EXAME DE LESÕES CORPORAIS DE VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO 1. ABREVIATURAS E SIGLAS Terrestres DPVAT Seguro de Danos Pessoais Causados Por Veículos Automotores de Vias 2. ESCLARECIMENTOS SOBRE A LEI 6.194/74 MODIFICADA PELA LEI 11.945/09 Realizar o laudo usando os termos legais em caso de vítimas de acidentes de trânsito não se trata de preferência pessoal. É evidente que o ideal e justo seria que nenhuma perícia visando pagamento do seguro DPVAT fosse realizada nos Institutos Médico Legais. O consórcio Líder deveria utilizar o trabalho de seus próprios peritos. Ninguém discute que uma lei federal criou um encargo enorme para os Estados, sem nenhuma contrapartida. Contudo, como agentes públicos, os peritos médicos legistas não podem escolher cumprir ou não cumprir a lei; Foge das atribuições do peritos médicos legistas discutir a legitimidade de uma lei. O fórum para isto é o Congresso Nacional; Entrar em contato com nossos representantes eleitos (deputados federais e senadores) para exibir o problema e cobrar mudanças talvez fosse mais eficiente do que penalizar o cidadão; Cada perito médico legista é livre para fazer seu laudo da maneira que desejar e, evidentemente, assumir as consequências de seus atos. Se determinado perito está fazendo seu laudo como de costume, não está tendo nenhum questionamento e não deseja mudar, é livre para agir desta forma. O que se quer evitar são situações desconfortáveis como aquela na qual o perito médico legista receba visita de Oficial de Justiça com determinação judicial para que o laudo seja realizado de acordo com a lei no prazo de 30 minutos, sob pena de imediata prisão; É uma inverdade a afirmação de que se exige que o perito médico legista calcule percentuais de perdas funcionais e de indenizações. A lei não exige isto. Os percentuais estão presentes na letra da lei para que o consórcio segurador faça os cálculos para pagamento da indenização.
3. LEGISLAÇÃO Artigos de Interesse Médico Legal Art. 3 o Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2o desta Lei compreendem as indenizações por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as regras que se seguem, por pessoa vitimada: 1 o No caso da cobertura de que trata o inciso II do caput deste artigo, deverão ser enquadradas na tabela anexa a esta Lei as lesões diretamente decorrentes de acidente e que não sejam suscetíveis de amenização proporcionada por qualquer medida terapêutica, classificandose a invalidez permanente como total ou parcial, subdividindo-se a invalidez permanente parcial em completa e incompleta, conforme a extensão das perdas anatômicas ou funcionais, observado o disposto abaixo: I - quando se tratar de invalidez permanente parcial completa, a perda anatômica ou funcional será diretamente enquadrada em um dos segmentos orgânicos ou corporais previstos na tabela anexa, correspondendo a indenização ao valor resultante da aplicação do percentual ali estabelecido ao valor máximo da cobertura; e II - quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta, será efetuado o enquadramento da perda anatômica ou funcional na forma prevista no inciso I deste parágrafo, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da indenização que corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) para as perdas de repercussão intensa, 50% (cinquenta por cento) para as de média repercussão, 25% (vinte e cinco por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual de 10% (dez por cento), nos casos de sequelas residuais. Art. 5º... 5 o O Instituto Médico Legal da jurisdição do acidente ou da residência da vítima deverá fornecer, no prazo de até 90 (noventa) dias, laudo à vítima com a verificação da existência e quantificação das lesões permanentes, totais ou parciais.
ANEXO (Colunas de interesse médico legal) (art. 3o da Lei no 6.194, de 19 de dezembro de 1974) Danos Corporais Totais Repercussão na Íntegra do Patrimônio Físico Perda anatômica e/ou funcional completa de ambos os membros superiores ou inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de ambas as mãos ou de ambos os pés Perda anatômica e/ou funcional completa de um membro superior e de um membro inferior Perda completa da visão em ambos os olhos (cegueira bilateral) ou cegueira legal bilateral Lesões neurológicas que cursem com: (a) dano cognitivo-comportamental alienante; (b) impedimento do senso de orientação espacial e/ou do livre deslocamento corporal; (c) perda completa do controle esfincteriano; (d) comprometimento de função vital ou autonômica Lesões de órgãos e estruturas crânio-faciais, cervicais, torácicos, abdominais, pélvicos ou retro-peritoneais cursando com prejuízos funcionais não compensáveis de ordem autonômica, respiratória, cardiovascular, digestiva, excretora ou de qualquer outra espécie, desde que haja comprometimento de função vital Repercussões em Partes de Membros Superiores e Inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros superiores e/ou de uma das mãos Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos pés Perda completa da mobilidade de um dos ombros, cotovelos, punhos ou dedo polegar Perda completa da mobilidade de um quadril, joelho ou tornozelo Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dentre os outros dedos da mão Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dos dedos do pé Outras Repercussões em Órgãos e Estruturas Corporais Perda auditiva total bilateral (surdez completa) ou da fonação (mudez completa) ou da visão de um olho Perda completa da mobilidade de um segmento da coluna vertebral exceto o sacral Perda integral (retirada cirúrgica) do baço
3. EXEMPLOS ILUSTRATIVOS Apesar da aparente dificuldade, o cumprimento desta lei acrescenta poucas palavras ao laudo pericial. Os enquadramentos possíveis são três: 3.1. Invalidez Permanente Total Não deixa margens para dúvida nenhuma. Basta que o caso concreto esteja descrito na primeira parte da tabela: Danos Corporais Totais Repercussão na Íntegra do Patrimônio Físico Perda anatômica e/ou funcional completa de ambos os membros superiores ou inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de ambas as mãos ou de ambos os pés Perda anatômica e/ou funcional completa de um membro superior e de um membro inferior Perda completa da visão em ambos os olhos (cegueira bilateral) ou cegueira legal bilateral Lesões neurológicas que cursem com: (a) dano cognitivo-comportamental alienante; (b) impedimento do senso de orientação espacial e/ou do livre deslocamento corporal; (c) perda completa do controle esfincteriano; (d) comprometimento de função vital ou autonômica Lesões de órgãos e estruturas crânio-faciais, cervicais, torácicos, abdominais, pélvicos ou retro-peritoneais cursando com prejuízos funcionais não compensáveis de ordem autonômica, respiratória, cardiovascular, digestiva, excretora ou de qualquer outra espécie, desde que haja comprometimento de função vital Exemplo 3.1.1: Vítima de acidente de trânsito com amputação de ambas as pernas. Como poderíamos responder o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Perda anatômica das pernas. Invalidez permanente total (perda anatômica de ambas as pernas). Danos Corporais Totais Repercussão na Íntegra do Patrimônio Físico Perda anatômica e/ou funcional completa de ambos os membros superiores ou inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de ambas as mãos ou de ambos os pés...
Exemplo 3.1.2: Vítima de traumatismo crânio-encefálico por acidente de trânsito. Como sequela, está em estado vegetativo. Como poderíamos responder o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Perda da função cognitiva (sistema nervoso central). Invalidez permanente total por lesão neurológica que cursa com dano cognitivo comportamental alienante. Danos Corporais Totais Repercussão na Íntegra do Patrimônio Físico Lesões neurológicas que cursem com: (a) dano cognitivocomportamental alienante; (b) impedimento do senso de orientação espacial e/ou do livre deslocamento corporal; (c) perda completa do controle esfincteriano; (d) comprometimento de função vital ou autonômica Exemplo 3.1.3: Ocupante de automóvel que ficou cego após colisão contra outro automóvel. Como poderíamos responder o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Perda da visão. Invalidez permanente total por perda da visão. Danos Corporais Totais Repercussão na Íntegra do Patrimônio Físico... Perda completa da visão em ambos os olhos (cegueira bilateral) ou cegueira legal bilateral...
1.1. Invalidez permanente parcial completa Não deixa margens para dúvida nenhuma. Basta que o caso concreto esteja descrito na segunda ou terceira partes da tabela: Repercussões em Partes de Membros Superiores e Inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros superiores e/ou de uma das mãos Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos pés Perda completa da mobilidade de um dos ombros, cotovelos, punhos ou dedo Polegar Perda completa da mobilidade de um quadril, joelho ou tornozelo Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dentre os outros dedos da Mão Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dos dedos do pé Outras Repercussões em Órgãos e Estruturas Corporais Perda auditiva total bilateral (surdez completa) ou da fonação (mudez completa) ou da visão de um olho Perda completa da mobilidade de um segmento da coluna vertebral exceto o sacral Perda integral (retirada cirúrgica) do baço Exemplo 3.2.1: Vítima de acidente de trânsito com amputação ao nível da coxa direita. Como responderíamos o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Perda do membro inferior esquerdo. Invalidez permanente parcial completa por perda anatômica e funcional completa de um dos membros inferiores. Repercussões em Partes de Membros Superiores e Inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros superiores e/ou de uma das mãos Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos pés Perda completa da mobilidade de um dos ombros, cotovelos, punhos ou dedo Polegar Perda completa da mobilidade de um quadril, joelho ou tornozelo Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dentre os outros dedos da Mão Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dos dedos do pé...
Exemplo 3.2.2: Vítima de acidente de trânsito, atropelamento. Como sequela, anquilose do joelho direito. Como responderíamos o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Perda funcional do joelho direito. Invalidez permanente parcial completa (perda completa da mobilidade do joelho direito). Repercussões em Partes de Membros Superiores e Inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros superiores e/ou de uma das mãos Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos membros inferiores Perda anatômica e/ou funcional completa de um dos pés Perda completa da mobilidade de um dos ombros, cotovelos, punhos ou dedo Polegar Perda completa da mobilidade de um quadril, joelho ou tornozelo Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dentre os outros dedos da Mão Perda anatômica e/ou funcional completa de qualquer um dos dedos do pé... Exemplo 3.2.3: Vítima de acidente de trânsito, traumatismo abdominal. Choque hemorrágico. Submetido a esplenectomia. Como responderíamos o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Invalidez permanente parcial completa (perda do baço). No caso da doutrina penal (que não é o caso desta discussão), resposta possível seria debilidade permanente da função hemocaterética. Outras Repercussões em Órgãos e Estruturas Corporais Perda auditiva total bilateral (surdez completa) ou da fonação (mudez completa) ou da visão de um olho Perda completa da mobilidade de um segmento da coluna vertebral exceto o sacral Perda integral (retirada cirúrgica) do baço
1.2. Invalidez permanente parcial incompleta Esta é a única situação em que será necessária mínima interpretação do perito médico legista. Neste enquadramento estão aquelas lesões descritas somente na 2ª e 3ª partes da tabela, mas que não são tão intensas a ponto de se poder caracterizar perda. Por isto a invalidez é parcial e incompleta. Neste caso o perito necessitará informar se a sequela produz perdas de leve, moderada ou intensa repercussão funcional ou ainda se a sequela é tão ínfima que somente pode ser chamada de sequela residual. Atente-se para o seguinte: atualmente esta é uma avaliação SUBJETIVA, uma vez que não há nenhuma regulamentação ou baremas a respeito de cada item constante das 2ª e 3ª partes da tabela. É de se ressaltar mais um vez que, como os exemplos mostrarão, nenhum percentual numérico ou cálculo precisa ser feito pelo perito. Exemplo 3.3.1: Vítima de acidente de trânsito com sequela em joelho direito. O perito entende que a função do joelho está intensamente comprometida. Como responderíamos o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Debilidade permanente do joelho direito. Invalidez permanente parcial incompleta com perdas de intensa repercussão funcional (joelho direito). Observe: Não é possível se falar em invalidez permanente parcial completa (perda funcional do joelho direito), pois alguma função ainda há, então, a invalidez passa a ser parcial incompleta. Exemplo 3.3.2: Motociclista. Fratura de rádio e ulna distais à direita. Apresenta alguma limitação da amplitude da flexo-extensão do punho direito. Como responderíamos o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT? R.: Debilidade permanente do punho direito. Invalidez permanente parcial incompleta com perdas de leve repercussão funcional (punho direito). Observe: não é possível falar em invalidez permanente parcial completa por perda funcional do punho direito. Ele está praticamente normal. Exemplo 3.3.3: Vítima de acidente de trânsito. Fratura de fêmur direito. Submetido a exitoso tratamento ortopédico. Não tem nenhuma sequela. Contundo, na radiografia atual observa-se área de descalcificação adjacente à haste implantada. Como responderíamos o 6º quesito atendendo tanto a doutrina penal quanto a lei do DPVAT?
R.: Invalidez permanente parcial incompleta (sequelas residuais em um dos membros inferiores). Ou ainda: sequelas residuais em um dos membros inferiores. No caso da doutrina penal, a resposta seria não. 4. ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS - Por óbvio o perito não será obrigado a concluir seu laudo em 90 dias, até porque a mesma lei informa que a sequela decorrente do acidente de trânsito não pode ser amenizada por qualquer medida terapêutica; - Se a vítima está em efetivo tratamento a resposta será Depende da Evolução do Processo Mórbido. - Por outro, sabe-se que muitas pessoas permanecerão em tratamento durante anos. Não é razoável exigir que a vítima se submeta a exames médico legais durante anos seguidos, caso o seu tratamento perdure por este tempo; - Na falta de um prazo legal para se responder os quesitos 6 e 7 (no caso de acidentes de trânsito), sugere-se, por exemplo, adotar o entendimento de outros Estados: na maioria dos casos o período de 01 ano é razoável para se concluir o laudo; - Se, por exemplo, trata-se de uma amputação de perna direita, não há o que se esperar: invalidez permanente parcial completa (perda anatômica de um dos membros inferiores). Basta retornar à tabela; - Todas as sequelas descritas na parte 1 da tabela não admitem a avaliação de leve, moderada ou intensa repercussão funcional. Elas serão e só serão invalidez permanente total ; - Cicatrizes: embora tenham relevância do ponto de vista penal (deformidade permanente), não tem enquadramento para o pagamento de seguro DPVAT; - Dentes: a perda de dentes só seria enquadrável na parte 1 da tabela: Lesões de órgãos e estruturas crânio-faciais, cervicais, torácicos, abdominais, pélvicos ou retro-peritoneais cursando com prejuízos funcionais não compensáveis de ordem autonômica, respiratória, cardiovascular, digestiva, excretora ou de qualquer outra espécie, desde que haja comprometimento de função vital Assim sendo, a perda de alguns elementos dentários não tem enquadramento legal;
- Sequelas não citadas na tabela não são passíveis de indenização pelo seguro DPVAT; - Vítima de acidente de trânsito insatisfeita com laudo realizado dentro da tabela: nada a fazer. O perito fez seu trabalho dentro das prerrogativas legais. 5. PONTOS CRÍTICOS Não produzir laudo conforme norma legal vigente e ficar sujeito a penalidades administrativas e/ou judiciais. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Lei federal 6.174/74; Lei federal 11.945/09.