Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional

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Transcrição:

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional Seminário Internacional Pobreza, Desigualdade e Desempenho Educacional FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO agosto de 2011 Danielle Cireno Fernandes, UFMG Professora Associada

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional O objetivo deste trabalho é buscar verificar se a recente expansão do sistema educacional no Brasil tem se constituído em um mecanismo justo para solucionar a desigualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior. Além da raça, rendimento familiar e capital cultural são causas importantes para entender esta situação.

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional Antes vamos entender o processo de expansão educacional como um todo.

A Expansão Educacional no Brasil O alcance educacional deve ser entendido como um processo longo e composto de barreiras (entendidas como objetivas e/ou simbólicas) difíceis de superar onde os que concluem os níveis mais elevados são sobreviventes de longa jornada. 4

A Universalização da Educação Fundamental no Brasil a Perpetuação da Desigualdade Racial Uma das mais importantes conquistas que o Brasil alcançou no final do último século e nos primeiros anos deste foi ter atingido a universalização do ensino fundamental. Tal conquista já havia sido obtida em vários países latinoamericanos década antes. A demora no alcance da democratização do ensino fundamental foi, muitas vezes, associada à má focalização dos gastos públicos destinados à educação, sugerindo que o ensino superior percebia um maior volume de investimento por parte do governo em detrimento dos outros níveis educacionais. 5

O Gráfico 1 Acesso ao ensino fundamental entre crianças de 7 a 14 anos de idade, Brasil 1992 a 2003. Fonte: PNADs 1992 2003 6

Expansão do Ensino Fundamental A partir da análise do Grafico 1, podemos visualizar tal conquista e afirmar que o ensino fundamental, como uma política pública universal, apresenta, atualmente, um alto grau de focalização. De todas as crianças com idade entre 7 e 14 anos 97,2% freqüentavam algum tipo de escola formal em 2003, contra 87,1% em 1992. É importante observar que nestes dados estão inseridas crianças estudando em escolas tanto particulares quanto públicas. 7

Expansão do Ensino Fundamental O grau de focalização de uma política pública de caráter universal deve ser vista não apenas sob a perspectiva da inclusão dos mais pobres, mas também em que medida as minorias estão tendo graus de inclusão suficientes para que o processo de expansão não expanda trazendo consigo padrões de desigualdade. No Brasil a raça é um dos mais importantes determinantes da desigualdade educaional. O Gráfico 2 nos dá um sumário de como o processo de expansão do ensino fundamental nos anos entre 1992 e 2003 se deu entre os brancos e os negros separadamente. 8

Gráfico 2: Proporção de Crianças entre 7 e 14 Anos de Idade Freqüentando a Escola, Brasil 1992 a 2003 Fonte: PNADs 1992 2003 9

Expansão do Ensino Fundamental A expansão educacional, no que tange o alcance da universalização, atingiu tanto o grupo das crianças brancas como o grupo das crianças negras. Enquanto que em1992 de todas das crianças negras com idade entre 7 a 14 anos 82,9% freqüentavam a escola essa proporção pulou para 96,4% em 2003. Já entre todas as crianças brancas na mesma faixa de idade a proporção passou de 91,3% para 98,1%. Vale ressaltar que, muito embora em 2003 a proporção de crianças negras fora da escola ainda seja maior do que a proporção de crianças brancas, 3,6% versus 1,9%, respectivamente, o crescimento na taxa de freqüência na escola foi maior entre as crianças negras do que dentre as crianças brancas 16,3% contra 7,4% respectivamente. 10

Expansão do Ensino Fundamental Em um primeiro momento, poderíamos afirmar que, nestes 12 anos de análise, a focalização do ensino fundamental não apenas estaria conquistada, como também o processo de expansão se deu de forma inclusiva do ponto de vista racial. Ou seja, a desigualdade racial presente hoje no sistema educacional brasileiro seria substituída por um padrão mais democrático e menos discriminatório de acesso educacional. Uma análise mais detalhada pode revelar uma outra realidade. 11

Gráfico 3:Proporção de Crianças entre 7 e 14 Anos de Idade Fora da Escola Brasil 1992 2003 Fonte: PNADs 1992 2003 12

Expansão do Ensino Fundamental O Gráfico 3 mostra de forma detalhada a evolução das crianças entre 7 a 14 anos que não freqüentavam a escola nos 12 anos. Essa proporção caiu de 13,0% para 2,8%. Os pouco mais de três milhões de crianças, nessa faixa de idade, os quais estavam fora do sistema escolar, em 1992, foram reduzidos para pouco mais de setecentas mil crianças em 2003. Entretanto, como pode ser observado no Gráfico 4, a proporção de negros e brancos no total de excluídos do sistema educacional permaneceu constante durante os 12 anos de análise, salvo pequenas variações. De todas as crianças que não freqüentavam a escola, 66,4 % eram negras e 33,6% eram brancas em 1992 e em 2003 esses valores eram de 67,9% e 32,1%, respectivamente. 13

Gráfico 4 Proporção de Crianças entre 7 e 14 Anos de Idade Fora da Escola por Raça Brasil 1992 2003 Fonte: PNADs 1992 2003 14

Expansão do Ensino Fundamental Bom, a primeira observação a ser feita a um conhecedor mais atento da realidade brasileira é que essa situação meramente reflete a distribuição de renda. Ou seja, tendo em vista que a distribuição de renda permaneceu inalterada no Brasil entre 1992 e 2003 e que os negros estão situados entre a população mais pobre, esses dados estariam refletindo a situação das crianças mais pobres, e dado uma melhoria na distribuição de renda, essa suposta desigualdade racial desapareceria. Entretanto, uma análise que leve em consideração as crianças que se encontravam a cada ano no primeiro 10% da distribuição da renda mostra, não apenas que essas proporções se repetem, mas como elas ainda se distanciam. Esse padrão permanece constante por todos os 12 anos de análise, como pode ser observado no Gráfico 5. 15

Gráfico 5 Proporção de Crianças entre 7 e 14 Anos de Idade Fora da Escola por Raça 1o Decil da renda Brasil 1992 2003 Fonte: PNADs 1992 2003 16

Expansão do Ensino Fundamental Em 1992, de todas as crianças entre 7 e 14 anos de idade, localizadas no primeiro decil da renda, que não freqüentavam a escola, 77,8% eram negras e 22,8% eram brancas. Em 2003 esses valores representam 74,4% e 25,6%. Tendo em vista que há uma maior concentração de crianças negras nas camadas mais pobres da população, a proporção de crianças negras excluídas do sistema educacional sofre ainda uma pequena elevação alongo da análise e uma queda no ano de 2003. 17

Expansão do Ensino Fundamental Ou seja, promover a expansão do ensino fundamental, sem ser dada atenção especial a inclusão racial está, na realidade, perpetuando os padrões de desigualdade presentes há décadas no sistema educacional brasileiro. Essa situação é um forte indicador de que políticas de ações afirmativas têm de ser inseridas em todos os níveis do sistema educacional e não apenas no acesso à universidade. 18

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional O sonho de obter um diploma universitário passou a pertencer a todo jovem. Seja ele ou ela branco, negro, rico ou pobre. Muito embora, a aquisição da educação deva ser vista como um fim em si mesmo, ela, em última instância, garante chances melhores no mercado de trabalho. O diploma universitário é, com certeza, o nível educacional que garante o melhor retorno salarial e são nas ocupações as quais exigem tal credencial que repousam os maiores graus de desigualdade de raça e gênero. O Brasil não foge a regra geral. 19

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional Como variável resposta temos que o indivíduo é ou foi universitário ou não. Duas técnicas serão utilizadas: o Modelo de Regressão Logística e a Árvore de Classificação. Além de buscar uma nova abordagem do acesso as oportunidades de acesso ao ensino superior tem se por objetivo avaliar e comparar essas duas técnicas extraindo as informações que cada uma disponibiliza. UNIVERSO: jovens entre 18 e 25 anos de idade os quais já tenham concluído o ensino médio.

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional As Árvores de Classificação, como são chamadas nesse trabalho, também são conhecidas com Árvores de Decisão e Árvores de Resposta. A aplicação das análises são comuns para prever eventos futuros através de redução de dados, detecção de variáveis mais importantes, identificação de interações ao descobrir relações entre subgrupos específicos e, finalmente, a constituição de segmentações, que é objetivo desse estudo através da busca por indivíduos que pertencem a grupos particulares.

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional A intenção de se utilizar o a técnica de Árvores de Decisão também deve ser entenda como uma forma de permitir que os dados tomem um comportamento livre e indique as principais variáveis explicativas as quais irão constituir o modelo causal ( Todas análises foram feitas utilizando o software Answer Tree da SPSS Inc.).

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional Quando uma árvore de classificação está sendo construída, existem dois objetivos técnicos. Primeiramente deseja se obter nós puros, ou seja, subgrupos que sejam o mais homogêneos possível em relação à variável resposta. Como segundo objetivo, tem se a busca por uma classificação dos indivíduos com máxima precisão em relação a inúmeras variáveis.

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional Atualmente existem alguns algoritmos desenvolvidos com o intuito de gerar árvores através de diferentes metodologias. Nesse trabalho faremos uma escolha por um algoritmo específico a partir da possibilidade de três algoritmos dos mais conhecidos, que são: CHAID (Chi Squared Automatic Interaction Detection); QUEST (Quick, Unbiased, Efficient, Statistical Tree). CART ou C&RT (Classification and Regression Trees); Destes, aprofundaremos mais no CART, pois foi o algoritmo escolhido para análise.

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional Sempre que surgir tabelas que analisam a árvore será necessário identificar o nó. Portanto abaixo segue o mapa da árvore. Olhar tabela variáveis utilizadas na análise de Árvores de Classificação.

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional A árvore discriminou de forma satisfatória os universitários e não universitários dentro de cada nó, pois observa se que em quase todas duplas de nós filhos, uma categoria é maioria em um nó e a outra categoria é maioria no outro. Outra conclusão importante é que os resultados da análise de AD está muito próximo do que literatura sociológica recente utiliza nos modelos para analisar as oportunidades de acesso a um determinado nível escolar. Olhar tabela contendo análise de alguns nós

Raça x curso superior 2002 120,00% 100,00% Brancos Negros 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% 52,77% 75,29% 47,23% 24,71% Não Sim

Raça x curso superior 2009

Curso superior x raça 2009

Acesso ao ensino superior no Brasil: desafios para o alcance da equidade educacional (olhar tabela das variáveis utilizadas na Análise de Regressão Logística)

Comparação 2002 x 2009

Consequências da expansão educacional na inserção no mercado de trabalho Dados dos CENSOS de 1980 e 2000 A proporção de negros entre os ocupados de nível de educação superior aumentou muito pouco ao longo destas décadas, passando de cerca de 14% para cerca de 15%. As formações que apresentaram maiores crescimentos são na área de ciências humanas e sociais, onde os negros já apresentavam uma maior participação. Formações que representam maiores níveis de rendimentos, e que os negros têm uma participação menor ao longo da série, como Medicina, Direito, Odontologia, Computação e Arquitetura apresentaram baixos níveis de aumento de participação dos negros e, em alguns casos, até uma diminuição. 35

Proporção de Negros, segundo o Tipo o Curso Superior Concluído, Brasil, 1980 2000 Mostrar tabela... 36

Incompatibilidade entre Curso Superior Concluído e Ocupação, Brasil, 1980 2000 Em que medida as pessoas com uma educação de nível superior estão em ocupações que não exigem tal nível de escolaridade? Isto implica que estamos avaliando como a educação de nível superior se traduz em uma inserção ocupacional compatível. 55% dos negros com educação de nível superior estão em ocupações incompatíveis com este nível, e 33% dos brancos. Em 2000, os brancos continuam no mesmo patamar de incompatibilidade enquanto a proporção dos negros em ocupações incompatíveis com a educação de nível superior cai para cerca de 37%. 37

Na grande maioria das formações, tanto em 1980 quanto em 2000, a incompatibilidade é maior para os negros, podendo ser destacado, por exemplo, os médicos em 2000, em que o diferencial entre negros e brancos é de 82%, já que mais de 10% dos médicos negros não está inserido em uma ocupação compatível com a sua formação. 38

Incompatibilidade entre Curso Superior Concluído e Ocupação, Brasil, 1980 2000 39