ESTUDO DA RECRISTALIZAÇÃO DO AÇO ABNT 1010 COM DIFERENTES GRAUS DE DEFORMAÇÃO

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Transcrição:

1361 ESTUDO DA RECRISTALIZAÇÃO DO AÇO ABNT 1010 COM DIFERENTES GRAUS DE DEFORMAÇÃO H.G.Mathias (1), W. A.Monteiro (2), V.A. Rodrigues (2). (1)Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, Rua Itambé, no.45, Higienópolis, CEP:01239-902, São Paulo, S.P., Brasil. Faculdade de Engenharia Industrial, Av. Humberto de A. C. Branco, no. 3972, cep: 09850-901, São Bernardo do Campo. E-mail:heliomat@cci.fei.br (2)Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Departamento de Engenharia de Materiais. Travessa R, no.400, CEP:05508-900, C.P.:11049, CEP:05422-970, São Paulo, S.P., Brasil. E-mail:wamontei@net.ipen.br. E-mail:varodri@net.ipen.br. O processamento termomecânico em materiais metálicos visa a modificação das propriedades mecânicas, magnéticas, elétricas, resistência a processos corrosivos, etc. Para um perfeito entendimento dos fenômenos envolvidos é necessário um estudo sistemático da microestrutura do material, bem como, avaliação das suas propriedades mecânicas. Com o objetivo de estudar o comportamento da microestrutura do aço ABNT 1010 foi feita trefilação à frio abaixo da temperatura crítica de transformação de fases. O aço empregado neste estudo foi trefilado à frio com diâmetro inicial de 0,00793 m, reduzindo-se a 0,00772 (5%), 0,00615 (40%) e 0,00350 m (80%). Foram feitos tratamentos térmicos com três temperaturas (593, 843 e 873 ) e variou-se o tempo de tratamento térmico de 9000 a 28800 segundos. Foi utilizado para esse estudo o ensaio de microdureza e análise metalográfica. Os resultados obtidos comprovam as leis de recristalização. A temperatura de recristalização é menor quanto maior o grau de deformação. O tempo de recristalização é menor para temperaturas maiores. Para longos tempos de permanência nos tratamentos térmicos tem-se um fenômeno de crescimento de grão, mas não observou-se uma significativa modificação nas propriedades do aço ABNT 1010. Abstract. Thermomechanical processing improve the mechanical and electrical properties. The aim of this work is the study of microstructure behavior of steel 1010. This steel was cold drawn with 5, 40 and 80% deformation. The bars were heated for differents times at constant temperatures and for differents temperatures at constant holding times. The micro hardness testing and optical micrographics were used. Recrystalization temperatures for each degree of deformation were determined by applying softening criterion. The results prove the recrystalization laws. The recrystalization temperature decreases with the increasing de deformation. The time recrystalization decreases with increasing of temperatures. The grain size growth with the increasing holding time, but the modification of steel propriety was not observed.

1362 I- Introdução. O processamento termomecânico em materiais metálicos visa a modificação das propriedades mecânicas, magnéticas, elétricas, resistência a processos corrosivos, etc. Para um perfeito entendimento dos fenômenos envolvidos é necessário um estudo sistemático da microestrutura do material, bem como, avaliação das suas propriedades mecânicas. Quando em um metal dúctil ocorre uma deformação plástica, realizada de modo a provocar alteração na estrutura cristalina sem que esta volte as condições iniciais, podemos dizer que ocorreu uma deformação plástica a frio ou um trabalho a frio. Normalmente, o conceito de deformação a frio está ligado a temperatura de trabalho e a temperatura de fusão. Esta temperatura não pode ser definida com exatidão, pois vários fatores influenciam na sua determinação. Como resultado do trabalho a frio, aumenta a dureza, a resistência à tração e a resistividade elétrica e a diminuição da ductilidade e tenacidade. Há também um grande aumento de discordâncias em certos planos da estrutura cristalina, os cristais sofrerão distorções e consequentemente um acúmulo de tensões internas elevado se esta deformação for severa. Através do tratamento térmico os fenômenos acima poderão ser eliminados e as propriedades poderão voltar às condições iniciais. Estes tratamentos térmicos são chamados de recozimento de primeira ordem ou recristalização e recozimento de segunda ordem ou total. A distinção entre a recristalização e recozimento total é, que no primeiro caso não ocorre transformação de fase, havendo apenas modificações acentuadas na microestrutura, sem ocorrer mudança de fase no metal. No recozimento total ocorre necessariamente transformações de fase, devendo haver no caso dos aços, austenitização e posterior transformação da austenita em outras fases. Nos dois processos, a estrutura deformada pelo trabalho a frio sofrerá as modificações por meio e aplicação de calor e este processo ocorre sempre no estado sólido, no caso do recozimento total a estrutura destorcida da rede retorna a um estado livre de tensões. Os estudos executados visam verificar o comportamento de um aço ABNT1010 deformado com diferentes graus de deformação, nas regiões de recuperação, recristalização e crescimento de grão, quando aquecido abaixo da zona crítica, para que possa ser melhor utilizado em suas aplicações. II- Materiais e Métodos A composição química do aço utilizado neste trabalho é apresentada na tabela 1. A análise química das amostras retiradas das barras trefiladas do aço ABNT 1010, foi realizada no Departamento de Química do Instituto de Pesquisa e Estudos Industriais da Faculdade de Engenharia Industrial ( São Bernardo do Campo). As amostras para tratamento térmico foram retiradas da barra obtidas por processo de trefilação. Os tratamentos térmicos foram realizados em um forno elétrico do fabricante Combustol - modelo F1690 e para registrar a temperatura foi utilizado um registrador de temperatura ECB modelo RB 102 com termopar Cromel / Alumel. Os tratamentos térmicos tiveram como variável o tempo para cada grau de encruamento. As escolhas das temperaturas basearam-se na temperatura teórica de recristalização do ferro puro, aproximadamente 723.

1363 Tabela 1 - Composição química do aço ABNT 1010 ( % em pêso) IPEI ABNT Elemento Químico Peso (%) Peso (%) Carbono 0,11 0,08-0,13 Manganês 0,40 0,30-0,50 Fósforo 0,015 0,04 max Enxofre 0,014 0,05 max Silício 0,082 0,015max Alumínio 0,043 Escolhemos desta maneira as temperaturas abaixo e acima da mesma, isto é, 593 e 843 e a temperatura 873 foi adotada, pois um dos objetivos do trabalho é analisar a recristalização a uma temperatura abaixo da zona crítica, isto é, antes da transformação -. As séries de tratamentos térmicos encontram-se na tabela 2. TRATAMENTO TÉRMICO Tabela 2 - Tratamento térmico realizado no aço ABNT 1010 TEMPERATURA TEMPO 1ª SÉRIE 593 2ª SÉRIE 843 VARIÁVEL ÁGUA 3ª SÉRIE 873 MEIO DE RESFRIAMENTO Todos os tratamentos térmicos realizados com o forno na temperatura desejada e os corpos de prova colocados no forno após sua estabilização. Para que não ocorresse uma grande diferença entre a temperatura medida e a temperatura dos corpos de prova, estes foram colocados no mesmo plano do termopar do registrados de temperatura. Para a determinação da temperatura de recristalização utilizou-se o critério da Temperatura de Meio Amolecimento ( HST) (1). Considera-se a média do limite de resistência à tração do material encruado e do material totalmente recozido. Foi utilizada a média da dureza do material encruado e do material totalmente recozido, obteve-se deste modo o valor da dureza onde ocorre a recristalização, como é mostrada nas tabelas 3 e 4. Tabela 3 - Cálculo dos valores da resistência à tração e da dureza para determinação a Temperatura de Meio de Amolecimento (HST) RESISTÊNCIA À DUREZA VICERS TRAÇÃO (MPa) 5% 40% 80% 5% 40% 80% Encruado 438 551 810 153 199 250 Recozido 325 323 288 101 102 95 Média 382 437 549 127 150,5 172,5

1364 Portanto considerou-se as temperaturas de recristalização para 5. 40 e 80% de deformação quanto a resistência à tração for 380, 440 e 550 MPa e a dureza Vickers for 127, 151 e 173 respectivamente. Para a determinação do tempo necessário para a ocorrência da recristalização nas amostras do aço ABNT 1010 deformado, em tratamentos isotérmicos, foram escolhidas três temperaturas ( 593, 843 e 873 ) que permaneceram constantes enquanto variou-se o tempo de tratamento térmico de 10 a 3600 s. Neste estudo utilizou-se o ensaio de microdureza e a análise metalográfica. Para a observação do crescimento dos grãos foi feito tratamentos isotérmicos (873 ), em tempos de 900 a 28800 s. Foram utilizadas amostras de 300 mm de comprimento e após tratamentos foram cortados corpos de prova para análises metalográficas, ensaios de microdureza e ensaios de tração. III- Resultados e Discussões III 1 Análise de microdureza As figs.1a, B e C, mostram o material encruado nos três graus de deformação. Observa-se que quanto maior o grau de deformação, mais alongados ficam os grãos no sentido da trefilação. Fig.1.Microestrutura do aço ABNT encruado. A) 5% de deformação, B)40% de deformação, C) 80% de deformação. As análises metalográficas, figs.2, 3 e 4, para as temperaturas de tratamentos térmicos e os três graus de deformação, mostram que, para 5% de deformação nas três temperatura não

1365 ocorreu a recristalização, mas apenas a recuperação pois não foi atingido o grau de deformação crítica. Fig.2.Micrografia do aço ABNT 1010, 5% Fig.3. Micrografia do aço ABNT 1010, 80% Deformado e aquecido a 593 3600s deformado e aquecido a 593 3600s Fig.4.Microestrutura do aço ABNT 1010 deformado a 80% e aquecido a 843 por 3600 segundos. Graus de deformação elevados, aumentam a quantidade de núcleos formadores e o potencial termodinâmico para a recristalização. Para graus de deformação baixos, poucos núcleos são formados, migrando distâncias maiores com velocidades menores, dando lugar somente a recuperação. A ocorrência da recuperação diminui o potencial termodinâmico que dificultam a recristalização. Desta maneira não se verifica o amolecimento [2]. A dureza prevista para que ocorra a recristalização no aço ABNT 1010 com 5% de deformação é de 127 Vickers e a dureza mínima obtida foi de 140 Vickers, demonstrando que não se iniciou a recristalização, como mostra a tabela 4. A observação que se fez quando a deformação é de 5% para as três temperaturas, é a mesma para 40% de deformação, nas temperaturas de 593 e 843, pois as medidas de dureza nos dois casos, também, praticamente não sofrem alterações. Nas micrografias das figuras 2, 3 e 4 pode-se comprovar que não se tem início a recristalização. Na temperatura de 873 e tempo de 1800 segundos para 40% de deformação, obteve-se um valor de dureza Vickers de 153, portanto próxima da dureza esperada para a determinação da temperatura de meio de amolecimento, que para este caso é de 151 Vickers,. Ainda observando-se a tabela 4, verifica-se que no tempo de 600 segundos tem-se o início da recristalização, pois ocorre uma queda considerável na dureza. Para 80% de deformação, novamente, se observa que não ocorre a recristalização nas temperaturas de 593 e 843, pois as medidas de dureza também praticamente não sofrem alterações. Para a temperatura de 873 e um tempo de 240 segundos, tabela 4, tem-se uma

1366 dureza Vickers de 190 e após 480 segundos obtêm-se a dureza Vickers de 153. Neste intervalo se encontra a dureza prevista, 173 para que se determine a temperatura de meio de amolecimento. Tabela 4 - Comparação da dureza nos tratamentos térmicos em várias temperaturas e os tempos de tratamento com 5% (a), 40% (b) e 80% (c) de grau de deformação Dureza Vickers Dureza Vickers Dureza Vickers Tempo S 593 843 873 593 843 873 593 843 873 30 158 140 148 187 192 201 249 247 230 60 152 149 156 192 207 204 249 246 229 240 154 154 156 189 201 197 213 216 190 480 - - -152 - - -197 - - 154 600 150 152 156 201 210 172 223 223 158 1500 - - -152 - - 164 - - 145-1800 - - -151 - - 153 - - 146 3600 152 152 150 202 204 135 230 216 133 (a) b) c) Através da figura 5, observa-se que no tempo de 240 segundos tem-se início a recristalização. Fig.5.Microestrutura do aço ABNT 1010 deformado 80 % e aquecido a 873 240 segundos. Foram feitos tratamentos isócronos para determinar a temperatura de recristalização para tempo constante, de 3600 s. No procedimento utilizou-se corpos de prova com 300 mm de comprimento, para cada grau de deformação, como é mostrado na tabela 5.

1367 Tabela 5 - Propriedades mecânicas do aço ABNT 1010 com5, 40% e 80% de deformação, tratados termicamente em várias temperaturas no tempo de 3600 s. Temperatura Resistência à Tração MPa 5% 40% 80% 495 462 599 791 593 453 601 748 693 449 588 753 773 442 583 691 803 460 577 635 838 467 551 570 873 471 461 473 III.2. Análise de Crescimento de Grão. A tabela 6, apresenta o limite de resistência à tração do aço com 80% de deformação tratado termicamente a 873 com tempos variáveis. Tabela 6 Limite de Resistência à Tração do aço ABNT 1010 Tempo (s) Limite de Resistência à Tração (MPa) 9000 450 10800 456 14400 445 18000 446 21600 472 25200 472 28800 462 Com os valores do limite de resistência à tração nos tempos de tratamentos de 9000 e 28.8000 segundos, observa-se que não ocorre variação nessa propriedade. Após a recristalização obtém-se uma estrutura com grãos de vários tamanhos e formatos, figuras 6 e 7. Com o contínuo recozimento ocorre a formação de uma ordem estável de poliedros regulares de lados iguais, com crescimento dos grãos, eliminando os menores [3]. Com o recozimento a altas temperaturas pode ocorrer crescimento anormal de alguns grãos, o que não ocorreu devido a baixa temperatura utilizada. A tabela 7 mostra o aumento de grãos.

1368 Tabela 7 - Tamanho Médio de Grão ( m) Tempo (s) Tamanho Médio de Grão ( m) 3600 8,68 9000 8,78 10800 18,16 14400 18,68 21600 19,16 25200 21,58 28800 22,30 Fig.6. Microestrutura do aço ABNT 1010 deformado 80% e aquecido a 873 por 9000 segundos.

1369 Fig.7. Microestrutura do aço ABNT 1010 deformado 80% e aquecido a 873 por 28.800 segundos. IV Conclusões. Deste trabalho podemos concluir que: 1. É possível utilizar a dureza como medida para determinação da temperatura de recristalização, seguindo o critério de meio amolecimento. 2. Tem-se melhor 100resultado m utilizando-se a resistência à tração no critério da temperatura de meio amolecimento, pois se tem uma propriedade do material como um todo, o que não se verifica com a dureza, que mede propriedades pontuais. 3. Para o aço ABNT 1010 a recristalização se dá em temperaturas próximas à temperatura inferior da zona crítica. 4. Para maior grau de deformação, menor temperatura de recristalização e menor o tempo para recristalização. 5. Para tempos longos de permanência nos tratamentos térmicos tem-se o fenômeno de crescimento de grão, mas não ocorre modificação nas propriedades do aço ABNT 1010. Os grãos apresentam-se de forma irregular. Referências. [1] Chadddad, J.M.A. et all, Métodos de Avaliação de Recozibilidade do Cobre, Metalurgia, ABM, vol.39, pp. 147, 1983. [2] Padilha, A.F. et all Encruamento, Recristalização, Crescimento de Grão e Textura, São Paulo, pp.123, ABM 1995. [3] Metals Handbook, American Society for Metals, vol.9, pp170, March 1980, 9 a Edição Metal Park.