APLICAÇÃO DE MONITORES PORTÁTEIS PARA MONITORAÇÃO INTERNA EM MEDICINA NUCLEAR

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Transcrição:

X Congreso Regional Latinoamericano IRPA de Protección y Seguridad Radiológica Radioprotección: Nuevos Desafíos para un Mundo en Evolución Buenos Aires, 12 al 17 de abril, 2015 SOCIEDAD ARGENTINA DE RADIOPROTECCIÓN APLICAÇÃO DE MONITORES PORTÁTEIS PARA MONITORAÇÃO INTERNA EM MEDICINA NUCLEAR Oliveira, S.M., Assis, J.C., Dantas, A.N.A. e Dantas, B.M. Instituto de Radioproteção e Dosimetria IRD RESUMO Nos Serviços de Medicina Nuclear (SMN), profissionais especializados manipulam rotineiramente radiofármacos para fins de diagnóstico e terapia. O controle das incorporações de radionuclídeos pelos trabalhadores pode ser realizado por meio de técnicas de dosimetria interna, como parte integrante do programa de proteção radiológica da instalação. O uso de radiofármacos para fins terapêuticos e diagnósticos in vivo e in vitro, no Brasil, é regulamentado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recomenda a implantação de programas de monitoração interna de trabalhadores sujeitos ao risco de exposição a doses efetivas anuais superiores a 1 msv. Cabe ressaltar que, atualmente, existem disponíveis apenas cinco laboratórios capacitados a prestar serviços de monitoração interna em todo o território brasileiro. Caso a exigência de monitoração interna dos trabalhadores fosse aplicada pela CNEN, a oferta de serviços de monitoração interna não seria suficiente para atender toda a demanda dos SMN. Com o objetivo de contornar esta situação, este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma metodologia simples e de baixo custo para realizar a monitoração in vivo de I 131 na tireoide. A técnica consiste na utilização de monitores portáteis de contaminação superficial, equipamento amplamente utilizado e de posse obrigatória por todos os serviços de medicina nuclear do Brasil. Os monitores avaliados foram calibrados com simulador de pescoçotireoide desenvolvido no Laboratório de Monitoração In Vivo do IRD. Foram testados cinco modelos e suas incertezas foram estimadas com base nos parâmetros de calibração. Todos os modelos avaliados se mostraram adequados para aplicação em monitoração ocupacional in vivo de I 131 na tireoide. Esta conclusão baseia-se no fato de que, em todos os modelos, o sistema de detecção apresenta sensibilidade suficiente para a monitoração in vivo até sete dias após a incorporação de I 131 em valores que resultem em doses efetivas inferiores a 1 msv, considerando os cenários de exposição mais comuns na rotina de trabalho de serviços de medicina nuclear. 1. INTRODUÇÃO De acordo com as informações disponíveis na página da internet da CNEN [1] existem, aproximadamente, 430 instalações autorizadas na prática de Medicina Nuclear em todo o Brasil, o que resulta em um número significativo de profissionais ocupacionalmente expostos que manipulam, rotineiramente, uma grande variedade de radionuclídeos sob a de fontes não seladas. A manipulação de marcadores radioativos pelos profissionais da área de medicina nuclear representa um risco à saúde devido à possibilidade de incorporação via inalação e ingestão e, consequente, exposição interna. Entre os radionuclídeos mais usados em medicina nuclear, pode-se destacar Tc 99m, I 131, I 123, Tl 201 e o F 18, entre outros. As exposições internas e externas podem ocorrer simultaneamente em medicina nuclear, embora exista um consenso de que a exposição externa é predominante nesta prática. Entretanto, dependendo do cenário, e baseado em critérios internacionais de avaliação, o risco de incorporação de radionuclídeos torna necessário que os trabalhadores sejam monitorados de forma individual e periódica, visando manter o controle sobre as doses internas [2].

Cabe ao supervisor de proteção radiológica da instalação gerenciar o programa de radioproteção dos trabalhadores e, baseado nos resultados das monitorações, implementar as medidas necessárias a manter os níveis de exposição tão baixos quanto possível. Deve-se ressaltar também que a manutenção de níveis de segurança elevados depende da ação conjunta e participativa entre o SPR e os trabalhadores da instalação [3]. A avaliação da exposição ocupacional interna requer o uso de metodologias específicas que permitem identificar e quantificar a incorporação e estimar as doses efetivas comprometidas dos trabalhadores [4]. Entretanto, atualmente, no Brasil, não estão disponíveis laboratórios capacitados a prestar serviços de monitoração interna em todas as regiões no território nacional, o que acarretaria um elevado custo aos Hospitais caso fosse aplicada, pela CNEN, a exigência de implementação de programas de monitoração interna, de acordo com o estabelecido nas normas de radioproteção vigentes [5]. Este trabalho apresentada uma alternativa simples e economicamente viável visando à implementação de programas de monitoração interna de profissionais que manipulam fontes abertas de I 131 para fins de terapia de doenças da tireoide. Estes profissionais são, em princípio, os que têm contato rotineiro com atividades mais elevadas do I 131 e, consequentemente, estão expostos aos maiores riscos de incorporação. Foi avaliada então a possibilidade de se utilizar um monitor de contaminação superficial, pois este tipo de equipamento é amplamente utilizado em procedimentos rotineiros executados em todos os serviços de medicina nuclear, sendo um item de posse obrigatória pelas instalações licenciadas pela CNEN. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Materiais 2.1.1. Detectores portáteis de contaminação de superfície Os detectores avaliados neste trabalho tem como finalidade sua aplicação na monitoração interna de rotina em profissionais que manipulam fontes abertas de I 131 em serviços de medicina nuclear. Foram utilizados cinco modelos diferentes de detectores de contaminação de superfície, os detectores foram previamente calibrados no Laboratório Nacional de Metrologia das Radiações Ionizantes (LNMRI - IRD/CNEN). Os modelos avaliados estão listados na Tabela 1.

Tabela 1. Monitores de contaminação de superfície avaliados. Fabricante Modelo Tipo MRA GP-500 Geiger-Muller Prólogo PSN-7013 Geiger-Muller Berthold LB-124 SCINT Cintilador IEN MIR-7026 (Sonda SPQ 7026) Geiger-Muller Eberline E-120 (Sonda Termo-Eberline HP-260) Geiger-Muller 2.1.2. Detectores portáteis de contaminação de superfície O simulador de tireoide-pescoço usado para calibração do sistema de detecção consiste numa peça de papel de filtro recortado no tamanho e formato da tireoide humana, impregnada com solução-padrão de Ba 133 certificada pelo Laboratório Nacional de Metrologia das Radiações Ionizantes (LNMRI- IRD-CNEN). Esta peça é selada com adesivo plástico, fixada em um suporte de acrílico e posicionada em bloco de poliuretano com características tecidoequivalentes, representando um pescoço humano [6]. A Figura 1 apresenta as etapas da confecção do simulador de tireoide-pescoço desenvolvido no Laboratório de Monitoração In Vivo do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (LABMIV-IRD). Figura 1. Simulador de tireoide-pescoço desenvolvido no IRD.

2.2 Métodos 2.2.1 Sub-subseções: Calibração do sistema de detecção Para a calibração dos sistemas de detecção, cada um dos modelos avaliados foi submetido às seguintes etapas: Etapa 1: Utilização de um simulador de tireoide-pescoço contendo atividade de Ba 133 conhecida e corrigida, considerando a data original de calibração da fonte utilizada para a produção do fantoma e a data da calibração da sonda. Outro simulador idêntico de tireoidepescoço, inerte, é utilizado para a determinação do background (BG). Etapa 2: Cálculo da atividade equivalente de I 131, em becquerel (Bq), no simulador. Este cálculo baseia-se na coincidência das faixas de energia por emissão gama provenientes do Ba 133 e I 131 (Tabela 2). Considerando que o I 131 emite fótons com energias próximas às do Ba 133, supõe-se que a eficiência de detecção para Ba 133 seja equivalente à do I 131. Além disso, a meia vida do Ba 133 (10.74 anos) é muito superior à do I 131 (8.01 dias), o que constitui uma grande vantagem ao uso do Ba 133 em relação ao I 131, permitindo maior flexibilidade de tempo para completar os procedimentos de calibração sem a necessidade de correção e decaimento ao longo do processo. Tabela 1. Energias dos fótons e intensidade de emissão para Ba 133 e I 131. Energias Ba 133 (kev) Intensidade de emissão 276,39 0,071 302,85 0,183 356,01 0,620 383,85 0,089 Energias I 131 (kev) Intensidade de emissão 284,30 0,061 364,48 0,817 Substituindo a intensidade de emissão gama pelos respectivos valores apresentados na Tabela 2, a atividade equivalente é calculada da seguinte forma: At Eq I 131 Bq = A (Ba133 ) x Σ ( Ba133 ) Σ ( I 131 ) (1)

Onde: At Eq I 131 = Atividade equivalente de I 131 ; A (Ba 133 ) = Atividade de Ba 133 (Bq) presente no simulador; Σ ( Ba 133 ) = Somatório das intensidades de emissão do Ba 133 ; e Σ ( I 131 ) = Somatório das intensidades de emissão do I 131. Etapa 3: Cálculo do Fator de Calibração (FC) da técnica através de posicionamento do simulador de tireoide na distância de 3 cm em relação à face anterior da sonda e registro da taxa de contagem instantânea. O cálculo do FC foi realizado de acordo com a seguinte equação: FC cpm/bq = Cpm A calib (2) Onde: Cpm = Taxa de contagem líquida do simulador (total de contagens do I 131 subtraída do BG); e A calib = Atividade equivalente de I 131 presente no simulador de tireoide no momento da medição. Etapa 4: Determinação da Atividade Mínima Detectável (AMD) [7]. AMD Bq = 4,65 x N FC x T + 3 FC x T (3) Onde: N = Contagens do BG (utilizando o simulador inerte); FC = Fator de calibração na geometria tireoide (cpm/bq); e T = Tempo de contagem, em minutos. 2.2.2 Avaliação da sensibilidade dos métodos Após o cálculo do FC e da AMD, procede-se à avaliação da sensibilidade do método a fim de demonstrar sua aplicabilidade em monitoração ocupacional, possibilitando a detecção de atividades correspondentes à dose efetiva comprometida igual ou inferior ao nível de registro de 1 msv [8], para isso, calcula-se inicialmente a Incorporação Mínima Detectável (IMD), de acordo com a seguinte equação: IMD Bq = AMD x m(t) ina ou ing (4) Onde: AMD = Atividade mínima detectável; e m(t) ina ou ing = Fração da incorporação do radionuclídeo por inalação ou ingestão. Os valores de m(t), podem ser gerados pelo software AIDE [9], cujos cálculos são baseados nos modelos biocinéticos e dosimétricos sugeridos pela ICRP [10]. Em seguida, calcula-se a Dose Efetiva Mínima Detectável (DEMD) a partir dos valores de IMD, considerando-se as frequências de monitoração distintas, através da seguinte equação:

Onde: IMD = Incorporação mínima detectável; e e(g) ina ou ing = Coeficiente de dose. DEMD Bq = IMD ina ou ing x e(g) ina ou ing (5) O valor de e(g) pode ser obtido pelo software AIDE, cujos cálculos são baseados nos modelos biocinéticos e dosimétricos sugeridos pela ICRP. 3. RESULTADOS 3.1 Atividade equivalente de I 131 presente no simulador de tireoide Neste trabalho foram utilizados dois simuladores com atividades distintas na calibração dos detectores avaliados. O simulador 1 continha atividade de Ba 133 igual a 15211 Bq na data de 10/06/2011, aplicando a metodologia descrita anteriormente, obteve-se a atividade equivalente de I 131 igual a 16684 Bq. O simulador 2 continha atividade de Ba 133 igual a 4531 Bq na data de 17/09/2013 e atividade equivalente de I 131 igual a 4970 Bq. 3.2 Fator de calibração e atividade mínima detectável Os valores de FC obtidos correspondem à razão entre a taxa de contagem líquida (cpm) dividida pela atividade do simulador de tiroide, posicionado a 3 cm de distância da sonda. Foram realizadas quatro leituras de taxas de contagens instantâneas e de BG de cada detector, exceto o detector Eberline E-120, que foi realizado apenas uma leitura. Para maior confiabilidade estatística, os valores das taxas de contagens líquidas (Tabela 3) utilizadas no cálculo do FC foram as respectivas médias de cada detector avaliado. Tabela 2. Contagens líquidas e médias das contagens. Contagens Líquidas (cpm) Detector Leitura 1 Leitura 2 Leitura 3 Leitura 4 Média Eberline E-120 100 - - - 100 GP-500 50 100 80 60 72,5 PSN-7013 40 60 30 60 47,5 MIR-7026 29 43 24 36 33 Contagens Líquidas (cps) Detector Leitura 1 Leitura 2 Leitura 3 Leitura 4 Média LB-124 SCINT 67 65 67 69 67

Detector Eberline E- 120 Simulador Tabela 3. Parâmetros das calibrações. Data de calibração At Eq I 131 corrigida (Bq) FC (cpm/bq) AMD (Bq) 1 09/09/2013 14381 6,954 x 10-3 6687 GP-500 2 16/06/2014 4731 1,532 x 10-2 3778 PSN-7013 2 16/06/2014 4731 1,004 x 10-2 3944 LB-124 SCINT 2 20/06/2014 4728 1,417 x 10-2 1705 MIR-7026 2 20/06/2014 4728 6,980 x 10-3 6088 3.3 Incorporação mínima detectável e dose efetiva mínima detectável A Incorporação Mínima Detectável depende do cenário de exposição e do tempo decorrido en tre a incorporação e a monitoração. Utilizou-se neste trabalho os valores de m(t) de 1 e 7 dias para as vias de incorporação por inalação e para via de incorporação por ingestão. Estes valor es de m(t) foram obtidos através da utilização do software AIDE [9]. A Dose Efetiva Mínima Detectável pode ser determinada a partir dos valores de IMD obtidos, considerando-se os coe ficientes (Tabela 5) de dose correspondentes aos cenários de incorporação em estudo. Tabela 4. Frações de incorporação e coeficientes de dose obtidos através do software AIDE. 1 dia (Bq/Bq) 7 dias (Bq/Bq) m(t) Inalação Ingestão Inalação Ingestão 0,229 0,252 0,139 0,154 e(g) Ingestão (msv/bq) Inalação (msv/bq) 2,17 x 10-5 1,98 x 10-5 As Tabelas 6 e 7 apresentam os valores obtidos de IMD e DEMD, respectivamente, para cada detector avaliado, considerando 1 e 7 dias após a incorporação do radionuclídeo.

Tabela 5. Atividade mínima detectável para cada cenário de exposição. Incorporação Mínima Detectável (Bq) Detector 1 dia 7 dias Inalação Ingestão Inalação Ingestão Eberline E-120 29201 26536 48101 43423 GP-500 16498 14992 27180 24532 PSN-7013 17222 15650 28372 25609 LB-124 SCINT 7445 6766 12266 11071 MIR-7026 26584 24157 43796 39530 Tabela 6: Dose efetiva mínima detectável para cada cenário de exposição. Dose Efetiva Mínima Detectável (msv) Detector 1 dia 7 dias Inalação Ingestão Inalação Ingestão Eberline E-120 0,580 0,578 0,956 0,945 GP-500 0,327 0,326 0,539 0,533 PSN-7013 0,341 0,340 0,562 0,556 LB-124 SCINT 0,148 0,147 0,243 0,241 MIR-7026 0,527 0,525 0,868 0,859 4. CONCLUSIONES Tendo em vista o objetivo geral de fornecer subsídios para a implementação de programas rotineiros de monitoração interna em serviços de medicina nuclear, foi avaliada a possibilidade de uso de detectores de contaminação superficial para controle desses profissionais em seus locais de trabalho. Após as etapas de calibração e avaliação da sensibilidade, observou-se uma diferença significativa na sensibilidade dos aparelhos avaliados. O modelo que se mostrou mais sensível foi o Berthold LB-124 SCINT, com sensibilidade de detecção de aproximadamente 0,14 msv de dose efetiva comprometida para exposições por inalação e ingestão após 1 dia e aproximadamente 0,24 msv para exposições por inalação e ingestão após 7 dias. Isso se deve à maior sensibilidade do detector cintilador a base de cristal de ZnS:Ag (sulfeto de zinco dopado com prata) que resulta em maior eficiência na contagem dos fótons emitidos pelo simulador em relação aos detectores a gás. Observa-se também que o detector Eberline E-120, que é um detector mais antigo do tipo

Geiger-Muller, apresentou a menor sensibilidade entre modelos avaliados, com capacidade de detecção de aproximadamente 0,58 msv de dose efetiva comprometida para exposições por inalação e ingestão após 1 dia e aproximadamente 0,95 msv de dose para exposições por inalação e ingestão após 7 dias. Mesmo com a diferença de sensibilidade observada entre os aparelhos modernos e mais antigos, podemos concluir que todos os cinco equipamentos testados nesse experimento são adequados para sua aplicação em monitoração ocupacional in vivo de tireoide. Esta conclusão baseia-se no fato de que todos os equipamentos apresentaram sensibilidade suficiente para a monitoração até sete dias após a incorporação, além de garantir a detecção de I 131 em valores que resultem em doses efetivas inferiores ao nível de registro, de 1 msv, para os cenários de exposição adotados. Ressalta-se ainda o fato de que a Norma da CNEN-NE 3.05 exige que este tipo de equipamento esteja disponível em todos os serviços de medicina nuclear de pequeno, médio e grande porte. O procedimento de monitoração in vivo proposto pode ser executado por funcionários de serviços de medicina nuclear e, assim, além de fornecer subsídios para o controle da exposição interna, promove a participação do pessoal efetivo no processo de monitoração, estimulando a cultura de segurança relacionada e esta prática. A implementação do método proposto neste trabalho permite que o Serviço de Medicina Nuclear atenda aos requisitos normativos da CNEN no tocante ao controle das exposições internas a 131 I por meio de um procedimento simples e economicamente viável. 5. REFERENCIAS 1. CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Instalações Autorizadas. Available at: < http://www.cnen.gov.br/seguranca/cons-ent-prof/entidades-aut-cert.asp>. Last accessed: 20 Feb. 2015. 2. IAEA - International Atomic Energy Agency. Assessment of Occupational Exposure due to Intakes of Radionuclides. Safety Guide No. RS-G-1.2, 1999. 3. CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Diretrizes Básicas de Radioproteção. Norma CNEN-NE-3.01. Rio de Janeiro: RJ, 2011. 4. IAEA - International Atomic Energy Agency. Direct methods for measuring radionuclides in the human body. Safety Series n. 115, 1996. 5. CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Critérios para cálculo de dose efetiva, a partir da monitoração individual. Posição Regulatória 3.01/005, 2011. 6. Dantas, B. M., Cardoso, J. S., Dantas, A. L. A., Lucena, E. A., Ramos, M. A. P., Sá, M. S., Alonso, T. C., Silva, T. V., Oliveira, C. M., Lima, F. F., Oliveira, M. L., Lacerda, I. V. B., Fajgel, A. Intercomparação Nacional de Medição In Vivo de Iodo-131 na Tireoide, Projeto TC IAEA BRA 9055. Scientia Plena, 9(8), 2013. 7. HPS - Health Physics Society. Performance Criteria for Radiobioassay, N13.30, 1996. 8. IAEA - International Atomic Energy Agency. Methods for Assessing Occupational Radiation Doses due to Intakes of Radionuclides. Safety Reports Series No. 37, Vienna, 2004. 9. Bertelli, L., Melo, D. R.; Lipsztein, J., Cruz-Suarez, R. AIDE Internal Dosimetry Software. Radiation Protection Dosimetry 130(3), p. 358-367, 2008. 10. ICRP - International Commission on Radiological Protection. Individual Monitoring for Internal Exposure of Workers. ICRP Publication 78, Vol. 27/3-4, 1998.