Deliberação 2/2016 (PUB-TV-PC) Processo contraordenacional contra a TVI Televisão Independente, S.A.



Documentos relacionados
Deliberação 47/2014 (CONTPROG-R-PC) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação ERC/2016/106 (OUT-I-PC)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Decisão 5/PC/2011

Deliberação. Processo contraordenacional contra a TVI Televisão Independente, S.A.

Deliberação 44/2015 (SOND-TV-PC) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Decisão 10/PC/2011

Deliberação 98/2015 (DR-I) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação 170/2013 (AUT-R) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação ERC/2016/250 (DR-I)

Deliberação ERC/2016/93 (PROG-TV)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 4/CONT-R/2012

Deliberação 22/2015 (AUT-R-PC) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação ERC/2016/189 (DR-I)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 7/PUB-TV/2009

Deliberação 26/2015 (DR-TV-PC) Processo contraordenacional contra a RTP Rádio e Televisão de Portugal, S.A.

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 10/LIC-R/2012

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 7/OUT-TV/2009

Deliberação ERC/2016/126 (OUT-R-PC)

Deliberação ERC/2016/208 (DR-I)

PROJETO DE CONVITE À APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 5/CONT-I/2011

Deliberação 223/2013 (OUT-TV) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Decisão 16/PC/2011

Deliberação 164/2014 (DR-I)

Deliberação 4/2013 (DR-I) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

FREGUESIA DE QUIAIOS NIPC

Deliberação 44/ /2014 (AUT-R)

Deliberação ERC/2016/153 (CONTJOR-TV)

PARECER N.º 2/CITE/2010

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/AUT-R/2012

Deliberação 134/2014 (CONTJOR-TV)

Deliberação 122/2015 (DR-TV)

CONTRATO DE COMPRA DE ENERGIA ELÉTRICA UNIDADES DE MICROPRODUÇÃO

Deliberação 269/2013 (AUT-R)

PROGRAMA CONCURSO PÚBLICO

DECRETO N.º 238/XII. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.

Deliberação ERC/2016/147 (DR-I)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 37/DR-I/2012

Deliberação 111/2015 (CONTJOR-TV) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 5/PUB-TV/2010

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Decisão 14/PC/2012

Deliberação. 160/ /2015 (Parecer) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação 43/2016 (CONTJOR-TV) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação 126/2014 (AUT-TV)

Deliberação ERC/2016/186 (DR-I)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 8/AUT-TV/2012

Deliberação. 139/2014 (Parecer)

Deliberação ERC/2016/206 (OUT-TV) Ratificação do Acordo de Autorregulação respeitante à Determinação do Valor Comercial Significativo

Deliberação ERC/2016/179 (DJ-NET)

Deliberação 266/2013 (DR-I)

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Anexo II Procedimento Disciplinar dos Alunos. Anexo II PROCEDIMENTO DISCIPLINAR DE ALUNOS. (Capítulo IV da Lei n.º 51/2012, de 05 de setembro)

Decisão 11/PC/2012. Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Acórdão n.º 14/2012 3ª Secção-PL I RELATÓRIO

Deliberação ERC/2017/20 (PUB-TV)

Deliberação 275/2013 (PUB-TV) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Laís Maria Costa Silveira Promotora de Justiça de Belo Horizonte Titular da 22ª Promotoria de Justiça de Defesa da Pessoa com Deficiência e Idosos.

Assunto: Erro notório na apreciação. Droga. Tráfico de estupefaciente. Juízes: Viriato Manuel Pinheiro de Lima (Relator), Sam Hou Fai e Chu Kin.

Processo de arbitragem n.º 490/2014. Sentença

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 3/SOND-I/2009. Divulgação de sondagem pelo Expresso.

Processo de arbitragem

TRIBUNAL ARBITRAL DE CONSUMO

Instruções para os trabalhadores a recibo verde da. Câmara Municipal de Lisboa

Deliberação 76/2015 (OUT-I) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

CNEF FASE DE FORMAÇÃO INICIAL SUMÁRIOS DE PRÁTICA PROCESSUAL PENAL. Proposta de programa a desenvolver em sumários:

Deliberação 112/2015 (DR-TV)

Principais medidas decorrentes do Decreto-Lei 197/2012, de 24 de Agosto:

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 9/PUB-TV/2010

Deliberação 145/2015 (AUT-R) Modificação do projeto licenciado à SIRS Sociedade Independente de Radiodifusão Sonora, S.A, para conversão da

REGIMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VILA FLOR

Regime fiscal das fundações. Guilherme W. d Oliveira Martins FDL

Licenciamento da Atividade de Arrumador de Automóveis

Deliberação 207/2013 (AUT-R)

Processo de arbitragem n.º 401/2018

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 4/OUT-TV/2010

Deliberação 29/2013 (AUT-R)

Deliberação ERC/2017/72 (DR-I)

ACORDAM NA SECÇÃO DISCIPLINAR DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Começamos por referir que o presente processo resultou da conversão do

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 18/XII. Exposição de Motivos

Acórdão n.º 11/ ª Secção-PL P. N.º 3 ROM-SRM/2013 (PAM-N.º 26/1012-SRMTC)

Deliberação 12/2014 (CONTJOR-TV) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 8/PUB-TV/2010

Ser Criança com o Clube Bebé Nestlé

Deliberação 26/AUT-R/2012. Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Deliberação. ERC/2016/272 (Parecer-TV) Proposta de aditamento ao Contrato de Concessão de Serviço Público de Rádio e de Televisão

VOTO EM SEPARADO I RELATÓRIO. Vem ao exame desta Comissão o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 218, de 2010, cuja ementa está transcrita acima.

ACORDAM NA SECÇÃO DISCIPLINAR DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. Por despacho do Senhor Vice-Procurador-Geral da República, datado de 8 de

Deliberação ERC/2016/103 (CONTJOR-R)

Deliberação ERC/2016/229 (AUT-R) Alteração de domínio do operador Rádio Clube de Gondomar - Serviço de Radiodifusão Local, Unipessoal, Lda.

Pedido de Licenciamento Atualizado em:

COMUNICADO. eletrónicos de órgãos de comunicação social estão sujeitas ao disposto no n.º 1 do artigo 10º da Lei das Sondagens;

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/LIC-R/2010

Deliberação ERC/2016/230 (AUT-TV)

PERGUNTAS FREQUENTES

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/LIC-R/2009

Deliberação 24/2013 (AUT-R)

Transcrição:

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social Deliberação 2/2016 (PUB-TV-PC) Processo contraordenacional contra a TVI Televisão Independente, S.A. Publicidade televisiva no serviço de programas TVI do operador TVI Televisão Independente, S.A., semana de 18 a 24 de março de 2013 Lisboa 6 de janeiro de 2016

CONSELHO REGULADOR DA ENTIDADE REGULADORA PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL Deliberação 2/2016 (PUB-TV-PC) Ao abrigo do disposto nos n.ºs 4 e 5 do artigo 41.º-A, da Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido, (Lei n.º 27/2007, de 30 de julho), na sua redação atual, conjugado com o artigo 24.º, n.º 3, alínea ac), dos Estatutos da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, aprovados pela Lei n.º 53/2005, de 8 de novembro, e o artigo 34.º, do Decreto-Lei n.º 433/83, de 27 de junho, o Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (doravante, ERC), instaurou, nos termos e com os fundamentos constantes da Deliberação 169/2013 (PUB-TV), de 26 de junho de 2013, um processo de contraordenação contra a TVI Televisão Independente, S.A., com sede na Rua Mário Castelhano, n.º 40, Queluz de Baixo, 2749-502 Barcarena. Não há questões prévias a decidir, pelo que nada obsta a que seja proferida decisão. Conforme consta do processo, foi lavrada acusação por factos que se traduziam no incumprimento do disposto no artigo 41.º - A, n.ºs 4 e 5, da LTSAP, vindo a arguida TVI Televisão Independente, S.A., acusada da prática de contraordenação nos termos seguintes: I. Dos Factos 1. No âmbito do acompanhamento das emissões dos operadores televisivos, com vista à verificação do cumprimento das regras de inserção de publicidade na televisão e das práticas televisivas em matéria de colocação de produto, face aos limites legais estabelecidos na Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido (doravante, LTSAP), procedeu-se à análise da emissão do serviço de programas TVI do operador TVI- Televisão Independente, S.A.. 2. A amostra selecionada incidiu sobre a emissão da semana de 18 a 24 de março de 2013, tendo a análise sido direcionada para alguns tipos de conteúdos que merecem atenção particular face ao previsto na LTSAP, designadamente: i) Serviços e magazines noticiosos - Diário da Manhã e Jornal das 8 ; 1

ii) Programas de entretenimento (talk-show, magazine social, variedades e concurso) Você na TV!, A Tarde é Sua, É a Vida Alvim, Não há Bela sem João, A Verdade de cada Um, Spot +, Somos Portugal e A tua Cara não me é Estranha ; iii)programas de ficção em língua portuguesa (telenovelas e série) Ninguém como Tu, Doida por Ti, Destinos Cruzados, Louco Amor e Portal do Tempo ; iv) Programas infanto juvenis Kid Canal ; iv) Obras cinematográficas Filme de Terça, Filme de Sexta e Sessão de Sábado. 3. No que se refere à colocação de produto, prevista no artigo 41.º-A, da LTSAP, verificou-se que no início, no recomeço e final dos programas que contêm este tipo de mensagens surge o símbolo indicador de presença de produto, como nos programas Você na TV!, A Tarde é Sua, Destinos Cruzados, Louco Amor, Somos Portugal e A Tua Cara não me é Estranha, em conformidade com o n.º 6 do artigo citado supra. 4. Contudo, foram identificados casos de colocação de produto em que foi atribuído relevo indevido às marcas Optivisão e Ella Lingerie no programa Você na TV!, respetivamente nos dias 18 e 19 de março: i) Na emissão de 18 de março, pelas 10h31m, foi feita uma entrevista sobre uma empresa familiar de óculos feitos à mão, apelando-se à compra do produto nacional pela qualidade e preço. No final da entrevista foi assinalado pela entrevistada que a empresa faz parte do grupo português Optivisão, inteiramente composto de capital nacional, e convida ao associativismo de outras óticas no grupo. A propósito desta deixa, o apresentador brincou com a marca, repetindo por diversas vezes o nome Optivisão. ii) Já no programa de 19 de março, pelas 10h58m, a propósito do Dia do Pai, foi apresentado um conjunto de peças de roupa interior e pijamas da loja Ella Lingerie. A convidada Helena Bettencourt Sardinha, gestora e coordenadora da cadeia de lojas, é presença regular no programa Você na TV! e começou por elogiar a qualidade dos produtos portugueses que vendem, destacando que a única marca, embora com produção em Portugal, que não era portuguesa é a Punto Blanco, ao mesmo tempo que mostrou peças da referida marca. O apresentador salientou a qualidade das peças e de seguida foi feita uma passagem de vários manequins com as peças da loja. Ao longo de toda a passagem de modelos foram sendo enaltecidas pela convidada e pelo apresentador as características dos produtos. 2

Na parte final da apresentação foi anunciada a abertura de mais uma loja da Ella Lingerie, no Porto, e as presenças da especialista Helena Bettencourt Sardinha, para aconselhamento, nas lojas da grande Lisboa. 5. Em apêndice, foi apresentado um quadro contendo a indicação dos resultados da verificação efetuada ao programa Você na TV!, no que respeita à sua conformidade face ao artigo 41.º - A, da LTSAP. 6. Na sequência da análise realizada, o operador foi notificado para se pronunciar, através do ofício n.º 2082/ERC/2013, de 19 de abril, não tendo apresentado defesa. 7. Tendo em conta o exposto sobre a colocação de produto no programa Você na TV!, nos dias 18 e 19 de março, considerou-se que o relevo atribuído às marcas encorajaram o telespetador à compra e aquisição dos bens em causa, nomeadamente no caso dos produtos da Ella Lingerie e foi conferida uma exposição excessiva à marca Optivisão, não constituindo mais-valia do ponto de vista editorial, pelo que se considerou por incumprido o disposto nos ns.º 4 e 5 do artigo 41.º - A, da LTSAP. 8. Entendeu-se, assim, que a colocação de produto no programa Você na TV!, consubstanciou a violação do artigo n.º 41.º - A, n.ºs 4 e 5, da LTSAP. 9. Sustentou-se que a Arguida, ao conceder no programa Você na TV! um relevo indevido à marca Ella Lingerie e ao conferir uma exposição excessiva à marca Optivisão, bem sabia que violava as obrigações previstas na Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido, pelo que, e face ao exposto, a acusação concluiu que a Arguida agiu dolosamente, pois embora tivesse conhecimento da legislação que regula a atividade televisiva, nem assim teve a diligência de não atribuir um relevo e exposição excessiva às marcas Ella Lingerie e Optivisão no programa Você na TV!. 10. Pela sua conduta, a Arguida foi acusada da prática da contraordenação prevista e punida na alínea a), do n.º 1, do artigo 76.º da Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido estando consequentemente sujeita à aplicação de uma coima a determinar nos termos do disposto no artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro. II. Da Defesa 11. No exercício do direito que lhe assiste, a Arguida veio apresentar defesa junto da ERC, no dia 19 de dezembro de 2014. 3

12. Alega a Arguida que «a acusação limita-se a apresentar a conclusão de que os resultados da verificação efetuada ao programa analisado não está conforme com o artigo 41.º-A, sem cuidar de referir ou analisar, em concreto, os factos que conduziram a essa conclusão». 13. Sustenta a Arguida que a acusação não apresentou «qualquer descrição do teor das mensagens que considerou como atribuindo relevo excessivo a marcas e, sobretudo, do raciocínio e fundamentos que conduziram a esta acusação». 14. Afirma por isso que, «por desconhecer os factos que lhe são imputados, não pode a TVI apresentar uma efetiva defesa, exercer o seu direito ao contraditório, contrariar a lógica de raciocínio da acusação e apresentar provas destinadas a evidenciar a sua posição de facto e de direito». 15. Mais disse que, apesar da acusação «mencionar genericamente que a TVI, no programa atribuiu relevo indevido à marca Ella Lingerie e conferiu uma exposição excessiva à marca Optivisão, não identifica os factos nem os motivos sobre os quais pretende decidir». 16. Considera por isso que «tais omissões não permitem à arguida identificar precisamente o conteúdo da acusação, nem ajuizar da aplicação dos critérios que a esta conduziram, o que acarreta manifesto prejuízo para a sua defesa». 17. Defende assim que «a acusação deve ser considerada nula, por força do disposto no corpo do n.º 3 do artigo 283.º do Código de Processo Penal». 18. Refere também a Arguida que «para existir colocação de produto é materialmente necessário que estejamos perante uma relação comercial entre uma marca e um operador de televisão ou produtor audiovisual». 19. Continuou dizendo que, «no caso do programa Você na TV!, quer no caso da referência à Optivisão, como na Ella Lingerie, tratou-se apenas e tão só de um conteúdo editorialmente escolhido pela produção e realização, sem qualquer relação comercial subjacente». 20. Para a Arguida «não basta afirmar que se deu relevo indevido a uma determinada marca e daí tirar a conclusão de que estamos perante uma colocação de produto». 21. Alega também que «seria necessário investigar qual a razão de tal inserção, se corresponderia ou não a uma contrapartida comercial para o operador de televisão e, depois, verificar se tal referência contém um efeito promocional específico». 22. Argumenta a Arguida que «nada disso foi feito no presente processo, não tendo sequer a ERC desenvolvido qualquer diligência probatória nesse sentido». 4

23. Entende por isso que «a decisão de acusar a TVI é, assim, injustificada, tendo em conta o conteúdo do programa analisado e a inexistência de qualquer relação comercial entre a TVI e as marcas referenciadas». 24. Afirma ainda que «as situações identificadas como sendo de promoção às marcas Optivisão e Ella Lingerie não configuram qualquer tipo de colocação de produto, mas sim e apenas o desenvolvimento de temas que os editores de programa consideraram adequado ao seu público-alvo». 25. Considera a Arguida que «para que se pudesse falar em publicidade teria necessariamente de existir uma relação comercial entre o difusor da mensagem e o detentor do produto ou serviço referido, incluindo, obviamente, a intenção de difundir uma mensagem publicitária». 26. Refere a Arguida que «no presente caso, nada disso aconteceu. A TVI não estabeleceu qualquer relação comercial com as marcas, não obteve qualquer benefício económico pelas menções que foram efetuadas, nem teve qualquer intenção de promover as marcas referidas». 27. A Arguida também impugna o conteúdo dos pontos 1.4; 1.7; 1.8; 1.9 e 1.10 da acusação. 28. Conclui, indicando prova testemunhal e requerendo o arquivamento dos presentes autos. 29. A inquirição de testemunha teve lugar na sede da ERC, no dia 6 de janeiro de 2015. 30. A testemunha que compareceu à inquirição identificou-se como Paulo Alexandre Gorjão Henriques Cirilo Machado e exerce a função de Diretor Comercial Adjunto da TVI. 31. No âmbito do presente processo contraordenacional referiu que «a negociação e faturação das formas de publicidade compete, em exclusivo, à Direção Comercial da TVI. Isto inclui o programa Você na TV!». 32. Mais disse que, no caso em análise, «a direção comercial nunca contratou com as marcas Optivisão e Ella Lingerie para o programa Você na TV!». 33. Informou também que «a TVI não recebeu nem faturou nada com a referência das marcas em causa no programa Você na TV!». III. Deliberação 34. Na defesa apresentada, a Arguida começa por alegar que a acusação não apresentou «qualquer descrição do teor das mensagens que considerou como atribuindo relevo 5

excessivo a marcas e, sobretudo, do raciocínio e fundamentos que conduziram a esta acusação». 35. Como tal, considera a Arguida que a acusação deve ser considerada nula, nos termos do artigo 283.º, n.º 3, do Código do Processo Penal (doravante, CPP). 36. Analisada a acusação, verifica-se que nela se referem os factos que fundamentam a aplicação à Arguida de uma pena, bem como as disposições legais em causa no caso em análise. 37. Da leitura dos fundamentos da acusação facilmente se verifica que, como foi aduzido nos pontos 1.5 e 1.7 de tal peça, a Arguida vem acusada da prática da contraordenação p.p. no artigo 41.º-A, n.ºs 4 e 5, por colocação indevida de produto no programa Você na TV!, nos dias 18 e 19 de março de 2013. 38. É referido expressamente na acusação que tal violação resultou do relevo excessivo conferido às marcas Ella Lingerie e Optivisão no programa Você na TV!, dos dias 18 e 19 de março de 2013, descrevendo-se em pormenor as partes do programa em que tal aconteceu (pontos 1.4, alíneas i) e ii) e 1.7). 39. A acusação cumpre assim com o preceituado no artigo 283.º, n.º 3, do CPP, não assistindo qualquer razão à Arguida neste ponto. 40. Relativamente à colocação de produto de que vem acusada a Arguida, considera-se que o consumidor foi confrontado com a promoção às marcas Ella Lingerie e Optivisão, nas emissões de dias 18 e 19 de março, no programa Você na TV!, com apelos à compra destes produtos, através de referências integradas no discurso, em que são evidenciadas as virtualidades dos produtos, com um discurso enfático e repetitivo (vide ponto 4 da presente decisão). 41. A este respeito, alega a Arguida não ter recebido qualquer contrapartida financeira, tendo estas situações acontecido em resultado de uma mera opção editorial do programa em causa. A testemunha apresentada pela Arguida acompanhou este argumento referindo que a direção comercial nunca contratou com as marcas Optivisão e Ella Lingerie para o programa Você na TV!. 42. Ainda que as referências às marcas assinaladas não tenham tido qualquer contrapartida financeira ou outra, mantém-se a convicção de que estas marcas foram beneficiadas com o destaque especial que lhes foi concedido, no espaço que lhes foi dedicado no programa Você na TV!. 6

43. Assim, as referências às marcas Ella Lingerie e Optivisão não devem ser justificadas com questões do foro editorial, uma vez que as aludidas referências não eram necessárias à finalidade das rubricas apresentadas. 44. Por se entender que o conteúdo da emissão foi influenciado, senão concebido em função das marcas referidas e por incitar à compra de bens e serviços, considera-se que foi desrespeitado o disposto no artigo 41.º - A, nºs 4 e 5, da LTSAP, por inserção de publicidade no decurso do programa Você na TV!, não tendo a Arguida carreado para o processo elementos que permitissem afastar a convicção do Regulador quanto à ilicitude dos factos. 45. Importa ainda referir que foram várias as vezes em que a Arguida inseriu mensagens publicitárias semelhantes às agora analisadas, tendo sido já condenada no âmbito do respetivo procedimento contraordenacional nos termos da Deliberação 5/2013 (PUB-TV- PC), de 9 de janeiro de 2013. 46. A Arguida tem perfeito conhecimento das normas que regulam a atividade televisiva por si prosseguida e, atentas as anteriores intervenções deste Regulador e as deliberações referidas, é certo que a Arguida conhecia o regime legal a que está adstrita, tendo seguramente representado os deveres que sobre si impendiam, conformando-se com o seu incumprimento. 47. Relativamente à gravidade da infração conclui-se que é acentuada, uma vez que, pelo comportamento da Arguida, os telespetadores são encorajados à compra de determinados produtos. 48. Não foi possível determinar se com a infração praticada a Arguida retirou benefícios económicos. 49. Tendo em conta o exposto, conclui-se que a Arguida violou, dolosamente e em concurso real, o disposto no artigo 41.º - A, n.ºs 4 e 5, conduta prevista e punida nos termos do artigo 76.º, n.º 1, alínea a), da LTSAP. Em face de tudo o que antecede, vai a Arguida ser condenada no pagamento de uma coima no valor de 20 000 (vinte mil euros), nos termos do disposto no artigo 76.º, n.º 1, alínea a), da Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido, por ter dolosamente violado o disposto no artigo 41.º -A, n.ºs 4 e 5, do mesmo diploma legal. 7

Mais se adverte a Arguida, nos termos do artigo 58.º, do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro, que: a) A presente contraordenação torna-se definitiva e exequível se não for judicialmente impugnada nos termos do artigo 59.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro; b) Em caso de impugnação judicial, esta deve ser dirigida ao Juiz de Direito do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, devendo conter alegações e conclusões e ser entregue na entidade administrativa que proferiu a presente decisão; c) Em caso de impugnação judicial, o tribunal pode decidir mediante audiência ou, caso a arguida ou o Ministério Público não se oponham, através de simples despacho; d) A Arguida deverá proceder ao pagamento da coima no prazo máximo de dez dias após o caráter definitivo ou trânsito em julgado da decisão. Em caso de impossibilidade de pagamento tempestivo, deverá comunicar o facto por escrito à Entidade Reguladora para a Comunicação Social; e) O pagamento poderá ser efetuado através de cheque emitido à ordem da ERC Entidade Reguladora para a Comunicação Social, ou através de transferência bancária para o NIB 0781 0112 01120012082 78. Em qualquer das formas de pagamento deverá ser identificado o n.º do processo ERC/07/2013/644, e mencionado no envio, por correio registado para a morada da ERC, do respetivo cheque/comprovativo de transferência, com a indicação do número de contribuinte, após o que será emitida e remetida a correspondente Guia de Receita. Notifique-se nos termos dos artigos 46.º e 47.º, do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro. Lisboa, 6 de janeiro de 2016 O Conselho Regulador, Carlos Magno Alberto Arons de Carvalho Luísa Roseira Raquel Alexandra Castro (voto contra) Rui Gomes 8