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1 de 5 18/04/2011 12:01 Inscrição = 2426 Resumo = 1040 - voltar Quais as plantas poliníferas visitadas por Melipona quadrifasciata Lep. na região de Viçosa-MG? AmandaSoares Miranda 1 Cynthia Fernandes Pinto da Luz 2 ; Lucio Antonio de Oliveira Campos 2 1- Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Vegetal, 36570-001, Viçosa, Minas Gerais. Tel: 31 3899 2596 Fax: 31 3899 2580 E-mail: asoaresmiranda@gmail.com 2- Instituto de Botânica de São Paulo, Divisão de Fitotaxonomia, Seção de Dicotiledôneas, Av. Miguel Stéfano 3687, 04301-902, Água Funda, São Paulo, SP. Tel: 11 5073 6300 r 202 3- Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Geral, 36570-001, Viçosa, Minas Gerais. Telefone: 31 3899 2531 Introdução As abelhas constituem um grande e diversificado grupo de Hymenoptera que, em sua maioria, é dependente das plantas para obtenção de recursos, principalmente os alimentares, o pólen e o néctar (Michener, 1974). O pólen é a única fonte de alimento nitrogenado disponível para a alimentação das larvas e fornece proteínas, graxas, vitaminas e sais minerais, enquanto o néctar, que é transformado em mel, é o principal alimento das abelhas adultas devido ao seu alto valor energético (Biesmeijer et al., 1999). Nas regiões tropicais, considera-se que as abelhas sejam as responsáveis por polinizar grande parte da flora nativa, além de serem importantes polinizadores de plantas cultivadas (Roubik, 1989; Williams, 1996). O processo de polinização ao possibilitar a formação de sementes garante a reprodução sexuada das plantas e, conseqüentemente, a disponibilidade de alimentos para outros animais. Portanto, a extinção de uma espécie de abelha pode levar a extinção não somente das plantas muito especializadas que ela poliniza, mas também dos animais que dependem dessas plantas (Raven, 1996). No Brasil, destacam-se as abelhas indígenas sem ferrão, pertencentes à subtribo Meliponina, caracteristicamente eussociais e cujas colônias são perenes (Nogueira-Neto, 1997). Pouco se sabe sobre os nichos tróficos destas abelhas, assim como a sobreposição dos nichos tróficos de diferentes espécies. A interferência de espécies exóticas já aclimatadas no nosso país (como Apis mellifera L.) e os possíveis efeitos da introdução de novas espécies, também são aspectos pouco estudados. Nesse sentido Melo (2004) mostrou que o aumento da densidade de colônias de Apis mellifera em uma região teve pequeno efeito sobre o comportamento e eficiência de coleta de Melipona quadrifasciata. Apenas deslocou para mais cedo o horário de forrageamento de Melipona quadrifasciata, sendo que os resultados não mostraram interferências por competição, o que, para a autora, pode ter ocorrido em conseqüência da abundância dos recursos do local. Vários trabalhos foram realizados com o intuito de listar espécies vegetais visitadas por alguns meliponíneos, com base em análises polínicas do alimento transportado pelas abelhas e armazenado nas colméias (Absy et al., 1980; Ramalho et al., 1990; Ramalho et al., 1991; Santos, 1964; Simeão, 2005; Soares, 2003; Antonini et al., 2006) mas ainda pouco se conhece sobre as relações ecológicas entre as abelhas que coletam pólen e néctar numa mesma planta e as interferências dos fatores ambientais sobre a preferência e exploração das fontes de recursos. Tendo em vista a importância que Melipona quadrifasciata vem adquirindo tanto como organismo modelo para estudo da biologia quanto por seu uso como polinizadora em cultivo protegido como mostrado por Del Sarto et al. (2005), faz-se necessário maior conhecimento de sua biologia e manejo. Nesse sentido é importante averiguar acerca das plantas por elas visitadas para a coleta de alimento.

2 de 5 18/04/2011 12:01 Objetivos O presente trabalho objetivou investigar quais são as plantas visitadas por Melipona quadrifasciata para coleta de pólen na região de Viçosa MG, qual a importância relativa das plantas como fornecedoras de pólen no período estudado e, a similaridade na coleta de pólen entre as colônias. Material e Métodos 1 - Área e espécie de estudo O experimento foi realizado em um fragmento florestal de 196 ha, a Estação de Pesquisa, Treinamento e Educação Ambiental da Mata do Paraíso (EPTEA) da Universidade Federal de Viçosa, localizado a 5 km da cidade de Viçosa e no Apiário Central da Universidade Federal de Viçosa (UFV) localizado na cidade de Viçosa (20º45'14" latitude sul e 42º52'55" longitude oeste), Minas Gerais. O clima da região é do tipo Tropical de altitude (CWA), de acordo com a classificação climática de Köppen, e que se caracteriza por apresentar verões quentes e chuvosos e invernos frios e secos (Vianello & Alvez, 1991). A vegetação regional se encontra no domínio da Mata Atlântica, classificada como Floresta Estacional Semidecidual Submontana segundo Veloso et al. (1991), sendo que o fragmento florestal estudado se caracteriza como Floresta Secundária Residual (Silva et al., 2004), e o apiário da UFV apresenta intensa antropização em seu entorno com espécies ornamentais utilizadas no paisagismo como Bauhinia variegata L., Caesalpinia peltophoroides Benth., Callistemon sp., Erythrina falcata Benth., Grevillea robusta A. Cunn. ex R. Br., Joannesia princeps Vell., Lecythis pisonis Cambess., Michelia champaca L., Melia azedarach L., Spathodea campanulata P. Beauv., Stenolobium stans Seem. e Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith. (Modro et al 2007). A espécie eussocial Melipona quadrifasciata é nativa do Brasil e popularmente conhecida como mandaçaia, possui colônias perenes e comumente nidifica em cavidades pré-existentes como ocos de árvores (Nogueira-Neto, 1997). Apresenta-se generalista quanto ao comportamento de forrageamento, o que é uma estratégia característica de espécies eussocias considerando a quantidade de alimento necessária para a alimentação das larvas e das abelhas adultas de um ninho (Michener, 1974). Para a realização do trabalho foram utilizadas 10 colônias de Melipona quadrifasciata instaladas em caixas racionais, sendo que cinco dessas colônias estavam localizadas no Apiário Central e as demais na EPTEA. Foram selecionadas colônias fortes em que a atividade de postura e forrageamento eram intensas. 2 - Amostragem do pólen nas colônias A coleta do pólen foi realizada nas colônias a partir de secções longitudinais dos potes de pólen de forma que as amostras contivessem o pólen coletado pelas operárias em diferentes períodos. As coletas foram mensais, realizadas nos meses de fevereiro, março e abril de 2006. O pólen coletado recebeu numeração referente à data e colônia em que foi coletado, sendo acondicionado sob congelamento até que fossem preparadas as lâminas de microscopia. 3 - Preparação das lâminas de microscopia e análise palinológica As amostras de pólen foram submetidas ao método padrão europeu (Maurizio & Louveaux apud Barth 1989), sem o uso da acetólise, que consiste na centrifugação por 5min e a 2.500 RPM, de 2g de pólen com 10ml de álcool etílico (70%). O sobrenadante é desprezado e a amostra é centrifugada por mais 5min com 10ml de água destilada. Após decantação, a amostra é deixada em repouso por 30min com 5ml de água glicerinada (1:1), sendo novamente centrifugada por 5 min, a 2.500 RPM. Descarta-se o sobrenadante e são montadas três lâminas contendo gelatina glicerinada com amostras do sedimento, lutadas com parafina. A quantidade de 2 g de pólen é considerada representativa para análise (Barth et al. 2009). As lâminas preparadas com o pólen coletado nas colônias foram analisadas sob microscópio óptico OLYMPUS BX 50 considerando os aspectos morfológicos dos grãos de pólen. O pólen foi identificado por comparação com o laminário de referência das palinotecas do Apiário Central da UFV e do Instituto de Botânica de São Paulo e, também, com as descrições de pólen encontradas na literatura (Barth 1989, Roubik & Moreno 1991). A determinação das famílias botânicas, a partir da morfologia polínica, não apresentou grande obstáculo, porém em relação ao gênero, isso nem sempre foi possível. Na maioria dos casos não se pôde determinar a espécie, de modo que foi preciso limitar-se ao tipo polínico (tipo morfológico do grão de pólen) (Barth, 1989). A determinação da origem botânica do pólen foi obtida através das freqüências dos tipos polínicos presentes pela contagem de 600 grãos (200 grãos em cada lâmina) segundo Zander apud Barth (1989). Estimou-se a contribuição volumétrica dos grãos para cada amostra, pois apesar da contagem ser uma metodologia muito utilizada, considera que

3 de 5 18/04/2011 12:01 todos os grãos de pólen têm tamanhos iguais. No entanto, sabe-se que esses variam muito de tamanho, e esta variação pode fazer com que a freqüência numérica de cada tipo polínico não represente a contribuição real de cada planta na amostra devido à super-representação dos grãos de pólen de menor tamanho (Silveira, 1991). 4 - Análise dos dados A freqüência das plantas amostradas como fonte de pólen nos diferentes locais, meses e colônias foi comparada por meio de análise em cluster (UPGMA) utilizando o coeficiente de dissimilaridade de Morisita-Horn no software R. Foi realizado o teste t para avaliar as diferenças entre as freqüências considerando um nível de significância padrão de 5% (Zar, 1999). Resultados e Discussão Nas amostras de pólen foram identificados 30 diferentes tipos polínicos sendo apenas um tipo não identificado, o qual foi classificado como indeterminado. As famílias botânicas encontradas como fonte de pólen para Melipona quadrifasciata foram, em ordem de importância, Melastomataceae, Leguminosae, Myrtaceae, Solanaceae, Boraginaceae, Flacourtiaceae, Sapindaceae, Euphorbiaceae, Asteraceae, Rutaceae, Rubiaceae, Malvaceae, Arecaceae e Verbenaceae. Dentre essas famílias a que apresentou maior número de tipos polínicos nas amostras foi Leguminosae, com 11 tipos diferentes, seguida de Solanaceae com três tipos e, as demais famílias apresentaram dois ou apenas um tipo polínico. O tipo polínico de maior freqüência relativa como fonte de pólen foi Melastomataceae com uma participação de 51.87% nas amostras, ao que se seguiu o tipo Eucalyptus sp com 15,09% e Mimosa caesalpiniaefolia com 10,66%. Melipona quadrifasciata apresentou preferência para coleta de pólen nas espécies de plantas das famílias Melastomataceae, Leguminosae, Myrtaceae e Solanaceae, sendo Melastomataceae o grupo de maior importância em termos de quantidade de alimento coletado e Leguminosae em termos de diversidade de fontes utilizadas. Roubik (1981) demostrou que o comportamento de forrageamento das espécies de Meliponina é muito diversificado, sendo classificado como generalista. Porém, há inúmeras referências à preferência de Melipona quadrifasciata por fontes específicas como plantas das famílias Myrtaceae e Solanaceae, as quais providenciam recursos abundantes por possuírem flores melitófilas e um florescimento massivo (Guibu et al., 1988; Ramalho et al., 1989; Wilms et al., 1996; Antonini et al., 2006). Os autores fazem referência ainda à família Melastomataceae como uma importante fonte de pólen para várias espécies de Melipona, as quais são capazes de explorar essa fonte de recursos por conseguirem vibrar as anteras poricidas e removerem o pólen, o que pode significar uma adaptação que possibilita a co-ocorrência com Apis mellifera. A preferência de Melipona quadrifasciata por Myrtaceae, Melastomataceae e Solanaceae foi descrita anteriormente, contudo Leguminosae não foi representativa como fonte de pólen e (ou) néctar apesar de ser uma família comum nas regiões em questão (Guibu et al., 1988; Ramalho et al., 1989; Wilms et al., 1996; Antonini et al., 2006). Porém, no presente estudo destaca-se a importância de Leguminosae como fonte de pólen para Melipona quadrifasciata, o que ocorreu possivelmente em razão de sua maior riqueza de espécies no fragmento florestal onde se encontravam as colônias, o que é apontado como sendo devido à estratégia de vida das espécies dessa família, que se caracteriza pela capacidade de associação simbiótica com bactérias fixadoras de nitrogênio (Silva et al., 2004). As freqüências do pólen das plantas amostradas como fonte de pólen nos dois locais e entre as colônias foram similares, não apresentando diferenças estatisticas significantes, o que reforça a idéia de que essa abelha possui especificidade quanto às plantas utilizadas como fonte polinífera. Quanto às freqüências temporais das plantas amostradas nos diferentes meses foi constatada diferença significativa (p<0,05), o que reflete o estágio de floração das espécies de plantas. Conclusão e Agradecimentos Melipona quadrifasciata comporta-se como generalista quanto à coleta de recursos alimentares embora demonstre preferência quanto à coleta de pólen, especialmente em algumas espécies de plantas das famílias Melastomataceae, Leguminosae, Myrtaceae e Solanaceae. Portanto, embora essa abelha visite várias espécies de plantas são poucas as que contribuem quantitativamente como fonte de pólen para a manutenção das colônias. Agradecimentos

4 de 5 18/04/2011 12:01 A CAPES pelo suporte financeiro. À Ângela Maria da Silva Corrêa, pesquisadora do Laboratório de Palinologia do Instituto de Botânica de São Paulo, pela ajuda e suporte na identificação palinológica das lâminas. Ao Marcos Vinícius pela orientação na análise estatística dos dados. Referências Bibliográficas Absy, M.L.; Bezerra, E.B. & Kerr, W.E. 1980. Plantas nectaríferas utilizadas por duas espécies de Melipona da Amazônia. Act Amazônica., 10: 271-281. Antonini, Y.; Soares, S.M. & Parentoni, R.M. 2006. Pollen and nectar harvesting by the stingless bee Melipona quadrifasciata anthidioides (Apidae: Meliponini) in an urban forest fragment in Southeastern Brazil. Stud. Neotrop. Fauna Environ., 41: 209-215. Barth, O.M. 1989. O pólen no Mel Brasileiro. Rio de Janeiro: Luxor, 150p. Barth, O.M., Munhoz, M.C., Luz, C.F.P. 2009. Botanical origin of Apis pollen loads using colour, weight and pollen morphology data. Acta Alimentaria 38: 33 139. Biesmeijer, J.C.; Richter, J.A.P.; Smeets, M.A.J.P. and Sommeijer, M.J. 1999. Niche differentiation in nectarcollecting stingless bees; the influence of morphology, floral choice and interference competition. Ecol. Entomol., 24, 380-388. Del Sarto, M.C.L.; Peruquetti, R.C. and Campos, L.A.O..2005. Evaluation of the Neotropical Stingless Bee Melipona quadrifasciata (Hymenopetra: Apidae) as pollinator of Greenhouse Tomatoes. J. Econ. Entomol., 98: 260-267. Guibu, L.S.; Ramalho, M.; Kleinert-Giovannini, A., Imperatriz-Fonseca, V.L. 1988. Exploração de recursos florais por colônias de Melipona quadrifasciata (Apidae: Meliponinae). Rev. Bras. Biol. 48: 299-305. Melo, M.A. 2004. Efeito de Apis mellifera Linnaeus, 1758 (Hymenoptera, Apidae) sobre a utilização de fontes de pólen por Melipona quadrifasciata Lepeletier, 1836 (Hymenoptera, Apidae) na região de Viçosa, MG. Tese de Doutorado - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. Michener, C.D. 1974. The social behavior of the bees. Comparative study. Belknap Press of Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts, 404p. Modro, A.F.H., Message, D., Luz, C.F.P., Meira Neto, J.A.A. 2007. Composição e qualidade de pólen apícola coletado em Minas Gerais. Pesq. agropec. bras. 42: 1057-1065. Nogueira-Neto, P. 1997. Vida e Criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo: Nogueirapis, 445p. Ramalho, M.; Kleinert-Giovannini, A.; Imperatriz-Fonseca, V.L. 1989. Utilization of floral resources by species of Melipona (Apidae, Meliponinae): floral preferences. Apidol., 20: 185-195. Ramalho, M.; Kleinert-Giovannini, A.; Imperatriz-Fonseca, V.L. 1990. Important bee plants for stingless bees (Melipona and Trigonini) and Africanized honeybees (Apis mellifera) in neotropical habitats: a review. Apidol., 21: 469-488. Ramalho, M.; Guibu, L.S.; Giannini, T.C.; Kleinert-Giovannini, A.; Imperatriz-Fonseca, V.L. 1991. Characterization of some southern Brazilian honey and bee plants through pollen analysis. J. Apicul. Research, 30: 81-86. Raven, P.H.; Evert, R.F.; Eichhorn, S.E. 1996. Biologia Vegetal. 5ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 728p. Roubik, D.W. 1989. Ecology and Natural History of Tropical Bees. Cambridge, Cambridge University Press, 514p. Roubik, D.W. 1981. Comparative foraging behavior os Apis mellifera and Trigona corvina (Hymenoptera: apidae) on Baltimora recta (Compositae). Rev. Biol. Trop. 29: 789-800. Roubik, D.W. & Moreno, J.E.P. 1991. Pollen and spores of Barro Colorado Island. Missouri Botanical Garden. Monographs in Systematics Botany 36. 268p.

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