COMPOSIÇÃO DE EVENTOS DE DISTÚRBIOS ONDULATÓRIOS DE LESTE SOBRE AS REGIÕES DE ALCÂNTARA E NATAL: CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR

Documentos relacionados
CARACTERIZAÇÃO DE DISTÚRBIOS ONDULATÓRIOS DE LESTE EM ALCÂNTARA: ESTUDO DE CASO

Análise de Distúrbios Ondulatórios de Leste que Afetam o Nordeste Brasileiro: Um Estudo de Caso

ANÁLISE DOS PADRÕES ONDULATÓRIOS DE LESTE NO NORDESTE BRASILEIRO DURANTE O INVERNO DE 1994

EPISÓDIO DE UMA PERTURBAÇÃO ONDULATÓRIA DOS ALÍSIOS NO LITORAL ORIENTAL DO NORDESTE. Raimundo Jaildo dos Anjos 1

EVENTOS DE JATO DE BAIXOS NÍVEIS NA AMÉRICA DO SUL DURANTE OS VERÕES DE 1978 A José Guilherme Martins dos Santos 1 e Tércio Ambrizzi 2

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

ONDAS DE LESTE EM 2009

Variabilidade Intrasazonal da Precipitação da América do sul

ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL

ATUAÇÃO DE UM SISTEMA FRONTAL NA ESTAÇÃO SECA DO NORDESTE DO BRASIL. Lizandro Gemiacki 1, Natalia Fedorova 2

RELAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL SOBRE A OCORRÊNCIA DE SISTEMAS FRONTAIS AUSTRAIS ATUANTES NO BRASIL

ALTA DO ATLÂNTICO SUL E SUA INFLUÊNCIA NA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL

AVALIAÇÃO DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES DE DADOS RESUMO

UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A PRECIPITAÇÃO EM ALAGOAS E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA DE BRISAS MARINHA / TERRESTRE

Vórtices ciclônicos em altos níveis sobre o Nordeste do Brasil

PROCESSOS FÍSICOS ASSOCIADOS À GÊNESE DE UM VCAN ENTRE O OCEANO PACÍFICO E A AMÉRICA DO SUL EM ABRIL DE 2013

Extremos de precipitação mensal sobre a Bacia La Plata e Bacia Amazônica

USO DO ÍNDICE MENSAL DA OSCILAÇÃO ANTÁRTICA PARA AVALIAÇÃO DE ALGUMAS INTERAÇÕES COM A CIRCULAÇÃO TROPOSFÉRICA NA AMÉRICA DO SUL E OCEANOS PRÓXIMOS

ESTUDO CLIMATOLÓGICO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO ATRAVÉS DOS DADOS DE REANÁLISES PARA O ESTADO DE ALAGOAS

Área 1 Área 2 Área 3 Área 4 4. Conclusão 5. Referências Bibliográfias Agradecimentos

INFLUÊNCIA DO ANTICICLONE SUBTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL NOS VENTOS DA AMÉRICA DO SUL

EPISÓDIOS DE CHUVA INTENSA NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS/SC: ANÁLISE PRELIMINAR DOS EVENTOS E CARACTERIZAÇÃO SINÓTICA

Estudo de Caso de Chuvas Intensas em Minas Gerais ocorrido durante período de atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul

Fernando Pereira de Oliveira 1,*, Marcos Daisuke Oyama 2

USO DE ÍNDICES CLIMÁTICOS PARA IDENTIFICAR EVENTOS DE CHUVA EXTREMA NO INTERIOR SEMI-ÁRIDO SUL DO NORDESTE DO BRASIL (NEB)

CLIMATOLOGIA MENSAL DO ANTICICLONE SUBTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL. Universidade Federal de Rondônia Departamento de Geografia

ASPECTOS CLIMÁTICOS DA ATMOSFERA SOBRE A ÁREA DO OCEANO ATLÂNTICO SUL

ATUAÇÃO DO PAR ANTICICLONE DA BOLÍVIA - CAVADO DO NORDESTE NAS CHUVAS EXTREMAS DO NORDESTE DO BRASIL EM 1985 E 1986

AMBIENTE SINÓTICO ASSOCIADO A EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITACÃO NA REGIÃO LITORÂNEA DO NORDESTE DO BRASIL: ANÁLISE PRELIMINAR.

Ondas de leste. As ondas de leste foram descobertas logo após o início da confecção regular de cartas de tempo para a região equatorial (Índia, 1875).

Análise do aquecimento anômalo sobre a América do sul no verão 2009/2010

3. Resultados 4. Conclusão 5. Referências Bibliográfias Agradecimentos

A PRÉ-ESTAÇÃO CHUVOSA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O DIPOLO DO OCEANO ÍNDICO. Anita Rodrigues de Moraes Drumond 1 e Tércio Ambrizzi 1

1. Acompanhamento dos principais sistemas meteorológicos que atuaram. na América do Sul a norte do paralelo 40S no mês de agosto de 2013

A ocorrência de tempo severo sobre o Estado de São Paulo causado pelo vórtice ciclônico em altos níveis: um estudo de caso

FREQUÊNCIA DE LINHAS DE INSTABILIDADE E CONVECÇÃO SOBRE A COSTA NORTE DO BRASIL

Boletim Climatológico Mensal Agosto de 2014

EVENTOS ZCAS NO VERÃO 2005/2006 E SUAS RELAÇÕES COM AS OSCILAÇÕES INTRASAZONAIS

Boletim Climatológico Mensal Dezembro de 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

EVENTOS DE CHUVAS INTENSAS EM PERNAMBUCO DURANTE A ESTAÇÃO CHUVOSA DE FEVEREIRO A MAIO DE 1997: UM ANO DE TRANSIÇÃO

EVENTO EXTREMO DE CHUVA EM CABACEIRAS (PB) EM

RELAÇÕES ENTRE OS PROCESSOS ENOS DE GRANDE ESCALA E PECULIARIDADES DO CLIMA REGIONAL NO SUL DO BRASIL

Boletim Climatológico Mensal Novembro de 2015

Boletim Climatológico Mensal Setembro de 2012

Eventos de Intrusão de alta vorticidade potencial no Atlântico Sul e sua influência sobre a precipitação em áreas do Brasil

Boletim Climatológico Mensal Junho de 2013

Boletim Climatológico Novembro 2017 Região Autónoma dos Açores

Boletim Climatológico Mensal Setembro de 2014

Modulação espacial de episódios de ZCAS durante o verão austral

Boletim Climatológico Mensal Abril de 2013

BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de dezembro de 2006 Número 11

EVENTOS SEVEROS NA AMAZÔNIA: ESTUDO DE CASO DE 2 TEMPORAIS QUE ATINGIRAM A REGIÃO URBANA DE MANAUS NOS DIAS 27 E 29 DE ABRIL DE 2011

A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS A EXTREMOS DE PRODUTIVIDADE DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL.

CLIMASUL ESTUDO DE MUDANÇAS CLIMATICAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL

Boletim Climatológico Mensal Abril de 2015

DOIS EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA NA REGIÃO DA SERRA DO MAR. Serafim Barbosa Sousa Junior 1 Prakki Satyamurty 2

Boletim Climatológico Junho 2017 Região Autónoma dos Açores

1 Universidade Federal de Itajubá

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NO COMPORTAMENTO PLUVIOMÉTRICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO DURANTE O ANO DE 1998

1246 Fortaleza, CE. Palavras-chave: Circulação de brisa, RAMS, modelagem atmosférica.

CASO EXTREMO DE PRECIPITAÇÃO COM OCORRÊNCIA DE DESLIZAMENTO NA SERRA DO MAR

INFORMATIVO CLIMÁTICO

INFORMATIVO CLIMÁTICO

PADRÕES DE TELECONEXÃO ASSOCIADOS A ATIVIDADES CONVECTIVAS NA REGIÃO TROPICAL

Docente da UFPA e Pós Graduação em Ciências Ambientas (PPGCA).

CORRELAÇÃO ENTRE ANOMALIAS DE TSM E TEOR D ÁGUA NA ATMOSFERA SOBRE A AMÉRICA DO SUL

Revista Brasileira de Geografia Física

Boletim Climatológico Mensal Outubro de 2014

et al., 1996) e pelo projeto Objectively Analyzed air-sea Flux (OAFlux) ao longo de um

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Boletim Climatológico Mensal Março de 2012

1 Mestranda (CNPq) do Programa de Pós-graduação em Meteorologia/Universidade Federal de

ESTUDO DE CASO DE UM EVENTO METEOROLÓGICO EXTREMO NO NORDESTE BRASILEIRO ENTRE OS DIAS 15 E 18 DE JULHO DE PARTE II

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ESTUDO CLIMATOLÓGICO DA POSIÇÃO DA ZCIT NO ATLÂNTICO EQUATORIAL E SUA INFLUÊNCIA SOBRE O NORDESTE DO BRASIL

Boletim Climatológico Fevereiro 2019 Região Autónoma dos Açores

Boletim Climatológico Outono de 2010

Boletim Climatológico Mensal Junho de 2011

Boletim Climatológico Mensal Dezembro de 2014

Variabilidade na velocidade do vento na região próxima a Alta da Bolívia e sua relação com a temperatura máxima e mínima no Sul do Brasil

Extremos na Serra do Mar

Boletim Climatológico Mensal Janeiro de 2011

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Estudo da Variação Temporal da Água Precipitável para a Região Tropical da América do Sul

COMO UM MODELO CLIMÁTICO REPRODUZ A CLIMATOLOGIA DA PRECIPITAÇÃO E O IMPACTO DE EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL DA AMÉRICA DO SUL?

MONITORAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) ATRAVÉS DE DADOS DE TEMPERATURA DE BRILHO (TB) E RADIAÇÃO DE ONDA LONGA (ROL)

Desenvolvimento da atividade convectiva organizada pela extremidade da zona frontal, sobre a Região Nordeste do Brasil

A ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL SOBRE O OCEANO ATLÂNTICO: CLIMATOLOGIA

CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS SINÓTICOS QUE PRODUZEM CHUVAS INTENSAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL: UMA ANÁLISE PRELIMINAR RESUMO

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ESTUDO DE CASO DE CHUVA NO RIO DE JANEIRO POR EFEITO DE CIRCULAÇÃO MARÍTIMA. Isabel Lopes Pilotto Domingues Claudine Pereira Dereczynski

Boletim Climatológico Agosto 2017 Região Autónoma dos Açores

INFORMATIVO CLIMÁTICO

COMPARAÇÃO ENTRE A PRECIPITAÇÃO SIMULADA PELO MCGA DO CPTEC/COLA E A RENÁLISE DO NCEP/NCAR E OBSERVAÇÕES

COMPARAÇÃO ENTRE DADOS DE PRECIPITAÇÃO DA REANÁLISE DO NCEP/NCAR E DA PRECIPITAÇÃO OBSERVADA PARA A ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL

Boletim Climatológico Mensal Fevereiro de 2014

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL NO VERÃO E OUTONO DE 1998.

Aline Bilhalva da Silva 1 2, Manoel Alonso Gan 1. 2

Transcrição:

COMPOSIÇÃO DE EVENTOS DE DISTÚRBIOS ONDULATÓRIOS DE LESTE SOBRE AS REGIÕES DE ALCÂNTARA E NATAL: CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR Maria Aparecida Senaubar Alves 1, 2, Marcos Daisuke Oyama 1, Jorge Yamasaki 1 RESUMO. Os distúrbios ondulatórios de leste (DOL) são sistemas de grande escala que atuam na costa norte do Brasil (CNB). Por meio de composição de eventos de DOL que atuaram em JJA de 1996 a 2005, obtiveram-se as características gerais da onda composta sobre duas localidades da CNB: Alcântara (MA, 2º24 S, 44º25 W) e Natal (RN, 5 55 S, 35 10 W). Utilizaram-se dados de Reanálise do NCEP/NCAR. A identificação dos casos de DOL foi feita pela mudança de sinal do vento meridional em hpa. Em média, há 7 eventos de DOL por ano em JJA, e, dos DOL que alcançaram Alcântara, 38% provieram de Natal. Para ambas as localidades, o período médio é de 3-4 dias; a velocidade de fase, de 20 m s -1 ; e o comprimento de onda, de 5500-6500 km. Em jun-jul, somente de 10 a 20% da precipitação, seja em quantidade (mm) ou número de eventos, estaria associada à ação de DOL. As características da onda composta, exceto para convergência atmosférica, são semelhantes em Alcântara e Natal. ABSTRACT. The easterly waves (EW) are an important large scale system for the Northern Coast of Brazil (NCB). The main features of the composite EW for JJA from 1996 to 2005 over two locations in NCB, Alcântara (MA, 2º24 S, 44º25 W) and Natal (RN, 5 55 S, 35 10 W), were studied. NCEP/NCAR Reanalysis data were used. The sign change of the meridional wind at hpa was used to select the EW events. On average, there are 7 EW cases per year in JJA, and it was found that some EW (38%) cross over Natal and reach Alcântara. For both locations, the average period is 3-4 days; the phase velocity, 20 m s -1 ; and the wavelength, 5500-6500 km. In Jun- Jul, only 10-20% of precipitation, either in amount (mm) or number of cases, would be associated with EW. The features of the composite EW, except for atmospheric convergence, are similar to both locations. Palavras-Chave. costa norte do Brasil, onda de leste. INTRODUÇÃO Os Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL), também conhecidos como ondas de leste (easterly waves), são sistemas de grande escala que atuam sobre a costa norte e nordeste da América do Sul (AS) (p.ex., Diedhiou et al., 1999, p.803). Vários estudos, utilizando dados de diferentes fontes [imagens de satélite, radissondagens e (re)análises], investigaram a ação de DOL na costa nordeste da AS (p.ex., Neiva, 1975; Yamazaki e Rao, 1977; Chan, 1990; Espinoza, 1996). Desses estudos, conclui-se que as principais características dos DOL são: período predominante de 3-5 dias (o regime de 6-9 dias seria secundário, o que concorda com Diedhiou et al., 1999), velocidade de propagação em torno 10 m s -1 e comprimento de onda de cerca de 4000 km. Há poucos estudos sobre a ação de DOL sobre a costa norte do Brasil (CNB) (Kagano, 1979; Mota, 1997; Coutinho, 2001; Barbosa, 2005; Alves et al., 2005). Neste trabalho, o objetivo geral é 1 Instituto de Aeronáutica e Espaço, Divisão de Ciências Atmosféricas, Pça Marechal Eduardo Gomes, 50, 12228-904, São José dos Campos, SP. 2 Autora para correspondência. Tel: (12) 3947-4590, Email: cida@iae.cta.br.

investigar as principais características dos DOL sobre duas localidades: Alcântara (MA, 2º24 S, 44º25 W), localizada em uma posição intermediária na CNB, e Natal (RN, 5 55 S, 35 10 W), localizada no extremo leste da CNB. Em ambas as localidades, encontram-se centros de lançamento de foguetes. As características climatológicas dessas duas localidades são semelhantes (Fisch, 1999; Pereira et al., 2002): ventos em baixos níveis predominantemente de leste (alísios); temperatura do ar e umidade relativa com pequena variação sazonal; e precipitação com clara sazonalidade. Em Alcântara (Natal), a estação chuvosa se estende de jan-jun (fev-ago); a seca, de jul-dez (set-jan). Especificamente, abordam-se as seguintes questões: Como seria a onda composta (i.e., obtida por meio de composição de eventos de DOL) sobre Alcântara e Natal para JJA (trimestre que há grande atividade de DOL)? Há DOL que atuam em Alcântara sem passar por Natal? Qual é a relação entre ação de DOL e ocorrência de precipitação? Trabalhos anteriores enfocaram parcialmente essas questões com dados de somente 1 ano (junjul/1994: Mota, 1997; jun-jul/1996: Alves et al., 2005). No presente trabalho, pretende-se ampliar esses resultados com o uso de dados de 10 anos (1996 a 2005). DADOS E METODOLOGIA Para identificar os eventos de DOL e obter a onda composta, utilizam-se dados de Reanálise do National Centers for Environmental Prediction / National Center for Atmospheric Research (Reanálise do NCEP/NCAR; Kalnay et al., 1996) para os meses de jun-ago de 1996 a 2005. Os dados possuem resolução horizontal de 2,5, temporal de 6 h (00, 06, 12 e 18 Z) e vertical de 17 níveis (níveis padrões de 1000 a 10 hpa). Para estudar preliminarmente as relações entre DOL e precipitação, utilizam-se dados de precipitação diária para a América do Sul do Climate Prediction Center / National Oceanic & Atmospheric Administration (http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/precip/realtime/). Os dados possuem resolução espacial de 1. A metodologia de identificação dos casos de DOL segue essencialmente Mota (1997). Utilizase o vento meridional em hpa (V ; Diedhiou et al., 1999). Elaboram-se diagramas do tipo Hovmoller, que são seções bidimensionais de tempo versus longitude, para as latitudes de 2,5 S e 5,0 S. Considera-se que o ponto de grade em 2,5 S, 50 W (5,0 S, 35 W) corresponde a Alcântara (Natal). Para Alcântara (Natal), identifica-se um evento de DOL quando V passa de positivo para zero na longitude de 50 W (35 W) no diagrama de Hovmoller de 2,5 S (5,0 S). A propagação de DOL (de leste para oeste) é obtida acompanhando a linha de zero do vento entre as longitudes de 20 W a 40 W. Para uma dada localidade (Alcântara ou Natal):

Uma vez identificado um evento de DOL, divide-se o evento em 7 categorias utilizando a série temporal de V para o ponto de grade correspondente à localidade. Nenhum tratamento (p.ex., filtragem) é realizado na série temporal. A categoria 2 indica valor positivo de maior magnitude de V ; 4, V igual a zero (eixo do cavado); e 6, valor negativo de maior magnitude de V. As categorias 1, 3, 5, e 7 correspondem as posições intermediárias da passagem do DOL. Então, obtêm-se os parâmetros da onda. A velocidade de fase (c) é obtida pela inclinação da isolinha de V igual a zero no diagrama Hovmoller; o período (T), como a duração do evento estimada por meio da série temporal de V ; e o comprimento de onda (L), pela relação L = c T. Por fim, obtém-se a precipitação associada ao evento de DOL. Uma vez obtidos todos os eventos de DOL, gera-se a onda composta por meio da média dos perfis em cada categoria. A média é feita inicialmente para cada ano (onda composta anual) e, então, para os 10 anos, ponderando cada onda composta anual pelo número de casos. Para cada mês, anotam-se os dias de chuva em que ocorre passagem de DOL. Com isso, obtêmse a fração de dias de chuva e a fração da precipitação mensal associada a DOL. Os dias de chuva são definidos como aqueles em que a precipitação diária é superior a 2 mm [com esse limiar, o número mensal de dias com chuva é próximo do observado (Cf. Pereira et al., 2002).] RESULTADOS Características gerais dos DOL Para Alcântara (Natal), encontram-se 67 (71) eventos de DOL em JJA de 1996 a 2005 (Tabela 1). Em média, há cerca de 7 eventos por ano em JJA, mas há considerável variabilidade interanual. Em 38% dos casos em Alcântara, os DOL passaram por Natal e chegaram a Alcântara. Isso sugere que pode haver 2 caminhos (tracks) de propagação de DOL na América do Sul: um, mais ao norte, passando por Alcântara; e outro, mais ao sul, passando por Natal. Esses dois caminhos sugeridos não são encontrados em Diedhiou et al. (1999). Para Alcântara (Natal), o período médio é de 3 (4) dias; a velocidade de fase, em torno de 14,8 (17 ) de longitude por dia; e o comprimento de onda, de cerca de 49 (63 ) de longitude. Logo, as características em Alcântara e Natal são semelhantes entre si e concordam com os encontrados na literatura (Neiva, 1975; Yamazaki e Rao, 1977; Kagano, 1979; Chan,1990; Espinoza, 1996; Mota, 1997; Coutinho, 2001; Barbosa, 2005). Para Alcântara (Natal), nos meses de jun-jul, a precipitação associada a DOL é cerca de 15-16% (10-11%) do total mensal de precipitação, e cerca de 14% (15-19%) do total de dias de precipitação está associada a DOL. Portanto, em jun-jul, para a CNB, somente de 10 a 20% da precipitação seja em quantidade (mm) ou número de eventos estaria associada à ação de DOL.

Tabela 1 Número de eventos de DOL em Natal (N), Alcântara (A) e que passam por Natal e chegam a Alcântara (N A) de 1996 a 2005. ano 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 total N 16 7 4 6 7 5 6 6 10 4 71 A 9 7 4 6 7 5 4 13 7 5 67 N A 3 3 2 4 2 3 1 3 2 1 26 Onda composta As características da onda composta estão resumidas na Tabela 2. Exceto para a convergência atmosférica, as características (para vento e vorticidade) são semelhantes em Alcântara e Natal. Um aspecto a ser destacado é a ocorrência de divergência atmosférica em baixos níveis sobre Alcântara para todas as categorias. Isso contradiz a noção de que DOL estariam associados a precipitação e tempestades. Uma investigação mais detalhada sobre essa contradição será objeto de trabalhos futuros. Variável Vento meridional (Fig. 1) Tabela 2 Características da onda composta. O sombreado indica característica comum a Alcântara e Natal. Nível (hpa) 200 Vento zonal (Fig. 2) 200 Vorticidade (Fig. 3) Divergência (Fig. 4) 250 500 Alcântara Núcleos positivos na categoria 2 e negativos na categoria 6 (o que decorre da metodologia utilizada). Negativo antes e depois da passagem do DOL. Vento zonal negativo em todas as categorias. Vento zonal positivo em todas as categorias. Máxima vorticidade ciclônica nas categorias 3 e 4 (o que decorre da metodologia utilizada). Vorticidade anticiclônica em todas as categorias. Divergência em todas as categorias com núcleo nas categorias 2 e 6. Divergência em todas as categorias, menos na categoria 1 e 6. Natal.. Divergência na categoria 2 e 3 e convergência nas categorias1, 4, 5 e 6. Convergência na categoria 1 a 5, divergência nas demais categorias. 300 Convergência em todas categorias 200 Divergência em todas categorias

(a) Fig. 1 Perfil de vento meridional (m s -1 ) da onda composta. No eixo horizontal, 1 a 7 representam as categorias. Eixo vertical em hpa. (a) Alcântara; Natal. (a) Fig. 2 Igual à Fig. 1, mas para vento zonal (m s -1 ). (a) Fig. 3 Igual à Fig. 1, mas para vorticidade (10-6 s -1 ). (a) Fig. 4 Igual à Fig. 1, mas para divergência (10-6 s -1 ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS As características gerais da onda composta sobre Alcântara e Natal foram obtidas com dados de 10 anos da Reanálise do NCEP/NCAR. Preliminarmente, obteve-se que somente de 10 a 20% da precipitação em jun-jul na CNB estaria associada a DOL. Para trabalhos futuros, pretende-se estender o período de análise para 25 anos, bem como incluir outras fontes de dados (p.ex., precipitação observada) e refinar a metodologia de identificação de eventos de DOL. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves, M.A.S. et al. Distúrbios Ondulatórios de Leste sobre a Região da Alcântara, Maranhão, Brasil:Estudo Preliminar.III Congresso Cubano de Meteorologia, SOMETECUBA, Havana-Cuba, 2005. Barbosa, R.L. Interação das Perturbações Convectivas Iniciadas na Costa Norte do Brasil com os Distúrbios Ondulatórios de Leste. Dissertação de mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2005. Chan, S.C. Análise de Distúrbios Ondulatórios de Leste sobre o Oceano Atlântico Tropical Sul. Dissertação de mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1990. Coutinho, E.C. Estudo das Características Atmosféricas na Região do Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara (CLA). Dissertação de mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2001. Diedhiou, A. et al. Easterly Wave Regimes and Associated Convection over West Africa and Tropical Atlantic: Results from the NCEP/NCAR and ECMWF reanalyses. Climate Dyn., v.15, p.795-822, 1999. Espinoza, E.S. Distúrbios nos Ventos de Leste no Atlântico Tropical. Dissertação de mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1996. Fisch, G.F. Características do Perfil Vertical do Vento no Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara (CLA). Rev. Bras. Meteor., v.14, p.11-21, 1999. Kagano, M.T. Um Estudo Climatológico e Sinótico Utilizando dados e Radiossodagem (1968-1976) de Manaus e Belém. Dissertação de mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1979. Kalnay, E. et al. The NCEP/NCAR 40-Year Reanalysis Project. Bull. Amer. Meteor. Soc., v.77, n.3, p.437-472, 1996. Mota, G.V. Estudo Observacional de Distúrbios Ondulatórios de Leste no Nordeste Brasileiro. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, 1997. Neiva, E.J.F. An Investigation of Wave-Type Disturbances Over the Tropical South Atlantic Ocean. MSc Thesis. Naval Post Graduate School, 1975. Pereira, E.I. et al. Atlas Climatológico do Centro de Lançamento de Alcântara. Relatório de desenvolvimento. Centro Técnico Aeroespacial, 2002. Yamazaki, Y.; Rao, V.B. Tropical Cloudiness over South Atlantic Ocean. J. Meteor. Soc. Japan, v.55, p.204-207, 1977.