a d o n i s Poemas Organização e tradução Michel Sleiman Apresentação Milton Hatoum



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a d o n i s Poemas Organização e tradução Michel Sleiman Apresentação Milton Hatoum

Copyright Adonis for the Arabic text Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Capa Victor Burton Foto de capa John Foley/ Opale Revisão técnica da tradução Safa Jubran Preparação Jacob Lebensztayn Revisão Renata Del Nero Huendel Viana Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Adonis Poemas / Adonis ; organização e tradução Michel Sleiman ; apresentação Milton Hatoum. 1ª- ed. São Paulo : Companhia das Letras, 2012. isbn 978-85-359-2124-3 1. Poesia árabe i. Sleiman, Michel. ii. Hatoum, Milton. iii. Título. 12-05866 cdd-892.7 Índice para catálogo sistemático: 1. Poesia : Literatura árabe 892.7 [2012] Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz s.a. Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 04532-002 São Paulo sp Telefone (11) 3707-3500 Fax (11) 3707-3501 www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhia.com.br

Sumário O cavaleiro das palavras estranhas Milton Hatoum... 9 Adonis em português Michel Sleiman... 27 1957-1968 do amor, da morte, do que não acaba... 35 Amor... 41 Canções para a morte... 42 Folhas... 43 Desespero... 44 O oriente da beleza... 45 Na sombra das coisas... 46 Caminho... 47 O parto... 48 União... 49 A pedra de luz... 50 A sibila... 51 Vivo com a luz... 52 folhas ao vento... 53 o cavaleiro das palavras estranhas... 61 Salmo... 63 Não é estrela... 64 Mihyar é um rei... 65 Voz... 66 Outra voz... 67

Seus olhos nascem... 68 Os dias... 69 Exortação da morte (vozes)... 70 Voz... 71 Máscara de canções... 72 A cidade dos exilados... 73 Novo testamento... 74 Entre o eco e a voz... 75 O sino... 76 Fim do céu... 77 O rosto de Mihyar... 78 Indecisão (vozes)... 79 Dorme nas próprias mãos... 80 Carrega nos olhos... 81 O gêmeo do dia... 82 Os outros... 83 O bárbaro santo... 84 flor da alquimia... 85 Flor da alquimia... 87 Assombro cativo... 88 Árvore do dia e da noite... 89 Templo do dia... 90 Árvore do Oriente... 91 O signo... 92 Árvore das entranhas... 93 Árvore do fogo... 94 Árvore da manhã... 95 Bosque da magia... 96 Árvore dos cílios... 97

Árvore da aflição... 98 Região dos brotos... 99 os dias do sacre... 101 estação das árvores: elegias e epitáfios ao sacre em sua tumba... 109 espelhos do ator invisível... 121 Espelho do sono... 123 Espelho da pergunta... 124 Espelho do século xx... 125 Espelho das nuvens... 126 Espelho de um corpo apaixonado... 127 Espelho do corpo do outono... 128 Espelho do tempo e do olho... 129 Espelho de Orfeu... 130 Espelho do giro... 131 1971-1988 tumba para nova york... 135 o tempo... 161 celebração... 173 Celebração de Beirute, 1982... 175 Celebração da infância... 179 1994-2003 nos braços de outro alfabeto... 187 guia para viajar pelas florestas do sentido... 215

breve abecedário da mulher... 235 música i... 243 Obras de Adonis... 251

1957-1968

do amor, da morte, do que não acaba [seleção] Este título, dado pela tradução, é formado com base na seleção de poemas tirados dos capítulos Poemas da morte, Canções do amor, Limites do desespero e Poemas que não acabam, de Primeiros poemas, 1957.

Amor Me amam o caminho, a casa e na casa uma jarra vermelha amada pela água, me amam o vizinho o campo, a debulha, o fogo, me amam braços que trabalham contentes do mundo descontentes e os arranhões acumulados no peito exaurido do meu irmão atrás das espigas, da estação, como rubis mais rubros que o sangue. Nasci e nasceu comigo o deus do amor que fará o amor quando eu me for?

Canções para a morte 1. A morte quando passa por mim é como se o silêncio a abafasse é como se dormisse quando eu dormisse. 2. Ó mãos da morte, alonguem meu caminho meu coração é presa do desconhecido, alonguem meu caminho quem sabe descubro a essência do impossível e vejo o mundo ao meu redor.

Folhas 1. Um eco me diz agora vindo de ti: o que conta de mim e de ti o segredo não tem vida. 2. As estações sabemos como amam que língua falam os campos e ventos eles não sabem.

Desespero Caminha siderado nas pálpebras conduzido em demorado gemido desconcerto o atinge por onde anda como se lhe habitasse os passos. Vencido pelo ignoto tem as pálpebras como se horizonte de areias como se por desespero seu sol se apagasse no oriente.

O oriente da beleza Quando penso em ir ver o oriente da beleza e o poente me chama as trilhas se apagam através dos meus passos.

Na sombra das coisas Gosto de ficar na sombra das coisas no segredo delas, gosto de entranhar a criação de vagar como as ideias como a arte que se estranha e, incerto, incauto renasço a cada dia.

Caminho Caminho e atrás de mim caminham as estrelas até seu próximo amanhã o segredo, a morte, o que nasce, o cansaço amortecem meus passos, avivam meu sangue. Não iniciei a trilha, ainda não vejo nenhum jazigo caminho até mim mesmo, até meu próximo amanhã caminho e atrás de mim caminham as estrelas.