Orientador: Profº Dr. JOSÉ FERRARI NETO

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Transcrição:

UFPB - UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA JEFFERSON ALVES DA ROCHA FLEXÃO NOMINAL DE GÊNERO E CLASSES FORMAIS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Orientador: Profº Dr. JOSÉ FERRARI NETO JOÃO PESSOA - PB ABRIL/2013

JEFFERSON ALVES DA ROCHA FLEXÃO NOMINAL DE GÊNERO E CLASSES FORMAIS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Trabalho apresentado ao curso de Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa para obtenção parcial da conclusão de curso. Orientador: Profº Dr. JOSÉ FERRARI NETO JOÃO PESSOA - PB ABRIL/2013

Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal da Paraíba. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Rocha, Jefferson Alves da. Flexão nominal de gênero e classes formais em português brasileiro / Jefferson Alves da Rocha.- João Pessoa, 2013. 45f. : il. Monografia (Graduação em Letras) Universidade Federal da Paraíba - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Orientador: Prof. Dr. José Ferrari Neto 1. Desinência de gênero. 2. Vogal temática. 3. Língua Portuguesa Gramática. I. Título. BSE-CCHLA CDU 81 366

JEFFERSON ALVES DA ROCHA FLEXÃO NOMINAL DE GÊNERO E CLASSES FORMAIS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Aprovado em: / / Banca Examinadora Profº Dr. José Ferrari Neto, DLCV, UFPB. Orientador Profº Dr. Márcio Martins Leitão, DLCV, UFPB. Examinador Profª Drª. Rosana Costa de Oliveira, DLCV, UFPB. Examinadora

AGRADECIMENTOS Ao término de um curso, lembramos-nos de diversos momentos, sensações e emoções compartilhadas com pessoas especiais que merecem ser mencionadas. As recordações desses momentos ficarão eternamente na memória. Primeiramente, agradeço a Deus pela força espiritual proporcionada a mim ao longo desta longa e árdua caminhada, nestes 5 (cinco) anos de curso. Agradeço a meus pais, Gilvan Trajano da Rocha e Adelaide Adelino Alves, e a minha família pelas diversas colaborações, sempre me estimulando e direcionando a melhor senda a ser percorrida. Exponho, aqui, minha gratidão à academia e, principalmente, ao meu orientador Professor Dr. José Ferrari Neto pelos direcionamentos mostrados ao longo desta pesquisa. Agradeço também ao Laboratório de Processamento Linguístico (LAPROL) da UFPB, ao Professor Dr. Marcio Leitão, estendendo assim os agradecimentos a todos os membros, que me incitaram, direta ou indiretamente, a querer sempre conhecer mais aspectos relativos ao processamento linguístico. Agradeço muitíssimo ao Programa Linguísticocultural para Estudantes Internacionais (PLEI) e à Professora Drª. Margarete Poll, coordenadora do programa. O PLEI foi um espaço muito valoroso para crescimento pessoal e profissional, lugar onde meus pensamentos e ideias culturais se ampliaram, motivando-me a perseverar em pesquisas em geral. Agradeço aos amigos que lá fiz: Francielly Rodrigues, Cynthia Dionísio, Alexia Eloar, Bia Xavier, Rafael Oliveira, Kaline Araújo e Fernanda Morais. Demonstro, também, meus agradecimentos ao Professor Dr. Cirineu Stein, por sua contribuição na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Diversas pessoas tiveram contribuição para realização e cumprimento deste trabalho de conclusão. Cumprimento Elton Lima e Thamiris Amorim por suas valorosas contribuições em relação aos desenhos da parte experimental do trabalho, ele pela ajuda efetiva, ela por incentivos e auxilios morais, bem como a Pricila Belarmino, Cleydiane Oliveira, Maksuel Cardoso, André Paulo, por contribuições técnicas prestadas também nesta parte experimental. Por fim, mas não menos importante, agradeço a todos os meus amigos, não os cito para não esquecer ninguém e, também, a todos os participantes do experimento deste trabalho. Muito obrigado a todos!

Existem todas as possibilidades, a mais absoluta liberdade de escolha. Como em um livro, onde cada letra permanece para sempre na página, mas o que muda é a própria consciência que escolhe o que ler e o que deixar de lado. (Richard Bach)

RESUMO Este trabalho consiste na análise e diferenciação dos morfemas finais átonos em português brasileiro (PB), tratados ora como desinência de gênero, ora como vogal temática nominal. Observamos, inicialmente, duas propostas teóricas. A primeira delas é a proposta de Alcântara (2010) que distribui os nomes em quatro classes formais. Nessa proposta, observa-se, estritamente, o morfema final dos vocábulos, ou seja, as referidas classes formais possuem terminações /o/, /a/, /e/ e /Ø/, respectivamente, enumeradas de I a IV. A outra proposta é a de Henriques (2007). O referido autor assume a classificação de vocábulos com desinência de gênero, no entanto, há extensão para pares de vocábulos em que a flexão de gênero não teria relação direta. Aqui, nossa proposta formula uma classificação alternativa, a qual evidencia o traço de animacidade. O PB apresenta duas classes de gênero, pelas quais os nomes se distribuem. A primeira seria a dos nomes com flexão, e a segunda seria a dos nomes sem flexão. Tanto em uma quanto em outra se observa a presença de nomes com traço [± animado]. A classe dos nomes com flexão reparte seus elementos em duas subclasses: a dos nomes com flexão motivada e a dos nomes com flexão arbitrária. Nossa proposta consiste em um estudo experimental inicial, baseia-se na associação entre determinados itens lexicais inventados e figuras também inventadas. O experimento consiste em priming intermodal. Em PB, o traço de animacidade, assim, é levado em consideração, associando-o às desinências de gênero, enquanto a inanimacidade estaria relacionada às vogais temáticas nominais. No experimento realizado não obtivemos dados significativos que associassem o traço de inanimacidade às vogais temáticas nominais. Palavras-chave: Desinência de gênero. Vogal temática. Animacidade. Experimento.

ABSTRACT This work consists of an analysis and differentiation of final atonic morphemes in Brazilian Portuguese (BP), treated either as gender desinence or as nominal thematic vowel. We note, initially, two theoretical proposals. The first one is the proposal of Alcantara (2010) that distributes substantives into four formal groups. In this proposal, we observe strictly the final morpheme of words, that is, those classes have formal endings /o/, /a/, /e/ and /Ø/, respectively, numbered as I to IV. The other proposal comes from Henriques (2007). The author presumes the classification of words with gender desinence; however, there is scope for pairs of words in which the inflection of gender would not have a direct relationship. Here, our proposal formulates an alternative classification which shows the feature of animacy. The BP has two gender classes by which substantives are distributed. The first one would be the substantives with inflection, and the second one would be the substantives without inflection. In both cases it can be observed the presence of substantives with [± animated] feature. The class of substantives with inflection distributes its elements into two subclasses: substantives with motivated inflection and substantives with arbitrary inflection. Our proposal consists of an initial experimental study, based on the association between invented lexical items and also invented figures. The experiment consists of priming intermodal. In BP, the feature of animacy, thus, is taken into consideration, associating it with the gender desinences, while inanimacy would be related to the nominal thematic vowels. In the experiment we did not obtain meaningful data that associate the trait inanimacy nominal thematic vowels nominal. Keywords: Gender desinence. Thematic vowel. Animacy. Experiment.

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...9 2. REVISÃO DA LITERATURA: 2.1. Desinência de Gênero...13 2.2. Vogais Temáticas Nominais...19 3. CLASSES FORMAIS E CLASSES DE GÊNERO EM PB...24 4. METODOLOGIA E EXPERIMENTO...29 4.1. Métodos...29 4.1.1. Participantes...30 4.1.2. Materiais...30 4.1.3. Procedimentos...31 4.2. Resultados...34 CONSIDERAÇÕES FINAIS...40 REFERÊNCIAS...43 APÊNDICE Lista de logátomos...45

9 1. INTRODUÇÃO Este trabalho foca a questão da existência ou não das vogais temáticas nominais (VT s), bem como o problema de sua diferenciação em relação aos morfemas flexionais de gênero em português brasileiro (PB). Visa-se, principalmente, a formular um quadro descritivo coerente em relação à depreensão das desinências de gênero (DG s), e também, das vogais temáticas nominais (VT s) 1. Também se objetiva distinguir a ocorrência de vogais temáticas e desinências de gênero nos nomes primitivos, já que esse processo é difuso na língua portuguesa. Em trabalho recente, Alcântara (2010) propôs a existência de quatro classes formais pelas quais se distribuiriam os nomes não derivados em PB, caracterizadas pelas terminações vocálicas /a/, /e/, /o/ e /Ø/. A primeira classe formal é de palavras terminadas em vogal átona /o/, sendo a mais produtiva no português brasileiro. A segunda é de vocábulos terminados em /a/, sendo esta a segunda mais produtiva na língua em questão. A terceira é de vocábulos terminados em /e/ e a quarta classe formal é de palavras atemáticas /Ø/, representadas, graficamente, por consoantes nasais, semivogais em ditongo decrescentes finais e vogais em sílabas tônicas. Para Alcântara (2010), os elementos indicativos das classes formais se comportariam como autênticas vogais temáticas, seguindo a linha de Carvalho (1973), Kury & Oliveira (1986) e Bechara (1999). Tal proposta, no entanto, não leva em conta uma possível função indicativa de gênero desses elementos, conforme sugeriu Bechara (1982). A proposta de Henriques (2007) propõe um quadro em que a desinência de gênero é contemplada. Na classificação do autor em questão, se a vogal átona final /a/ ou /o/ concorda em gênero com o artigo definido /a/ ou /o/, respectivamente, em vocábulos em que a associação é possível, então serão classificadas como DG s. Já nos vocábulos em que /o/ ou /a/ não concordam com o artigo, ou, ainda, palavras terminadas em /e/, os itens lexicais finais serão considerados VT s. As propostas dos dois autores acima apresentam pontos questionáveis e problemáticos. Em Alcântara (2010), a definição de sua proposta é relevante somente no que concerne à divisão dos vocábulos em classes formais, entretanto ao classificar todos os 1 Ao longo deste trabalho, utilizaremos tanto a nomenclatura desinências de gênero e vogal temática nominal quanto as abreviações das referidas nomenclaturas, DG s e VT s. Há momentos que nos utilizaremos dos termos abreviados no singular ou no plural. Aqui, sempre nos reportaremos às vogais temáticas nominais, mesmo em construções frasais que a palavra nominal(is) for suprimida.

10 elementos como VT, acaba por conferir às palavras flexionadas o mesmo tratamento daquelas não flexionadas, ou seja, não considera o fato de uma palavra com terminação o flexionar-se em outra com terminação a, em relação às palavras em que o processo flexional terminal de o para a não é evidente. Para Alcântara (2010) tudo é apenas vogal temática. O que se verifica, no posicionamento dessa autora, é que a descrição é puramente estrutural, independentemente de existir flexão em gênero ou não, se o vocábulo possui terminação o pertence à classe formal I; se possui terminação a pertence à classe formal II; a palavra tendo terminação e incumbe à classe formal III; e ainda, sendo atemática compete à classe formal IV. Ainda, coloca o adjetivo em uma mesma categorização que o substantivo. O adjetivo é uma classe de palavra que não é analisado observando, estritamente, a estrutura. O uso do adjetivo depende da colocação e da concordância deste em relação ao substantivo. Neste caso, não é possível associarmos, em uma mesma classificação, palavras flexionáveis e não flexionáveis. Na proposta de Henriques (2007), acontece a estruturação e divisão entre DG e VT, contudo há a redução do número de palavras com VT. Em Henriques (2007) há o reconhecimento das oposições nos vocábulos, sendo essas oposições formais e semânticas. Com essa classificação, Henriques (2007) generaliza esse traço de oposição nos termos e reduz, consideravelmente, o número dos casos de VT em português brasileiro. Henriques (2007) engloba em sua proposição palavras que a princípio não seriam flexão de outra, trataria tais palavras como uma subespecificação, levando em consideração, mais especificamente, questões semânticas. Observamos dois fatos arbitrários, na colocação anterior, em pares como jarro/ jarra, a arbitrariedade repousa em classificar vocábulos como o do exemplo em oposições de gênero. Outro fato arbitrário é na relação estabelecida entre vocábulos jarro/ jarra e o artigo antecedente, não há nada que favoreça o uso de tais vocábulos com o artigo o ou a. O presente trabalho mostra uma classificação alternativa, a qual, tomando o traço de animacidade como fundamental nas respectivas caracterizações de vogal temática e de morfema de gênero, mantém a independência entre os dois elementos, ao mesmo tempo em que explica mais amplamente o comportamento morfológico dos nomes em PB. Segundo esta proposta, o PB apresentaria duas classes de gênero, pelas quais os nomes se distribuiriam. A primeira seria a dos nomes com flexão e a segunda seria a dos nomes sem flexão. Tanto em uma quanto em outra se observa a presença de nomes com traço [±animado]. A classe dos nomes com flexão reparte seus elementos em duas subclasses: a

11 dos nomes com flexão motivada e a dos nomes com flexão arbitrária. Chama-se motivada a primeira pelo fato que, nela, há uma relação estreita entre o gênero gramatical e o sexo do elemento denotado 2. Já na flexão arbitrária, a distinção se dá na medida em que a denotação do nome flexionado corresponde a uma subespecificação do nome não marcado, como a indicar um subconjunto deste - a arbitrariedade reside no fato de que tanto o nome masculino quanto o feminino poderem corresponder a essa subespecificação, sem motivação para a determinação do gênero do nome não marcado. Os nomes com flexão motivada apresentam sempre o traço [+animado], ao passo que os nomes com flexão arbitrária possuem sempre o traço [-animado]. Na medida em que é nessa classe que a oposição formal e semântica se faz mais visível (como sugere Henriques, 2007), e sendo ela a classe onde o mecanismo de flexão se apresenta mais produtivo (como evidenciam as formações neológicas galinho, piranho, formigo, etc.), pode-se dizer que é aqui que a flexão de gênero apresenta-se mais caracteristicamente, sendo marcada pelos morfemas /a/, /e/, /o/ e /Ø/ 3, correspondentes à vogais átonas finais dos nomes dessa classe. Nesse caso, haveria uma coincidência entre o morfema de gênero e o indicador de classe formal, o que forçaria postular a existência de um morfema cumulativo para marcar o gênero e a classe formal nesse caso. Não podemos ignorar que em PB há grande produtividade de vocábulos, mesmo em nomes não flexionáveis em gênero. O usuário da língua é capaz de utilizar um vocábulo novo, observando, justamente, a oposição de gênero, com isso a comunidade linguística entende o uso da oposição sem questionamentos. Esse fenômeno pode ser evidenciado, principalmente, em substantivos biformes ou heterônimos 4. Nomes em que o gênero da palavra não é feito pela oposição entre a vogal átona final o ou a, porém há a flexão com outro nome, muitas vezes, totalmente diferente do par. O usuário da língua, por associação, utiliza um determinado vocábulo biforme e emprega outro em que a marca da oposição de gênero fica clara. O falante utiliza abelho, baleio, formigo, minhoco sem 2 Não se trata aqui de incorrer em um velho equívoco de se associar gênero gramatical e sexo biológico. O que se enfatiza é que, na flexão motivada, o mecanismo formal da concordância, de que a flexão é resultado, atua de modo a constituir nomes que denotam seres opostos pelo sexo. Trata-se, portanto, de uma operação puramente linguística, sendo seu reflexo apenas reparado quando do uso referencial dos nomes flexionados em gênero. 3 Utilizaremos /Ø/ para designar as palavras da quarta classe da proposta aqui formulada. O /Ø/ não implica necessariamente em palavras com morfema zero, no entanto, as palavras com as terminações descritas aqui. 4 Para Sarmento (2005, p.120), Chamam-se biformes ou heterônimos os substantivos que apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino. Nos exemplos citados pela autora em questão, temos maestro/ maestrina, zangão/ abelha. Para Cipro Neto e Infante (2003, p. 210), Essas duas formas podem apresentar um mesmo radical ou radicais diferentes.

12 comprometimento na comunicação. Em vocábulos que apresentam a oposição de gênero, marcado pelo o ou a átonos finais, carregam uma função cumulativa, de classe formal e de desinência de gênero, fenômeno já mencionado acima. Esse uso produtivo da desinência de gênero recai somente na subclasse de nomes que denotam seres animados, e se constitui em evidência forte da existência da desinência de gênero masculino, ao lado da de feminino, indo de encontro à idéia defendida desde Câmara Jr. (1970), de que em PB existe apenas a marca morfológica de feminino, sendo o masculino uma forma geral não marcada. Em resumo, as questões que envolvem a descrição das desinências de gênero e das vogais temáticas nominais em PB são as seguintes. Em primeiro lugar, o estabelecimento de critérios mediante os quais tanto um quanto outro elemento pode ser depreendido e, em seguida, distinguido uns dos outros. Em segundo lugar, para o caso da desinência de gênero, atestar a existência da marcação morfológica de masculino. Por fim, no caso das vogais temáticas nominais, evidenciar sua existência de igual modo, caracterizando, devidamente, o seu quadro de elementos e as suas respectivas funções. Para a primeira e a terceira questões, admite-se que um critério baseado na animacidade possa ser utilizado para uma depreensão inequívoca das DG s e das VT s, diferenciando-as entre si e determinando as suas funções. Já para a segunda questão, o critério da produtividade parece ser bastante para a evidenciação da desinência de masculino em PB. O presente trabalho está estruturado da seguinte maneira. Na seção seguinte será apresentada uma revisão da literatura sobre a descrição da flexão de gênero em PB, bem como sobre as vogais temáticas nominais, procurando apontar os problemas descritivos e as questões envolvidas em ambos os elementos gramaticais. A seção 3 apresenta o quadro teórico no qual se baseia a proposta de análise aqui defendida, além de esboçar o quadro descritivo das desinências de gênero e das vogais temáticas, de acordo com essa nova proposta. A seção 4 traz a metodologia e o conjunto experimental aplicados à questão de prover evidências empíricas que sustentem a proposta sugerida. Por fim, apresentamos as considerações finais.

13 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Desinências de Gênero: Nesta seção do trabalho, mostraremos as ideias de diferentes autores sobre as DG s e as VT s. Os autores a seguir, em sua maioria, adotam os mesmos posicionamentos de Mattoso Câmara (1970). Para Mattoso Câmara (1970), a desinência de gênero consiste na mudança da vogal átona final o para a ou no acréscimo da vogal a em final de vocábulos. Há casos no tratamento da desinência de gênero em que não é possível estabelecer relação com o processo flexional. Podemos observar, assim, casos com alteração de sufixo embaixador/ embaixatriz ; seleção lexical homem/ mulher ; adjetivo qualificativo tigre fêmea. Esses itens lexicais não são classificados como pertencentes à flexão nominal de gênero. Segundo Mattoso Câmara (1970), o gênero é uma categoria formal e não semântica, para ele a indicação de sexo biológico se faz uso no léxico. O gênero é uma categoria mais abrangente do que o sexo biológico. O gênero compreende, inclusive, às coisas inanimadas, desprovidas de sexo biológico. Como diz Mattoso Câmara (1970), o masculino é a forma geral não marcada, como em garoto. Podemos verificar em vocábulos como o gato/ a gata marca estrutural coincidente entre desinência de gênero e sexo biológico, no entanto, em vocábulos como o copo ou a mesa, as desinências nominais finais o / a não correspondem ao sexo da coisa. Isso tem maior evidência nos vocábulos em que não há relação entre o termo antecedente da palavra, geralmente artigo, e a desinência de gênero, representada por vogal átona final propriamente dita. Evidenciamos o caso mencionado anteriormente em o cometa e a virago. Mattoso Câmara (1970) formula conceitos coerentes no que concerne à flexão nominal de gênero, mais especificamente, o caso das desinências de gêneros, contudo tais conceitos não abrangem a grande diversidade de palavras no português brasileiro. De fato, o próprio autor expõe os casos em que os posicionamentos mencionados por ele não podem ser aplicados. Os casos mencionados acima de palavras classificadas com alteração de sufixo, mudança lexical e adjetivo indicador de qualidade são algumas das ocorrências em que não há flexão nominal no gênero, nesses casos, em português brasileiro. Como diz Moreno (1997), gênero é diferente de classes de terminação. A terminação de uma dada palavra não está relacionada ao gênero gramatical. A definição do gênero está associada à concretização morfológica, ou seja, a determinação por um

14 morfema característico com a função de gênero intrínseca, com isso o gênero é restrito a poucas palavras. O autor adota a denominação de marcadores nominais para os elementos lexicais finais. Com tal denominação, as palavras assumem aspecto puramente estrutural, ou seja, as palavras terminadas em o pertencem à primeira classe de terminação, já as terminadas em a pertencem à segunda classe de terminação, como podemos notar em a tribo e o fantasma, respectivamente. Há, ainda, palavras terminadas em e ou Ø que estão inseridas na terceira classe de terminação, como exemplo chave e bagagem. Assim, os marcadores nominais não apresentam analogia com o gênero gramatical do vocábulo. Com isso, a classificação de desinência de gênero não existiria em português brasileiro. Para esse autor, também há relação entre gênero, sexo biológico e classe de terminação. Em o coala, o gênero da palavra é masculino, já que é precedida pelo determinante o. O sexo do ser depende da utilização do vocábulo em uma dada situação. A classe de terminação é a, portanto nessa classificação pertence à classe II. Embora as denominações possam estar em estreita relação, não assumem um mesmo domínio do ponto de vista linguístico formal. Os marcadores nominais encerram um dado vocábulo, não sendo seguido por nenhum outro item lexical, com exceção do item s que representa o plural nos nomes. Na classificação desse autor há generalização, observando apenas a desinência final do vocábulo. Segundo Villalva (2000), não se pode considerar a distinção das classes de gênero observando o traço de animacidade, cita exemplos de nomes uniformes 5 para sustentar o argumento criança, criatura, pessoa, testemunha, vítima, ídolo, carrasco, indivíduo, cônjuge e, epicenos 6, panda, águia, zebra, elefante, crocodilo, corvo. Para a autora, o gênero é tratado como uma categoria formal. Defende que não há categoria flexional e que o feminino, em português brasileiro, é um processo de derivação. Em vocábulos típicos como secretário/ secretária, a forma secretária é caracterizada como derivada de secretário. Ainda defende que a variação em gênero não é um processo sistemático, nem obrigatório. No que concerne à assistematicidade, a autora menciona os nomes que pertencem a um mesmo radical, porém possuem classes temáticas distintas ou palavras 5 Os nomes uniformes são aqueles que apresentam uma única forma para o masculino e para o feminino. Mattoso Câmara (1970) realiza a seguinte classificação: Nomes substantivos de gênero único. Na Gramática Housaiss da Língua Portuguesa (2008, p. 160) evidencia-se a seguinte definição: [...] quando se trata de substantivo cujo gênero somente se define no ato de designar o indivíduo [...] (ex.: ao atleta/ a atleta, o pugilista/ a pugilista. 6 Segundo Lima (2010, p. 1160), os substantivos epicenos [...] apresentam um só gênero gramatical para designar animais de um e outro sexo. Geralmente, os substantivos epicenos são seguidos pelas partículas macho ou fêmea para diferenciar o sexo biológico do ser.

15 diferentes umas das outras. Podemos perceber essas divergências na derivação conde/ condessa, na composição águia macho/ águia fêmea ou, ainda, em pares de palavras não relacionados homem/ mulher. Nos nomes, o contraste de gênero é semanticamente condicionado, relacionado aos sexuados, temos relação estreita com o traço de animacidade [+animado], ou seja, observamos relação entre gênero gramatical e sexo biológico. Em boca, por exemplo, não temos outro vocábulo que esteja em relação direta estrutural e semântica, *boco, por isso, a autora apresentada aqui, associa esse procedimento apenas aos seres animados. Diferentemente, o posicionamento de Mattoso Câmara (1970), em que apregoa variação de gênero em pares como jarro/ jarra. Como diz Villalva (2000), não é possível o estabelecimento de oposições de gênero na classificação iniciada por Mattoso Câmara (1970). Oposições essas presente nos chamados substantivos epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros 7. No caso dos substantivos comuns de dois gêneros, a marca de gênero se dá pelas especificações anteriores às unidades lexicais, o herege / a herege ou, ainda, por outras unidades, dois hereges / duas hereges, não apenas pelos artigos definidos, nesse caso, representadas pelas unidades que são os numerais. Segundo Corado (2002), não há processo flexional nos nomes em português brasileiro. Processo flexional esse, presente nos casos de palavras escritas de forma distinta ou com significados distintos, não é apenas uma alteração gramatical, diferentemente dos adjetivos 8. Os casos mencionados acima podem ser observados em zangão/ abelha. Termos como aluno/ aluna não são apenas variação formal. Nos termos citados anteriormente, não está presente somente o aspecto gramatical, eles são termos lexicais distintos. Para a autora, assim, o gênero passa a ser motivado por distinção lexical ou vocábulo diferente, mas é eminentemente gramatical. Apenas em alguns pares acontecem explicitações da flexão de gênero como classe léxica. A classe léxica é uma classificação que um dado vocábulo pertence, se há flexão ou não neste referido vocábulo. Para Corado (2002), classificam-se os pares de substantivos opositivos entre masculino/ feminino devem ser classificados como uma palavra, ou masculina ou feminina, e não, apenas, como 7 Para Lima (2010, p.116), Substantivos que apresentam um só gênero gramatical para designar pessoas de um e outro sexo. Chamam-se sobrecomuns. Como exemplo, temos a criança. Classifica os substantivos comuns de dois gêneros da seguinte forma: Possuem uma só forma para os dois gêneros [...]. Como exemplo, temos o artista/ a artista. A definição dos epicenos já foi mencionada na nota de rodapé anterior. 8 A flexão dos adjetivos teria caráter diferente dos substantivos. Ao se utilizar menino esperto/ menina esperta, independemente da flexão do adjetivo, a semântica das palavras é a mesma, já os substantivos menino/ menina, por exemplo, referem-se a coisas diferentes.

16 um contraste entre ambas. Em PB, o gênero masculino antepõe um antecedente também masculino. O masculino tem sentido amplo, já o feminino qualidades semânticas específicas, podemos visualizar os exemplos da autora para exemplificar essa questão em o povo brasileiro, utiliza-se o o aqui para designar toda a população, independente de ser masculino ou feminino. Questões semânticas não competem à alçada do domínio da flexão, o morfema de gênero restringe questões semânticas e, não, de indicador do gênero feminino. Nos vocábulos menina / professora / pata, a vogal átona final a, presente nos nomes, não indica uma marca distintiva no âmbito da desinência de gênero. Assim, a formação do feminino, para a autora, é entendida como processo derivacional. Villalva (2000) e Corado (2002) defendem que não há processos flexionais em português brasileiro. Argumentam em favor da derivação na classificação dos vocábulos. Esses são conceitos problemáticos, já que generalizam os termos existentes na língua em questão. Primeiramente, aceitam o processo flexional, mesmo não utilizando esta nomenclatura, utilizando pares de palavras como garoto/ garota, ao mesmo tempo em que demonstram tal processo possível, ignora-o. Assim, acreditam, inclusive, que em pares de palavras como o citado acima, garoto/ garota, está presente o processo derivacional em português brasileiro. Cintra (2004) desenvolve as mesmas ideias estruturadas, inicialmente, por Mattoso Câmara (1970). Segundo Cintra (2004), ao acrescentarmos o a fonológico a um nome terminado em consoante, o vocábulo assume caráter de desinência de gênero. Ainda mostra, o gênero é uma categoria formal nos nomes. Os vocábulos que representam seres vivos também possuem diferença no sexo biológico, como coelho/ coelha, não apenas na estrutura da palavra. Já os termos que representam os seres não animados, possuem uma especialização cambiante, utilizando-se a nomenclatura de Mattoso Câmara (1970), não se tem uma relação direta com o nome, é um subtipo, como em ramo/ rama, correspondendo, assim, em uma diferenã na forma ou função dos termos. Com esse processo de subespecificação, o morfema de gênero é marcado como especificador semântico e não como indicador de feminino. Usa-se, assim, o critério baseado no sexo biológico para considerar o aspecto gramatical. Muitos dos nomes, no português brasileiro, possuem uma única forma para ambos os gêneros, como percebemos em paciente. Então, com os vocábulos que denotam tanto masculino quanto feminino, simultaneamente, não é satisfatório estabelecermos a relação entre sexo biológico e aspecto gramatical. Cintra (2004) favorece o aspecto semântico dos nomes. Afirma que há relação entre tal

17 aspecto e os itens lexicais finais dos vocábulos. Em detrimento deste aspecto, podemos constatar os conceitos semânticos não podem estar diretamente relacionados às desinências de gênero. A significação do gênero tem caráter morfológico e não podemos confundir os processos semânticos e mórficos. Se fôssemos observar, estritamente, o aspecto semântico não haveria classificação possível de ser realizada. O lado semântico, muitas vezes, está presente, todavia não deve ser o único aspecto a ser ressaltado. Para Mosânio (2004), a flexão de gênero é uma classificação genérica, ou seja, depende da particularidade de cada caso. Não é possível estendermos denominados conceitos a uma gama de vocábulos no português brasileiro. Vocábulos esses numerosos e distintos. Não há uma maneira de englobar todos os vocábulos do português brasileiro, pelo menos, uma grande maioria, nesta dada classificação. Segundo o autor citado acima, podemos reconhecer a desinência nominal de gênero quando houver a oposição estrutural, como em gato/ gata, em outros casos, as vogais átonas finais não tem caráter mórfico. Mosânio (2004) mostra duas maneiras distintas de conceber o caso das vogais átonas finais. Uma delas é que o gênero assume caráter derivacional; a outra, o gênero não assume tal caráter. Podemos utilizar dos mesmos vocábulos para exemplificarmos os dois processos, o derivacional e o não derivacional, cantor/ cantora, isto é, os exemplos anteriores podem ser considerados como derivação um do outro ou não. A diferença consiste no posicionamento de outros autores que defendem um dos casos. Mosânio (2004) mostra os dois processos e não demonstra decisão por um ou por outro caso. Mosânio (2004) não assume uma postura clara em referência ao tratamento do gênero. Evidencia, apenas, posicionamentos de outros autores. Demonstra favorecimento ora pelo processo derivacional, ora pela não ocorrência do processo derivacional. O autor não citao processo flexional, não com esta nomenclatura. Em Henriques (2007), os nomes recaem em uma classificação que visa a separar àqueles em que exista oposição morfológica ou gráfica, daqueles em que esse processo não acontece. Os nomes em que a oposição entre masculino e feminino, representada pela marca o/ a inicial e final, são classificados como desinência de gênero, como em o lobo/ a loba. Nesses conceitos formulados por Henriques (2007), o fator principal repousa na relação estabelecida entre termo antecedente, geralmente, um artigo definido, e também, a vogal átona final, essa vogal átona final sendo coincidente com esse termo antecedente. Se um dado vocábulo possui terminação o, por exemplo, para haver classificação como desinência de gênero, esse vocábulo deve ser precedido por um artigo de mesma natureza,

18 ou seja, o também. O mesmo processo acontece com o termo antecedente a e com a terminação de vocábulo em a átono final. Nessas proposições de Henriques (2007), a classificação dos vocábulos como desinência de gênero aumenta de forma considerável, já que a questão da produtividade está imanente. Em um dado vocábulo que não haja oposição gráfica e semântica, como formiga, é possível utilizarmos uma forma que caracterize tal oposição gráfica e semântica. Os usuários da língua podem utilizar *formigo e aquela comunidade de falantes entenderia o uso do vocábulo. Aqueles vocábulos em que tal oposição não existe, recebem a denominação de vogal temática nominal, ou seja, em que não há relação entre o termo antecedente e a vogal átona final, como em o drama. Também recebem a classificação de vogal temática, os nomes terminados em e átono, como em clube. O principal problema da sistematização de Henriques (2007) consiste na diminuição de vocábulos com presença de vogal temática. Alcântara (2010) distribui os nomes do português brasileiro por quatro classes formais. Nessa classificação há, exclusivamente, a observação da vogal átona final, ou seja, vocábulos terminados em o, a, e, Ø são inseridos em classes formais I, II, III e IV, respectivamente. Nessa proposta de Alcântara (2010), o critério observado é a terminação dos vocábulos. Há a junção tanto de nomes em que notamos a coincidência estrutural entre termo antecedente e vogal átona final, como a pedra, quanto aqueles em que o artigo definido é distinto da terminação final da palavra, como em a tribo. Os critérios analisados por Alcântara (2010) são estritamente estruturais, isto é, observa-se a terminação de uma dada palavra. Não se estabelece relação entre artigo e vogal átona final. Também não são observados outros critérios no que concerne à classe formal III e IV. Os adjetivos também são inclusos na proposta da autora, termos esses que possuem colocação variável, pelo menos os adjetivos tratados como uniformes 9. O uso dos adjetivos biformes depende da colocação deste em relação ao substantivo 10. Os conceitos aplicados por Moreno (1997) são coincidentes com aqueles formulados por Alcântara (2010). Moreno (1997) utiliza o termo classes de terminação, já Alcântara (2010) utiliza classes formais. Ambos os casos, dos dois autores, obedecem a requisitos estruturais. O critério seguido é de terminação de dados vocábulos. Observa-se a vogal átona final e, de acordo com isso, utilizam palavras em determinadas classes. A 9 Como diz Cipro Neto e Infante (2004, p. 248), Os adjetivos uniformes são aqueles que possuem uma única forma para o masculino e o feminino. Os exemplos citados pelos autores são: ator ruim/ atriz ruim, vida exemplar/ comportamento exemplar. 10 Os adjetivos biformes se flexionam dependendo do uso do substantivo que os acompanham.

19 diferença entre os casos consiste no fato de Alcântara (2010) utilizar quatro classes formais, nomes terminados em o, a, e e Ø, enquanto Moreno (1997) coloca as palavras terminadas em e e Ø em uma mesma classe. Os conceitos formulados pelos dois autores, Alcântara (2010) e Moreno (1997), abrangem uma série de vocábulos levando em consideração, unicamente, a terminação desse vocábulo. Há, inclusive, palavras em que o agrupamento não seria possível, já que pertence à classe de palavras em que o seu uso depende da utilização em um determinado contexto. 2.2 Vogais Temáticas Nominais: Para Mattoso Câmara (1970), vocábulos com oposição masculino/ feminino, como podemos perceber em lobo/ loba, possuem a marca de gênero. Tal marca é evidenciada pelo morfema a, vogal átona final de feminino. Em outros casos, o a final é classificado como vogal temática nominal, como em janela/ casa/ artista/ pianista/ cometa/ mapa. Para o autor, o o e e são sempre classificados como vogais temáticas nominais, já que o masculino é caracterizado pela ausência do a. A ausência do masculino, assumindo a denominação de Mattoso Câmara (1970), a forma não marcada, pode ser verificada em lobo/ loba, mestre/ mestra, cantor/ cantora. Conforme o autor, o substantivo não necessariamente terá marca de gênero, pode ter Ø, morfema zero. Podemos entender, assim, o posicionamento do autor tratado aqui, do seguinte modo: qualquer outro vocábulo que não apresente a terminação final a átono pode ser entendido como uma forma masculina não marcada. Mattoso Câmara (1970) caracteriza, estritamente, os nomes com terminação a átono final, entretanto, apenas, expõe o masculino como forma não marcada, não delimita aspectos formais para terminação da referida forma não marcada. Esse fato dá inicio para questionamentos sobre a forma de vocábulos, como tribo, em que não é estabelecida relação entre o termo antecedente ao substantivo, geralmente um artigo, e vogal átona final. Não se verifica, nesse caso, a relação do antecedente feminino, geralmente artigo a com a vogal átona final o. Outro fato que podemos ressaltar na caracterização de Mattoso Câmara (1992) incide na classificação, não convincente, dos vocábulos citados acima janela/ casa/ artista/ pianista/ cometa/ mapa em um mesmo agrupamento. Para estabelecer essa classificação, o autor considera, apenas, a terminação desses vocábulos apresentados. O autor engloba palavras uniformes, como testemunha, que são usadas para denominar tanto masculino

20 quanto feminino. Utiliza, também, nomes em que não há relação direta entre termo antecedente e vogal átona final, como mencionamos, anteriormente, a tribo. Também percebemos isso em o cometa e o mapa. As ideias de Mattoso Câmara (1992) são retomadas em propostas de vários autores. Na classificação proposta por Mattoso Câmara (1992) não se observa as particularidades dos vocábulos explicitados. Exerce, assim, uma generalização, pois engloba palavras com dada terminação em uma mesma classificação. Observa-se, apenas, a terminação, não se considera o termo antecedente, exemplificado, geralmente, por artigo definido, como já foi citado anteriormente. Também não se observa se há pares de palavras com diferenças estruturais para designar masculino/ feminino ou se é utilizada uma mesma palavra para os dois gêneros. Podemos observar os processos descritos anteriormente, respectivamente, em gato / gata e o/a paciente. Moreno (1997) expõe o contraste existente entre vogais finais nos vocábulos que marcam distinções de gênero e entre as vogais temáticas nominais propriamente ditas, aquelas que não possuem marca estrutural de gênero. Salienta que as vogais átonas finais com distinções de gênero são marcadores de palavras 11. A diferença expressa por Moreno (1997) nas terminações de palavras com vogal temática nominal ou com marcador de gênero consiste na permanência da vogal temática nominal imediatamente após o radical do vocábulo. Em alguns casos, acontecem processos de afixação, especificamente, um sufixo, o que não acontece com os marcadores de gênero. Então, a diferença estrutural presente nos vocábulos em que as vogais átonas finais são classificadas como marcadores de gênero envolve a colocação de um sufixo que acarreta mudança na estrutura vocabular. Segundo o autor, diferentemente dos marcadores de gênero, as vogais temáticas nominais são caracterizadas com a conservação da vogal no meio da palavra, mesmo com a junção de um sufixo e, em consequência, alteração no vocábulo. Com isso, a classificação de Moreno (1997) abrange os nomes derivados. A proposta de Moreno (1997) assume caráter difuso, pois consiste em uma análise que envolve as vogais temáticas nominais e os afixos. Os processos sufixais, em português brasileiro, assumem caracterização derivacional. Assim, não podemos associar ou comparar vocábulos em que há a presença da vogal temática nominal com vocábulos em 11 A classificação de marcadores de palavras também é utilizada para as vogais temáticas verbais. Não nos reportaremos, aqui, às vogais temáticas verbais, pois não constituem o foco no nosso trabalho.

21 que a presença ou não desta dada vogal temática nominal irá depender da utilização de sufixos. Villalva (2000) assume a nomenclatura de índice temático para caracterizar as vogais átonas finais em vocábulos como barca, sapata, poça. Tal nomenclatura, índice temático, já foi adotada, em trabalhos anteriores, por Mattoso Câmara (1992). A autora utiliza-se do estudo diacrônico para explicar os casos de vogais átonas finais, tais como fruto/ fruta. Como diz a autora, podemos estabelecer uma comparação com os vocábulos de diversas origens. Tais vocábulos seguem essa mesma marca estrutural binária. Percebemos isso em sapato/ sapata, barco/ barca, poço/ poça. Para a autora, o índice temático a existente em vocábulos como sapata, barca, poça possui semelhanças nos sufixos. O a final dos vocábulos descritos acima carregaria marca derivacional. Deste modo, estabelece associação entre tais vocábulos e uma forma correspondente, como sapato/ sapatilha, barco/ barcaça, poça/ poceira. A autora tratada acima utiliza de processos derivacionais para exemplificar a ocorrência de vocábulos com presença de índice temático. Assim como Moreno (1997), que utiliza de processos derivacionais para explicar os casos de vogais temáticas nominais, Villalva (2000) também utiliza processos derivacionais para elucidar o índice temático. Cintra (2004) retoma a classificação de Mattoso Câmara (1992). Cintra (2004) justifica a existência da vogal temática nominal por meios sincrônicos e diacrônicos. O processo sincrônico consiste na depreensão de vocábulos. O diacrônico baseia-se no estudo do processo da desinência de acusativo na declinação latina, ou seja, a vogal da desinência de acusativo das declinações do sistema de casos do latim que resultou na vogal temática nominal. Assim, utiliza o processo histórico e, por analogia, faz aplicação em vocábulos de outras origens, como os vocábulos indígenas, em palavras de outras origens com terminação em a, como em jangada, esfiha, quitanda. Também com a terminação em e, como uísque, quibe. As palavras com terminações em consoantes, como bar, que contém alomorfe Ø no singular, são tratadas como as palavras terminadas em e. Tais palavras terminadas em consoantes no singular se baseiam na existência de uma forma pós-vocálica teórica que é deduzida do plural, como exemplo dor. O plural do vocábulo dor é dores, considera-se a forma de singular da vogal e, devido a essa forma estrutural de plural. O autor não reconhece analogia em palavras com terminação e nos processos sincrônicos, seu trabalho assume, nesta parte, caráter diacrônico, O posicionamento do autor não demonstra o reconhecimento e importância da distribuição

22 mórfica. Menciona a denominação de atualizadores léxicos cumulativos em dados vocábulos, descrição feita por Carvalho (1973). Segundo Cintra (2004), as vogais temáticas nominais estão distribuídas em dois grupos, os temáticos e atemáticos. O primeiro grupo, classificado como temáticos estão inseridas palavras com terminação em a, e e o, que seriam vogais temáticas nominais. Os outros vocábulos que não estão inseridos nessa classificação pertencem ao segundo grupo, ou seja, atemáticos. Os atemáticos são caracterizados pelos vocábulos oxítonos terminados em vogal ou, ainda, por paroxítonos terminados em is ou us. Podemos demonstrar, respectivamente, os casos descritos anteriormente em sofá / cipó / café, como exemplos de oxítonos, e, lápis, como exemplo de palavra paroxítona. Mosânio (2004) explicita que não há consenso sobre a denominação das vogais temáticas nominais em português brasileiro. Para o autor, as vogais temáticas nominais são morfemas gramaticais e categóricos. Mostra a existência de vogais temáticas nominais em vocábulos com terminação em a, rosa / poeta ; com terminação em o, lobo / livro ; com terminação em e, ponte / dente / triste. Para o autor, há casos em que se faz a tentativa de explicar a ocorrência da vogal temática nominal pelo tema, isto é, observa-se o tema de uma palavra e faz-se a depreensão dos morfemas para distinguir o radical e, com isso, encontrar a vogal temática nominal. Há outros casos em que se faz o contrário, ou seja, é necessária a presença da vogal temática nominal com o radical para identificar qual seria o tema da palavra. Observamos com isso uma questão tautológica. Mosânio (2004) trata de estabelecer a diferença da vogal temática nominal contida em substantivos e da vogal temática nominal presente nos adjetivos. Expõe que os adjetivos com terminação em e, como alegre, não têm uma forma opositiva. Os substantivos com terminação em e, como mestre, podem ter uma forma correspondente, mestra, que é a oposição. Podemos evidenciar que não há motivação gramatical e distribucional. O processo mencionado acima não engloba um número significativo de vocábulos em português brasileiro, com isso essa descrição fica comprometida. Deveria considerar os casos com presença de alomorfias. Henriques (2007), em seu texto, expõe o fato de alguns desses autores não mencionarem as vogais temáticas nominais em português brasileiro. O autor alude às ideias de Carvalho (1973). Assim, Carvalho (1973) atribui outra denominação para as vogais átonas finais, atribui a classificação de atualizadores léxicos. Henriques (2007) distingue o uso das vogais temáticas nominais e o dos atualizadores léxicos, com isso o uso

23 das vogais temáticas nominais e dos atualizadores léxicos não consiste, apenas, em mudança de nomenclatura. Existem, assim, os vocábulos que se baseiam apenas na terminação da palavra, ou seja, se a palavra tem terminação o, a ou e. Há, também, vocábulos em que essa vogal átona final além de marcar essa estrutura para a terminação, contém também traço de gênero. Então, sempre haveria atualizadores léxicos no final dos vocábulos nominais, a diferença consiste no fato de que algumas palavras carregam o traço de atualizador léxico e, também, de desinência de gênero, o morfema final dessas palavras contém uma função cumulativa. O autor expõe os casos típicos de ocorrência da VT, podemos evidenciar janel-a, gent-e, ferr-o. As vogais o, a e e são classificadas como vogais temáticas nominais, aquelas terminadas em o nunca indicam o gênero; as terminadas em e, quase sempre; já as terminadas em o, nunca. Há algumas características dos morfemas citados anteriormente. A primeira é que possuem significação interna gramatical. Uma segunda característica consiste no fato de que não há oposição em palavras como formoso/ formosa, a palavra nem sempre teria duas funções cumulativas, ou seja, funcionaria como atualizador léxico e como desinência de gênero. Terceira, a vogal temática nominal não possui caracterização clara, diferentemente das vogais temáticas verbais 12. Algumas posturas são adotadas para explicação dos casos de VT. Uma delas é que a marca o final seria exclusivamente VT, em contraposição o a não assumiria tal função. Também há posturas a favor da não existência de VT nos nomes. 12 As vogais temáticas verbais apresentam terminações em a, e ou i, seguindo a conjugação da terminação verbal.

24 3. CLASSES FORMAIS E CLASSES DE GÊNERO EM PB Tabela 1: Exemplos de palavras não derivadas do PB distribuídas pelas classes formais e de gênero. Classe formal (cf. Alcântara) Classe I /o/ Classe II /a/ Classe III /e/ Classe IV /Ø/ Classe de Gênero Com flexão de Gênero [± animado] Sem flexão de Gênero [± animado] Motivada [+animado] Arbitrária [- animado] Temática Atemática o jarro o jato a tribo o lobo o europeu o leitão o valentão a loba a europeia a leitoa a valentona a coroa o/a agiota o mestre o cantor o órfão a jarra a dama o aroma a chave o cofre o júri o bule o violão o mar a coragem o jóquei o herói o chapéu Há duas propostas teóricas principais seguidas neste trabalho. A primeira delas é a de Alcântara (2010), a segunda delas é a de Henriques (2007). Propostas estas, inclusive, que utilizamos para a formulação da tabela acima. Retomaremos, aqui, as principais ideias das propostas teóricas desses autores, já mencionadas na seção anterior. Inicialmente, para a formulação da tabela 13 acima, observamos a distribuição dos nomes por classes formais, seguindo a proposta formulada por Alcântara (2010). Tal proposta se baseia na terminação dos vocábulos. Assim, na proposta de Alcântara (2010) há a divisão de palavras em quatro classes formais. Os nomes terminados em /o/ pertencem à classe formal I, aqueles terminados em /a/ pertencem à classe formal II, os nomes terminados em /e/ pertencem à 13 Apesar de seguirmos, inicialmente, a proposta de classe formais de Alcântara (2010), os exemplos de vocábulos da tabela 1 pertencem a este trabalho.

25 classe formal III, já os atemáticos pertencem à classe formal IV, exemplificados por palavras terminadas em consoante, vogal tônica ou semivogal. Os vocábulos distribuídos na tabela acima seguem, primeiramente, o critério de terminação das classes formais. Essa proposta é puramente formal, não leva em consideração uma possível função de morfema indicativo de gênero. A proposta de Henriques (2007) considera morfemas indicativos de gênero, diferentemente da proposta de Alcântara (2010), em que se utiliza, unicamente, de aspectos formais para distribuição dos nomes não derivados em português brasileiro pelas referidas classes formais. Os conceitos de Henriques (2007) além de considerarem a existência de morfemas indicativos de gênero, também ampliam, consideravelmente, essa classificação para vocábulos em que não seriam requeridos. Henriques (2007) engloba em mesmas classificações vocábulos entendidos como subespecificação de outros, como jarro/ jarra, manto/ manta, cinto/ cinta. Assim, a existência do morfema indicativo de gênero estaria presente para além dos contextos lexicais em que seriam requeridos. A tabela, ainda, além de contemplar o aspecto formal dos nomes, observa o aspecto de animacidade. Referindo-nos às palavras não derivadas, há duas classes dos gêneros em português brasileiro. A primeira classe é a dos nomes com flexão de gênero [±animado] e a segunda é a dos nomes sem flexão de gênero [±animado]. Em ambas as classes se observa a presença do traço de animacidade. A primeira classe dos nomes com flexão de gênero se desmembra em subclasses, aquela com flexão motivada e a outra com flexão arbitrária. Chamamos uma das subclasses da flexão de gênero de motivada, por que há relação entre o gênero gramatical dos nomes e o sexo biológico. Ressaltando, aqui, a diferenciação entre gênero e sexo biológico 14. Aqui, nesta subclasse, haveria uma coincidência entre o morfema de gênero e o indicador de classe formal, com isso, pode-se postular a existência de um morfema cumulativo para marcar o gênero e a classe formal nesse caso. Consideramos os vocábulos com flexão de gênero arbitrária, pois nos vocábulos dessa subclasse, além de não haver relação entre gênero e sexo biológico, os nomes funcionam como uma subespecificação (Henriques, 2007) de outros nomes, ou seja, a denotação do vocábulo flexionado corresponde a uma subespecificação do nome não marcado. Assim, tanto o masculino quanto o feminino podem corresponder a essa subespecificação, não havendo motivação para isso. 14 Não trataremos do processo como uma relação entre gênero e sexo biológico, também não confundiremos o gênero gramatical com o sexo biológico dos nomes, processo já mencionado em nota de rodapé na introdução deste trabalho.