Ana Christina Romano Mascarenhas

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Transcrição:

XXII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétri SENDI 2016-07 a 10 de novembro Curitiba - PR - Brasil Daniel Sarmento de Freitas Neoenergia S.A. Ana Christina Romano Mascarenhas Neoenergia S.A. Marcelo Pinho Almeida Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e Energia daniel.sarmento@neoenergia.com acmascarenhas@neoenergia.com marcelopa@iee.usp.br Análise de Impactos na Integração de Usinas Fotovoltaicas ao Sistema Elétrico Isolado da Ilha de Fernando de Noronha Palavras-chave Consumo Específico de Diesel Eficiência Energética Sistema Isolado Solar Fotovoltaica Resumo Este presente trabalho tem como objetivo apresentar o impacto a inserção de energia fotovoltaica no sistema elétrico isolado da ilha de Fernando de Noronha. A geração solar fotovoltaica foi inserida na ilha no contexto do Programa de Eficiência Energética da Companhia Energética de Pernambuco CELPE, regulado pela ANEEL, por meio de duas usinas que totalizam uma potência de 953,58 kwp. Ambas estão conectadas à rede elétrica da concessionária no âmbito da Resolução Normativa 482/2012 e geram aproximadamente 9% da energia consumida na ilha. Além dos benefícios econômicos e ambientais, os projetos também foram motivados pela importância de estudar o impacto da geração solar fotovoltaica na operação da Usina Termelétrica Tubarão. Os estudos analisaram os impactos da integração das usinas fotovoltaicas no sistema elétrico isolado da ilha com intuito de avaliar a necessidade de implementar soluções de armazenamento de energia e também analisaram o impacto da referida integração no consumo específico de biodiesel. O convívio dos sistemas depende de pequenos ajustes na forma de operar os geradores do sistema isolado e pode contribuir em alguns momentos para a redução da eficiência dos geradores térmicos, mas garante os benefícios econômicos e ambientais com a redução do consumo absoluto do combustível fóssil. 1/11

1. Introdução Fernando de Noronha é a maior das 21 ilhas que compõem o Arquipélago de Fernando de Noronha, pertencente ao Estado de Pernambuco. A ilha possui 17 km² e uma população de aproximadamente 3.500 pessoas que vivem basicamente do turismo e das atividades de pesquisa e preservação relacionadas ao Parque Nacional Marinho. O consumo anual de energia elétrica é de cerca de 16 GWh, e o de combustível é de aproximadamente 4,5 milhões de litros. Até meados de 2014, a ilha foi alimentada exclusivamente pela usina termelétrica Tubarão, equipada com 5 grupos geradores Diesel com uma capacidade total de 5,88 MW. Com o objetivo de reduzir o consumo de Diesel e propiciar uma matriz elétrica mais sustentável para a ilha de Fernando de Noronha, a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), através de projetos ligados ao seu Programa de Eficiência Energética e em parceria com o Governo Alemão por meio da Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), promoveu a instalação de duas usinas fotovoltaicas: Noronha I, de 402,8 kwp, e Noronha II, de 550,8 kwp, que entraram em operação em julho de 2014 e julho de 2015, respectivamente. Para preservar a qualidade do fornecimento de eletricidade, a integração das usinas fotovoltaicas deve atender a alguns requisitos técnicos, como a manutenção da estabilidade da frequência, preservando a capacidade de regulação da potência ativa mesmo durante flutuações da geração fotovoltaica devido a passagem de nuvens. Isto requer, em primeiro lugar, que os grupos geradores Diesel operem sempre acima de certo limiar de carga (?30%) e, além disso, que exista reserva primária suficiente na forma de reserva girante nos grupos geradores Diesel ou na forma de energia disponível em um sistema de armazenamento (uma bateria, por exemplo) para absorver variações da demanda e/ou da geração fotovoltaica. Além disso, o consumo específico dos grupos geradores Diesel, em L/kWh, cresce na medida em que o seu carregamento diminui. Por exemplo, o consumo específico pode aumentar de 0,26 L/kWh para 0,36 L/kWh quando o carregamento diminui de 80% para 30%. Isto significa que, quando a geração fotovoltaica é adicionada ao sistema, a redução do consumo de combustível é geralmente inferior à redução correspondente unicamente à energia que deixou de ser fornecida pelos grupos geradores Diesel. Assim, estudar os aspectos técnicos da integração da geração fotovoltaica a um sistema elétrico preexistente alimentado por grupos geradores Diesel requer, por um lado, uma análise dinâmica do comportamento do sistema (fluxos de potência, eventos dinâmicos, como a perda súbita de uma usina fotovoltaica etc.) e, por outro lado, um estudo do balanço energético, incluindo o consumo de combustível. Ambas as análises podem ser feitas considerando tanto a variação da penetração fotovoltaica, como uma possível inclusão de um sistema de armazenamento de energia. Atualmente há muita experiência acumulada com grupos geradores Diesel e com usinas fotovoltaicas operando de forma independente, mas o mesmo não é válido quando se trata de sistemas que combinam ambas as tecnologias. Sistemas híbridos deste tipo em funcionamento, com mais de 1 MW, são raros. No entanto, muitos estudos concordam que o mercado em potencial para estes sistemas é muito grande, pois há mais de 500 GW de grupos geradores Diesel em funcionamento no mundo com um custo de geração elevado (maior que 0,5 US$/kWh), de maneira que a integração da geração fotovoltaica é, em muitos casos, rentável. Neste contexto, o caso da ilha de Fernando de Noronha se torna um paradigma, de modo que o que for aprendido aqui pode ser útil em diversos lugares, como, por exemplo, nas centenas de sistemas isolados alimentados por grupos geradores Diesel na Amazônia. O estudo dos aspectos técnicos deve ser complementado com o estudo dos aspectos regulatórios, que são igualmente importantes. Em Fernando de Noronha há diferentes atores envolvidos na geração e distribuição de eletricidade: a CELPE, proprietária da rede de distribuição e da usina termelétrica Tubarão, o Comando da Aeronáutica, beneficiário da 2/11

usina fotovoltaica Noronha I, e o Governo do Estado de Pernambuco, beneficiário da usina fotovoltaica Noronha II. O quadro regulatório também é diversificado: a Lei nº 12.111/2009, marco legal que regulamenta o subsídio à geração de eletricidade em locais isolados, a Resolução Normativa Nº 427/2011, que estabelece os procedimentos para planejamento, formação, processamento e gerenciamento da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que se reflete no contrato de operação da usina termelétrica em termos que visam minimizar o consumo específico, e a Resolução Normativa Nº 482/2012, que estabelece o sistema de compensação de energia, de maneira que qualquer limitação na geração fotovoltaica seja indesejada para os beneficiários das usinas fotovoltaicas. Este cenário de atores e regulamentações diversos encerra interesses conflitantes e situações por vezes paradoxais. Por exemplo, aumentar a penetração fotovoltaica, por um lado, reduz a quantidade total de combustível (redução de custos e de impacto ambiental), mas, por outro, aumenta o consumo específico dos grupos geradores Diesel (redução de subsídios). Esta foi precisamente a razão que levou o operador da usina termelétrica Tubarão a solicitar eventualmente o desligamento de metade da usina fotovoltaica Noronha II: a estratégia de operação da usina termelétrica (pelo menos dois grupos geradores Diesel operando durante todo o dia e um terceiro durante o horário de pico, quando necessário) foi estabelecida antes da instalação das usinas fotovoltaicas, para que o carregamento fosse mantido, sempre que possível, entre 60% e 80% (Figura 1), assegurando tanto um consumo específico dentro dos limites estabelecidos por regulação específica, como uma reserva primária adequada para acomodar variações da demanda. Com a entrada em operação da primeira usina fotovoltaica (Noronha I), o carregamento dos grupos geradores Diesel reduziu ligeiramente, mas ainda se manteve na faixa entre 60% e 80%. Já a entrada em operação da segunda usina fotovoltaica (Noronha II) reduziu ainda mais o carregamento dos grupos geradores Diesel, ao ponto de mantê-lo inferior a 60% por várias horas ao dia. Para evitar este cenário, os operadores da usina termelétrica decidiram solicitar o desligamento de metade da usina fotovoltaica Noronha II, situação que persistiu até março de 2016 e fez com que o consumo total de combustível fosse cerca de 2,5% maior do que poderia ser. Figura 1 Simulação da evolução do carregamento de dois grupos geradores Diesel operando simultaneamente com diferentes níveis de penetração fotovoltaica para o dia 01 de janeiro. Manter o carregamento dos grupos geradores Diesel acima de 60%, o que era uma premissa razoável quando se trabalha isoladamente, leva ao desperdício de cerca de 100.000 litros de Diesel ao ano desde o momento em que houve a limitação de 50% da capacidade de geração da usina fotovoltaica Noronha II. Isto não está relacionado com qualquer aspecto técnico (grupos geradores Diesel podem operar sem problemas com carregamento inferior a 60%), mas sim com o quadro regulatório vigente, de maneira que a promoção de sistemas híbridos (Diesel-FV) na matriz elétrica brasileira claramente demanda ajustes neste quadro. Além disso, a integração da geração fotovoltaica em Fernando de Noronha traz benefícios ambientais e econômicos, mas o baixo preço a que é vendida a energia elétrica na 3/11

ilha, devido à isenção do ICMS, incentiva o consumo ineficiente. As usinas fotovoltaicas foram instaladas no âmbito do Programa de Eficiência Energética da CELPE e ambos os projetos incluíram estudos do impacto correspondente no sistema elétrico da ilha. O primeiro, realizado pela empresa alemã Younicos AG, concluiu que a inclusão do sistema fotovoltaico [de 400 kwp] não afetará a atual operação dos geradores a diesel, porém alertou que ter mais 500 kwp de planta fotovoltaica instalada oferece novas possibilidades e carrega novos riscos para a estratégia de operação da rede (Relatório Younicos Y128-263, de 28/09/2012). O que foi descrito anteriormente dá razão a esta conclusão. Por sua vez, na introdução da segunda usina fotovoltaica (Noronha II), foi realizada uma parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), cujos trabalhos foram coordenados pelo Professor Roberto Zilles, e com o Instituto de Energia Solar da Universidade Politécnica de Madrid (IES-UPM), coordenado pelo Professor Eduardo Lorenzo. No escopo desta cooperação, além das atividades relacionadas às etapas de especificação técnica e implantação do sistema, foi desenvolvido um estudo de conexão da usina à rede elétrica isolada da CELPE, cujo objetivo consiste em analisar os impactos da conexão e propor eventuais soluções para integrar os sistemas de forma otimizada. Os resultados e relatórios desse estudo dão origem a este trabalho. Os sistemas foram integrados sem equipamentos acessórios de armazenamento e controle, gerando impacto na operação da UTE Tubarão, mais especificamente, no consumo específico dos grupos gerados Diesel. O convívio dos sistemas depende de pequenos ajustes na forma de operar a térmica e, mesmo contribuindo em alguns momentos para a redução da eficiência dos geradores térmicos, garante os benefícios econômicos e ambientais com a redução do consumo absoluto do combustível fóssil. 2. Desenvolvimento 2.1 Descrição dos Sistemas O sistema elétrico da ilha de Fernando de Noronha é formado por uma usina termelétrica, duas usinas fotovoltaicas e uma rede de distribuição composta por três alimentadores em MT e diversos alimentadores em BT com seus respectivos transformadores MT/BT. A usina termelétrica Tubarão possui 5 grupos geradores Diesel trifásicos (totalizando 7,35 MVA, ou 5,88 MW) e um banco de capacitores de 0,3 Mvar, também trifásico. A Figura 2 apresenta o diagrama unifilar da usina. 4/11

Figura 2 Diagrama unifilar da usina termelétrica Tubarão A usina fotovoltaica Noronha I possui 1.644 módulos Yingli YL245P-29b policristalinos de 245 Wp (totalizando 402,78 kwp), divididos em 74 séries, sendo 66 de 22 módulos e 8 de 24 módulos, distribuídos em 13 inversores Power-One TRIO-27.6-TL-OUTD-S2X-400, de 27,6 kw nominais e 30 kw máximos. A usina está em operação oficialmente desde 18 de julho de 2014. A usina fotovoltaica Noronha II possui 1.836 módulos Yingli YL300P-35b policristalinos de 300 Wp (totalizando 550,8 kwp), divididos em 108 séries de 17 módulos cada, distribuídos em 18 inversores Power-One TRIO-27.6-TL-OUTD-S2X- 400, de 27,6 kw nominais e 30 kw máximos. A usina está em operação oficialmente desde 10 de julho de 2015. A Figura 3 apresenta imagens aéreas das duas usinas fotovoltaicas e a Tabela 1 mostra um resumo das características elétricas nominais das duas usinas fotovoltaicas existentes na ilha de Fernando de Noronha. Figura 3 Vista aérea das Usinas Solares Noronha I e Noronha II Tabela 1 Resumo das características elétricas das usinas fotovoltaicas. As Usinas Solares Noronha I e II somadas respondem por cerca de 9% da energia elétrica consumida na ilha. Nos dois projetos, foram investidos cerca de R$ 9 milhões. Considerando apenas os custos com aquisição e transporte do combustível da UTE Tubarão, a redução de consumo de Diesel provocada pela operação das usinas solares gera uma economia anual da ordem de R$ 1,5 milhão. 2.2 Simulações O objetivo do estudo realizado pelos IEE-USP e IES-UPM consistiu em analisar os impactos da conexão das usinas fotovoltaicas Noronha I e Noronha II à rede elétrica da ilha de Fernando de Noronha, considerando: Análise do fluxo de potência e das correntes de curto-circuito Foram analisados fluxos de potência e correntes de curto-circuito para diferentes cenários de operação (situações mais 5/11

críticas). Os resultados obtidos permitiram avaliar os impactos da usina Noronha II nas tensões e nas correntes de curtocircuito em alguns pontos da rede de distribuição, bem como analisar as correntes de curto-circuito em função no número de grupos geradores Diesel em operação. Simulação de eventos dinâmicos O comportamento dinâmico da rede foi avaliado para diferentes cenários de faltas com e sem a integração das usinas fotovoltaicas. Os eventos simulados foram curto-circuitos trifásicos (por alimentador, na saída da usina termelétrica) e perda súbita da geração fotovoltaica (ambas as usinas) ou de alimentadores. Avaliação do nível de penetração da geração fotovoltaica Foi realizada uma análise, hora a hora, do balanço energético do sistema elétrico da ilha considerando diferentes níveis de penetração fotovoltaica. Com os resultados obtidos foi possível avaliar o carregamento dos grupos geradores Diesel e os seus respectivos consumos específicos, bem como verificar se não há momentos em que a demanda possa ser inferior à geração fotovoltaica. Estudo de estratégias de integração eficiente das usinas Noronha I e Noronha II Partindo dos resultados obtidos nos objetivos anteriores, foi avaliada a opção mais adequada para a integração segura e eficiente das usinas fotovoltaicas ao sistema elétrico de Fernando de Noronha. O estudo considerou, também, um possível aumento da penetração da geração fotovoltaica, limitação da geração fotovoltaica por meio do desligamento de inversores e uso de sistema de acumulação de energia para reduzir as perdas decorrentes dessa limitação ou permitir que o sistema opere por algumas horas com apenas um grupo gerador Diesel. O estudo realizado baseou-se em dois tipos de simulações que utilizam ferramentas distintas. A dinâmica do comportamento elétrico do sistema foi implementada no PowerFactory, programa de simulação comercial utilizado para abordar as análises os dois primeiros itens definidos no objetivo do projeto. Já o balanço energético e as estratégias de integração das usinas fotovoltaicas, abordagem principal deste trabalho, foram simulados com um programa desenvolvido especificamente para este fim no ambiente SIMULINK /MATLAB. Os dados de entrada necessários para as simulações foram obtidos das folhas de características técnicas dos diferentes equipamentos que operam na ilha (grupos geradores Diesel, módulos fotovoltaicos, inversores, etc.), dos relatórios técnicos fornecidos pela CELPE, dos registros de operação da usina termelétrica (demanda horária) entre 2010 e 2015 e, finalmente, dos registros históricos de uma estação meteorológica (irradiação e temperatura ambiente média em três horas) da Rede SINDA (Sistema Integrado de Dados Ambientais) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre 2002 e 2013. As simulações foram realizadas com base na situação atual (usina termelétrica e usinas fotovoltaicas sem sistema de acumulação de energia), e, também, considerando outras possibilidades futuras, combinando diferentes cenários de penetração fotovoltaica e a presença ou ausência de um sistema de acumulação de energia. Foram utilizados os modelos nativos do programa de simulação PowerFactory v.15.2.3, da DIgSILENT, para representar os diferentes elementos da rede nas simulações: grupo gerador Diesel, transformador, linha de transmissão, usina fotovoltaica e carga. Para realizar as simulações de balanço energético, utilizou-se um programa desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos do IEE-USP em ambiente SIMULINK /MATLAB que calcula a participação da geração com grupos geradores Diesel e a contribuição de um sistema de acumulação de energia com base na demanda e na geração fotovoltaica. A Figura 4 mostra o diagrama geral do programa. 6/11

Figura 4 Diagrama geral do programa de simulação implementado em SIMULINK /MATLAB (onde PD demanda, P FV geração fotovoltaica, PGD geração Diesel e PB contribuição do sistema de acumulação de energia). O bloco de controle é responsável por calcular a contribuição (positiva ou negativa) do sistema de acumulação de energia (PB) e desligar ou acender grupos geradores Diesel e inversores fotovoltaicos. Além disso, são calculados o consumo específico (L/kWh) e o consumo total (L) dos grupos geradores Diesel. Os dados de entrada de demanda (PD) foram obtidos estimando a curva de carga para 2016 com o seguinte procedimento: Normalização das curvas de carga dos 6 anos disponíveis na base de dados com os valores de demanda máxima diária; Cálculo da curva de carga normalizada para 2016 através da média aritmética simples, hora-a-hora, das 6 curvas de carga normalizadas obtidas no passo anterior; Extrapolação da demanda máxima diária, dia-a-dia, para 2016 através de regressão linear; Desnormalização da curva de carga estimada para 2016, dia-a-dia, com os valores de demanda máxima diária obtidos no passo anterior. O resultado do procedimento é a curva de carga estimada para 2016 com resolução horária. A Figura 18 mostra os limites máximo e mínimo diários dessa curva. Percebe-se que, ao longo do ano, a demanda permanece predominantemente entre 1.600 kw e 2.400 kw. Considerando um fator de potência de 0,92, a demanda permanece entre 1.700 kva e 2.600 kva. Considerando a potência nominal dos grupos geradores Diesel de maior porte (1.608 kva) e que pelo menos dois desses grupos geradores Diesel permanecem sempre ligados, o carregamento ao longo do ano permanece a maior parte do tempo entre 50% e 80%, aproximadamente. 7/11

Figura 5 Máximos e mínimos diários da curva de carga estimada para 2016. Os perfis anuais de geração das usinas fotovoltaicas foram calculados a partir dos valores de irradiação e temperatura ambiente obtidos de uma estação meteorológica da rede SINDA (Sistema Integrado de Dados Ambientais) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), identificada com o ID 32564, existente na ilha de Fernando de Noronha. Como a ilha é relativamente pequena (a título ilustrativo, poderia ser circunscrita por uma circunferência de 4,5 km de raio), considerou-se que as medições da estação meteorológica são validas diretamente para qualquer local na ilha. 2.3 Análise do fluxo de potência e das correntes de curto-circuito Com o PowerFactory, foram executados fluxos de potência para diferentes cenários operacionais e também considerando: a) Tensão em regime permanente com demanda máxima b) Tensão em regime permanente com demanda mínima c) Perfis de tensão em regime permanente d) Correntes de curto-circuito A principal preocupação em relação à tensão em regime permanente na rede de distribuição da ilha de Fernando de Noronha em relação às usinas fotovoltaicas é a possibilidade de elas provocarem a elevação da tensão acima de valores toleráveis. Analisando os resultados encontrados nos itens a) e b), percebe-se claramente que, em nenhuma das situações apresentadas, a tensão no final do alimentador é superior à do início, que corresponde à tensão no barramento principal da usina termelétrica Tubarão. Diante do que foi verificado, pode-se afirmar que as usinas fotovoltaicas Noronha I e Noronha II não provocam elevação prejudicial das tensões de regime, não impondo a troca de cabos e/ou medidas adicionais de controle da tensão, como, por exemplo, controle do fluxo de reativos. Em relação às correntes de curto-circuito, as usinas fotovoltaicas não contribuem de forma significativa. Em média, elas provocam um aumento de 4,6% quando há três grupos geradores em operação e de 7,6% quando há apenas dois. Observa-se, também, que a contribuição das usinas fotovoltaicas para as correntes de curto-circuito é sempre positiva. Como não há alterações significativas nas correntes de curto-circuito, os ajustes das proteções puderam ser mantidos com a entrada das usinas Noronha I e Noronha II em operação. Sobre as simulações de eventos dinâmicos, utilizando o programa PowerFactory, de maneira geral, observa-se que os 8/11

grupos geradores Diesel foram capazes de manter a operação estável após todos os eventos simulados. Considerando que esse comportamento era o esperado quando não há geração fotovoltaica, pode-se afirmar que as usinas fotovoltaicas não põem em risco a estabilidade do sistema elétrico durante eventos dinâmicos, considerando que há grupos geradores Diesel suficientes para atender à demanda nos casos em que há perda total ou parcial da geração fotovoltaica. Além disso, observa-se que, em alguns casos, a existência das usinas fotovoltaicas inclusive reduz os impactos dos eventos. 2.4 Análise da integração das usinas Noronha I e Noronha II A ilha de Fernando de Noronha, onde a penetração fotovoltaica ultrapassa os 37% (potência nominal das usinas fotovoltaicas em relação à potência de dois grupos geradores Diesel de 1.286 kw nominais), é um exemplo de sistema elétrico onde poderia existir dificuldades na integração da geração fotovoltaica. Do ponto de vista energético, os principais problemas que poderiam ocorrer são: geração fotovoltaica em excesso, exigindo a limitação da potência de saída das usinas fotovoltaicas, e aumento do consumo específico dos grupos geradores Diesel, mesmo que acompanhado da redução da quantidade absoluta de Diesel utilizada. Para estudar a integração das usinas fotovoltaicas, do ponto de vista energético, os balanços energéticos foram simulados utilizado o programa descrito no Item 2.2, tendo como dados de entrada a demanda estimada para janeiro de 2016 e a geração fotovoltaica deste mesmo período. Uma análise dos perfis de demanda e geração fotovoltaica permite concluir que não há diferenças significativas entre os meses do ano, de maneira que as conclusões obtidas para janeiro podem ser generalizadas para os demais. O comportamento do sistema elétrico sem a presença de geração fotovoltaica foi considerado como caso base deste estudo de integração, pois indica os níveis de carregamento máximo e mínimo e o valor de consumo específico de referência, sendo possível, dessa forma, avaliar o impacto de um gradual aumento da penetração fotovoltaica. A partir do caso base, diversas simulações foram realizadas com diferentes níveis de penetração fotovoltaica, baseados na operação das Usinas Noronha I e II e possível ampliação futura. Além disso, para alguns níveis de penetração fotovoltaica foram avaliadas três estratégias de gestão de inversores e grupos geradores Diesel. Os resultados obtidos nas simulações estão resumidos na Tabela 2. Além do consumo específico da usina termelétrica, calculou-se também o consumo específico considerando toda a energia gerada, denominado aqui, por falta de termo melhor, de consumo específico global (razão entre os litros de combustível consumidos pelos grupos geradores Diesel e a energia total que é gerada no sistema). Tabela 2 Resumo das simulações com diferentes níveis de penetração fotovoltaica e estratégias de gestão. 9/11

Observa-se que, quando nenhuma estratégia de gestão é utilizada, na medida em que a penetração fotovoltaica cresce, o consumo específico aumenta em decorrência dos grupos geradores operarem com valores de carregamento cada vez menores, apesar do consumo absoluto de Diesel diminuir. O consumo específico global, por outro lado, diminui a uma taxa absoluta superior à do decrescimento do consumo específico. Estratégias de limitação da geração fotovoltaica (EG1) permitem reduzir o consumo específico, porém podem provocar perdas elevadas de geração fotovoltaica. Nas simulações realizadas, apenas a partir de 30% de carregamento mínimo a limitação é muito pequena ou até mesmo nula, porém, neste caso, a existência da estratégia EG1 perde o sentido. A estratégia EG2 permite reduzir o consumo específico na medida em que possibilita que apenas um grupo gerador Diesel permaneça em operação, o que permite operar a geração térmica com níveis de carregamento mais elevados. No entanto, faz-se necessária a existência de um sistema de acumulação de energia de grande porte, não só para garantir reserva primária ao sistema, como também para absorver as flutuações da geração fotovoltaica. A estratégia EG3 ajuda a reduzir as perdas da geração fotovoltaica devido a limitação, porém é necessário um sistema de acumulação de energia de grande porte para que o resultado seja apreciável. Além disso, utilizar um sistema de acumulação de energia de pequeno ou de grande porte não altera significativamente o consumo específico, ou seja, a 10/11

vantagem do sistema de acumulação de energia, neste caso, está intimamente relacionada com os beneficiários das usinas fotovoltaicas. Finalmente, analisando o consumo específico global, observa-se que ele possui um comportamento inverso ao do consumo específico em todas as situações simuladas. Dessa forma, estudar novas formas de avaliar o rendimento de sistemas elétricos híbridos Diesel-FV oriundos de sistemas exclusivamente térmicos no passado é imperativo para estimular a geração com a fonte solar. A experiência adquirida com as usinas Noronha I e Noronha II prova que é possível, e certamente desejável, aumentar o nível da penetração fotovoltaica na ilha de Fernando de Noronha. É fácil perceber que, em sistemas elétricos concebidos para operar unicamente com geração térmica, a inserção de geração fotovoltaica provoca o aumento do consumo específico. Contudo, se toda a geração relacionada com o sistema for considerada, o resultado é o consumo específico global, que, por sua vez, reduz na medida em que mais geração fotovoltaica é adicionada ao sistema, assim como acontece com o consumo absoluto de Diesel. Dessa forma, é necessário que o atual cenário regulatório mude para permitir que os operadores de sistemas isolados, que no passado operavam apenas com geração térmica, permitam, e até mesmo incentivem, a geração fotovoltaica (e o mesmo é válido para outras fontes renováveis), sem sofrer com restrições de benefícios, no caso aqueles vinculados à CCC. 3. Conclusões As principais conclusões dos estudos e das análises realizadas são resumidas a seguir: a) As usinas fotovoltaicas Noronha I e Noronha II, mesmo operando em conjunto, não provocam alterações prejudiciais nas tensões em regime da rede de distribuição, e tampouco nas correntes de curto-circuito. No momento, em decorrência da integração das usinas fotovoltaicas, nenhuma ação é necessária no que diz respeito a medidas de controle de tensão e configurações dos dispositivos de proteção. b) Noronha I e Noronha II não representam risco adicional à estabilidade do sistema elétrico de Fernando de Noronha. Ao contrário, há situações em que podem contribuir para a redução dos impactos de eventos como curto-circuitos trifásicos e perda súbita de alimentadores. c) A regulação vigente dá suporte à geração térmica para sistemas isolados (via CCC), porém não leva em consideração uma possível inserção de geração fotovoltaica nestes sistemas, o que desestimula este tipo de geração na medida em que há uma necessidade de manter o consumo específico abaixo de um valor pré-determinado. d) São necessários ajustes na regulação vigente, de modo que sistemas elétricos híbridos Diesel-FV possam aproveitar ao máximo a geração fotovoltaica, até o limite mínimo de operação dos grupos geradores Diesel, reduzindo o consumo absoluto de Diesel. 4. Referências bibliográficas Younicos AG. PV System Integration into the Electrical Network of Fernando de Noronha Island. Report Y128-263. 28/09/2012. ALMEIDA, M. et al. Estudo Técnico: Integração de uma Usina FV de 550 kwp ao Sistema Elétrico Isolado da Ilha de Fernando de Noronha. IEE/IES-ET-8. Dezembro de 2015. 11/11