AMS 90.126-PE (2003.83.00.007588-8). RELATÓRIO



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AMS 90.126-PE (2003.83.00.007588-8). APELANTE : GRUPO ATUAL DE EDUCACAO LTDA. ADVOGADO : JOÃO ANDRÉ SALES RODRIGUES E OUTROS. APELADO : SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC. ADVOGADOS : ANA PATRICIA PONTES CARNEIRO E OUTROS. APELADO : SERVIÇO BRASIL. DE APOIO ÀS MICROS E PEQ. EMPRESAS - SEBRAE/PE. ADVOGADO : PETRONIO RAYMUNDO GONÇALVES MUNIZ. APELADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE. ORIGEM : JUÍZO DA 12a. VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO. RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. RELATÓRIO 1. Trata-se de Apelação Cível, interposta pelo GRUPO ATUAL DE EDUCAÇÃO LTDA, contra sentença (fls. 347/357) prolatada pelo eminente Juiz Federal da 12a. Vara da SJ/PE, que denegou o pedido de segurança formulado para que o Gerente Executivo do INSS em Recife fosse impedido de recolher as contribuições em favor do SESC, do SENAC e do SEBRAE, bem como para que fosse declarado o direito à compensação dos valores recolhidos sob tal título, pela apelante, nos últimos dez anos, compensando-se estes créditos com contribuições devidas ao INSS (pró-labore e folha de salário por parte do empregador), sem observância dos limites impostos pelas Leis 9.032/95 e 9.129/95; a decisão recorrida, extinguiu o processo com julgamento de mérito, condenando a parte autora, ora recorrente, ao pagamento das custas processuais (fls. 357). 2. O GRUPO ATUAL DE EDUCAÇÃO LTDA, em suas razões de Apelação (fls. 380/389), sustenta que sua atividade não tem cunho comercial, nem encontra-se vinculada à Confederação Nacional do Comércio (CNC), pois é vinculada à Confederação Nacional de Educação e Cultura (fls. 381); sustenta, ainda, que não devem prevalecer, em seu caso, os precedentes do STJ, pois estes tratam de prestadoras de serviços vinculadas à CNC; por fim, requer que se dê provimento à Apelação, para reconhecer a ilegalidade das cobranças ora questionadas, declarando-se o direito à compensação das parcelas pagas indevidamente com débitos de outros tributos administrados pelo INSS (fls. 389). 1

3. O SESC, ao apresentar contra-razões à Apelação (fls. 395/418), sustenta a legalidade do recolhimento das contribuições ao SESC pelas empresas prestadoras de serviços deriva de disposição expressa do DL 9.853/46 (art. 3o.); defende, ainda, que a atividade exercida pela apelante integrou-se no quadro do plano básico da Confederação Nacional do Comércio (fls. 402); por fim, requer que se negue provimento ao recurso, mantendo-se a sentença em todos os seus termos (fls. 418). 4. É o relatório. 2

AMS 90.126-PE (2003.83.00.007588-8). APELANTE : GRUPO ATUAL DE EDUCACAO LTDA. ADVOGADO : JOÃO ANDRÉ SALES RODRIGUES E OUTROS. APELADO : SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC. ADVOGADOS : ANA PATRICIA PONTES CARNEIRO E OUTROS. APELADO : SERVIÇO BRASIL. DE APOIO ÀS MICROS E PEQ. EMPRESAS - SEBRAE/PE. ADVOGADO : PETRONIO RAYMUNDO GONÇALVES MUNIZ. APELADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE. ORIGEM : JUÍZO DA 12a. VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO. RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. VOTO 1. O cerne da questão, no caso em apreço, é o enquadramento, ou não, da recorrente, prestadora de serviços educacionais, como sujeito passivo das contribuições para o SESC, SENAC e SEBRAE; eis que a apelante defende que a tal sujeição apenas se submetem aqueles que desenvolvem atividades mercantis e, concomitantemente, estão filiados a entidade sindical subordinada à Confederação Nacional de Comércio CNC. 2. Passando-se à análise do regramento normativo dessas exações, tem-se que, anteriores à CF/88, os DL s 9.853/46 e 8.621/46, instituidores, respectivamente, do SESC e SENAC foram recepcionados pela nova Ordem Constitucional, mormente tendo em vista que o art. 240 da CF/88 fez expressa referência às contribuições compulsórias destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical. 3. O produto da arrecadação dessas contribuições não integra o orçamento da União Federal, nem da Seguridade Social (art. 165, parág. 5o., incisos I e II da CF/88), entretanto, sua destinação está vinculada a finalidade de interesse público, em especial a promoção da integração ao mercado de trabalho (inciso III do art. 203 da CF/88), não obstante destinadas à manutenção de pessoas jurídicas de direito privado. 3

instituí-lo assim dispôs: 4. No que diz respeito ao SENAC, o DL 8.621/46, ao Art. 1o. - Fica atribuído à Confederação Nacional do Comércio o encargo de organizar e administrar, no território nacional, escolas de aprendizagem comercial. (...). Art. 4o. - Para o custeio dos encargos do SENAC, os estabelecimentos comerciais cujas atividades, de acordo com o quadro a que se refere o artigo 577 da Consolidação das Leis do Trabalho, estiverem enquadradas nas Federações e Sindicatos coordenados pela Confederação Nacional do Comércio, ficam obrigados ao pagamento mensal de uma contribuição equivalente a um por cento sobre o montante da remuneração paga à totalidade dos seus empregados. (...). Art. 5o. - Serão também contribuintes do SENAC as empresas de atividades mistas e que explorem, acessória ou concorrentemente, qualquer ramo econômico peculiar aos estabelecimentos comerciais, e a sua contribuição será calculada, apenas sobre o montante da remuneração paga aos empregados que servirem no setor relativo a esse ramo. (...). Art. 9o. - A Confederação Nacional do Comércio fica investida da necessária, delegação de poder público para elaborar e expedir o regulamento do SENAC e as instruções necessárias ao funcionamento dos seus serviços. determina: 5. Quanto à contribuição ao SESC, o DL 9.853/46 4

Art. 3o. - Os estabelecimentos comerciais enquadrados nas entidades sindicais subordinadas à Confederação Nacional do Comércio (art. 577 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovado pelo Decreto 5.452 de 27 de maio de 1943), e os demais empregadores que possuam segurados no Instituto da Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, serão obrigados ao pagamento de uma contribuição mensal ao Serviço Social do Comércio, para custeio de seus encargos. 6. O art. 577 da CLT, mencionado no caput do art. 4o. acima, insere-se no capítulo que cuida do enquadramento sindical e trata do já citado Quadro de Atividades e Profissões, que fixa o plano básico do enquadramento sindical; este quadro enuncia, ao tratar das atividades ou categorias econômicas e das categorias profissionais abrangidas pela Confederação Nacional de Educação e Cultura, da seguinte forma: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA 1o. GRUPO ESTABELECIMENTOS DE ENSINO Atividades ou categorias econômicas Entidades mantenedoras de estabelecimentos de ensino superior Estabelecimentos de ensino de artes Estabelecimentos de ensino de 1o. e 2o. graus Estabelecimentos de ensino técnico-profissional Estabelecimentos de ensino comercial (...). 7. Tal enquadramento, em termos de associação ao sindicato, não é obrigatório a partir da CF/88, pois, conforme seu art. 8o., é livre a associação profissional ou sindical, tendo sido criadas novas entidades após as acima relacionadas; entretanto, o quadro continua válido para identificação dos empregadores responsáveis pelas contribuições compulsórias destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional, em conseqüência da recepção desta sistematização pelo art. 240 da CF/88. 5

8. No caso do custeio do SENAC, vê-se que estão sujeitos à contribuição os estabelecimentos comerciais cujas atividades, de acordo com o quadro a que se refere o artigo 577 da Consolidação das Leis do Trabalho, estiverem enquadradas nas Federações e Sindicatos coordenados pela Confederação Nacional do Comércio (art. 4o. do DL 8.621/46); dessa forma, não estando a atividade da apelada enquadrada naquelas que estão abrangidas pela CNC, não há sua sujeição ao pagamento da contribuição, sendo pouco razoável entender que a atividade desenvolvida pela recorrente é comercial e não figura expressamente dentre as abarcadas pela Confederação do Comércio. 9. É suficiente, para efeito de exigibilidade da contribuição ao SESC, SENAC e SEBRAE o enquadramento da atividade da empresa dentre as que figuram no rol da CNC, permanecendo íntegro para este efeito a correspondência entre a categoria econômica e a profissional, prevista no art. 577 da CLT; entretanto, tal hipótese não ocorre no caso em apreço. 10. Autônoma em relação às contribuições do art. 240 da CF/88, a contribuição ao SEBRAE foi instituída pela Lei 8.154/90 como adicional às contribuições ao SESC, SENAC, SESI e SENAI; dessa forma, o sujeito passivo destas contribuições, também são serão contribuintes do adicional ao SEBRAE. 11. Dessa forma, a condição de sujeição ao pagamento da contribuição para o SESC e SENAC é a simples previsão da atividade no quadro sindical da CNC, previsto pelo art. 577 da CLT, decorrendo desta a obrigação de contribuir para o SEBRAE; assim, desobrigado de contribuir para o primeiro, inexiste sujeição para que contribua para o segundo. 12. No que diz respeito ao pedido de compensação dos créditos em questão com outras contribuições arrecadadas pelo INSS, não é possível prover a Apelação, eis que se tratam de contribuições com destinações diversas (as do INSS destinam-se à Seguridade Social e as feitas ao SESC, SENAC e SEBRAE são destinadas às suas próprias atividades. 6

13. Quanto à prescrição, aplica-se, por se tratar de tributo sujeito a lançamento por homologação, aplica-se o prazo decenal (cinco anos para a homologação tácita e em seguida cinco anos prescricionais). 14. Voto pelo provimento parcial da Apelação para que o INSS se abstenha de cobrar da recorrente as contribuições ao SESC, SENAC e SEBRAE, sem, todavia, reconhecer o direito à compensação destas exações com as que são próprias do INSS. 15. É como voto. 7

AMS 90.126-PE (2003.83.00.007588-8). APELANTE : GRUPO ATUAL DE EDUCACAO LTDA. ADVOGADO : JOÃO ANDRÉ SALES RODRIGUES E OUTROS. APELADO : SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC. ADVOGADOS : ANA PATRICIA PONTES CARNEIRO E OUTROS. APELADO : SERVIÇO BRASIL. DE APOIO ÀS MICROS E PEQ. EMPRESAS - SEBRAE/PE. ADVOGADO : PETRONIO RAYMUNDO GONÇALVES MUNIZ. APELADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE. ORIGEM : JUÍZO DA 12a. VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO. RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. ACÓRDÃO TRIBUTÁRIO. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS NÃO VINCULADA À CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO E SIM À CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA (GRUPO 1o.). ART. 577 DA CLT. NÃO SUJEIÇÃO ÀS CONTRIBUIÇÕES PARA O SESC, SENAC E SEBRAE. IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO COM CONTRIBUIÇÕES DO INSS. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. 1. A sujeição do empregador às contribuições para o SESC e SENAC, nos termos dos DL s 9.853/46 (art. 3o.) e 8.621/46 (art. 4o.), depende apenas da existência de previsão de suas atividades entre as abarcadas pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), conforme quadro indicado no art. 577 da CLT. 2. O quadro previsto pelo art. 577 da CLT indica, no 1o. Grupo das atividades abrangidas pela Confederação Nacional de Educação e Cultura, os estabelecimentos de ensino, que estão expressamente excluídos, portanto, do rol abarcado pela CNC. 3. A compensação apenas pode ocorrer entre tributos da mesma espécie e destinação orçamentária-constitucional; não sendo possível, portanto, compensar as contribuições ao SESC e SENAC, destinadas a entidades privadas, com as contribuições previdenciárias. 4. Apelação parcialmente provida para que o INSS se abstenha de cobrar da recorrente as contribuições ao SESC, SENAC e 8

SEBRAE, sem, todavia, reconhecer o direito à compensação destas exações com as que são próprias do INSS. 5. Apelação parcialmente provida. Vistos, relatados e discutidos estes autos de AMS 90.126-PE, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os Desembargadores Federais da Segunda Turma do TRF da 5a. Região, por maioria, em dar parcial provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte do presente julgado.custas na forma da lei. Recife, PE., 26 de julho de 2005. Napoleão Nunes Maia Filho RELATOR 9