A ditadura Paraguaia: os movimentos 14 de Mayo e FULNA e a insurgência contra a repressão de Stroessner ( )

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ANPUH XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA Fortaleza, 2009. A ditadura Paraguaia: os movimentos 14 de Mayo e FULNA e a insurgência contra a repressão de Stroessner (1954-1961) Graziano Uchoa P. da Silva Dr. Pio Penna Filho Resumo A presente comunicação visa colocar em discussão os primeiros anos (1954-1961) em que o Paraguai esteve sob a batuta do Gal. Alfredo Stroesser. A exemplo de outras ditaduras Stroessner utilizou-se, além da violência, de um forte discurso ideológico nacionalista. A falta de perspectiva de reivindicação dos direitos básicos por meios legais fez com que começassem a surgir agrupações armadas (guerrilhas). Dois grupos tiveram maior expressão: o 14 de mayo e a Frente Unida de Liberacion Nacional (FULNA). Para sufocar esses movimentos Stroessner, pode contar com o apoio externo do EUA e do Brasil, e também com o discurso da Doutrina de Segurança Nacional, implantando no Paraguai um regime ditatorial marcado pela repressão e que, com efeito, deixou os civis por mais de três décadas longe do poder. Palavras-chaves: ditadura, Paraguai, guerrilha. Abstract This communication aims at debate the first years (1954-1961) in which the Paraguay was under the leadership of General Alfred Stroessner. Like other dictators Stroessner used, in addition of violence, a powerfull nationalist ideological discourse.the lack of prospect of demand for basic rights, by lawful means, stimulated the emerge of armed groups (guerrillas). Two groups had higher expression: "14 de mayo" and "Frente Unida de Liberacion Nacional" (FULNA). To stifle these movements Stroessner could count on external support from the U.S. and Brazil, and also with the discourse of the National Security Doctrine, implanting in Paraguay a dictatorial regime marked by repression and, indeed, left the civilians for more than three decades away from power. Key-words: dictatorship, Paraguay, guerrilla. A ditadura paraguaia No tocante à história contemporânea da América do Sul, principalmente no período em que as Forças Armadas despontaram como protagonistas no cenário político dessa região (1960-1970), o Paraguai é um país que por vezes não tem reconhecido o importante papel que exerceu e ainda exerce nas relações entre os países latino-americanos. Na história recente da Mestrando do programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso e bolsista da CAPES. Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq 1

Nação Mediterrânea do Prata, a sociedade paraguaia se viu imersa em conflitos, causados pelos interesses de grupos que detinham o poder local. Essas disputas oligárquicas pelo controle político do Paraguai tinham como representantes os dois maiores partidos paraguaios o Partido Liberal e a Associação Nacional Republicana (ANR) que ficou popularmente conhecida como Partido Colorado. A ininterrupta luta entre essas agrupações afundaram o Paraguai em sucessivas guerras civis, além disso, durante a primeira metade do século o país envolveu-se em um conflito com a Bolívia, este conhecido como Guerra do Chaco (1932-1935) agravando ainda mais a situação paraguaia. Toda essa conjuntura delineou um cenário de atraso tecnológico e de constante crise econômica, criando uma situação de extrema pobreza, fragilizando assim as instituições de representação democrática e tendo como resultado uma situação permanente de instabilidade política. Toda essa sucessão de acontecimentos ocorridos na Nação Guarani criou o terreno perfeito para a ascensão do Partido Colorado no domínio do país e como conseqüência deixou lacunas para a instauração do regime ditatorial comandado pelo Gel. Alfredo Matiuda Stroessner. No inicio da década de 50, o General Alfredo Stroessner liderou um golpe bem sucedido que culminou com a derrocada do governo de Federico Chaves 1. O descontentamento de alguns setores, principalmente os militares com as medidas econômicas e políticas adotadas pelo governo abriram espaço para uma conspiração e permitiu que o Comandante-Chefe das Forças Armadas o Gel. Stroessner tomasse o poder. É importante lembrar que, no governo de Chaves houve uma partidarização do Exército e da Policia que segundo historiadora Ceres de Moraes tinha como objetivo assegurar sua lealdade (MORAES, 2000, p.37). Para estabelecer seu governo Stroessner, em sua primeira etapa tratou de impor um verticalismo partidário, ou seja, tratou de arregimentar todos os setores estratégicos nas fileiras de seu partido, o Colorado. Anibal Miranda refere-se a esse processo que chamou de coloradezación da seguinte maneira: 1 Federico Chaves foi eleito para cumprir um mandato de quatro anos (1953-1958). No entanto, segundo o jornalista paraguaio Roberto Paredes, no começo de 1954 já havia um prenuncio do fim do mandato. A essa altura Chaves estava totalmente isolado, pois era de um setor democrata do Partido Colorado. Na teoria o presidente contava com o apoio do partido, mais na verdade la conspiración para su definitivo derrocaimento estaba en marcha. PAREDES, Roberto. Stroessner y el stronismo. Servilibro: Asunción, Paraguay. 2004, p. 17. 2

[...] En una primera etapa se dio para militares, policias e demás funcionarios de la administración pública. El copamiento de la sociedad civil se produjo por medio de la afiliación subsiguiente de docentes y magistrados, contratistas y proveedores de reparticiones estatales, mixtas y municipales, comerciantes obreros y campesinos 2. Nesse período existia no Paraguai uma disputa política entre facções do partido colorado, assim que assumiu o poder Stroessner centralizou o partido expulsando qualquer um que discordasse de seu governo. Com as condições internas controladas o stronato procurou construir outros meios para a manutenção do regime. O discurso da Doutrina de Segurança Nacional A conjuntura internacional vivida na época era marcada com a chamada Guerra Fria, período caracterizado pela constante confronto entre duas superpotências mundiais (EUA X EX-URSS) disputando áreas de influencia para suas políticas. Na América Latina começava a despontar os regimes militares, a maioria deles regidos sob a batuta da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), que segundo o autor Joseph Comblin: A Ideologia de Segurança Nacional, colocada acima da segurança pessoal, expande-se por todo continente latino-americano [...]. Inspirada nela, os regimes de força, em nome da luta contra o comunismo e a favor do desenvolvimento econômico, declaram guerra a todos os que não concordam com a visão autoritária da organização da nova sociedade. [...] as garantias individuais são suprimidas [...] a o abuso do poder do Estado, as prisões arbitrárias, as torturas, a supressão da liberdade de pensamento 3. Tomando como base o discurso do anticomunismo, Stroessner implantou no país um regime marcado por uma brutal repressão e estabeleceu um novo controle político e social. Sobre o stronato Clóvis Rossi classifica o Paraguai como uma espécie de precursor artesanal dos regimes de Segurança Nacional (ROSSI, 1980, p. 37), e que só a partir da década de 1960 teve inicio os regimes militares nos outros países do Cone Sul: no Brasil em 1964, na Bolívia no mesmo ano, no Uruguai e no Chile no ano de 1973 e em 1976 na Argentina. A ditadura de Stroessner a exemplo das outras que ocorreram na América Latina utilizou-se além da violência, de um persistente discurso ideológico nacionalista para justificar uma proteção a Nação, qualquer tentativa de se questionar o regime ditatorial implantado no país era ir contra o seu desenvolvimento. Nas palavras de Adan Godoy 2 3 MIRANDA, Aníbal. Partido políticos y autoritarismo em Paraguay.- Asunción/PY: Ed, El lector, 1988.p149. COMBLIM, Pe. Joseph. A ideologia de Segurança Nacional, o poder militar na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978. p.16. 3

Jimenez, Ministro da Saúde e Bem Estar Social do governo stronista o modelo republicano democrático de governo se daria através de uma democracia sin comunismo, esse modelo se caracterizava por uma inviabilidade da convivência pacifica com tal ideologia. Segundo Jimenez: El Comunismo solo sirve a los intereses de una potencia imperialista empeñada en conquistar y sujuzgar a los pueblos libres, soberanos, democráticos y nacionalistas como es el Paraguay del presente (JIMENEZ,1987, p. 23). Dentro da lógica anticomunista, Stroessner angariou o apoio dos Estados Unidos da América, esse apoio foi possível por existir um interesse significativo dos EUA sobre a região paraguaia mediante a sua localização geográfica. Os estadunidenses temiam que os países latino-americanos pudessem se influenciar com o expansionismo das idéias vindas da URSS, entre eles o Paraguai. Fátima M. Yore descreve essa relação da seguinte forma: um militar que aparecia como amigo dos Estados Unidos e extremamente anticomunista no próprio quintal da potencia capitalista não é nada desprezível, apesar do Paraguai ser um pequeno e sem importância país (do ponto de vista econômico e geopolítico) com relação a seus vizinhos do Cone Sul 4. Outro apoio importante para a ditadura paraguaia foi o brasileiro. Antes da subida de Stroessner ao poder, existia uma dependência econômica do Paraguai em relação à Argentina. Essa relação de dependência se dava pelo fato do Paraguai ter somente uma alternativa para exportar ou importar produtos, pelo Rio Paraguai e através do Porto de Bueno Aires. Segundo Moacir Briggs embaixador brasileiro em 1955 o Paraguai é um ser humano que respira com um só pulmão (MENEZES, 1987, p.51). Segundo a historiadora Ceres de Moraes o apoio do Brasil para com o Paraguai se deu da seguinte forma: a aproximação dos dois países se deu através de assinaturas de acordos comerciais, [...] com a Missão Cultural em Assunção 5 [...] e com a construção da Ponte da Amizade. Essa possibilitou o Paraguai a sair da histórica dependência do Porto de Buenos Aires para a realização de seu comércio exterior 6. 4 5 6 YORE apud MORAES, Ceres. Paraguai- A consolidação da ditadura de Stroessner- 1954-63. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 08. Esse acordo tinha a finalidade de organizar cursos de português no Paraguai, E em cooperação com a Universidade nacional de Assunção, devia fornecer professores especializados em Psicologia, Didática Geral, Língua portuguesa e literatura Luso-Brasileira, devendo também a missão desenvolver projetos educacionais que pudessem ser de interesse para o intercambio Brasil-Paraguai. CERES, Moraes. Paraguai- A consolidação da ditadura de Stroessner- 1954-63. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 100. MORAES, 2000. p.12. 4

Todo esse apoio colaborava com a imagem de Stroessner como um presidente empreendedor, alguém que estava finalmente levantando a pátria paraguaia, o que dava ao governo a possibilidade de se legitimar a qualquer custo, mesmo que para isso precisasse usar da força. Em 1958 Stroessner foi eleito novamente, sempre cuidadoso visando parecer um líder democrático convoca eleições e continua no cargo de presidente. Nesse mesmo ano ocorrem mobilizações sociais pedindo a renuncia do governo e reivindicando o fim do constante estado de sitio vivido no país, inclusive por uma corrente do próprio partido com a denominação de Movimento Popular Colorado (MOPOCO). Diante disso o governo de Stroessner não vê outra saída disolvió el Congreso, deportó a algunos de sus miembros e decretó otra vez el estado de sitio, poco antes levantado debido a la presión popular (ARCE, 1977:366). A falta de perspectiva de reivindicação dos direitos básicos por meios legais faz com que começassem a surgir agrupações armadas (guerrilhas) com a finalidade de tomar o poder das mãos do stronato. Dois grupos tiveram maior expressão: o 14 de mayo e a Frente Unido de Liberacion Nacional (FULNA). O movimento 14 de mayo (1959-1961) Foi formado por jovens membros do Partido Liberal e do Partido Revolucionário Febrerista, essa oposição se organizou durante o exílio que os militantes viviam durante o regime de Stroessner. Uma das maiores características do movimento era ter critérios de ingresso muitos simples, sendo preciso somente e tão somente concordar com o programa do 14 de mayo. Pretendiam a partir da Argentina juntar forças e tomar o poder das mãos de Stroessner. O plano era introduzir cinco colunas de homens armados e adentrar por diferentes lugares da fronteira, executando assim um ataque surpresa desmobilizando o exército regular e conseguindo derrubar o stronato. A invasão foi marcada para o dia 12 de dezembro e esperava tomar o Paraguai de maneira muita rápida. O movimento foi desarticulado depois do fracasso dessa invasão. Seus principais lideres foram presos ou mortos pela repressão stronista. Para que isso fosse possível, Stroessner pode contar com o apoio brasileiro e também com um eficiente serviço de espionagem controlado pelo estado paraguaio. A primeira experiência de guerrilha no Paraguai tinha assim seu fim, mas não seria a última. 5

A FULNA (1960-1965) A FULNA (Frente Armada de Liberacíon Nacional) começa suas atividades em abril de 1960, ligada ao partido comunista paraguaio, era o grupo que detinha uma maior consistência ideológica o que melhor aparelhava a FULNA para entender a realidade do Paraguai. Tem seu surgimento ligado à insatisfação dos jovens, uma juventude universitária que se uniria a uma elite intelectual e começariam a questionar a situação vivida no Paraguai. Para esse grupo o partido comunista paraguaio, pelo mecanismo teórico, era a solução. Empolgados com a vitória da guerrilha em Cuba, começam a montar bases no campo, lutando durante um ano, de abril de 1960-1961, mas apesar de ter um programa político estabelecido contavam com muito poucas pessoas. Esperavam a adesão dos camponeses, o que não aconteceu devido à cultura do terror imposta por Stroessner, onde os camponeses eram obrigados a assistir o fuzilamento de pessoas ligado a grupos insurgentes. Com poucas pessoas, sem o apoio esperado, a FULNA tem seu fim em 1965, e o golpe de misericórdia é a morte de seu principal líder Agapito Valiente, assassinado em uma emboscada organizada pela reação. Reflexões finais O estabelecimento da ditadura no Paraguai teve como elementos primordiais para a sua instauração e manutenção a situação vivida pelo país de pobreza, atraso econômico e tecnológico, instabilidade política e o conturbado processo histórico do país caracterizado pela disputa do poder por diferentes forças políticas. O regime stronista utilizou-se de um forte esquema repressivo para sua manutenção no poder. Para isso, pode contar com o apoio externo do EUA e do Brasil, e também com o discurso da Doutrina de Segurança Nacional. A ditadura no Paraguai foi a mais duradoura, Stroessner se manteve no poder durante 35 longos anos, o golpe de Estado que ascendeu Stroessner foi em 1954, só depois de 10 anos, uma junta militar depunha João Goulart, presidente do Brasil, e estalaria outra ditadura no Cone Sul. O Paraguai foi o precursor das ditaduras militares instauradas na região, aspecto que demonstra a participação efetiva do país dentro do contexto das ditaduras. 6

Bibliografia ARCE, Omar Diaz de. El Paraguay contemporâneo (1925-1975). In: América Latina: história de médio siglo. Volume I, México: siglo veintiuno editores, 1977, p.327-378. COMBLIM, Pe. Joseph. A ideologia de Segurança Nacional, o poder militar na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Civilazação Brasileira, 1978. MORAES, Ceres. Paraguai: A consolidação da ditadura de Stroessner-1954-63. -Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. 115p; (coleção história 34). MENEZES, Alfredo da Mota. A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai, 1955-1980. -Campinas, SP: Papirus,1987. MIRANDA, Aníbal. Partido políticos y autoritarismo em Paraguay.- Asunción/PY: Ed, El lector, 1988. JIMENEZ, Adan Godoy. Stroessner: Um modelo Republicano y democrático de gobierno. Asunción.Ed Che Retá; 1987. p.23. PAREDES, Roberto. Stroessner y el stronismo. Servilibro: Asunción, Paraguay. 2004. ROSSI, Clóvis. Militarismo na América Latina. ED Brasiliense, coleção tudo é história, 1980. 7