ANÁLISE E VERIFICAÇÃO DE VARIÁVEIS DO PROCESSO COMO CAUSAS PARA O SUCATEAMENTO POR MACROINCLUSÕES EM UMA ACIARIA DE AÇOS ESPECIAIS*

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Transcrição:

ANÁLISE E VERIFICAÇÃO DE VARIÁVEIS DO PROCESSO COMO CAUSAS PARA O SUCATEAMENTO POR MACROINCLUSÕES EM UMA ACIARIA DE AÇOS ESPECIAIS* Felipe Buboltz Ferreira 1 Wagner Bielefeldt 2 Antônio Cezar Faria Vilela 3 Resumo A tecnologia utilizada na fabricação de aços de construção mecânica teve um grande avanço nos últimos anos, resultando em notável redução nas impurezas do aço. Neste trabalho, macroinclusões são as impurezas que geram defeitos graves na estrutura dos aços. Em uma aciaria, existem variáveis que podem causar o aparecimento de macroinclusões no aço e que devem ser controladas. Portanto, por meio da análise de óxidos de ferro e manganês na escória (FeO+MnO), variação do nível da válvula tampão no distribuidor e pressão de argônio no tubo longo entre panela e distribuidor no lingotamento contínuo; foi possível estabelecer uma relação com a sucata gerada por macroinclusões. Como resultado, foi possível estabelecerse esta relação entre o índice de sucateamento com o alto teor de óxidos de ferro e óxidos de manganês na escória, no momento da chegada ao forno-panela, para a qualidade SAE 1050, além da variação do nível dos tampões. Palavras-chave: Inclusões; Processo; FeO+MnO ANALYSIS AND VERIFICATION OF PROCESS VARIABLES AS CAUSE FOR MACROINCLUSIONS SCRAPPING IN A SPECIAL STEEL MELT SHOP Abstract The technology used in mechanical construction steel manufacture have made great progress in recent years, resulting in remarkable reduction in impurities in the steel. In this work, macroinclusions are the impurities that cause serious defects in steel s structure. In a melt shop, there are numerous variables that can cause the appearance of impurities in the steel and must be controlled. Therefore, by analyzing the influence of the variables: iron and manganese oxides of the ladle slag (FeO+MnO), stopper rod level variation and argon pressure in the shroud between ladle and tundish in continuous casting; it was possible to establish a relation between scrap generation by macroinclusions. As result it was possible to establish a relation between the rate of scrapping and high content of FeO+MnO during ladle furnace starting operations, for the SAE 1050 steel, besides stopper rod level variation. Keywords: Inclusion; Process variables; FeO+MnO. 1 2 3 Eng. Felipe Buboltz Ferreira, Departamento de Metalurgia, PPGE3M/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil Dr. Wagner Bielefeldt, Departamento de Metalurgia, PPGE3M/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil Dr. Ing. Antônio Cezar Faria Vilela, Departamento de Metalurgia, PPGE3M/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil

1 INTRODUÇÃO A fabricação de aços com níveis controlados de impurezas tem se mostrado como um grande desafio na indústria siderúrgica. Isso exige conhecimento sobre os fenômenos metalúrgicos envolvidos na formação, crescimento e aglomeração de inclusões não-metálicas. Estas impurezas podem afetar as propriedades mecânicas dos aços e, em consequência, sua vida útil. Embora geradas durante o processo de fabricação do aço ainda no estado líquido (sendo classificadas como endógenas ou exógenas), estas inclusões podem causar entupimentos em válvulas de lingotamento contínuo, afetando também a produtividade da aciaria. As macroinclusões são, na maioria dos casos, inclusões de grande tamanho, geralmente de origem exógena (arraste de escória, por exemplo), podendo ter um diâmetro médio maior ou igual a 50 micrometros na maioria das aplicações dos aços. Geralmente causam defeitos ainda no processo de fabricação ou no início de aplicação. São responsáveis, devido ao seu grau de deformabilidade ser diferente do aço, pela formação de trincas, comprometendo a qualidade e aplicação do produto. O presente trabalho tem como objetivo geral estabelecer uma relação entre o sucateamento, devido à presença de macroinclusões e as variáveis consideradas como algumas das principais causas para a formação destas impurezas no produto: óxidos de ferro e manganês na escória da panela (FeO+MnO), variação do nível da válvula tampão e pressão de argônio no tubo longo no lingotamento contínuo. As variáveis citadas têm sido estudadas por aciaristas no intuito de evitar ou ao menos minimizar o aparecimento de macroinclusões e, através do conhecimento sobre o perfil químico das inclusões, poder relacioná-las explicando seu surgimento, a fim de garantir um produto final livre de perturbações em sua estrutura [1]. O segundo objetivo foi definir se, na qualidade de aço estudada, as variáveis em questão são suficientes para justificar o peso sucateado do material, tornando-se possível estabelecer correlações entreo estudo teórico e o processo produtivo. Também são caracterizadas quimicamente as macroinclusões formadas em barras com sucateamento considerável ao longo do processo da aciaria. 1.1 Formação de inclusões não-metálicas Inclusões podem ser definidas como fases não-metálicas ou intermetálicas dispersas em matriz metálica [2-3]. Quando quantidades significantes de grandes inclusões (por exemplo, 20 µm 150 µm de diâmetro) estão presentes no produto, problemas relacionados a defeitos tendem a ocorrer. Às vezes, apenas uma única grande inclusão pode causar um defeito catastrófico, por isso a necessidade de um controle sobre o surgimento destas partículas [4]. As inclusões são geralmente formadas durante o processo de fabricação do aço no estado líquido. Neste sentido podem ser classificadas como endógenas ou exógenas [5]. Inclusões endógenas são resultantes do processo de desoxidação. Estas inclusões são formadas nas reações de refino (inclusões primárias) ou no resfriamento do aço por precipitação (inclusões secundárias) ou seja, por meio de reações relacionadas à adição de elementos que possuem alta afinidade pelo oxigênio, enxofre e nitrogênio. O número de inclusões depende diretamente dos teores de oxigênio do aço. Para inclusões de 5 µm de diâmetro, a diferença no número de inclusões para um teor no

nível de oxigênio de 1 a 50 ppm pode ser 100 vezes maior, assumindo neste caso que todo oxigênio está na forma de inclusões de Al 2 O 3. [6] 1.2 Inclusões no processo de fabricação do aço Uma das principais fontes de inclusões é o arraste de escória do forno para a panela, que contém altos teores de FeO e MnO. Esses óxidos líquidos reagem com o alumínio dissolvido, formando alumina sólida. Quanto maior forem os teores desses óxidos na escória da panela, maior é o potencial de reoxidação e consequentemente maior será a quantidade de inclusões de alumina, tornando o aço menos limpo [5-7]. Na etapa de lingotamento contínuo, o controle do fluxo de aço do distribuidor para o molde pode ser feito através da válvula tampão. É frequente o acúmulo de inclusões nas regiões de estrangulamento do escoamento, causando a interrupção do vazamento ou dificuldades em manter a velocidade de lingotamento. Esse fenômeno é conhecido como clogging, e pode ser considerado um dos mais danosos na operação do lingotamento contínuo [7]. Sendo assim, é possível, através de um software, verificar a variação no nível do tampão e estimar a limpeza do aço através das inclusões que ficam retidas na válvula. Outro fator que pode interferir no grau de limpeza do aço é a pressão de argônio no tubo longo. Durante o lingotamento, a reoxidação do aço pode acontecer no enchimento do distribuidor, pela superfície exposta do líquido ao ser transferido da panela ao distribuidor (DT), ou mesmo do distribuidor ao curso do molde. Quando o metal é transferido da panela ao distribuidor, o jato líquido contrai e expande, gerando pressão no tubo longo (TL), que é a peça responsável pela transferência entre estes dois vasos em aciarias de aços especiais [4]. Sob estas condições de intensidade de transferência do jato líquido da panela, se osistema de vedação não é perfeitamente funcional, ar atmosférico pode ingressar no tubo e gerar reoxidação [4]. A sucção de ar pode ocorrer entre a válvula gaveta e o encaixe com o tubo longo, enquanto que a quantidade de ar absorvido pelo anel poroso (onde é injetado o argônio) depende do nível de pressão de gás inerte que, se for muito alto pode aspirar oxigênio para dentro do refratário e se for muito baixo, permitir o contato do aço líquido com a atmosfera, reoxidando o aço gerando inclusões. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Material Utilizado É estudado o aço SAE 1050 neste trabalho, escolhido devido ao seu processo na aciaria e conformação serem críticos. Ele é um aço médio carbono de larga aplicação na fabricação de eixos de quaisquer tamanhos. A Tabela 1 apresenta a faixa de composição química aceitável deste material. Tabela 1: Composição química do aço SAE 1050 (% em massa) [9]. C (%) Mn(%) P(%) S(%) Mínimo 0,48 0,6 - - Máximo 0,55 0,9 0,04 0,05

2.2 Estudo do processo de elaboração do aço SAE 1050 Em conjunto com engenheiros da planta, foram acompanhadas 12 corridas, durante os meses de setembro e outubro de 2011, sendo retiradas 3 amostras de aço e de escória ao longo do processo, para obtenção dos resultados: Inicio do refino no forno-panela: E-FPi e P-FPi. Final do refino no forno-panela: E-FPf e P-FPf. Final da desgaseificação a vácuo: E-LC e P-LC. As corridas foram nomeadas como: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K e L. As corridas que apresentaram sucateamento foram B, E, I e K. As seguintes variáveis foram consideradas: Óxidos de ferro e manganês na escória da panela (%FeO+%MnO); Variação do nível da válvula tampão no distribuidor de LC; Pressão de argônio no tubo longo entre panela e distribuidor no lingotamento contínuo. Outras informações de interesse para o trabalho: A seção de tarugo analisada foi a de 155 mm. Os revestimentos refratários das panelas são de MgO-C e dos distribuidores de MgO. Válvula Tampão com ponta à base de MgO. A base da válvula submersa é feita à base de alumina, enquanto a região de contato com a escória do molde é feita de zircônia. 2.3 Equipamentos utilizados na amostragem Foram utilizados amostradores (do tipo lollipop ) para a coleta das amostras de aço do fabricante Heraeus Electro-Nite. O amostrador utilizado para retirar amostras do distribuidor contém um tubo de quartzo e sua extremidade é posicionada a 45º da superfície do banho, enquanto o amostrador utilizado na panela coleta uma boa amostra com uma combinação de três variáveis principais: penetração, profundidade de imersão e tempo de imersão. Para avaliação dos defeitos devido à presença de macroinclusões nos tarugos foi utilizado o equipamento de ultrassom. Este equipamento inspeciona 100% das barras e possui 6 cabeçotes de 5 MHz, com limite de detecção de defeitos à partir de 50 mm das pontas das barras. É uma ferramenta muito utilizada para detecção de defeitos internos, entre eles macroinclusões (MI), por possibilitar a análise de um volume relativamente grande do produto, além de poder demonstrar a distribuição das inclusões. Além disso, em caso de automatização do sistema, pode ser uma técnica de inspeção relativamente rápida. Por outro lado, a maior limitação da técnica é não possibilitar a determinação do tipo de inclusão detectada. A Figura 1 mostra na região em destaque onde foi detectada a presença de um defeito do tipo MI através da inspeção no ultrassom. Nesta região foi feita uma marcação na barra para indicar onde deve ser feito o corte da seção que foi analisada.

Figura 1. Barra com marcação de defeito do tipo MI após ter sido inspecionada. No passo seguinte é feito o corte da seção a ser analisada no microscópio. O preparo das amostras foi realizado seguindo-se a etapa de corte das mesmas, com disco adiamantado, onde a superfície plana foi posteriormente lixada. Após o lixamento, as amostras foram submetidas ao polimento com pasta de diamante, sendo que antes desta etapa as mesmas foram limpas num banho ultrassônico por 5 minutos. A cada mudança de estágio da granulometria de lixamento, as amostras foram lavadas e secas para que não houvesse contaminação no pano de polimento. Figura 2. Amostras cortadas e preparadas para análise em MEV/EDS. As análises químicas das MI foram efetuadas em um Microscópio Eletrônico de Varredura da fabricante Zeiss, modelo LEO 440, sonda EDS (20KV-foco 20 mm), com utilização do software INCA e detecção por elétrons secundários e retroespalhados. Para análise do aço se utiliza o espectrômetro de emissão óptica. O modelo do equipamento de Raios X é PW2600, da marca Philips. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Este tópico está organizado de acordo com as variáveis de processo consideradas: %FeO+%MnO na escória da panela; Variação do nível da válvula tampão no distribuidor de LC; Pressão de argônio no tubo longo entre panela e distribuidor no lingotamento contínuo.

3.1 %FeO+%MnO nas escórias de panela A Figura 3 mostra a evolução do %FeO+%MnO obtida nas amostras de escórias retiradas ao longo do processo. Figura 3. Resultados da análise de %FeO+%MnO presente nas amostras de escória de panela. E-FPi indica o %FeO+%MnO na chegada da panela à estação da Metalurgia Secundária, enquanto que E-FPf indica este valor um pouco antes da saída da panela para se dirigir ao lingotamento. Pelos dados obtidos nas análises, as corridas B, F e I apresentam um percentual considerado próximo a alto, além de algumas corridas na E-LC, quando levada em consideração esta variável. A Figura 4 mostra os resultados específicos para a E-LC. A importância da análise de E-LC, é devido ao fato desta ser a última prova retirada de aço líquido no lingotamento, não havendo muito mais tempo necessário para ações relacionadas à remoção de inclusões, caso seja confirmado um alto %FeO+%MnO. Figura 4. Resultados da análise de %FeO+%MnO presente na amostra E-LC.

Os resultados para E-LC indicam a corrida B com teores dos óxidos superiores ao limite considerado, além das corridas D e K estarem ligeiramente acima desta máxima também. 3.2 Variação do Tampão A Figura 9 mostra o gráfico de controle do nível do tampão, que consiste em uma haste refratária localizada dentro do distribuidor, controlando o fluxo de aço deste reservatório ao molde, ao longo das corridas anteriores e posteriores à corrida K (retângulos em preto). As linhas verde claro, azul e vermelha representam o nível de elevação do tampão, enquanto a linha verde escuro indica o peso de aço na panela da torre e a linha laranja a pressão de argônio no tubo longo. Nesta corrida verificase uma pequena variação ao final do lingotamento do aço. Esta variação não é o bastante para que haja entupimento das válvulas, porém indica que o aço não está completamente limpo, confirmando a presença de MI nesta corrida, demonstrado no item 3.4. Figura 5. Curva de variação dos tampões para os três veios. 3.3 Pressão do argônio no Tubo Longo entre panela e distribuidor no Lingotamento Contínuo Todas as corridas acompanhadas apresentaram valores dentro de faixa quando considerada esta variável. 3.4 Relação entre os índices de sucata e as variáveis A análise em EDS, mostrada na Figura 6, apresenta cálcio e enxofre como elementos majoritários na amostra da corrida K. Isto indica que, provavelmente, houve um desprendimento de partículas oriundas do clogging, que se misturaram ao aço líquido.

Figura 6. Resultado da análise química das inclusões formadas em amostra da corrida K. O tamanho da inclusão encontrada na barra analisada no MEV foi de 1,2 mm, aflorando na superfície, conforme Figura 7. Figura 7. Imagem em MEV da macroinclusão contida em barra sucateada após inspeção. A corrida K foi a única caracterizada quimicamente, pois apresentou um índice de sucateamento considerável e foi a única que apresentou variação do nível do tampão. Seguem os valores percentuais de sucata para as corridas que apresentaram refugo: Corrida B: 96% de sucata Corrida E: 1% de sucata Corrida I: 4% de sucata Corrida K: 6% de sucata Para se calcular este percentual é levado em consideração o peso de material refugado sobre a quantidade de aço lingotado.

As corridas a seguir apresentaram as seguintes variáveis como fora dos padrões de valores para o processo da aciaria: Corrida B: Teor de %FeO+%MnO na E-FPi e na E-LC Corrida K: Teor de %FeO+%MnO na E-LC A Figura 8 mostra a relação entre a quantidade de variáveis classificadas como não aceitáveis no processo e o percentual de peso sucateado para as corridas acompanhadas para cada qualidade de aço, através do cálculo do coeficiente de Pearson. Figura 8. Correlação entre o somatório de variáveis de processo e o índice de sucateamento para o aço estudado. Este coeficiente (representado pelo R 2 ) indica o grau de relação linear que existe entre duas variáveis, no caso percentual de sucata e número de variáveis fora. Se R = 1 existe uma perfeita correlação positiva. Como o resultado de R é 0,63, tem-se uma correlação considerada moderada. 4 CONCLUSÕES Após a análise dos resultados experimentais e conferência com as informações contidas na literatura, foi possível estabelecer as seguintes conclusões: Conseguiu-se construir uma metodologia que indique uma correlação moderada ao estabelecer uma relação entre o sucateamento e as variáveis analisadas no trabalho. As corridas B, D e K apresentaram teores de %FeO+%MnO na E-LC acima do limite máximo, sendo que dentre estas as que tiveram sucateamento foram as corridas B e K. A corrida B também teve teor acima do limite para %FeO+%MnO para a amostra E- FPi, indicando, como esta variável só esteve fora nesta corrida, uma tendência de correlação com o sucateamento para a qualidade SAE 1050, já que nesta corrida o índice de sucata foi muito elevado. A corrida K apresentou pequena variação no nível do tampão ao final do processo do LC, não caracterizando clogging, porém indicando a não limpidez completa do aço. Também, através da caracterização química, identifica-se formação de

inclusões do tipo CaS (ponto de fusão>2500 ºC), prejudiciais à lingotabilidade à medida que se incrementa o teor de enxofre na liga. Agradecimentos Agradecimentos à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ao LaSid (Laboratório de Siderurgia) e à Aciaria da Gerdau Piratini por contribuírem para a realização deste trabalho. REFERÊNCIAS 1. Ferreira, F. B.Análise e verificação de Variáveis do Processo como Causas para o Sucateamento por Macroinclusões em uma Aciaria de Aços especiais, Trabalho de Conclusão de Curso. 2011; pág. 12. 2. Ghosh, A. Secondary Steelmaking Principles and Applications, CRC Press LLC, 2001. 3. Bielefeldt, W. V.; Moraes, C.A.M.; Vilela, A.C.F.; Fernandes, P.C.; Klujszo, L.A.C., Evolução das inclusões no processamento do aço SAE 8620 via aciaria elétrica. 59º Congresso Anual da ABM. P. 736-745, São Paulo, 2004. 4. Wunnenberg, K.; Millman, S.; Nadif, M.; Marique, C.; Sumida, M.; Wddige, H.J., Study on Clean Steel, IISI International Iron and Steel Institute, 2004. 5. Zhang LF, Inclusion and Bubble in Steel. Journal of Iron and Steel Research, 2006. 6. Hollapa, L.; Helle, A.S. Inclusion control in high-performance steels. Journal of Materials Processing Technology, v. 53, 1995. 7. Thomas, B. G. et al, Effects of Clogging, argon Injection and Casting Conditions on Flow Rate and Air Aspiration in Submerged Entry Nozzles, 83 rd Steelmaking Conference Proceedings, Pittsburg, 2000. 8. Bielefeldt, W. V.; Estudo do tratamento de inclusões com cálcio na fabricação do aço SAE 8620; Dissertação de mestrado, Porto Alegre, 2005. 9. AISI Chemical Composition Limits