Jornada Pedagógica como ferramenta de disseminação do conhecimento agroecológico Training Activity as an agroecological knowledge dissemination tool SILVA, Franciara 1 ; AZEVEDO, Hueliton 2 ; SILVA, Ruth 3 SOUSA, Romier 4 ; ARAUJO; Eliete 5 1 a 3 Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), franciara@iieb.org.br; hueliton@iieb.org.br; ruth@iieb.org.br; 4 IFPA - Campus Castanhal, romier.sousa.ifpa@gmail.com; 5 elietevida@bol.com.br Resumo: O presente texto dedica-se ao relato de uma Jornada Pedagógica e tece reflexões sobre este tipo de ferramenta metodológica para disseminação de conhecimento agroecológico. A atividade foi realizada no Nordeste paraense, no período de 03 a 12 de maio de 2014, com a participação de 19 pessoas oriundas de São Félix do Xingu, sul do estado. O manejo ecológico dos sistemas de produção agropecuários e agroextrativistas foi a temática central. Foram visitados estabelecimentos com diferentes sistemas de produção, tais como: sistemas agroflorestais (SAF s), roça sem fogo, pecuária em sistema de pastoreio rotativo. A ferramenta mostrou-se pertinente para a socialização de conhecimentos na perspectiva da Agroecologia. Como contribuições para atividades semelhantes, levantamos os seguintes pontos: i) planejamento ponto de vista da infraestrutura; ii) investimento na dimensão lúdica a fim de motivar os participantes; iii) relação tempo/quantidade de experiências; iv) sistema de avaliação diária e compartilhamento dos processos de tomada de decisão. Palavras-Chave: Saberes; Intercâmbio; Agroecologia. Abstract: The aim of this text is to report a Training Activity and to approach reflections on this kind of methodological tool for the agroecological knowledge dissemination. The activity was carried out in northeast Pará, from May 3 to May 12, 2014, with the participation of 19 people from São Félix do Xingu, southern state. The ecological management of agricultural and agro-extractive production systems was the main theme. It was visited establishments with different production systems, such as: agroforestry, fireless field, rotational grazing. The tool proved to be relevant for the socialization of knowledge from the Agroecology perspective. As contributions for similar activities, we raised the following points: i) planning from the infrastructure point of view; ii) investment in the playful dimension in order to motivate the participants; iii) time/amount of experiences relation; iv) daily evaluation system and sharing of decision-making processes. Keywords: Knowledge; Exchange; Agroecology. Contexto O presente texto dedica-se ao relato de uma Jornada Pedagógica que teve como foco práticas e experiências agroecológicas, além disso, tece reflexões acerca deste tipo de ferramenta metodológica com vistas à disseminação do conhecimento na perspectiva da Agroecologia. A atividade foi realizada no período de 03 a 12 de maio de 2014, tendo como participantes agricultores familiares e técnicos de organizações ligadas ao público da agricultura familiar do município de São Félix do Xingu, sul do
estado do Pará. O grupo foi formado por 19 pessoas, sendo 06 mulheres e 13 homens, além de uma equipe de técnicos do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) constituída por 03 pessoas. O que estamos chamando nesta reflexão de jornada pedagógica caracterizou-se por um percurso de mais de 2000 km, a partir de São Félix do Xingu, realizado em 05 municípios da mesorregião do Nordeste paraense com a finalidade de conhecer experiências camponesas de caráter agroecológico voltadas para a dimensão técnico produtiva dos seus agroecossistemas. Esta atividade pedagógica ocorreu no âmbito do Curso de Formação em Agriculturas de Base Ecológica e Políticas Públicas para a Agricultura Familiar, o Formar Agroecologia 1. O curso foi estruturado com base nos princípios da pedagogia da alternância, tendo sido realizado em 08 módulos (04 tempos comunidade e 04 tempos escola ). A jornada pedagógica ora descrita consistiu no 2º tempo escola. Descrição da experiência No tempo comunidade anterior à jornada aos educandos(as) foram convidados a refletirem sobre seus agroecossistemas, realizando como atividade deste período, uma pesquisa acerca dos sistemas de produção, das práticas e modalidades de manejo empregadas. Este passo contribuiu para qualificar o confronto de realidades que seria oportunizado pela jornada. A proposta de conduzir a turma para outro território teve como objetivo permitir aos educandos o estabelecimento de paralelos entre sua realidade de fronteira agrícola com uma região de colonização antiga Nordeste paraense que por sua vez, já passou por trajetória de ocupação e desenvolvimento produtivo semelhante ao que São Félix do Xingu vivencia atualmente. 1 Este curso foi realizado pelo IEB em parceria com o Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus Castanhal sob a modalidade de ensino do tipo Formação Inicial e Continuada (FIC), através do apoio do Ministério do Meio Ambiente, por meio do projeto Pacto Municipal para Redução do desmatamento ilegal. Vinculado a um projeto mais amplo desenvolvido pelo IEB em São Félix do Xingu (Xingu Ambiente Sustentável), esta atividade formativa vem de encontro à necessidade de melhorar capacidades técnicas do município, especialmente no tocante às agriculturas de base ecológica e em políticas públicas destinadas ao desenvolvimento sustentável da agricultura familiar.
As visitas tiveram em comum, dentro das possibilidades de tempo, infraestrutura e disposição do grupo as seguintes características e procedimentos de organização i) socialização em linhas gerais do que seria visitado antes de se chegar ao local, frisando quais elementos eram mais centrais para a observação; ii) realização de caminhadas transversais e observação participante guiadas pelos agricultoresexperimentadores cuja experiência era visitada; iii) as experiências de cada município foram acompanhadas durante o período de um dia; iv) Uma pessoa da equipe do IEB cumpria o papel de mediador no momento das visitas e no fomento às reflexões e debates entre os educandos nos intervalos entre uma visita e outra, no sentido de que não se tivesse, mesmo nos tempos de deslocamentos vazios pedagógicos. A seguir se descreve suscintamente e na ordem em que ocorreram as visitas às experiências em cada município. Manejo da capoeira e roça sem queima em Igarapé-Açu Neste município foram visitados dois estabelecimentos agrícolas familiares que desenvolvem parcelas produtivas no sistema de roça sem queima, por meio do emprego da máquina Tritocap 2. Estas experiências foram desenvolvidas no âmbito do projeto Tipitamba conduzido pela Embrapa Amazônia Oriental a partir da cooperação financeira entre uma agência alemã. Em função disso, além da família de agricultores estas visitas foram acompanhadas por pesquisadores que realizaram aportes em conteúdo e, em alguns momentos contribuíram com a contextualização e histórico de ocupação do território do Nordeste paraense. A importância desta experiência está (i) no não uso do fogo para o preparo de área; (ii) na possibilidade de manter a fertilidade do solo a partir da matéria orgânica; (ii) na redução do período de pousio da capoeira; (iii) na redução do uso de insumos externos; iv) no emprego de leguminosas e outras plantas melhoradoras da fertilidade dos solos; v) incentivo à diversificação e perenização das áreas produtivas, e ainda, vi) no caráter participativo e de envolvimento dos agricultores que a pesquisa passou a assumir ao longo do tempo, tendo atualmente mais de 40 agricultores abrangidos diretamente. 2 O Tritocap (triturador de capoeira) é uma máquina desenvolvida pelo Instituto de Engenharia Agrícola da Universidade de Göttingen, por meio do projeto "Shift Capoeira", financiado pelo Ministério alemão de Educação e Pesquisa.
O pastoreio Voisin em Nova Timboteua O desenvolvimento da pecuária, especialmente com rebanho bovino é muito forte em São Félix do Xingu, por conta disso se buscou a experiência da Fazenda Betin a fim de conhecer um sistema de pecuária racional a partir do sistema de pastoreio rotativo Voisin. O manejo intensivo das pastagens possibilita uma taxa de lotação muito maior do que a praticada em sistemas de criação extensiva como os praticados em São Félix do Xingu. Além das informações acerca do manejo da pastagem, nesta experiência outros aspectos da criação foram abordados, tais como manejo fitossanitário, manejo dos bezerros, características zootécnicas de algumas raças leiteiras e até mesmo estratégias de planejamento e administração da atividade. Os sistemas agroflorestais em Tomé-Açu Foi possível visitar no município de Tomé Açu duas experiências com sistemas agroflorestais. Uma experiência de SAF s em pequena escala, conduzida eminentemente pela família de agricultores e um estabelecimento que podemos chamar de empresarial, onde a disponibilidade de mão-de-obra em sua maioria são trabalhadores assalariados. Além disso, também se conheceu as instalações de processamento de frutas da Cooperativa Mista dos Agricultores de Tomé Açu. Dentre a riqueza dos aspectos visualizados nas experiências, destacamos os seguintes pontos: i) a diversificação das parcelas produtivas diminui a sazonalidade de disponibilidade de alimentos e renda; ii) a perenização das áreas faz com que não seja necessário a abertura de novas áreas, evitando assim o desmatamento; iii) o manejo do solo faz com que os níveis de nutrientes sejam aumentados por meio da adição de matéria orgânica; iv) a redução de problemas fitossanitários em sistemas diversificados; v) importância de se agregar valor a produção. Os sistemas agroflorestais de várzea em São Domingos do Capim A propriedade visitada trata-se de um estabelecimento familiar considerado referência em se tratando do manejo de ecossistema de várzea, assim como no uso estratégico dos recursos da floresta como óleos, resinas, cipós e etc. Ainda que no grupo não houvesse nenhum agricultor ou técnico que lidasse com este tipo de meio
biofísico, a experiência despertou grande interesse entre os participantes pela capacidade de redesenho e enriquecimento realizada no estabelecimento através do trabalho da família, além do fato de que as áreas produtivas encontram-se em perfeita consonância com a vegetação natural. Lições apreendidas e desafios É possível afirmar, até mesmo com base nos depoimentos dos próprios educandos (as) do curso, a jornada pedagógica configurou-se como um dos momentos de maior aprendizado do processo formativo. As diferentes experiências e arranjos produtivos visitados, somado ao esforço da equipe em ajudar na problematização e reflexão da atividade garantiram a amplitude do exercício de confrontamento das experiências com a realidade de origem. Outro ponto importante de ser ressaltado diz respeito à conformação heterogênea da turma. A interação de técnicos e agricultores (as) como sujeitos educativos de igual potencialidade em compartilhar e apreender saberes e conhecimentos rompeu com o paradigma da figura do sujeito que sabe mais e do que sabe menos. Do ponto de vista metodológico este tipo de atividade mostrou-se útil no sentido da disseminação de conhecimentos no campo agroecológico. Nesse sentido, avaliamos que alguns aspectos, além dos já descritos devem ser levados em consideração: i) é necessário um alto grau de planejamento das atividades do ponto de vista da infraestrutura, uma vez que o caráter itinerante desse processo educativo confere um desgaste físico considerável nos participantes; ii) dimensão lúdica é importante para manter a motivação dos sujeitos; iii) a relação tempo/quantidade de experiências carece de um cuidado adicional para que não haja uma sobrecarga de informações e poucas reflexões/problematizações; iv) manter um sistema de avaliação diária e se possível compartilhamento com todos os envolvidos o processo de tomada de decisão.