádio B Estádio C Estádio D b abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar meses % 8 6 4 c abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar meses 6 5 4 3 Estádio B Estádio C Estádio D Figura - Freqüência de ocorrência (%) dos estádios de maturação gonadal e variação mensal do médio das fêmeas de S. rastrifer (a), S. stellifer (b) e S. brasiliensis (c) capturadas na Armação de Itapocoroy, Penha, Santa Catarina. O IAR (Agostinho et al, 993) foi calculado nesse estudo, confirmando uma maior atividade reprodutiva na primavera (Tab. ). Recentemente, Sousa e Chaves (7), aplicando o IAR em teleósteos oriundos da pesca de arrasto no litoral sul de Santa Catarina, estando entre estes as espécies S. rastrifer e Stellifer sp, constataram que na primavera ocorre a maior atividade reprodutiva para essas duas espécies.

54 Tabela - Classificação dos resultados do Índice de Atividade Reprodutiva das espécies pertencentes ao gênero Stellifer spp. capturadas em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/6 a Mar/7. Espécie/Estação Outono Inverno Primavera Verão Stellifer rastrifer incipiente nula intensa moderada Stellifer stellifer nula incipiente intensa nula Stellifer brasiliensis nula nula intensa nula As fêmeas de S. rastrifer, em Armação do Itapocoroy, apresentaram o L 5 estimado em 8,4 cm. No litoral paulista, Coelho et al (985) encontraram uma variação no tamanho de primeira maturação gonadal de S. rastrifer entre 9,5 e 9,7 cm para fêmeas. No caso de S. stellifer, o L 5 estimado foi de 7,7 cm. Almeida & Branco estimaram, para fêmeas de S. stellifer, o tamanho médio de primeira maturação gonadal em 7,5 cm de comprimento total. O valor de L 5 estimado de S. brasiliensis no presente estudo foi de 9,4cm, maior do que os 7,3 cm relatado por Coelho et al (987) e os 9, cm, obtido por Cunnighan & Diniz- Filho (99), ambos no litoral do estado de São Paulo. CONCLUSÕES Pode-se confirmar por meio das análises gráficas das variações mensais das frequências de ocorrência dos estádios de maturação gonadal e dos valores médios do Índice Gonadossomático (), assim como pela classificação dos resultados do Índice de Atividade Reprodutiva (IAR) obtidos para as fêmeas de Stellifer rastrifer, Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis capturadas na Armação de Itapocoroy, município de Penha, SC, ser a primavera o principal período de reprodução das três espécies analisadas, coincidindo com o período de proibição da pesca de arrasto direcionada ao camarão sete-barbas na região sul e sudeste do Brasil. Tal fato, apesar de parecer estar protegendo os estoques do gênero Stellifer na região da Penha, pode estar agindo de forma negativa para o ecossistema, acarretando numa dominância de algumas espécies e na diminuição de outras que não têm seu período reprodutivo nos meses de defeso. As diferenças registradas nos valores de L 5 para as populações das espécies de Stellifer aqui estudadas, quando comparadas às de outras regiões, parecem estar relacionadas a variações intraespecíficas em função de condições ambientais, como temperatura e disponibilidade de alimento.

55 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, L. R. & BRANCO, J. O.. Aspectos biológicos de Stellifer stellifer na pesca artesanal do camarão sete-barbas, Armação do Itapocoroy, Penha, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira Zoologia. Curitiba, 9 (): 6-6. AGOSTINHO, A.A.; V.P. MENDES; H.I. SUZUKI & C. CANZI. 993. Avaliação da atividade reprodutiva da comunidade de peixes dos primeiros quilômetros a jusante do reservatório de Itaipu. Unimar 5 (Supl.): 75-89. BRANCO, J. O; VERANI, J. R. 6. Análise quali-quantitativa da ictiofauna acompanhante na pesca do camarão sete-barbas, na Armação do Itapocoroy, Penha, Santa Catarina. Revista Brasileira de Zoologia 3 (): 38-39. CHAVES, P. T. C. & A.L. VENDEL. 997. Reprodução de Stellifer rastrifer (Jordan) (Teleostei, Sciaenidae) na baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia. Curitiba, PR. 4(): 8-89. COELHO, J.A.P.; R. GRAÇA-LOPES; E.S. RODRIGUES & A. PUZZI. 985. Relação pesocomprimento e tamanho de início de primeira maturação gonadal para o Sciaenidae Stellifer rastrifer (Jordan, 889), no litoral do Estado de São Paulo. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, (): 99-7. COELHO, J.A.P.; R. GRAÇA-LOPES; E.S. RODRIGUES & A. PUZZI. 987. Aspectos biológicos e pesqueiros do Sciaenidae Stellifer brasiliensis (Schultz, 945), presente na pesca artesanal dirigida ao camarão sete-barbas (São Paulo, Brasil). Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, 4 (único): -. CUNNIGHAN, P T. M.: DINIZ-FILHO, A. M. Aspectos de reprodução e composição dos estratos populacionais de Stellifer brasiliensis e Stellifer rastrifer em áreas costeiras de Ubatuba São Paulo. In: Encontro Brasileiro De Ictiologia. Resumos. Maringá: Universidade Estadual de Maringá. 99. p.59 DIAMOND S. L. 5. Bycatch quotas in the Gulf of Mexico shrimp trawl fishery: can they work? Reviews in Fish Biology and Fisheries (4) 4: 7 37. HALL S. J. & MAINPRIZE B. M.. 5. Managing by-catch and discards: how much progress are we making and how can we do better? Fish and Fisheries,6, 34 55. MENEZES, N. A. & J.L. FIGUEIREDO. 98. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil: IV Teleostei (3). São Paulo: Museu de Zoologia da USP, SP, 96p. SANTOS, E.P. 978. Dinâmica de Populações Aplicada à Pesca e Piscicultura. São Paulo, HUCITEC/EDUSP, 9p.

56 SOUZA, L. M; CHAVES, P. T. 7. Atividade reprodutiva de peixes (Teleostei) e o defeso da pesca de arrasto no litoral norte de Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v. 4, n. 4. VAZZOLER, A.E.A.M. 996. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática. Maringá: EDUEM, 69p.