APLICAÇÃO DE UMA TÉCNICA VARIANTE DA DUPLA CAMADA NA SOLDAGEM DO AÇO 5%Cr-0,5%Mo

Documentos relacionados
Caracterização de soldas dissimilares depositadas pelo processo MIG com uma superliga de níquel

NOÇÕES DE SOLDAGEM. aula 2 soldabilidade. Curso Debret / 2007 Annelise Zeemann. procedimento de soldagem LIGAS NÃO FERROSAS AÇOS.

EPS 10 FACIULDADE SENAI NADIR DIAS DE FIGUEIREDO

EFEITO DA TÉCNICA DA DUPLA CAMADA SOBRE A MICROESTRUTURA E TENACIDADE DA ZAC DO AÇO ABNT 4140 RECUPERADO POR SOLDAGEM.

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

Estudo comparativo do reparo por soldagem dos aços inoxidáveis martensíticos aisi 410 e ca-6nm

ESTUDO COMPARATIVO DO REPARO POR SOLDAGEM DOS AÇOS INOXIDÁVEIS MARTENSÍTICOS AISI 410 E CA-6NM

CARACTERIZAÇÃO DE SOLDAS DISSIMILARES DEPOSITADAS PELO PROCESSO MIG COM UMA SUPERLIGA DE NÍQUEL

PROCESSO DE SOLDAGEM TIG

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

ESPECIFICAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM EPS 003

Título do projeto: SOLDABILIDADE DE UM AÇO ACLIMÁVEL DE ALTO SILÍCIO PARA CONSTRUÇÃO METÁLICA COM RESISTENCIA EXTRA A CORROSÃO MARINHA

SENAI- Nadir Dias de Figueiredo ELABORAÇÃO DE ESPECIFICAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM -EPS

Metalurgia da Soldagem Particularidades Inerentes aos Aços Carbono

Trincas a Frio. Fissuração pelo Hidrogênio. Mecanismo de Formação. Trincas a Frio. Mecanismo de Formação Trincas a Frio

Elaboração de Especificação de Procedimento de Soldagem EPS N 13.

INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS DE SOLDAGEM COMO TENSÃO E CORRENTE NA TAXA DE DEPOSIÇÃO PARA DIFERENTES ESPESSURAS DE CHAPA

Análise das regiões de uma junta soldada com e sem adição de calor através do Pré e Pós aquecimento.

FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI NADIR DIAS DE FIGUEIREDO. Pós- Graduação Especialização em Soldagem. Disciplina- Engenharia de Soldagem. Prof.

Soldabilidade de Aços Resistentes à Abrasão da Classe de 450 HB de Dureza

ESTUDO COMPARATIVO DA SOLDABILIDADE DO AÇO PARA GASODUTOS API 5L X80 COM AÇOS TEMPERADOS E REVENIDOS

INSPEÇÃO DE SOLDAGEM. Qualificação de Procedimentos de Soldagem e de Soldadores

ESPECIFICAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM (EPS) - 34

Características. Fundamentos. Histórico SOLDAGEM COM ARAME TUBULAR

C R E E M SOLDAGEM DOS MATERIAIS. UNESP Campus de Ilha Solteira. Prof. Dr. Vicente A. Ventrella

A INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO PÓS SOLDAGEM PARA ALÍVIO DE TENSÕES NA DUREZA DA SOLDA COM MATERIAL DE ADIÇÃO ER410NIMO *

Caracterização microestrutural do aço ASTM-A soldado por GMAW.

Faculdade SENAI de Tecnologia Nadir Dias de Figueiredo Pós Graduação Latu Sensu Inspeção e Automação em Soldagem

3 Material e Procedimento Experimental

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO PÓS-SOLDAGEM NA DUREZA DA ZTA DO AÇO 9%NI

Figura 1: Fator X versus energia absorvida, conforme Bruscato[1,2], na temperatura de 10C.

Soldagem arco submerso III

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO III SOLDAGEM NORMAS E QUALIFICAÇÃO EM SOLDAGEM

AVALIAÇÃO DA SOLDABILIDADE DO AÇO SINCRON-WHS-800T QUANDO SOLDADO PELO PROCESSO FCAW

SOLDAGEM TIG. Prof. Dr. Hugo Z. Sandim. Marcus Vinicius da Silva Salgado Natália Maia Sesma William Santos Magalhães

O tipo de Metal de Base (MB) escolhido é um aço ASTM A 36, de espessura 3/8 e

ESTUDO DO APORTE TÉRMICO DE SOLDAGEM NO COMPORTAMENTO BALÍSTICO DE UM AÇO DE ALTA DUREZA (HHA HIGH HARDNESS ARMOR)*

Brasil 2017 SOLUÇÕES INTEGRADAS EM ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS

4 Resultados e Discussão

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO III SOLDAGEM METALURGIA DA SOLDAGEM

FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI SP ESCOLA SENAI NADIR DIAS DE FIGUEIREDO. Curso de Inspeção e Automação em Soldagem AUGUSTO JOSÉ DA SILVA

de soldagem. Rua Jordão Borghetti, Jardim Recreio, Sertãozinho - SP, (16)

Processo Eletrodos Revestidos 2 Tipos de eletrodos A especificação AWS A5.1

Efeito dos elementos de liga nos aços

Processo d e soldagem

Análise do perfil de microdureza e do refino de grão em juntas soldadas multipasse do aço API 5L X65

SOLDAGEM DOS METAIS CAPÍTULO 10 DEFEITOS EM OPERAÇÕES DE SOLDAGEM

3- Materiais e Métodos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

3. PROCESSO DE SOLDAGEM COM ELETRODO REVESTIDO

5.3. ANÁLISE QUÍMICA 5.4. ENSAIO DE DUREZA

INFLUÊNCIA DA SOLDA NA VIDA EM FADIGA DO AÇO SAE 1020

DETALHAMENTO DOS ITENS PARA ELABORAÇÃO DE EPS EPS 20

Soldagem I Lista de Exercícios

longitudinal para refrigeração, limpeza e remoção de fragmentos de solos provenientes da perfuração, Figura 10.

ANÁLISE MICROESTRUTURAL DE UM FERRO FUNDIDO CINZENTO SOLDADO COM VARETA FUNDIDA

REQUISITOS PARA FABRICAÇÃO E INSPEÇÃO DE CONEXÕES PARTE 3 DE 3

Soldagem por Alta Frequência. Maire Portella Garcia -

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO PÓS- SOLDAGEM NA MICROESTRUTURA E DUREZA DA ZTA DO AÇO 9%NI PARA APLICAÇÃO OFFSHORE

AVALIAÇÃO MICROESTRUTURAL DA REGIÃO SOLDADA PELO PROCESSO GMAW DE UM AÇO PATINÁVEL UTILIZANDO DOIS DIFERENTES TIPOS DE ARAMES

Trabalho de solidificação. Soldagem. João Carlos Pedro Henrique Gomes Carritá Tainá Itacy Zanin de Souza

3 Material e Procedimento Experimental

CAPÍTULO 7 SOLDAGEM TIG

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA PROJETO DE GRADUAÇÃO

Avaliação da Perfuração na Soldagem em Operação pelo Processo MIG/MAG de Dutos de Alta Resistência e Baixa Espessura

Laboratório: Laboratório de Caracterização de Materiais Metálicos (LCAM).

CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E MICROESTRUTURAIS E ANÁLISE DAS TENSÕES RESIDUAIS EM TUBOS SOLDADOS DE AÇO P110 E N80Q

ESTUDO DAS TENSÕES RESIDUAIS GERADAS NA SOLDAGEM GTAW DE AÇO AISI 316L

Titulação do Orientador: Professor Doutor em Engenharia Mecânica.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

AVALIAÇÃO DA MICRODUREZA E MICROESTRUTURA DE JUNTAS SOLDADAS DO AÇO API 5L GR B REVESTIDO COM LIGA DE NÍQUEL

ESTUDO COMPARATIVO DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO NAVAL ASTM A131 GRAU AH36 PELOS PROCESSOS SMAW E FCAW

SOLDAGEM DO AÇO API 5LX - GRAU 70 COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1 E ELETRODO REVESTIDO AWS E-8010-G.

Gilmar Zacca Batista. Curvamento por Indução de Tubo da Classe API 5L X80. Dissertação de Mestrado

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE ABRASIVO A BAIXA- TENSÃO DE REVESTIMENTOS SOLDADOS POR ARCO SUBMERSO

Aço Inoxidável Ferrítico com 11% de Cromo para Construção Soldada. Columbus Stainless. Nome X2CrNil2. Elementos C Mn Si Cr Ni N P S

ANÁLISE DA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO E AÇO CARBONO COM SOLDA DE ARAME TUBULAR MONOESTABILIZADO E BIESTABILIZADO

Introdução Conteúdo que vai ser abordado:

SOLDAGEM. Engenharia Mecânica Prof. Luis Fernando Maffeis Martins

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA JUNTA SOLDADA COM AÇO INOXIDÁVEL MARTENSÍTICO DE BAIXA TEMPERATURA DE TRANSFORMAÇÃO

Processo de Soldagem Eletroescória HISTÓRICO

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM SOBRE UM EIXO RECUPERADO

consumíveis de solda

COMPARATIVO ENTRE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX (UNS S32304) PELOS PROCESSOS DE SOLDAGEM POR RESISTÊNCIA E TIG*

SOLDAGEM LASER ND:YAG PULSADO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S Resumo

9.1 Medição do hidrogênio difusível pela técnica de cromatografia gasosa

CORRELAÇÃO ENTRE ENERGIA DE IMPACTO CHARPY E INTEGRAL J, EM JUNTAS SOLDADAS DE AÇO SAC 50 À TEMPERATURA AMBIENTE

Material Didático do Curso de Engenharia Mecânica da UniEVANGÉLICA

Processo de Soldagem Eletrodo Revestido

4 Resultados. 4.1.Perfil do cordão de solda

CARACTERIZAÇÃO DE JUNTA SOLDADA POR SMAW EM TUBOS DO ECONOMIZADOR DE UMA CALDEIRA DE LEITO FLUIDIZADO CIRCULANTE DE ALTA PRESSÃO

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NA TENACIDADE DE UMA JUNTA SOLDADA DE UM AÇO API 5L GRAU B 1

INTRODUÇAO. Figura 01 - Dispositivo de elevação e posicionador

3 - QUE TIPO DE PROBLEMA PODE OCORRER QUANDO SE REALIZA UM PONTO DE SOLDA?

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

ESTUDO DE TRATAMENTO TÉRMICO DE PINO J*

Serviço de recuperação de rolos de mesa do lingotamento contínuo.

SOLDA POR FRICÇÃO EM AÇO CARBONO

MARCELO NIEHUES SCHLICKMANN

Transcrição:

APLICAÇÃO DE UMA TÉCNICA VARIANTE DA DUPLA CAMADA NA SOLDAGEM DO AÇO 5%Cr-0,5%Mo Adriano de Resende Silva Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Mecânica resende@demec.ufmg.br - Belo Horizonte, MG, Brasil Paulo Villani Marques Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Mecânica pvillani@demec.ufmg.br - Belo Horizonte, MG, Brasil Alexandre Queiroz Bracarense Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Mecânica queiros@vesper.demec.ufmg.br - Belo Horizonte, MG, Brasil Resumo. A soldagem induz modificações na estrutura e propriedades de peças de aço, resultantes do aquecimento localizado e não uniforme durante a operação, sendo muitas vezes necessário o uso de tratamentos térmicos para restabelecimento de características estruturais e propriedades aceitáveis para certas aplicações, após sua realização. Estes tratamentos podem ser difíceis, onerosos ou mesmo inviáveis na soldagem de manutenção. Neste trabalho foi feito um estudo de técnicas de soldagem que dispensam o uso de tratamento térmico pós operação aplicáveis na soldagem de manutenção de equipamentos utilizados no refino de petróleo. Foram testadas seqüências especiais de soldagem com os processos SMAW e GTAW, de forma a se obter microestrutura adequada em soldas de aços com cerca de 5% de cromo (em peso), material típico utilizado em refinarias. Para isto, foram soldadas diversas chapas de teste (sem/com chanfro) pelo o processo SMAW, seguindo uma refusão pelo processo GTAW, com diferentes parâmetros, e retirados corpos de prova para ensaios metalográficos e de dureza. Os resultados mostraram que o uso de tal técnica pode dispensar o uso de tratamentos térmicos pós-soldagem em certos casos, simplificando o procedimento de reparo em equipamentos. Um controle rigoroso dos parâmetros de soldagem é necessário para garantir o sucesso da operação. Palavras-chave: Soldagem de manutenção, Aços ferríticos, Alívio de tensões 1. INTRODUÇÃO Um dos principais problemas dos equipamentos fabricados com materiais ferríticos do tipo Cr-Mo em empresas de processamento petroquímico é o surgimento de trincas após operações de soldagem. Sabe-se que a propagação dessas trincas é mais intensa na região de grãos grosseiros da zona termicamente afetada (ZTA-GG), favorecida pela maior área do contorno de grãos.

Tubulações de aços de baixa liga do tipo Cr-Mo reparadas por soldagem muitas vezes exigem a realização do tratamento térmico para refino de grão e alívio das tensões oriundas destas operações. Porém, apesar de minimizar o trincamento, o tratamento térmico é dispendioso não só pelo seu custo propriamente dito, mas, principalmente pelo tempo gasto para realizá-lo. Além disso, muitas vezes o reparo realizado no campo torna inviável o uso do tratamento térmico devido a problemas de espaço e acesso à peça a ser reparada. É de suma importância que os prazos de paradas para execução dos serviços de manutenção e reparo de sistemas de tubulações das unidades industriais sejam os menores possíveis, de forma a aumentar os lucros cessantes da unidade. Em vista disso, pesquisas têm sido realizadas em busca de um procedimento de soldagem que dispense o tratamento térmico nas situações citadas. O próprio código ASME, secção XI item IWB-4420 [1984] recomenda que seja empregada a técnica da meia camada (half bead) em situações onde seja impraticável o tratamento térmico. Esta técnica consiste no amanteigamento de toda a cavidade a ser reparada usando eletrodo de 2,4 mm. Essa camada é então esmerilhada até 50% de sua espessura, sendo posteriormente depositadas camadas subseqüentes com eletrodos de maior diâmetro (até 4 mm) para promover o refino e/ou revenimento da ZTA-GG da primeira camada. A principal desvantagem desta técnica é a atividade manual de esmerilhamento, que além de lenta, depende muito da habilidade do soldador. Higuchi [1980] discute esta técnica e discorda da remoção de 50% da primeira camada, não importando a espessura de reforço dos cordões (que para um mesmo diâmetro de eletrodo pode variar largamente). Segundo ele, a primeira camada deve ser removida de modo a deixar uma espessura residual entre 2 e 2,5 mm, para que a zona de grãos grosseiros da primeira camada seja revenida pela segunda camada. Niño e outros [1992] adotaram a técnica da dupla camada ou técnica do passe de revenido, que ao invés do esmerilhamento da primeira camada, procura controlar os parâmetros de soldagem de forma que a própria energia de soldagem do segundo passe produza o efeito de revenimento e/ou refinamento do passe anterior. Entretanto, a última camada fica sem a ação desses efeitos, tornando essa região mais propícia ao aparecimento de trincas em relação às demais. Henke [1998] utilizou uma variante da técnica da dupla camada, na qual, além do amanteigamento usando material austenítico, após a soldagem, foi feito um reaquecimento com três passes de soldagem GTAW, com energias decrescentes sobre a última camada, a fim de promover o revenimento da ZTA. A eficiência de sua técnica foi comprovada pela análise de dureza que a partir de dados de outros autores atenderia os requisitos de tenacidade do material. Este trabalho visa avaliar a viabilidade de se aplicar uma técnica variante da dupla camada (passe de revenimento + processo GTAW) de forma a produzir o refino e/ou revenimento da solda depositada pelo eletrodo revestido, num material com 5%Cr e 0,5%Mo. Este material é utilizado em equipamentos de usinas de refino de petróleo, em caldeiras a vapor e superaquecedores e apresenta problemas freqüentes de manutenção. Inicialmente, cordões sobre chapa foram depositados, com parâmetros usuais do procedimento de reparo em uma refinaria de petróleo e feita a sobreposição de um único cordão GTAW, sem adição de metal, de maneira que a região de grãos refinados da ZTA devida ao processo GTAW refinasse e/ou revenisse a região de crescimento grãos da ZTA do processo SMAW. Tentou-se assim encontrar parâmetros ótimos para soldagem sobre chapa. O mesmo ensaio procedimento foi realizado em peças com um chanfro em V, usado em reparo em situações reais de campo. As soldas foram submetidas a ensaios de dureza e macrografia para avaliação da técnica.

2. MATERIAIS E MÉTODOS Como metal base foi utilizado um tubo de aço ASTM A 335 P5 com 12,4 mm de espessura e diâmetro de 169,2 mm cuja composição química é mostrada na Tabela 1. O eletrodo revestido usado foi do tipo AWS E502-15, com φ 2,4 mm para a soldagem da 1 a camada e um φ 3,25 mm para as demais camadas. Tabela 1 - Composição química do material utilizado. C Si Mn Cu Ni Cr Mo Nominal 0,07 0,26 0,56 0,05 0,08 5,30 0,44 Real 0,10 0,92 0,48 0,05 0,06 6,66 0,55 Inicialmente corpos de prova nas dimensões de 50x150 mm foram cortados do tubo, lixados e preparados para soldagem. Foram depositados cordões sobre chapa na posição plana, com o eletrodo revestido inclinado a 80 o em relação ao corpo de prova( puxando a poça de fusão), utilizando-se sempre CC+. Os parâmetros da soldagem SMAW são mostrados na Tabela 2. Tabela 2 - Parâmetros de soldagem pelo processo SMAW. φ [mm] Pré-aquec. ( o C). Corrente CC+ (A) Tensão (V) Velocidade de soldagem (cm/min) Energia de soldagem (kj/cm) 3,25 250 110 24,0 16 10 Cordões de solda GTAW (sem deposição de material) foram feitos em corpos de prova similares, com comprimento de arco de 3 mm, velocidade de soldagem de 15 cm/min, vazão de argônio de 15 l/min e correntes de 160 a 230A, com intervalo de variação de 10A, para determinação da geometria do cordão em cada caso. Todos os corpos de prova foram secionados e preparados para exame metalográfico, seguindo-se de um ataque com o reagente Nital 5%. Mediu-se a extensão da ZTA-GG dos cordões feitos com o processo SMAW e da região de refino de grão dos cordões feitos com GTAW (ZTA-GF), como mostrado na Fig. 1, em três direções distintas, utilizando-se de um projetor de perfil com aumento de 10 vezes. Figura 1: Direções de medição da extensão da ZTA-GG e ZTA-GF.

Dessa forma obteve-se uma curva que expressa o tamanho da região de grãos finos dos passes de soldam GTAW em função da corrente, e conhecendo-se a extensão da ZTA-GG para o cordão de solda depositado pelo processo SMAW, é possível prever os parâmetros ótimos para se obter o revenimento/refino da última camada de solda depositada utilizando a técnica do passe de revenimento. Para a técnica da dupla camada, os parâmetros adotados neste trabalho são mostrados na Tabela 3. O The Welding Institute [1991] recomenda uma sobreposição entre camadas entre 30% e 50%. Foram preparados corpos de prova com sobreposição nas duas extremidades da faixa recomendada. Camada Tabela 3: Parâmetros da Técnica da dupla camada. Pré-aquec. Corrente CC+ (A) Tensão Velocidade de soldagem (cm/min) Energia de soldagem (kj/cm) ( o C). (V) 1ª 250 75 22 18 5,5 demais 250 110 24 16 10 O procedimento proposto e testado para reparo, usando uma junta com chanfro em V é mostrado na Fig. 2. Após o enchimento da junta pelo processo SMAW, foram feitos passes de revenimento com o processo GTAW. A região hachurada representa a região de grãos grosseiros da zona termicamente afetada, onde deveria haver o revenimento. Figura 2: Desenho esquemático da junta em V. Para a aplicação destes passes foi feita uma montagem para que o movimento linear de uma tartaruga oxi-corte fosse transformado em movimento de giro, de modo a garantir uma maior uniformidade do cordão (Fig. 3).

Figura 3: Montagem do dispositivo para a aplicação dos passes de revenimento. Foram realizados dois passes em extremidade do chanfro, com corrente de soldagem decrescente, determinadas a partir da curva obtida anteriormente para o tamanho da ZTA-GF. Foram feitas medições de dureza Vickers na região revenida pelos passes GTAW com a ajuda de uma máquina Heckert, usando uma carga de 10 kgf por 20 segundos. 3. Resultados e discussão O resultado das medições da extensão da ZTA-GG dos cordões de solda SMAW é apresentado na Tabela 4. Tabela 4 Extensão da ZTA-GG (cm). Processo Direção1 Direção 2 Direção 3 Média SMAW-110A 6,81 8,04 7,34 7,40 ± 0,61 A Figura 4 mostra a variação da extensão da ZTA-GF dos cordões de solda GTAW com a corrente de soldagem. Observa-se que uma corrente de 170 A seria a corrente mínima para se obter o revenimento da ZTA-GG do cordão depositado pelo eletrodo revestido. Contudo, como existe o reforço do cordão de solda depositado pelo processo SMAW, optou-se por uma corrente de 190A para o passe de revenimento. As Figuras 5a e 5b mostram o perfil dos cordões obtidos com sobreposição de 30% e 50% dos cordões em cada camada, respectivamente. A região hachurada mostra as em ilhas não revenidas pelo ciclo térmico da 2 a camada. Note-se que uma sobreposição de 50% é a mais indicada, visto que a área não revenida neste caso é bem menor se comparada com a de 30%.

TAMANHO ZTA-GF 160 180 200 220 240 Z T A - G F [ c m ] 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,6 160 180 200 220 240 CORRENTE [A] Figura 4: Extensão da ZTA-GF em função da corrente de soldagem. Reforço 1 camada 20 ZTA-GG 1 camada ZTA-GF 1 camada Reforço 2 camada 200 ZTA-GG 2 camada 250 ZTA-GF 2 camada Metal base (a) sobreposição de 30% Reforço 1 camada 20 ZTA-GG 1 camada ZTA-GF 1 camada Reforço 2 camada 200 ZTA-GG 2 camada 250 ZTA-GF 2 camada Metal base (b) sobreposição de 50% Fig. 5 Perfil dos cordões obtidos com diferentes sobreposições.

A Figura 6, obtida em um projetor de perfil com 10 vezes de aumento, apresenta um corte transversal da junta soldada com uma sobreposição de 50%, parâmetros de soldagem mostrados na Tabela 3 e passes de revenimento GTAW feitos com os parâmetros da Tabela 5. Visando um melhor resultado na aplicação da técnica variante da dupla camada, foram feitos dois passes de revenimento nas extremidades do chanfro, com energias decrescentes de soldagem. A tensão usada nestes passes foi ligeiramente maior que a usada para obtenção da curva da figura 4, para se conseguir um formato do cordão mais adequado à superposição da ZTA-GF GTAW à ZTA-GG SMAW. Pode-se observar uma razoável uniformidade na realização do passe de revenido. Tabela 5: Parâmetros do passe de revenimento TIG. Corrente [A] Tensão [V] Velocidade [cm/min] 200 13,5 20 190 13,5 20 180 0 50 100 150 200 250 180 Isotermas Ac1 Isotermas Tig-190A Isotermas Tig-200A 0 Y [mm] 160 140 120 100 80 60 40 160 140 120 100 80 60 40 20 0 L.F da 1a. camada L.F 2a. camada 0 50 100 150 200 250 X [mm] 20 0 Figura 6: Perfil da junta soldada com chanfro em V. A dureza na ZTA-GG da última camada (região hachurada indicada na Fig. 2) atingiu valores sempre inferiores a 330 Vickers, significativamente inferior à de uma junta sem a realização do passe de revenido na última camada, que alcançava valores de dureza da ordem de 400 Vickers. 4. CONCLUSÃO O revenimento da ZTA de um cordão de solda depositado com eletrodos revestidos com a deposição de passes subseqüentes não é uma tarefa fácil. Um rígido controle dos parâmetros de soldagem deve ser mantido, particularmente uma movimentação precisa do arco é exigida para se manter uma sobreposição sempre próxima a 50% e um revenimento adequado da última camada pelo processo GTAW. O passe de revenido reduziu a dureza para cerca de 330 Vickers na ZTA-GG da última camada, dureza esta inferior à máxima recomendada (350 Vickers) para a soldagem dos aços 5%Cr-0,5%Mo; que têm uma temperabilidade muito elevada para teores de carbono acima de 0,07%. Para atingir níveis de dureza inferiores e a

patamares mais seguros quanto à utilização da técnica variante da dupla camada em condições reais de reparo, sugere-se a especificação de aços com teores inferiores a 0,07%C e um treinamento específico dos soldadores na técnica proposta. REFERÊNCIAS Henke, L. S., 1998. Desenvolvimento de Procedimento de Soldagem de Aço Inoxidável Martensítico Tipo CA-6NM Sem Tratamento Térmico Posterior. Dissertação de Mestrado DEMC-UFSC, Santa Catarina. Higuchi, M. et al., 1980. A study on weld repair through half bead method. IHI Engineering Review, vol.13, n.2, pp. 15 19. Niño, C.E.; et al., 1992. Técnicas de Reparo por Soldagem em Aços 5Cr-0,5Mo, Soldagem & Materiais, vol.4 (2), pp. 28-33. The American Society of Mechanical Engineers, ASME-1993. Repair Procedures, Boiler and Pressure Vessel, ANSI/ASME, Section XI, Article IWB. Welding Institute, 1991. Welder Training and Qualification Procedure for Controlled Deposition Repair Welds to Chrome-Moly Steels. APPLICATION OF A VARIANT DOUBLE LAYER TECHNIQUE IN THE WELDING OF 5%Cr-0.5%Mo STEEL Abstract. The localized and non-uniform heating due to welding operations can result in structural and properties changes in steel parts. The use of post-welding heat treatments is often needed to recover structural characteristics and properties desirable in several applications. These treatments may be difficult, expensive or even unfeasible in maintenance welding. A welding technique that dispenses the use of post-welding heat treatments applicable in maintenance welding of petroleum refining plants are presented in this paper. Procedures involving sequences of SMA and GTA welding were tested in order to obtain an adequate microstructure in welds of 5% weight Cr steel, a typical material used in refinery equipment. Plates welded with processes SMAW and it after refused with process GTAW were evaluated in metallographical and hardness tests. Results showed that such techniques yields to acceptable welding procedures in some cases, simplifying the maintenance practice. A rigorous welding parameter control is necessary to assure a successfully operation. Keywords: Maintenance welding, Ferritic Steel, Stress relief.