A reforma da previdência e a vida das mulheres

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Transcrição:

A reforma da previdência e a vida das mulheres O governo Temer e seus ministros têm anunciado em alto e bom som que irão mudar as regras da seguridade social, o que pode acabar com a possibilidade de muitos trabalhadores e trabalhadoras se aposentarem. Eles dizem que a previdência está em crise, mas isso é mentira. O superávit da seguridade social em 2015 foi de 23,948 bilhões de reais. Só com juros da dívida pública pagos aos bancos, o Brasil torrou R$ 502 bilhões em 2015, mais do que a Previdência. No mesmo ano, o governo deu um desconto de R$ 100 bilhões de impostos para grandes empresários. Ao considerar a previdência deficitária busca-se impor a visão do mercado, da classe dominante que transfere para o mercado, por meio dos fundos privados de capitalização, um serviço que deve ser público. Do nosso ponto de vista há, pelo menos, dois equívocos por parte do governo: o primeiro é tratar a questão da previdência isolada da questão da seguridade. O segundo é analisar as contas da previdência como uma questão de mercado e não de direito. A Constituição Federal estabelece recursos que financiam os três pilares da seguridade social: a saúde, a assistência e a previdência. O que está em jogo nas propostas anunciadas? Até o final deste ano o governo pretende apresentar a proposta da Reforma da Previdência que mexe em direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, pessoas com deficiência e idosos. Estão entre as propostas apresentadas pelo governo: Aumento da idade mínima para homens e mulheres se aposentarem, Primeiramente para 65 anos e, posteriormente, 70 anos para as gerações futuras. Com 1

essa proposta, além de aumentar a idade mínima exigida para concessão da aposentadoria, haverá equiparação da idade entre homens e mulheres. Fim da possibilidade de acumular pensão por morte e aposentadoria. Desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo. Possibilidade de que os valores dos benefícios do INSS e Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS) sejam menores que um salário mínimo. Corte e restrição nos benefícios por incapacidade (auxílio doença e aposentadoria por invalidez). Restrição no acesso ao BPC/LOAS das pessoas com deficiência e idosas. Extinção do Ministério da Previdência Social e Desmonte do INSS. Desmonte do serviço social do INSS e retirada do assistente social dos processos de concessão de benefícios das pessoas com deficiência. Restrição e terceirização dos recursos da Reabilitação Profissional, com a possibilidade de ser entregue aos empregadores. Expansão da previdência privada. Nós nos posicionamos radicalmente contra qualquer alteração na regra da previdência que implique em redução de direitos de trabalhadores e trabalhadoras, contra as medidas que representam retrocessos, como o aumento da idade para a aposentadoria ou equiparação entre homens e mulheres do tempo de vida mínimo exigido para obtenção do benefício. A igualdade que discrimina Temos escutado várias justificativas para a proposta de igualar a idade e o tempo de contribuição de mulheres e homens para a obtenção da aposentadoria. A mais difundida é aquela que justifica pela idade, alegando que a mulher de 60 anos tem expectativa de viver até os 82 anos, enquanto os homens vivem, em média 79 anos. Outros alegam que a tecnologia reduziu o tempo que as mulheres dedicam ao trabalho doméstico. Enfim, todos eles buscam justificar uma medida para o mercado e não para o direito e a justiça social. 2

Atualmente no Brasil, a maioria das pessoas se aposenta por idade, e não por tempo de contribuição. Dos cerca de 18 milhões de aposentadorias em vigor, 52% são por idade; 28%, por tempo de contribuição; e 20% por invalidez. Com um aumento da desregulamentação do mercado de trabalho, a tendência é reduzir o número de pessoas que se aposentam por tempo de contribuição. Do nosso ponto de vista, o aumento do tempo de contribuição para mulheres e homens é equivocado, pois não leva em consideração o fato de trabalhadoras e trabalhadores se inserirem no mercado de trabalho muito cedo e as diferentes realidades que vivem. Sabemos que a partir dos 40 anos, trabalhadoras e trabalhadores começam a sofrer uma série de doenças crônicas que os incapacita para o trabalho. São mais de 57 milhões de pessoas com doenças crônicas e as mulheres são as principais acometidas por essas doenças. Outro aspecto é a dificuldade que as pessoas mais velhas têm de disputar com os mais jovens os postos de trabalho que exigem maior conhecimento tecnológico. No que se refere a igualar a idade entre mulheres e homens, além das doenças acima mencionadas tem toda uma trajetória no mercado de trabalho e em relação à divisão sexual do trabalho. As mulheres ainda respondem pela maior parte dos afazeres domésticos. A desvantagem na distribuição dos afazeres domésticos entre os sexos na maior parte das vezes impõe às mulheres aceitar ou buscar empregos cujas jornadas sejam parciais. 1 Desigualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho reduz a capacidade que as mulheres têm de contribuir para a Previdência Social A permanência das mulheres no mercado de trabalho formal é menor, ficam em média 37 meses no mesmo trabalho, período inferior ao dos homens, que é de 41,7 meses (RAIS 2014). Isso se relaciona, entre outros fatores, à ausência de equipamentos públicos como creches e instituições para cuidados com idosos e enfermos. As mulheres têm ocupações mais vulneráveis, rendimentos médios mais baixos, maior rotatividade e menor qualificação. A chamada dupla jornada limita as possibilidades de ascensão profissional das mulheres e, com isso, a elevação da sua 1 As mulheres no mercado de trabalho: Avanços e Permanências. Apresentação PPT, por Patrícia Pelatieri. Dieese 3

remuneração. Como elas têm menor poder de contribuição e dependem da sua idade ou da morte do cônjuge para obter o benefício, as mulheres recebem um benefício médio menor. 2 Mulheres e políticas de inclusão previdenciária Em 2014, das 90 milhões de pessoas ocupadas no Brasil entre 16 e 59 anos, 65,3 milhões estavam protegidas socialmente, representando 72,6% desse total. No entanto, mais de 24 milhões de pessoas ocupadas permaneciam sem proteção social, ou 27,5% do total. Entre as mulheres ocupadas, a proteção social atinge 72,6%, equivalente a 27,6 milhões de mulheres. Para o total de idosos, enquanto a proteção dos homens atinge 86,1% (10,0 milhões), a das mulheres está estimada em 78,5%, (11,5 milhões). Desse total de idosas protegidas, 7 milhões (61%) são aposentadas, 2,3 milhões (20%) são pensionistas e 1,7 milhão são aposentadas e pensionistas. Essa diferença de proteção reflete a forma de inserção das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas, em condições mais precárias e sujeitas a maior grau de vulnerabilidade. Segundo os Censos Demográficos do IBGE, a evolução da estrutura populacional dos idosos revela que não só as mulheres são maioria na população, como também existe uma feminização da velhice. Observa-se uma tendência de aumento da proporção de mulheres entre os idosos, uma vez que a expectativa de vida ao nascer das mulheres é superior à dos homens. A projeção para 2020 é que as mulheres cheguem aos 79,8 anos e os homens 72,5 anos. Mas há estudos que indicam que a expectativa de vida saudável das mulheres é igual à dos homens, ou seja, elas vivem mais, mas com sua saúde comprometida. (Previdência, 2015) Embora sejam concedidos mais benefícios para mulheres (2,9 milhões em 2014) do que para homens (2,3 milhões, em 2014), devido ao impacto de benefícios como salário-maternidade e pensão por morte, as mulheres recebem uma parcela menor do total de benefícios pagos pelo INSS. 2 Idem 4

As mulheres eram 56,1% das beneficiárias da previdência, mas o valor somado dos benefícios recebidos pelas mulheres representou somente 51,2% do valor total pago, ou seja, o valor médio de benefício das mulheres é menor que o valor médio pago aos homens. A trajetória profissional das mulheres não é igual a dos homens e isso reflete em condições de trabalho, diferenças salariais, responsabilidades domésticas e de cuidados que impactam diretamente sobre a forma como entram e permanecem no mercado de trabalho. No Brasil, a ampliação da aposentadoria para as mulheres rurais na Constituição de 1988 foi a maior política de renda nos últimos anos. Isso foi reforçado com a valorização do salário mínimo a partir de 2003. As trabalhadoras rurais têm um cotidiano de trabalho que não é considerado e valorizado aos olhos do mercado, mas que é essencial para a reprodução da vida. As anunciadas reformas penalizarão especialmente as mulheres do campo, da floresta e das águas. Por essas razões nos colocamos contra a Reforma da Previdência em relação a todos os pontos que têm sido anunciados, mas em especial àqueles que propõem igualar o tempo de contribuição e idade entre mulheres e homens. 5