ESTRUTURA POPULACIONAL DE Portunus spinimanus Latreille, 1819 (CRUSTACEA, PORTUNIDAE) NA ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, PENHA, SC.

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Transcrição:

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 ESTRUTURA POPULACIONAL DE Portunus spinimanus Latreille, 1819 (CRUSTACEA, PORTUNIDAE) NA ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, PENHA, SC. Joaquim Olinto Branco 1, Maria José Lunardon-Branco 1 & Flávio Xavier Souto 1. ABSTRACT: Population structure of Portunus spinimanus Latreille, 1819 (Crustacea, Portunidae) in the Armação do Itapocoroy, Penha, SC. P. spinimanus is one abundant Portunidae species which are caught by sea-bob-shrimp s artisanal fishery in Armação do Itapocoroy, Penha, Santa Catarina, Brazil. Aiming to analyze its population structure, a total of 995 males and 1925 females were collected by means of overtrawl from January to December/1995, between the depths of 6 to 1 meters, in the periods of morning, afternoon and evening. The width variation of the carapace ranged from 3. to 14. cm in the males and 3. to 11. cm in females. The specie presents growth isometric and the males reach width and weight assintotic and bigger that the females. The estimated first maturation width was between 6.8 and 7.6 cm, reached with the approximated age of 15 months. The artisanal fishery in Armação do Itapocoroy is acting with a higher intensity over the juveniles stock. KEY WORDS. Portunus spinimanus, population structure, artisanal fishery. O siri-candeia ou siri-canela Portunus spinimanus Latreille, 1819, apresenta ampla distribuição geográfica no Atlântico Ocidental, ocorrendo de New Jersey (USA) ao Estado do Rio Grande do Sul (BR), onde habita águas salobras de canais e baías com fundos de areia, lama e conchas quebradas; são capturados a partir da zona de maré até 9 metros de profundidade (MELO 1996). Apesar da sua frequência nos arrastos dirigidos à pesca de camarão, tamanho e sabor da carne adequados ao consumo humano, existem poucas informações sobre a biologia da espécie no litoral brasileiro (MESQUITA 1972; SANTOS et al. 1995a). Este trabalho tem como objetivo caracterizar a estrutura populacional de P. spinimanus na Armação do Itapocoroy, Penhas (SC), fornecendo subsídios para uma exploração racional desse recurso. 1 - Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar - CTTMar - UNIVALI. Cx. Postal 36, 8831-97 Itajaí, Santa Catarina, Brasil. E-mail: branco@cttmar.univali.br

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 MATERIAL E MÉTODOS Durante o período de janeiro a dezembro de 1995 foram realizadas coletas mensais nos turnos da manhã, tarde e noite, e a cada estação do ano, coletas de 24 horas com intervalo de 4 horas entre os arrastos na Armação do Itapocoroy, Penha (26º46' - 26º47' S e 48º36' - 48º37' W). A profundidade na área dos arrastos variou entre 6, a 1, metros, com fundo arenoso nas partes rasas e com sedimento biodetrítico nas mais profundas. Foram utilizadas duas redes-de-arrasto com portas, com 6, metros de abertura de boca, malha de 3, cm entre nós na manga e no corpo e 2, cm no ensacador. O tempo de cada arrasto foi de 3 minutos com velocidade média da baleeira de 2 nós. Foram registrados dados de temperatura (ºC) e salinidade ( o ) da água de fundo e de cada exemplar, o sexo, estágio de maturação (juvenil e adulto) pelo formato e aderência do abdome aos esternitos torácicos (TAISSOUN 1969), largura total da carapaça (Wid) em cm e o peso total (Wt) em gramas. Para verificar a possível diferença entre os sexos, mensalmente e por classe de comprimento, utilizou-se o teste do X ² com nível de significância de 5 e (n-1) graus de liberdade. A relação peso/largura total foi calculada para cada sexo separadamente, de acordo com SANTOS (1978). O tamanho de primeira maturação (Wid PM ), foi estimado segundo VAZZOLER (1981). Para verificar a atuação da pesca artesanal do camarão sobre a população de P. spinimanus, utilizou-se a distribuição de freqüência por classe de comprimento para machos e fêmeas, baseando-se na estimativa do tamanho de primeira maturação gonadal. As curvas de crescimento em largura total da carapaça foram estimadas para machos e fêmeas pelo método da distribuição de frequência. A validade da expressão de BERTALANFFY (1938) foi testada previamente, com a aplicação da transformação de WALFORD (1946) e os parâmetros estimados conforme SANTOS (1978). A ANOVA (p<,5) foi utilizada para verificar a influência do período de coleta ou da estação do ano na abundância de P. spinimanus.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 RESULTADOS A temperatura da água de fundo nos três períodos de coleta, apresentou uma flutuação sazonal com valores mais elevados no verão (25,3±1,5 ºC) e na primavera (25,2±1,8 ºC), e mais baixos no outono (21,±1,6 ºC) e inverno (2,2±1,2 ºC) (Fig. 1a). O padrão de variação da temperatura manteve-se uniforme entre os turnos de amostragens. A salinidade apresentou pequenas oscilações ao longo do ano entre os períodos de coleta (Fig. 1b), com valores médios mais elevados na primavera (33,7±1,1 o ) e inverno (33,1±1,6 o ) e menores no verão (33,7±1,1 o ) e inverno (31,4±1,8 o ) (Fig. 1b). Para o total de P. spinimanus capturados, as freqüências relativas das fêmeas (65,5) e dos machos (34,5) foram diferentes do esperado de 1:1 na 2 população (Fig. 2a). Essa tendência ficou evidente com a aplicação do teste do X por mês de coleta, indicando diferenças significativas a favor das fêmeas a partir de maio até dezembro (Fig. 2a). No restante do período amostral, foi observado um equilíbrio na proporção sexual da população. As distribuições das freqüências de machos e fêmeas por classe de largura total da carapaça, apresentaram uma amplitude de 3, a 14, cm nos machos e de 3, a 11, cm para as fêmeas (Fig. 2b); com diferença significativa em favor das fêmeas entre as classes de 6, a 8, cm, e dos machos entre 1, a 11, cm. Durante o período de estudo foram coletados 292 exemplares sendo que a maior média mensal ocorreu durante o turno da noite (86,4) seguido da manhã (85,6), e da tarde (71,3) (Fig. 3), sendo que as maiores capturas ocorreram no horário das 12:, 16: e 24: horas (Fig. 4). Independente do turno e horário de coleta, a maior abundância foi registrada durante as estações de primavera e inverno (Fig. 5). A ANOVA aplicada à abundância de Portunus spinimanus, por turno de coleta (F=,59; gl: 2-33), horário (F=,468; gl: 5-42) e estação do ano (F= 2,572; gl: 3-32), não indicou diferença significativa.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 Os valores do peso total foram lançados em gráfico em função da largura total da carapaça, sendo corroborados pela aderência dos pontos empíricos à curva e pelos valores do coeficiente de determinação (r 2 ) (Fig. 6a, 6b). A amplitude de variação de largura da carapaça nos machos foi de 3, a 14, cm e a do peso de 1,3 a 4 g, enquanto nas fêmeas, a largura variou entre 3, a 11, cm e o peso entre 1,1 a 18, g. As curvas de crescimento em largura total foram descritas pelas equações: machos: Wid = 14,6 (1-e -,676 t ); fêmeas: Wid = 12,2 (1-e -,5786 t ). Na figura 7, encontram-se as curvas teóricas ajustadas aos pontos empíricos para machos e fêmeas. P. spinimanus apresentou uma constante catabólica elevada, sendo o maior valor da largura total da carapaça observado na população da Armação do Itapocoroy atingido em torno dos 22, meses de idade. O tamanho de primeira maturação foi estimado em 6,8 cm de largura total de carapaça para as fêmeas e 7,6 cm para os machos; a partir de 11, cm, todos os siris coletados eram adultos (Fig. 8). Analisando-se as distribuições anuais da freqüência de largura por turnos de coleta (Fig. 9), em função do tamanho de primeira maturação, verificou-se que a pesca artesanal na Armação do Itapocoroy atuou com maior intensidade sobre o estoque de juvenis (machos = 64,7 e fêmeas = 62,6 ) e com menor intensidade sobre os adultos (machos = 35,3 e fêmeas = 37,4 ). A análise da figura 1, indica que ocorreram flutuações sazonais na abundância das fêmeas de P. spinimanus; sendo que nas estações de primavera e verão foram registradas as maiores capturas de fêmeas imaturas, enquanto que nas estações de inverno e primavera ocorreram as maiores freqüência das fêmeas maturas e ovígeras (Fig. 1). DISCUSSÃO O padrão sazonal da temperatura da água de superfície na Armação do Itapocoroy, está de acordo com o esperado para a região (MATSUURA 1986); enquanto que as flutuações nos teores de salinidade podem ser associados à

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 contribuição fluvial do Rio Itajaí-Açú, cuja foz está localizada aproximadamente a 2 km ao sul da área de estudo (BRANCO et al. 1999). Para SANTOS et al. (1994) a abundância de Portunus spinimanus na enseada da Fortaleza, Ubatuba (SP), esteve significativamente associada com a profundidade, temperatura, salinidade e granulometria do sedimento. Embora a temperatura e a salinidade não tenham constituído um fator diferencial entre os períodos de amostragens, as maiores abundâncias relativas da espécie na área de estudo ocorreram nas estações de primavera e inverno. A literatura disponível no país, não aborda a proporção sexual do siricandeia, na Armação do Itapocoroy; a proporção esperada de 1:1 não foi mantida quando considerado o total da população. Mensalmente, confirmou-se essa disparidade com domínio significativo das fêmeas entre o período de maio a dezembro. Em relação ao tamanho, constatou-se o predomínio significativo das fêmeas entre os exemplares de 6, a 8, cm e dos machos entre 1, a 11, cm. A relação peso/comprimento tem sido utilizada para estimar o peso de um exemplar através do conhecimento da sua largura, sendo amplamente empregada em estudos de dinâmica populacional e avaliação de estoques. P. spinimanus é o representante dos Portunidae estudados na costa brasileira, até o momento, que apresentou os maiores valores de alometria positiva, variando entre 3,33 (machos) e 3,13 (fêmeas) no litoral de Ubatuba (SP) (SANTOS et al. 1995a), e 3,27 para sexos agrupados na costa cearense (MESQUITA 1972). Essa tendência, também foi observada na população de siri-candeia da Armação do Itapocoroy. Em geral, nos siris Portunidae, os machos apresentam largura da carapaça superior às das fêmeas, com taxas de crescimento próximas (BRANCO & MASUNARI 1992), o que foi observado, também para a presente espécie. O conhecimento do tamanho de primeira maturação gonadal é fundamental para o gerenciamento dos estoques em explotação, pois fornece a informação básica para a determinação do tamanho mínimo de captura e dimensionamento das malhas das redes. Além disso, a sobreposição desse tamanho com as curvas de distribuição de comprimento ou largura da carapaça permitem determinar o estrato da população em que a pesca vem atuando com maior intensidade

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 (BRANCO et al. 1999). A maior vulnerabilidade dos siri-candeia juvenis na pesca do camarão sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri Heller, 1862), provavelmente esteja relacionado com o tamanho de malha das redes de pesca. Nesse estudo, as fêmeas de P. spinimanus atingiram tamanho de primeira maturação com 6,8 cm largura de carapaça e os machos com 7,6 cm. Esses tamanhos foram alcançados com idade em torno de 1,3 ano. Embora SANTOS et al. (1995b), não apresentem os valores do tamanho de primeira maturação de P. spinimanus para o litoral de Ubatuba (SP), esses podem ser deduzidos da relação comprimento/largura da carapaça, ficando em torno de 5,7 cm. Provavelmente, essa diferença entre as populações de Ubatuba e Armação do Itapocoroy são inerentes aos processos de determinação ou padrões regionais de crescimento da espécie. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTALANFFY, L. von. (1938), A quantitative theory of organic growth. Hum. Biol., 1(2): 181-213. BRANCO, J.O.; M.J. LUNARDON-BRANCO; F.X. SOUTO, & C.R. GUERRA. 1999. Estrutura populacional do camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri (Heller, 1862), na foz do Rio Itajaí-Açú, SC, Brasil. Brazilian Archives of Biology and Technology, Curitiba, 42(1):115-126. BRANCO, J.O. & S. MASUNARI. 1992. Crescimento de Callinectes danae Smith (Decapoda, Portunidae) da Lagoa da Conceição, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Revta bras. Zool. Curitiba, 9(1/2):53-66. MATSUURA, Y. (1986), Contribuição ao estudo da estrutura oceanográfica da Região Sudeste entre Cabo Frio (RJ) e Cabo de Santa Marta Grande (SC).Ciênc. Cult., Rio de Janeiro, 38(8):1439-145. MELO, G.A.S. 1996. Manual de identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São Paulo: Plêide/FAPESP, 64p.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 MESQUITA, A.L.L. 1972. Dados biométricos do siri canela Portunus spinimanus Latreille, 1819 (Decapoda, Brachyura, Portunidae). Arq. Ciênc. Mar., Fortaleza, 12(1):88-9. SANTOS, S.; M.L. NEGREIROS-FRANSOZO & C.R. PADOVANI. 1995a. Relação do peso do corpo em função da largura da carapaça do siri candeias Portunus spinimanus Latreille, 1819 (Decapoda, Portunidae). Arq. Biol. Tecnol. Curitiba, 38 (3): 715-724. SANTOS, S.; M.L. NEGREIROS-FRANSOZO & A. FRANSOZO. 1995b. Morphometric relationships and maturation in Portunus spinimanusi Latreille, 1819 (Crustacea, Brachyura, Portunidae). Rev. Brasil. Biol., Rio de Janeiro, 55 (4):545-553. SANTOS, S.; M.L. NEGREIROS-FRANSOZO. & A. FRANSOZO. 1994. The distribution of swimming crab Portunus spinimanus Latreille, 1819 (Crustacea, Brachyura, Portunidae) in Fortaleza Bay, Ubatuba, SP, Brazil. Atlântica, Rio Grande, 16: 125-141. SANTOS, E.P. 1978. Dinâmica de populações aplicada à pesca e piscicultura. São Paulo, HUCITEC/EDUSP. 129. TAISSOUN, E.N. 1969. Los especies de cangrejos del genero Callinectes (Brachyura) en el Golfo de Venezuela e Lago Maracaibo. Bolm. Cent. Invest. Biol. Venezuela, 2:1-112. VAZZOLER, A.E.A.M. 1981. Manual de métodos para estudos biológicos de populações de peixes: reprodução e crescimento. Brasília, CNPq. Programa Nacional de Zoologia. 16 p. WALFORD, L.A. 1946. A new graphic method of describing the growth of animals. Biol. Bull., 9(2):141-147.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 ºC 3 (a) Manhã Tarde Noite (b) o 4 25 35 3 2 25 2 15 Meses J F M A M J J A S O N D 15 Meses J F M A M J J A S O N D Fig. 1. Variações mensais da temperatura (a) e salinidade (b) da água de superfície. (a) M = 995 F = 1925 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Meses J F M A M J J A S O N D (b) 1 9 8 7 6 5 4 3 2 1 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Fig. 2. Portunus spinimanus. Frequência de ocorrência () por mês (a) e classe de largura da carapaça (b). Fêmeas = circulo; Machos = quadrado.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 Número médio de exemplares 14 12 1 8 6 4 2 Manha Tarde Noite Turnos Fig. 3. Portunus spinimanus. Número médio de exemplares, por turno de coleta. 12 Número médio de exemplares 1 8 6 4 2 8: 12: 16: 2: : 4: Horário Fig. 4. Portunus spinimanus. Número médio de exemplares, por horário de coleta. Número médio de exemplares 18 16 14 12 1 8 6 4 2 P V O I Estações do ano Fig. 5. Portunus spinimanus. Número médio de exemplares, por estação do ano.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 Wt (g) 45 4 35 3 25 2 15 1 5 2 (a) Wt =,959 Wid 3,2123 r 2 =,9474 3,5 4 6 8 1 12 14 Wt (g) 2 18 16 14 12 1 8 6 4 2 Wt =,1362 Wid 3,299 r 2 =,8673 2 4 6 8 1 12 (b) Fig. 7. Portunus spinimanus. Curva de crescimento em largura da carapaça. 14 Wid M = 14,6 (1 - e -,676 t ) 12 1 8 6 Wid F = 12,2 (1 - e -,5786 t ) 4 2,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 t (anos) Fig. 6. Portunus spinimanus. Relação peso/largura da carapaça para macho (a) e fêmeas (b).

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 1 9 8 7 6 5 4 3 2 1 5 6 6,8 7 7,6 8 9 1 11 12 13 14 M F Fig. 8. Portunus spinimanus. Distribuição de frequência de machos e fêmeas adultas, por classe de largura da carapaça. Machos: Wid PM = 7,6 cm; Fêmeas: Wid PM = 6,8 cm. 25 2 Juvenis Machos Adultos n = 365 Manhã 5 4 Juvenis Fêmeas Adultos n = 622 15 3 1 2 5 1 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 3 4 5 6 7 8 9 1 11 25 2 n = 33 Tarde 5 4 n = 553 15 3 1 2 5 1 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 3 4 5 6 7 8 9 1 11 Noite 25 5 2 n = 327 4 n = 71 15 3 1 2 5 1 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 3 4 5 6 7 8 9 1 11 Fig. 9. Portunus spinimanus. Distribuição de freqüência das classes de largura da carapaça, por turno de coleta.

Revta bras. Zool. 19(3):731-738, 22 Matura = 866 25 Ovígera = 799 Imatura = 26 2 15 1 5 J/95 F M A M J J A S O N D Meses Fig. 1. Portunus spinimanus. Distribuição de freqüência de ocorrência () das fêmeas maturas, ovígeras e imaturas.