O PERCURSO COMPETITIVO DE TENISTAS DE SUCESSO DURANTE O PROCESSO DE TRANSIÇÃO PARA O CIRCUITO PROFISSIONAL Gabriel Armondi Cavalin ESTÁCIO Sandro Conceição de Souza UNIVERSO Celso Ricardo de Santana GEPEDAM / UEL Carlos Adelar Abaide Balbinotti PPGCMH/UFRGS Caio Corrêa Cortela FPT/ UFRGS gabrielcavalin@yahoo.com.br RESUMO: O presente estudo objetivou descrever o percurso realizado por tenistas de sucesso, no que tange à participação em competições no circuito profissional durante a fase de transição da carreira esportiva. Para isso, foram analisados os percursos dos 50 melhores tenistas classificados no ranking de simples, da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). Os dados foram obtidos no site oficial da Federação Internacional de Tênis (http://www.itftennis.com/procircuit) e, posteriormente, analisados com uso da estatística descritiva, por meio do software Excel 2010. Os resultados encontrados apontam que os tenistas de sucesso iniciam cedo a participação no circuito profissional (16,1±0,9 anos de idade), vivenciado esse circuito em média por 3,3±0,9 temporadas. A participação em torneios profissionais jogados durante o período de transição (43±23), o número total de jogos profissionais de simples realizados (108±61), e a as classificações obtidas no ranking da ATP (58% dos tenistas no Top 400 da ATP), sugerem que esses tenistas priorizaram a participação em eventos do circuito profissional durante a fase de transição. Palavras chaves: Tênis, Tenistas, Competição. INTRODUÇÃO: Atentando-se ao percurso competitivo dos tenistas de elite nos rankings júnior e profissionais é possível observar a predominância de três tipologias de casos: há tenistas que priorizam a participação no circuito júnior da ITF (ITFJC) e que somente após
terminarem a última temporada como júnior passam a competir no circuito profissional; há aqueles que priorizam o ITFJC, mas que, após obterem classificações proeminentes nesse âmbito de competição, passam a focar a atenção no circuito profissional, pontuando concomitantemente nos dois sistemas de classificação; e por fim, existem tenistas que abdicam de expressar todo o seu potencial no ITFJC, saltando essa etapa e adentrando diretamente no circuito profissional (CORTELA, 2009). Tendo esse quadro geral como pano de fundo, o presente artigo objetivou descrever o percurso realizado por tenistas de sucesso, no que tange à participação em competições no circuito profissional durante a fase de transição da carreira esportiva. METODOLOGIA: O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva quantitativa. De acordo com Thomas, Nelson e Silverman (2012), esse tipo de pesquisa visa conhecer e interpretar a realidade, sem nela interferir. A amostra do estudo foi composta pelos 50 melhores tenistas classificados no ranking de simples da ATP (Top 50), conforme a lista divulgada no dia 16 de junho de 2014. A idade média entre os sujeitos selecionados observados foi de 28,9±3,2 anos de idade, tendo o mais jovem 23 anos e o mais velho 36,2. Para a análise dos dados, foi considerada como fase de transição o período de quatro temporadas em que os tenistas poderiam competir concomitantemente nos circuitos ITJC e profissional. Verificou-se que apenas três jogadores disputaram mais de quatro temporadas no circuito profissional, ao longo desse período. Dessa forma, os torneios e os jogos realizados por esses tenistas foram adicionados na primeira das quatro temporadas analisadas. Os torneios ATP 250 e ATP 500 foram agrupados em uma mesma categoria. A coleta de dados ocorreu por meio do acesso ao site oficial da ITF (http://www.itftennis.com/procircuit). Nele foram realizadas as buscas pelos históricos dos tenistas utilizando-se, para isso, do sobrenome utilizado pelos mesmos no ranking profissional da ATP. As informações coletadas foram agrupadas em uma ficha especifica-
mente elaborada para o estudo. Posteriormente, por meio do software Excel 2010, foram realizadas as análises descritivas dos dados. RESULTADOS: A análise descritiva dos dados possibilitou identificar que todos os tenistas da amostra participaram de torneios do circuito profissional durante a fase de transição. A maior parte desses jogadores (85%) disputou eventos profissionais ao longo de três ou quatro temporadas. Conforme verificado na Tabela 1, e corroborando com os resultados apresentados por Cortela et al. (2010), observa-se que a participação de tenistas de sucesso em torneios do circuito profissional inicia-se em idades relativamente baixas, considerando-se que o tênis se apresenta como uma modalidade de especialização esportiva tardia (BALYI, 2005; TENNIS CANADA, 2011). A mediana de 15,8 anos de idade encontrada, e a verificação de que apenas 24% dos tenistas iniciaram a participação no circuito com idades superiores aos 17 anos, alertam para necessidade de um monitoramento e de maior atenção com os jogadores, assim como tem ocorrido no tênis feminino. A mudança de âmbito de competição altera as exigências a serem superadas pelos tenistas. Esse cenário associado a um elevado número de jogos, em idades precoces, pode contribuir para abreviação da carreira, em decorrência do aparecimento de lesões (CORTELA et al. 2010). A conquista do primeiro ponto no ranking da ATP é um momento marcante na carreira esportiva de tenistas que aspiram uma carreira profissional. Para 70% dos tenistas Top 50 analisados, esse marco é alcançado até os 17 anos de idade. Esses resultados vão ao encontro dos apresentados por Reid e Morris (2011) quando analisaram tenistas Top 100 do ranking da ATP. Segundo os autores, a idade média para obtenção do primeiro ponto na carreira foi de 16,9±1,2 anos.
Tabela 1: Estatística descritiva das variáveis relacionadas ao percurso competitivo no circuito profissional durante a fase de transição. Tendência Central e Dispersão Variáveis do Percurso Competitivo X DP M ediana Amplitude Número de temporadas em que participou do circuito profissional 3,3 0,9 4 1 4 Idade de encerramento da primeira temporada no circuito profissional 16,1 0,9 15,8 15.0 18,7 Idade do primeiro ponto no ranking da ATP 16,6 1 16,4 15,0 20,3 Numero total de torneios profissionais 43 23 40 2 96 Número total de jogos simples no circuito profissional 108 61 112 3 248 Melhor ranking ATP obtido durante a fase de transição 488 384 355 22 1360 M ín. M áx. A análise do número total de torneios e de jogos realizados sugere que os tenistas Top 50 priorizaram a participação em eventos do circuito profissional durante a fase de transição, conforme relatado por Cortela et al. (2010). Ao comparar os resultados encontrados no presente estudo com os de Cavalin et al. (2015), verifica-se que a participação em eventos e jogos realizados no circuito profissional, tenderam a ser mais elevada do que as observadas no ITFJC (19±13,7 torneios e 62,5±45 jogos de simples). De fato, os resultados obtidos pelos tenistas no circuito profissional durante a fase de transição mostrou-se um indicador mais confiável para o prognóstico dos resultados futuros a serem apresentados pelos mesmos, quando comparadas às classificações no ITFJC (Cortela et al. 2012). Segundo Reid et al. (2014), os tenistas com diferentes níveis de desempenho máximo obtidos ao longo da carreira profissional já apresentavam diferenças significativas no ranking ATP nos estágios iniciais de suas carreiras profissionais, sugerindo que esses resultados podem ser utilizados para prever a probabilidade dos tenistas atingirem os Tops 10, 20, 50, e 100, do ranking ATP. A maioria dos tenistas observados (58%) atingiu o Top 400 do ranking ATP em idades em que ainda poderiam competir no ITFJC. De acordo com Cortela et al. (2012) a
idade de entrada no Top 400 encontra-se fortemente correlacionada com idades de entrada nos Tops 200 e 100, indicando que os tenistas que atingem mais cedo esse marco da carreira esportiva tendem a alcançar os demais em idades mais baixas. CONCLUSÃO: Os resultados apresentados neste estudo encontram-se em conformidade com os divulgados pela literatura, com tenistas de destaque internacional no circuito profissional. A participação precoce no circuito profissional, associada ao elevado número de torneios, jogos, e a classificação atingida no ranking da ATP em idades em que ainda poderiam participar do ITFJC, apontam para a tendência dos jogadores com esse nível de desempenho máximo, de enfatizarem a participação no circuito profissional durante a etapa de transição. REFERÊNCIAS BALYI, I. Long-term Athlete Development. Canadian Sport for Life. 2005. Disponível em: (http://www.canadiansportforlife.ca/resources/coaches). Acesso em: 04 de dezembro de 2007. CAVALIN, G. A.; CORTELA, C. C.; KLERING, R. T.; GONÇALVES, G. H. T.; BALBINOTTI; C. A. A. O percurso competitivo de tenistas Top50 do ranking profissional. In: 5 Congresso Internacional de Jogos Desportivos. Anais. UFMG, Belo Horizonte Minas Gerais. p. 810-815, 2015. CORTELA, C. C. Planeamento de carreira desportiva de jovens tenistas para a alta competição: a transição para a etapa de rendimento máximo. 2009. 96 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Desporto e Educação Física) Programa de Pós-Graduação em Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. CORTELA, C. C.; SILVA, M. J. C.; FUENTES, J. P. G.; ROCHA, D. N. Tenistas top 100- um estudo sobre as idades de passagens pelos diferentes marcos da carreira desportiva; Pensar prática, v. 13, n. 3, p. 1-17, 2010.
CORTELA, C. C.; SILVA, M. J. C.; FUENTES, J. P. G.; ROCHA, D. Resultados esportivos no escalão júnior e desempenhos obtidos na etapa de rendimentos máximos. Uma análise sobre a carreira dos tenistas top 100. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 11, n. 1, p. 123-133, 2012. REID, M.; CRESPO, M.; SANTILLI, L.; MILEY, D.; DIMMOCK, J. The importance of the International Tennis Federation s junior boys circuit in the development of professional tennis players. Journal of Sports Sciences, Inglaterra, v. 25, n. 6, p. 667-672, 2007. REID, M.; MORRIS, C. Ranking benchmarks of top 100 players in men s professional tennis. European Journal of Sport Science, v. 13, n. 4, p. 350-355, 2011. REID, M.; MORGAN, S.; CHURCHILL, T.; BANE, M. K. Rankings in professional men s tennis: a rich but underutilized source of information. Journal of Sports Sciences, v. 32, n. 10, p. 986 992, 2014. TENNIS CANADA. Long term athlete development plan for the sport of tennis in Canada.Canadá. 2011. Disponível em: (http://www.tenniscanada.com/misc/ltadallenglish.pdf). Acesso em: 28 de abril de 2011. THOMAS, J. R., NELSON J. K.; SILVERMAN S. J. Métodos de pesquisa em atividade física. Artmed, 2012.