Maria, Virgem e MÃE Ernesto Sienna
Maria, Virgem e Mãe 1 REFLETINDO A devoção Mariana vem desde o cristianismo nascente, sendo presença viva e crescente na religiosidade popular. A Igreja proclama quatro dogmas centrais sobre Maria. O Concílio de Nicéia, em 325, declarou que Jesus tem a mesma substância do Pai. O Concílio de Éfeso, em 431, afirma que Jesus é filho de Deus. Por isso, este Concílio declara o primeiro dogma mariano: Maria, Mãe de Deus. Maria se tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio. O segundo dogma foi declarado pelo Concílio de Latrão, no ano de 649, que declarou a virgindade perpétua de Maria, afirmando que Maria, mãe de Deus, permaneceu sempre santa, virgem e imaculada, concebeu do Espírito Santo, sem concurso do sêmen de homem, e deu à luz Aquele que é gerado por Deus Pai antes de todos os séculos, o Verbo de Deus, permanecendo virgem também depois do parto. O terceiro dogma, da Imaculada Conceição, foi proclamado pelo Papa Pio IX em 1854, declarando que Maria foi preservada intacta de toda a mancha do pecado original. O último dogma mariano, Maria assunta ao céu, foi declarado pelo Papa Pio XII em 1950, quando afirma que terminando o curso de sua vida terrena, Maria foi elevada de corpo e alma à glória celeste. 1 Ernesto Sienna. Teólogo. Professor da PUCPR. Contato: ernesto.sienna@grupomarista.org.br 2
ORAÇÃO INICIAL Deus, Pai eterno e amoroso, faça que possamos ver em Maria um modelo de filha, onde, inspirados n Ela, tenhamos sempre a coragem de também assumir a condição de filhos a serviço do teu Reino; que sempre tenhamos um coração generoso, acolhedor e alegre para acolher, na liberdade de filhos, sua vontade em nossas vidas. Jesus, irmão, companheiro e amigo que caminha ao nosso lado, nos ensine a sermos filhos prediletos de sua mãe e que, a exemplo d Ela, possamos seguir seus caminhos com fé, esperança e caridade, sendo sempre portadores e anunciadores da Boa Nova. Espírito Santo de amor, que renova sempre nossas vidas, nos conceda o dom de encontrarmos graça diante de Deus e que Ele sempre esteja conosco. Que tua força e luz nos inspirem a também dizer: somos servos do Senhor, faça-se em nós segundo a tua palavra. Trindade Santa, nos capacite a sermos pais, mães e irmãos unidos, seguindo o modelo de união perfeita das pessoas trinitárias. Que o amor do Pai, que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo nos concedam o dom de, inspirados por Maria, sermos modelo de virgindade espiritual, doação incondicional, profetas da justiça, discípulos e discípulas do Senhor Jesus, levando-o a ser mais conhecido e amado. O QUE O TEXTO SAGRADO DIZ? No sexto mês Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, cidade da Galileia, a uma virgem prometida em casamento a certo homem chamado José, descendente de Davi. O nome da virgem era Maria. O anjo, aproximando-se dela, disse: Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você! Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim. Perguntou Maria ao anjo: Como acontecerá isso, se sou virgem? O anjo respondeu: O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele 3
que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Ou Assim, o santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, sua parenta, terá um filho na velhice; aquela que diziam ser estéril já está em seu sexto mês de gestação. Pois nada é impossível para Deus. Respondeu Maria: Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra. Então o anjo a deixou. (Lc 1,26-38) O QUE O TEXTO SAGRADO NOS DIZ? Virgindade e maternidade são condições que não vivem juntas, uma elimina a outra. Mas como nada é impossível para Deus, então podemos perfeitamente casar maternidade e virgindade em Maria. A maternidade de Maria nos remete a uma disposição de espírito em aceitar os desígnios e condições de Deus em sua vida; ela sai de si para viver para o outro, sem se preocupar com as consequências que isto poderia acarretar para a época. Ela não se pauta por seus conhecimentos e, mesmo que tenha ficado surpresa e questionado seu interlocutor, se colocou diante do mistério que a envolve completamente. A virgindade de Maria nos encaminha para a disposição de um coração, puro, livre, aberto, sem prepotências, arrogâncias, orgulho, inveja, um coração generoso, acolhedor e alegre, disposto a se colocar em saída para outras periferias de sua própria existência. Esta pureza de coração fez com que Maria encontrasse graça diante de Deus, graça que a leva a aceitar a proposta divina em sua vida, mesmo não entendendo como isso poderia vir a acontecer. O Concílio Vaticano II, através da Constituição Dogmática Lumen Gentium, afirma que de fato, no mistério da Igreja, a qual também se chama com razão virgem e mãe, à Santíssima Virgem Maria pertence o primeiro lugar, por ser, de modelo eminente e singular, exemplo de virgem e de mãe (n. 65). Conforme ensina o teólogo Clodovis Boff, Maria não está no centro do poder, mas sim no centro do amor, e, no centro do amor, não é rainha imperante, mas impetrante; ela não deve ser somente invocada, mas, sobretudo, imitada. Imitada em suas virtudes de mãe e virgem para a Igreja e a comunidade, em sua vida e oração na fé e na esperança, em seu espírito compassivo e generoso, em seu ser livre à doação e a liberdade, em sua fé e ternura que tudo guardava em seu coração. 4
O QUE O TEXTO SAGRADO NOS FAZ DIZER? Ó Virgem, pela tua bênção é abençoada a criação inteira! O céu e as estrelas, a terra e os rios, o dia e a noite, e tudo quanto obedece ou serve aos homens, congratulam-se, ó Senhora, porque a beleza perdida foi por ti de certo modo ressuscitada e dotada de uma graça nova e inefável. Tão grandes bens procedem do bendito fruto do sagrado seio da Virgem Maria. Ó mulher cheia e mais que cheia de graça, o transbordamento de tua plenitude faz renascer toda criatura! Ó Virgem bendita e mais que bendita, pela tua bênção é abençoada toda a natureza, não só as coisas criadas pelo Criador, mas também o Criador pela criatura! Deus deu a Maria o seu próprio Filho, único gerado de seu coração, igual a si, a quem amava como a si mesmo. No seio de Maria, formou seu Filho, não outro qualquer, mas o mesmo, para que, por natureza, fosse realmente um só e o mesmo Filho de Deus e de Maria! Toda a criação é obra de Deus, e Deus nasceu de Maria. Deus criou todas as coisas, e Maria deu à luz Deus! Deus que tudo fez, formou-se a si próprio no seio de Maria. E deste modo refez tudo o que tinha feito. Ele que pode fazer tudo do nada, não quis refazer sem Maria o que fora profanado. Por conseguinte, Deus é o Pai das coisas criadas, e Maria a mãe das coisas recriadas. Deus é o Pai da criação universal, e Maria a mãe da redenção universal. Pois Deus gerou aquele por quem tudo foi feito, e Maria deu à luz aquele por quem tudo foi salvo. Deus gerou aquele sem o qual nada absolutamente existe, e Maria deu à luz aquele sem o qual nada absolutamente é bom. Verdadeiramente o Senhor é contigo, pois quis que toda a natureza reconheça que deve a ti, juntamente com ele, tão grande benefício. Amém! (Das Meditações de Santo Anselmo, bispo Séc. XII Liturgia das Horas) 5
O QUE O TEXTO SAGRADO NOS FAZ VER? O encontro com a graça de Deus em nossa vida não é algo irracional. Maria quis entender! Necessitamos dar razões à nossa fé, sobretudo nossa fé cristã e católica. Assim, propomos como compromisso estudar e meditar os dogmas marianos. SUGESTÃO DE LEITURA MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São Paulo: Paulinas, 2004. BOFF, Clodovis. Introdução à Mariologia. Petrópolis: Vozes, 2004. Lumen Gentium. Constituição Dogmática do Concílio Ecumênico Vaticano II sobre a Igreja, capítulo VIII. 6