Movimento Negro pós-70: a educação como arma contra o racismo



Documentos relacionados
COR NO ENSINO SUPERIOR: PERFIL DE ALUNOS DOS CURSOS DE HISTÓRIA, ECONOMIA E DIREITO DA UFMT.

Orientadora: Profª Drª Telma Ferraz Leal. 1 Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

Educação em Direitos Humanos Extensão

4 Desigualdade, Pobreza e o Acesso à Educação

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

A EDUCAÇÃO QUILOMBOLA

PROFISSÃO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA UEPB MONTEIRO PB.

JUVENTUDE E TRABALHO: DESAFIOS PARA AS POLITICAS PÚBLICAS NO MARANHÃO

anped 25ª reunião anual

Daniele Renata da Silva. Maurício Carlos da Silva

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

Escola e a promoção da igualdade étnico-racial: estratégias e possibilidades UNIDADE 4

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E MOVIMENTOS SOCIAIS - PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

Coleção Cadernos Afro-Paraibanos APRESENTAÇÃO

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

DITADURA, EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: REFLEXÕES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: ELEMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE UMA PRÁTICA DE FORMAÇÃO DOCENTE

Autor (1); S, M, R INTRODUÇÃO

UNIDADE 10 PARA UMA EDUCAÇAO ANTIRRACISTA

CARACTERÍSTICAS SÓCIO-EDUCACIONAIS DOS ALUNOS

INCLUSÃO E EXCLUSÃO DA POPULAÇÃO NEGRA: OS DIREITOS ACORDADOS NO CONTRATO SOCIAL

Palavras-Chave: identidade, interculturalidade, teorias pós-críticas da

RELAÇÕES RACIAIS E EDUCAÇÃO: VOZES DO SILÊNCIO

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

CENSO ESCOLAR EDUCACENSO O ITEM COR/RAÇA NO CENSO ESCOLAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Desigualdade Entre Escolas Públicas no Brasil: Um Olhar Inicial

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

semestre do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria. 2

A Inserção e a Aceitabilidade do Licenciando e o Recém - Licenciado: Universidade - Mercado de Trabalho na Guiné-Bissau

Entre 1998 e 2001, a freqüência escolar aumentou bastante no Brasil. Em 1998, 97% das

A GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS MUNICIPAIS: UMA ANÁLISE DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS WIGGERS, Verena. UFSC/ PUC GT: Educação de Crianças de 0 a 6 anos /

TÍTULO: QUAIS AGRAVANTES A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E A GLOBALIZAÇÃO CAUSAM A DESIGUALDADE SOCIAL

Formação da Sociedade: Ensino Presencial ou à Distância

PED ABC Novembro 2015

72,0% DA POPULAÇÃO É NEGRA É DE 75,6% ALAVANCADO PELO GRANDE NÚMERO DE PESSOAS QUE SE AUTODECLARAM PARDAS (68,1%) 40,2 MILHÕES 38,0 MILHÕES

Avaliação Econômica. Relação entre Desempenho Escolar e os Salários no Brasil

O COTIDIANO DO EDUCADOR: INSPIRAÇÕES FREIREANAS Coordenadora: Isabel Cristina Nacha Borges Expositoras: Clarice Dirshnabel e Cristina Maria Salvador

definido, cujas características são condições para a expressão prática da actividade profissional (GIMENO SACRISTAN, 1995, p. 66).

A medida da lei de cotas para o ensino superior

ACESSO, PERMANÊNCIA E (IN) SUCESSO: UM ESTUDO DOS ESTUDANTES DOS CURSOS SUPERIORES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CATARINENSE

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) ROSALENA BARBOSA MOTA

Por Uma Questão de Igualdade

RAÇA E EDUCAÇÃO: PERFIL DOS CANDIDATOS COTISTAS AUTONOMEADOS NEGROS DE ESCOLA PÚBLICA DO PROGRAMA

Tendências Recentes na Escolaridade e no Rendimento de Negros e de Brancos

Apoio. Patrocínio Institucional

Perfil do Emprego nas Fundações de Belo Horizonte/MG *

CRIARCONTEXTO: ANÁLISE DO DISCURSO NAS LETRAS DE MÚSICA 1. Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, CEP , Brasil

O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NUMA PERSPECTIVA VIRTUAL COLABORATIVA COM TECNOLOGIAS INTERATIVAS

TRANSVERSALIDADE CULTURAL: NOTAS SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO E A TEMÁTICA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NAS SALAS DE AULA.

Sistema de cotas na Uerj - uma análise quantitativa dos dados de ingresso

TÍTULO: BIOÉTICA NOS CURSOS SUPERIORES DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Geografia. Textos complementares

A DISLEXIA E A ABORDAGEM INCLUSIVA EDUCACIONAL

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS TEMPO FORMATIVO JUVENIL

PARA ONDE VAMOS? Uma reflexão sobre o destino das Ongs na Região Sul do Brasil

Paulo Freire. A escola é

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 (de autoria do Senador Pedro Simon)

MOVIMENTO NEGRO, POLÍTICA EDUCACIONAL E ESCOLA: O ENGAJ AMENTO DOS EDUCADORES

Profa. Dra. Ana Maria Klein UNESP/São José do Rio Preto

AS BONECAS ABAYOMI E AS NOVAS SENSIBILIDADES HISTÓRICAS: POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO ANTI-RACISTA

O APOSTILISMO: 50 anos de Brasil

COR/RAÇA NO CENSO ESCOLAR

PRÁTICAS LÚDICAS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA DO INFANTIL IV E V DA ESCOLA SIMÃO BARBOSA DE MERUOCA-CE

ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

9. EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

PROFESSOR FORMADOR, MESTRE MODELO? ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de PUC-SP PASSOS, Laurizete Ferragut UNESP GT-20: Psicologia da Educação

AÇÕES AFIRMATIVAS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS: UM ESTUDO INICIAL

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR OS VALORES NA EDUCAÇÃO

Artigo. nos últimos 15 anos Acesso ao ensino superior no Brasil: equidade e desigualdade social

Declaração de Salvador

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

Composição dos PCN 1ª a 4ª

Perfil das profissionais pesquisadas

O QUE DIZEM OS ARTIGOS PUBLICADOS NOS MEMÓRIA ABRACE SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE TEATRO?

Crenças, emoções e competências de professores de LE em EaD

GESTÃO DE PROCESSO PARA SOCIALIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO AUDIOVISUAL EM SAÚDE

POSSÍVEL IMPACTO DE UMA EDUCAÇÃO DISCRIMINADORA NAS PERSPECTIVAS DE FUTURO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

convicções religiosas...

Código de Convivência: Desenvolvendo a cidadania e o protagonismo juvenil

LEVANTAMENTO SOBRE A POLÍTICA DE COTAS NO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD/UFMS

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: PERFIL E CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS PROFESSORES EM FEIRA DE SANTANA Simone Souza 1 ; Antonia Silva 2

FORMAÇÃO CONTINUADA EM PROEJA. Concepção de currículo integrado

Plano de Aula A construção sócio-histórica do Racismo brasileiro Objetivo Geral O objetivo da aula é fazer com que os(as) estudantes compreendam, a

Profa. Dra. Maria Aparecida da Silva CEFET-MG

A PERCEPÇÃO DE JOVENS E IDOSOS ACERCA DO CÂNCER

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

CAPÍTULO 2 DEMOCRACIA E CIDADANIA

Considerações sobre o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência

PROJETO DE LEI Nº, DE 2006 (Do Sr. Ricardo Santos e outros) O Congresso Nacional decreta:

Gênero: Temas Transversais e o Ensino de História

EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Transcrição:

Movimento Negro pós-70: a educação como arma contra o racismo Nádia Cardoso Capítulo II da Dissertação de Mestrado Instituto Steve Biko Juventude Negra Mobilizando-se por Políticas de Afirmação dos Negros no Ensino Superior aprovada pelo Mestrado em Educação e Contemporaneidade -. UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA-, em fevereiro de 2005. A intervenção no campo da educação marca o ativismo negro-brasileiro pós-70. Os Movimentos Negros constatam a falência do projeto da modernidade onde a escola, como espaço democrático de socialização para inclusão social, não tem efetivamente garantido inclusão com dignidade para uma parcela significativa da população brasileira. Diante do baixo desempenho da criança e do jovem negro no sistema público de ensino no Brasil e da responsabilização dos próprios negros na explicação hegemônica para esse crítico desempenho, o Movimento Negro constata ser a educação um campo privilegiado de enfrentamento do racismo. O discurso hegemônico na educação brasileira que explica o fracasso escolar da infância e juventude negra por diferenças étnico-culturais, já que estas são predispostas ao fracasso por sua condição étnico-cultural, é contraposto pelos educadores e ativistas negros, cuja narrativa política afirma que é na própria escola que se constrói o fracasso escolar da infância e juventude negra, já que lá são reproduzidos mecanismos sociais que institui práticas de discriminação racial. O ativismo negro na educação tem, ainda, enfatizado que é necessário a sociedade brasileira repensar sobre a estrutura excludente da educação que gerou, já que diante de todos esses fatores, a escola tem produzido estudantes negros fracassados, repetentes e evadidos. Tal pensamento ativista negro sobre a educação no Brasil se expressa através de formulações militantes, acadêmicas e de ações efetivas. É a educação no Brasil pensada a partir do ponto de vista do ativismo negro. A ausência de indicadores sociais que levassem em conta a variável raça/cor contribuiu para a difusão da idéia de Brasil como nação racialmente democrática durante todo o regime militar. O Censo de 1970, por exemplo, não incorporou a categoria raça no levantamento de indicadores sociais do Brasil. Tradicionalmente, as pesquisas sociológicas sobre educação ignorou fortemente a dimensão racial e suas conseqüências na distribuição de oportunidades educacionais entre os diversos grupos da população. Para pesquisadores e pedagogos, a educação se constituía como um dos eixos básicos para o combate às desigualdades sociais na sociedade brasileira onde a classe era o elemento central. As desigualdades de classe e de status sócio-econômico eram apontados como os grandes elementos que configuravam um acesso diferenciado à educação no Brasil.

Essa ausência de indicadores de desigualdades sócio-econômicas entre negros e brancos na sociedade brasileira, se constituiu como um entrave para o movimento negro de luta contra o racismo. Portanto, a dificuldade de assunção do racismo como estruturante das desigualdades sociais brasileiras contribuiu para a consolidação de um silêncio em torno das desigualdades das nossas relações raciais. O discurso enfático e agressivo do Movimento Negro ao denunciar o preconceito, os estereótipos, o racismo e as discriminações raciais no Brasil, pressiona a academia para a incorporação da dimensão étnico-racial no levantamento de novos indicadores sociais, entre finais da décadas de 80 e durante a década de 90 no Brasil. As críticas dirigidas pelos movimentos negros ao sistema escolar brasileiro davam ênfase ao livro didático e à sedimentação de papéis sociais subalternos e aos estereótipos racistas a que estavam submetidos os personagens negros; ao currículo escolar e ausência de conteúdos ligados à cultura e a história social afrobrasileira ; e às desigualdades de oportunidades educacionais a que estavam submetidos os afrodescendentes no Brasil. Em finais das décadas de 80 e início de 90, surgem alguns estudos articulando a raça/cor com a educação e reafirmando o campo educacional como mais uma esfera onde as desigualdades raciais são sistemáticas: Rosemberg ( 1984), Silva ( 1988), Hasenbalg e Silva(1990), Figueira (1990), Barcelos (1992), etc. Hasenbalg e Silva ( 1990) chamam a atenção para a importância da atuação do ativismo negro para mudança do quadro da pesquisa educacional brasileira. Esses estudos revelaram as profundas desigualdades de oportunidades educacionais a que estavam submetidas a população afro-descendente no Brasil e deram subsídios teórico-acadêmicos às críticas dos movimentos de luta contra a discriminação racial: Ao analisar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio ( PNAD) de 1982, Hasenbalg e Silva (1990) concluem que níveis crescentes de industrialização e modernização da estrutura social não eliminam os efeitos da raça ou cor como critério de seleção social e critérios de desigualdades sociais" ( Hasenbalg e Silva, 1990, p. 73). Esses pesquisadores apontam duas tendências nos raros estudos sociológicos da década de 80 que cruzam raça e educação: pretos e pardos obtêm níveis de escolaridade consistentemente inferiores aos dos brancos de mesma origem social; e os retornos à escolaridade adquirida em termos de inserção ocupacional e renda tendem a ser proporcionalmente menores para pretos e pardos do que para brancos. As duas tendências apontam para o confinamento dos não brancos na base da hierarquia social possuindo realizações educacionais próximas a dos degraus inferiores do sistema de estratificação. Mas a primeira tendência chama a atenção para o fato de que no decorrer das trajetórias educacionais de pretos e pardos, estes se expõem a desvantagens vinculadas especificadamente a sua adscrição racial. Hasembalg e Silva ( 1990) analisando os dados da PNAD de 1982 levanta o perfil racial do acesso aos patamares mais altos de escolarização, constatando que o grau mais acentuado de desigualdade de oportunidades entre grupos de cor se estabelece no nível de ensino superior : 13,6% de brancos, 1,6 % de

pretos e 2,8% de pardos conseguiram ingressar no ensino superior brasileiro. De acordo com esses dados, Hasenbalg e Silva concluem: Isto significa que ter cor de pele branca no Brasil significa ter 8.5 vezes mais chances com relação aos pretos e quase cinco vezes mais probabilidades relativamente aos pardos de ter acesso às universidades. Nesse aspecto da distribuição entre grupos de cor das oportunidades de ingressar no ensino superior, o Brasil encontra-se mais perto da África do Sul do que dos Estados Unidos, onde, em 1980, os brancos tinham chances 1,4 vezes maiores que os negros de ingressar nesse nível educacional. Em suma, este quadro geral das realizações educacionais dos grupos de cor mostra que pretos e pardos estão expostos a um grau maior de atrito no seu trânsito pelo sistema escolar, o que faz com que iniciem a etapa de vida adulta com uma considerável desvantagem em termos de educação formal ( Hasenbalg ; Silva, 1990, p.76). Tais dados revelaram que na conjuntura dos anos 80 e início dos anos 90, a exclusão racial do negro da universidade se caracterizava racialmente como uma segregação. Barcelos (1992) também traça um diagnóstico da situação de desempenho dos grupos raciais frente ao sistema educacional. Analisando a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) de 1987, constata que 14,4% da população brasileira tem o segundo grau completo, distribuídos racialmente da seguinte forma: 16,1% dos brancos, 8,4% dos pretos e 11,6% dos pardos. No que diz respeito ao ensino superior, Barcelos (1992) ainda constata o escasso número daqueles que chegam à universidade como contrapartida óbvia da concentração nos níveis mais baixos de ensino. Apenas 6,8 % da população compõem a população com nível superior no país. Contudo a desigualdade racial no ensino superior é escandalosa - 9,2% de brancos possuem curso superior; 23% de amarelos, enquanto os negros - são 1,6% para pretos e 2,8% para pardos. Esses dados são importantes para situarmos o quadro da educação superior no contexto de surgimento do Instituto Steve Biko. A análise dos dados da PNAD de 1988, ano do Centenário da Abolição da Escravidão no Brasil, faz Barcelos concluir serem alarmantes os diferenciais na realização educacional dos grupos raciais, com ênfase nos dados que demonstram a insignificância quantitativa do acesso ao ensino superior pelos grupos negros: apenas 0,5% de pretos e 1% de pardos de 20 a 24 anos; 0,4% de pretos e 2,9% de pardos entre 25 e 29 anos têm curso superior completo: Menos alfabetizados, retidos em patamares educacionais mais baixos, poucos negros conseguem chegar à universidade. E tão poucos que sequer são suficientes para serem registrados no gráfico... Um negro com curso superior completo é um sobrevivente do sistema educacional e, ademais, enfrentará sistemática discriminação no mercado de trabalho...( Barcelos, 1992, p. 55) Portanto, os dados produzidos a partir da articulação raça e educação são reveladores das injustas relações raciais brasileiras. O caráter racialmente democrático das nossas relações raciais que a escola brasileira reproduz se contradiz com as gritantes desigualdades raciais geradas e reproduzidas pelo sistema educacional brasileiro. Em outros termos, a educação é um cenário revelador da falácia da democracia racial

You are reading a preview. Would you like to access the full-text? Access full-text

SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena experiências e lutas dos trabalhadores da grande São Paulo ( 1970-1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. SANSONE, Lívio. Negritude sem etnicidade: o local e o global nas relações raciais e na produção cultural negra do Brasil. Salvador: Edufba; Rio de Janeiro: Pallas, 2003. SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. Lisboa: Ed. Afrontamento, 1997. 9. ed. ( Coleção história das idéias, n. 280).. Modernidade, identidade e a cultura de fronteira In: Pela Mão de Alice o social e o político na pós-modernidade. 8. ed.. São Paulo: Cortez Editora, 2001 SANTOS, Jocélio Teles dos. As políticas públicas e a população afro-brasileira. Bahia, Análise & Dados. Salvador, SEI, v.3, n.5, p. 67-70, 1995. SANTOS, Maria Durvalina Cerqueira. Educação, cidadania e reconstrução de identidades: o caso da Cooperativa Steve Biko, 1997. Dissertação ( Mestrado) FACED/UFBA. Salvador. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. A Constituição do meio técnico-científico-informacional, a informação e o conhecimento. In: O ensino superior público e particular e o território brasileiro. Brasília:ABMS, 2000, 163p. ( Conclusão, p. 57-59). SANTOS, Milton. Uma outra globalização é possível do pensamento único á consciência universal. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. SANTOS, Renato Emerson. Racialidade e novas formas de ação social: o pré-vestibular para negros e carentes. In: SANTOS, Renato Emerson ; LOBATO, Fátima ( Orgs.). Ações Afirmativas Políticas públicas contra as desigualdades raciais. Rio de Janeiro: DP& A Editora/Laboratório de Políticas Públicas (LPP/UERJ), 2003. p. 127-153. SANTOS, Sales Augusto dos. Ações Afirmativas e mérito individual.. In: SANTOS, Renato Emerson ; LOBATO, Fátima ( Orgs.). Ações Afirmativas Políticas públicas contra as desigualdades raciais. Rio de Janeiro: DP& A Editora/Laboratório de Políticas Públicas (LPP/UERJ), 2003. SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil. Estudos Afro-Asiáticos. Rio de Janeiro, n.18, p. 77-101, 1996. SEYFERT, Giralda. O beneplácito da desigualdade: breve digressão sobre racismo. In: RACISMO no Brasil. São Paulo: ABONG; Peirópolis ( SP), 2002, p. 17-45. SILVA, Ana Célia. Movimento negro e ensino nas escolas: experiências da Bahia In: BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção ; GONÇALVES e SILVA, Petronilha Beatriz ( Orgs). O pensamento negro em educação no Brasil expressões do movimento negro. São Carlos: Edufscar, 1997., p. 31-39.. Estereótipos e preconceitos em relação ao negro no livro de Comunicação e Expressão de 1º grau, nível I. 1988. Dissertação ( Mestrado) FACED/UFBA, Salvador. SILVA, Francisco Carlos Cardoso da. Construção e (Dês)construção de identidade racial em Salvador: MNU E Ilê Ayiê no combate ao racismo. 2001. Dissertação ( Mestrado) - Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande. SILVA, Jônatas Conceição. Histórias de Lutas Negras: memórias do surgimento do movimento negro na Bahia. In 10 ANOS de luta contra o racismo. Movimento Negro Unificado. São Paulo: Confraria do Livro, 1988. SILVA, Wilson. Para que se comece a fazer justiça. In: ANDRADE, Rosa Maria T; FONSECA, Eduardo F. ( Orgs). Aprovados Cursinho pré-vestibular e população negra. São Paulo: Selo Negro Edições, 2002, p.63-74. SILVA, Vanda Machado. Aspectos do universo cultural de crianças do Ilê Axé Opô Afonjá - uma perspectiva de formação de conceito na pré-escola. 1989. Dissertação 9 Mestrado) UFBA, Savador. SILVÉRIO. Valter. Ação Afirmativa: Percepções da Casa Grande e da Senzala.. In: GONÇALVES e SILVA, Petronilha Beatriz ; SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs). Educação e ação afirmativa entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília (D F), INEP, 2003, p. 321-341. Sons negros com ruídos brancos. In: RACISMO no Brasil. São Paulo: ABONG; Peirópolis ( SP), 2002, p. 89-100. TELLES. Edward Eric. Da democracia racial á ação afirmativa. In: TELLES, Edward Eric. Racismo a brasileira uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro:Relume Dumará, Fundação Ford, 2003. UNICEF. Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileiras. Brasília, 2004

VIEIRA, Andréa Lopes da Costa. Políticas de Educação, educação como política: observações sobre ação afirmativa como estratégia política.. In: GONÇALVES e SILVA, Petronilha Beatriz ; SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs). Educação e ação afirmativa entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília (D F), INEP, 2003, p. 81-97. VOGHT, Carlos. Ações afirmativas e políticas de afirmação do negro no Brasil. Disponível em: www.comciencia.br. Acesso em em 04 de maio 2005. WALSH, Catherine. Colonialidade, conoecimento y diáspora afro-andina: construyendo a etnoeducación e interculturalidad em la universidad. In: RESTREPO ; ROJA A. (Eds). Conflicto e (in)visibilidad. Retos em los estúdios de la gente negra em Colômbia. Editorial Universidade del Cauca. 2004 (Coleção Políticas de la Alteridad). < www.feth.ggf.br: Acesso em: mar. de 2005 ). <www.msu.org.br>. Acesso em: 21 de jun 2005). <www.brasiloeste.com.br/notícia>. Acesso em: 19 de jun. 2005. <www.msu.org.br>. Acesso em: 21 de jun. 2005. <www.radiobras.gov.br/materia>. Acesso em: 19 jun. 2005. < www.abchood.com/alunoeducafro>. Acesso em: 19 jun. 2005. < www. notícias.terra.com.br>. Acesso em: 12 jun. 2003. Educação intercultural e cotidiano escolar: construindo caminhos < www.gecec.pro.br/pesq2.htm>. Acesso em: 12 jun. 2003.