ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DECURRENS Willd. 1

Documentos relacionados
JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF

ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DEALBATA LINKl

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF

ESTUDO ANATÔMICO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa trachycarpa Benth.

ANATOMIA DO LENHO DE HETEROTHALAMUS PSIADIOIDES LESSING (ASTERACEAE - ASTEREAE)1

ANATOMIA DA MADEIRA DO GUAMIRIM-FACHO, Calyptranthes concinna DC. WOOD ANATOMY OF Calyptranthes concinna DC. (Myrtaceae).

ESTUDO ANATÔMICO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa sparsa Benth

ANATOMIA DO LENHO DE TRÊS ESPÉCIES EXÓTICAS DO GÊNERO VACHELLIA WIGHT & ARN. 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE BERBERIS LA URINA BILLB.l

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO LENHO DE BRUNFELSIAAUSTRALIS BENTHAM (SOLANACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE EUGENIA L. (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE Mimosa eriocarpa Benth. WOOD ANATOMY OF Mimosa eriocarpa Benth. Celso Carnieletto 1 José Newton Cardoso Marchiori 2 R E S U M O

ANATOMIA DO LENHO DE HETEROTHALAMULOPSIS WAGENITZIl (F. HELLW.) DEBLE, OLIVEIRA & MARCmORI (ASTEREAE - ASTERACEAE) 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE VACHELLIA FARNESIANA (L.) WIGHT & ARN.I

ANATOMIA DA MADEIRA DE ESCALLONIA MEGAPOTAMICA SPRENGEV

ANATOMIA COMPARATIVA DA MADEIRA DE QUATRO ESPÉCIES DA SUBTRIBO BACCHARINAE LESSING (ASTERACEAE - ASTEREAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE ENTEROLOBIUM GLAZIOVII (BENTH.) MESQUITA 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE MYRCIA DC., NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

LUCIANO DENARDF JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP MARCOS ROBERTO FERREIRN

A SEGREGAÇÃO DO GÊNERO ACACIA (TOURN.) MILL., SOB O PONTO DE VISTA DA ANATOMIA DA MADEIRA DE ESPÉCIES NATIVAS E CULTIVADAS NO RIO GRANDE DO SUV

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS FABOÍDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES -ARGENTINA!

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS CESALPINIOÍDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINA

ANATOMIA DA MADEIRA DE Xy/osma tweedianum (Cios) Eichler (Flacourtiaceae)

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS BIGNONIÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINAl

ANATOMIA DO LENHO DE BERNARDIA PULCHELLA (EUPHORBIACEAE) 1

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa incana (Spreng.) Benth. ANATOMY OF THE SECONDARY XYLEM OF Mimosa incana (Spreng.) Benth.

ANATOMIA DO LENHO DE CALYPTRANTHES D. LEGRAND (MYRTACEAE)t

ANATOMIA DA MADEIRA DE EUGENIA UNIFLORA L. (MYRTACEAE)I

ANATOMIA DA MADEIRA DE PLINIA RIVULARIS

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS MIMOSOIDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINA 1

ANATOMIA DAS MADEIRAS DE CAMPOMANESIAAUREA O. BERG E EUGENIA MYRCIANTHES NIEDENZU (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE

ANATOMIA DO LENHO DE MACLURA TINCTORIA D. DON EX STEUD. 1

ANATOMIA DO LENHO DE ALLOPHYLUS GUARANITICUS (ST.-HIL.) RADLK. (SAPINDACEAE)\

ANATOMIA DO LENHO DE MIMOSA PIGRA BENTH. 1

Profª. M.Sc.: Josiane Silva Araújo

MADEIRA E CASCA DE Acacia

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DAS ESPÉCIES Gossypium hirsutu, Couratari spp e Clarisia racemosa Ruiz et Pavon.

ANATOMIA DA MADEIRA DE SALIX HUMBOLDTIANA WILLD. (SALICACEAE) I

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa berroi Burk.

ANATOMIA DO LENHO DE MIMOSA MICROPTERIS BENTH. 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE MELIA AZEDARACH L. (MELIACEAE) 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE CAMPOMANESIA RHOMBEA O. BERG (MYRTACEAE)]

ANATOMIA DA MADEIRA DE MYRCIANTHES GIGANTEA (Legr.) Legr. 1

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

MYRCIA BOMBYCINA (O. BERG) NIEDENZU

Figura 12 Procedimentos realizados para a determinação da espessura e proporção de casca, teor de umidade e peso específico da madeira.

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP MARIA CRISTINA SCHULZE-HOFER3

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE MYRCEUGENIA EUOSMA (O. BERG) D. LEGRAND (MYRTACEAE)l

Contribuição ao estudo anatômico da madeira de Anonáceas da Amazônia

ANATOMIA DA MADEIRA DE SALIX X RUBENS SCHRANK (SALI CA CEAE) 1

ANATOMIA DO LENHO DE PLINIA TRUNCIFLORA KAUSEL (MYRTACEAE)l

PROGRAMA ANALÍTICO DISCIPLINA NOME: ANATOMIA DA MADEIRA CÓDIGO: IF 301 CRÉDITOS: 04 (T-02 P-02) DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FLORESTAIS

DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA DA ANATOMIA DA MADEIRA DE QUATRO ESPÉCIES DO GÊNERO Ocotea Aubl.

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE SAPIUM HAEMATOSPERMUM MÜLL. ARG (EUPHORBIACEAE)I

DIFERENCIAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE 4. ESPÉCIES DO GÊNERO Caryocar.

São descritos os caracteres anatõmicos da madeira de Celtis pallida Torrey, um pequeno

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ANATOMIA DA MADEIRA DE Acacia nitidifolia Speg. (Leguminosae Mimonoideae) WOOD ANATOMY OF Acacia nitidifolia Speg. (Leguminosae Mimonoideae).

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO LENHO DE Melaleuca leucadendron (L.) L. ANATOMICAL DESCRIPTION OF Melaleuca leucadendron (L.) L WOODEN

ANATOMIA DO LENHO DE CONDALIA BUXIFOLIA REISSEK (RHAMNACEAE)I

V Semana Acadêmica da UEPA Campus de Marabá As problemáticas socioambientais na Amazônia Oriental 22 a 24 de Outubro de 2014

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE EUGENIA MANSOI O. BERG (MYRTACEAE)l

José Newton Cardoso Marchiori 1 RESUMO

ANATOMIA DAS MADEIRAS DE EUGENIA BURKARTIANA (D. LEGRAND) D. LEGRAND E MYRCIARIA CUSPIDATA O. BERG, DUAS MIRTOÍDEAS NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ANATOMIA DA MADEIRA E CASCA DO MARICÁ, Mimosa bimucronata (DC.) O. Kuntze

o USO DA MADEIRA NAS REDUÇÕES JESUÍTICO-GUARANI DO RIO GRANDE DO SUL VII - VIGA DO CORO DA IGREJA DA IGREJA DE SÃO MIGUEL ARCANJO)

ANATOMIA DA MADEIRA DE CALYCOPHYLLUM SPRUCEANUM (BENTH.) K. SCHUM. E CALYCOPHYLLUM SPRUCEANUM F. BRASILIENSIS K. SCHUM.¹

Sistema Vascular. Xilema. Atividade do Procâmbio ou Câmbio Vascular

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE BACCHARlS L. (ASTERACEAE - ASTEREAE)l.

Anatomia Comparada de Três Espécies do Gênero Vochysia

ESTUDO COMPARATIVO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE TRÊS ESPÉCIES ORNAMENTAIS DE Euphorbia

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE COLUBRINA GLANDULOSA PERKINSl

Recebido para publicação em 26/11/2004 e aceito em 24/08/2005.

ANATOMIA DA MADEIRA DE TRÊS APOCINÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISSIONES, ARGENTINA

Química da Madeira. MADEIRA - Material heterogêneo

Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.

Ciência Florestal, Santa Maria, v. 2, n. 1, p , 1992 ISSN ANATOMIA DA MADEIRA E CASCA DO ESPINILHO Acacia caven (Mol.) Mol.

ESTUDO ANATÔMICO DO XI LEMA SECUNDÁRIO DE Ephedra tweediana C. A. Meyer

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ARALlÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES, ARGENTINA

ANATOMIA DA MADEIRA E CASCA DA BRACATINGA, Mimosa scabrella Benth.

MANUAL DE CLASSIFICAÇÃO VISUAL

ANATÔMIA DA MADEIRA DE Cordia alliodora C. (R & P.) Oken e Cordia goeldiana Huber, COMERCIALIZADAS COMO FREIJÓ NA REGIÃO AMAZÔNICA

ABSTRACT [Wood anatomy of Myrceugenia miersiana (Gardner) D. Legrand et Kausel (Myrtaceae)].

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE EUGENIA HIEMALIS CAMBESS. (MYRTACEAE)l

Jose Newton Cardoso Marchio~i Departamento de Ciências Florestais. Centro de Ciências Rurais. UFSM. Santa Maria, RS.

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE EUGENIA SCHUECHIANA O. BERG (MYRTACEAE)l

José Newton Cardoso Marchiori Departamento de Ciências Florestais. Centro de Ciências Rurais.UFSM. Santa Maria, RS.

ESTUDO ANATÕMICO DA MADEIRA DE Myrciaria tenel/a (DC.) Berg

II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira Belo Horizonte - 20 a 22 set 2015

Ciência Florestal, Santa Maria, v.8, n.1, p ISSN CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE BOTUCATU FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM Ciência Florestal PLANO DE ENSINO

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE NOVE ESPÉCIES DA FAMÍLIA LEGUMINOSAE

ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA PLUMOSA LOWE (LEGUMINOSAE MIMOSOIDEAE)

Características anatômicas de 20 espécies do mato grosso

Tecidos Vasculares. TECIDOS CONDUTORES - Introdução. Xilema primário. Procambio. Floema primário. Tecidos vasculares. Xilema.

Características gerais da Madeira Prof. Dr. Umberto Klock.

Transcrição:

BALDUINIA, n. 26, p. 01-07, 25-11-2011 ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DECURRENS Willd. 1 JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP RESUMO São anatomicamente descritos os caracteres gerais, macroscópicos e microscópicos da madeira de Aeacia deeurrens Willd., com base em amostras sul-brasileiras. Ao microscópio, a espécie em estudo separa-se das madeiras nativas do subgênero Aeacia Vassal pelo parênquima axial pouco abundante, composto por séries de 2-4 células. Com relação às espécies nativas do subgênero Aeuleiferum Vassal, Acaeia deeurrens distinguese pela ausência de fibras septadas na madeira. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Acaeia deeurrens Willd., Raeosperma deeurrens (Willd.) Pedley, série Botryoeephalae Bentham, sub-gênero Heterophyllum Vassalo SUMMARY [Wood anatomy of Acaeia decurrrens Willd.]. The general, macroscopic and microscopic features of the wood of Acaeia deeurrens Willd. are described, based on south brazilian samples. Under microscope, the material examined can be easily separated from native species of subgenus Acaeia Vassal for having less abundant axial parenchyma, in series with 2-4 cells. Compared with native species of subgenus Aeuleiferum Vassal, Acaeia deeurrens can be distinguished by the absence of septate fibres in the wood. Key words: Wood anatomy, Acaeia deeurrrens Willd., Raeosperma deeurrens (Willd.) Pedley, series Botryoeephalae Bentham, subgenus Heterophyllum Vassalo INTRODUÇÃO A literatura anatômica sobre o gênero Acaeia (Touro.) Mill. contrasta, por sua exigüidade, com a importância econômica e diversidade de espécies nativas e cultivadas no continente americano. Record & Hess (1949), por exemplo, não fazem qualquer referência ao mesmo em seu clássico Timbers of the New World, a despeito das numerosas espécies nativas e cultivadas nas três Américas 3 Árvore inerme e de porte médio, Acaeia decurrens Willd. insere-se na série Botryocephalae (Bentham, 1875), ou no subgênero I Recebido em 11-3-2009 e aceito para publicação em 21-12-2009. 2 Engenheiro Florestal, Dr. Bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq - Brasil). Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, Brasil. 3 Sobre este ponto, Rico-Arce (2007) refere a ocorrência de 159 espécies nativas e cultivadas nas três Américas, bem como cerca de 52 táxones infraespecíficos. Heterophylllum (Vassal, 1972). Originária do leste da Austrália, nos estados de Nova Gales do Sul e Queensland (Ewart, 1930), a espécie foi introduzida no Brasil como árvore ornamental e para a produção de tanino, à semelhança da acácia-negra verdadeira (Acaeia meamsii De Willd.). Rico-Arce (2007) informa que a espécie, de rápido crescimento e múltiplas finalidades, tem grande potencial invasor nos Neotrópicos, necessitando de erradicação em algumas áreas. Em sua pátria de origem, recebe os nomes comuns de "early black wattle", "green wattle", "Sydney black wattle", "king wattle" e "queen wattle". Para o Uruguai, Herter (1930) indica o nome de "aroma". Rico-Arce (2007), por sua vez, refere que a espécie é conhecida como "carbonero", na América Central. No Rio Grande do Sul, Acaeia decurrens é geralmente confundida com a acácia-negra verdadeira, cabendo lembrar, todavia, que sua casca possui teor de tanino mais baixo do que a Acaeia meamsii (Mattos, 1980). 1

Das espécies australianas introduzidas no sul do Brasil, foram anatomicamente descritas as madeiras de Acaeia mearnsii, Acaeia longifolia, Acaeia podalyriaefolia e Acaeia melanoxylon. Para Acaeia mearnsii De Willd., Costa & Marchiori (1980) salientam: fibras libriformes não septadas; parênquima axial escasso (menos de 20% do volume da madeira), em séries de 2-4 células; raios com até 4 células de largura; e poros com freqüência de 8-17 - 34/mm 2 No caso de Aeaeia longifolia, Illana & Marchiori (1980) registram: fibras libriformes não septadas; parênquima axial em séries de 2-4 células, compondo menos de 20% do volume da madeira; raios pouco numerosos, por vezes com mais de 4 células de largura; vasos com freqüência superior a 16/mm 2 ; e fibras muito curtas, com menos de 1000 flm de comprimento. Para Acaeia podalyriaefolia, Marchiori (2010a) relaciona: fibras libriformes não septadas; parênquima axial pouco abundante, em séries parenquimáticas de 2-4 células; e raios de até 3 células de largura. Para a madeira de Aeaeia melanoxylon, Marchiori (2009) destaca os seguintes aspectos anatômicos: fibras libriformes não septadas; parênquima axial pouco abundante, em séries de 2-4 células; raios numerosos a muito numerosos (5-9,5-15/mm), com mais de 4 células de largura; e freqüência de poros inferior a 13/mm 2 O presente trabalho visa à descrição dos caracteres gerais, macroscópicos e microscópicos da madeira de Aeaeia deeurrens, bem como a sua distinção de espécies afins, com base na anatomia da madeira. MATERIAL E MÉTODOS O material estudado consiste de 5 amostras de madeira, conservadas nas xilotecas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) e do Herbário do Departamento de Ciên- cias Florestais da Universidade Federal de Santa Maria (HDCF), com os seguintes registros: -HDCF 103. Granja,A., s.n. (25-10-1981). TANAC Florestal, Montenegro, RS. Flores. UFPR 1112. Col. Marchiori n. 206. -HDCF 105. Granja,A., s.n. (25-10-1981). TANAC Florestal, Montenegro, RS. UFPR 1134. Col. Marchiori n. 214. - IPT 5883. Rem.: Manoel Silva Neto, 1950. Instituto de Tecnologia do Rio Grande do Sul. - IPT 3698. Rem. D. Bento Pickel, Seção de Introdução de Essências, Serviço Florestal, São Paulo, Capital. UFPR 1276. - HDCF 8. Longhi & Marchiori, s.n. (01.10.1980). Cerrito, Santa Maria, RS. De cada amostra foram preparados três corpos-de-prova, orientados para a obtenção de cortes anatômicos nos planos transversal, longitudinal radial e longitudinal tangencial, respectivamente. Para a microtomia, os corpos-deprova foram previamente amolecidos por fervura em água e seccionados em micrótomo de deslizamento, regulado para a obtenção de cortes anatômicos com espessura nominal de 18 flm. Os cortes foram tingidos com acridina-vermelha, crisoidina e azul-de-astra (Dujardin, 1964), desidratados em série alcoólica crescente (25%, 50%, 75%, 90%, 95%, duas vezes álcool absoluto), banhados em xilol e montados em lâminas permanentes, com "Entellan". Na confecção de lâminas de macerado seguiu-se a técnica de Jeffrey (Freund, 1970), usando-se coloração com safranina e o mesmo meio de montagem anteriormente referido. A terminologia, número de medições e descrição da estrutura anatômica segue as recomendações da Copant (1973), com as modificações introduzidas por Burger (1979). Para as determinações estereológicas da percentagem de vasos, parênquima axial, raios e fibras, bem como da percentagem das classes de raios quanto à largura em número de células, seguiu-se a 2

metodologia recomendada por Marchiori (1980). A cor da madeira foi determinada por comparação, usando-se a "Tabela de Cores para Solos" (Munsell, 1971), sob iluminação natural. As foto micro grafias foram tomadas em aparelho Carl Zeiss, com diferentes aumentos. DESCRIÇÃO DA MADEIRA Caracteres gerais: Cerne e alburno distintos; alburno estreito, róseo-esbranquiçado (HUE 7.5 YR 8/2) e cerne rosado (HUE 7.5 YR 7/4). Madeira de grã direita, brilhante, moderadamente dura, não aromática, de textura média, com figura homogênea e escassa variação cromática. Caracteres macroscópicos: Parênquima axial: visível a olho nu, pouco abundante, em arranjo paratraqueal vasicêntrico. Raios: invisíveis a olho nu em plano transversal, finos, pouco freqüentes; em plano longitudinal tangencial, visíveis a olho nu, baixos não estratificados. Espelhado, não contrastado no alburno; pouco contrastado no cerne. Poros: visíveis a olho nu, pequenos, numerosos e em distribuição difusa, uniforme. Poros solitários e em múltiplos radiais de 2 a 4. Linhas vasculares retilíneas, por vezes obstruídas com conteúdo escuro, no cerne. Camadas de crescimento: distintas, individualizadas por zonas fibrosas tangenciais mais escuras. Outros caracteres: canais secretores axiais, máculas medulares, líber incluso e canais secretores horizontais, ausentes. Caracteres microscópicos: Vasos: numerosos (7-17 - 34/mrn 2 ; s = 5,38), representando 17% da seção transversal da madeira. Distribuição difusa, uniforme (Figura la,b). Poros solitários e em múltiplos de 2 a 8, agrupados radialmente e em cachos (Figura lb). Poros solitários, de diâmetro médio (80-122 - 155 Ilm; s = 16,73), com placas de perfuração simples, transversais ou ligeiramente oblíquas (Figura ld). Apêndices curtos (20-66 - 188 Ilm; s = 33,90), presentes em uma (Figura ld) ou em ambas as extremidades. Espessamentos espiralados, ausentes. Pontoações intervasculares alternas, arredondadas ou poligonais devido à proximidade das mesmas, de diâmetro pequeno a médio (5,5-9 - 9 Ilm; s = 0,77), ornamentadas e com abertura horizontal, lenticular, inclusa ou coalescente a 2-3 pontoações. Pontoações raio-vasculares pequenas (4,5-5,6-8 Ilm; s = 0,80) e arredondadas. Ponto ações parênquimo-vasculares pequenas (5-6 - 7,5 Ilm; s = 0,71), semelhantes às raiovasculares. Conteúdo com aspecto de gomo-resina, abundante em poros do cerne. Parênquima axial: ocupando 8,3% do volume da madeira, em disposição nitidamente paratraqueal-vasicêntrica (Figura lb,c). Células fusiformes, raras; de 232-434 - 548 Ilm de altura (s = 108,83) elo - 13 - l61lm de largura (s = 2,58). Séries axiais de 227-413 -783 Ilm de altura (s = 88,42) elo - 21-39 Ilm de largura (s = 7,14), compostas de 2-3 - 4 células (s = 0,88). Cristais romboédricos de oxalato de cálcio com cerca de 20 Ilm de comprimento, em séries de 14-18 câmaras, principalmente no lenho tardio (Figura lb; 2D). Raios: pouco freqüentes a pouco numerosos (3-5 - 7/mrn; s = 0,92), representando 6,9% do volume da madeira. Tecido radial homogêneo, composto inteiramente de células horizontais (Figura 2A, B). Células de contorno elíptico, em plano longitudinal tangencial (Figura 2D). Raios agregados e fusionados, ausentes. Raios unisseriados, escassos (5,4% do total); muito baixos (17-85 - 250 Ilm; s = 42,02), extremamente finos (4-9 - 18 Ilm; s = 3,07) e com 1-5 - 17 células de altura (s = 2,80). Os multisseriados, em sua maioria trisseriados (54,9% do total), com numerosos bisseriados (37,8%) e raros tetrasseriados (1,9%); são baixos (58-346 - 768 Ilm; s = 143,71) e muito 3

~.:. i. :.'.,... '. ",... < " :~ c;a..t'.~ - et FIGURA 1- Aspectos anatômicos da madeira de Acaeia decurrens Willd. A - Seção transversal, destacando a distribuição e arranjo de poros. B - Seção transversal em limite de anel de crescimento, mostrando poros em múltiplos radiais e racemiformes, parênquima paratraqueal e concentração de cristais no término do anel (seta). C - Parênquima paratraqueal vasicêntrico (seta), em seção transversal. D - Elemento de vaso com placas de perfuração simples e apêndice em uma das extremidades. Escalas: 100 11m(A); 25 11m(B,C); 40 11m(D). 4

FIGURA 2 - Aspectos anatômicos da madeira de Acacia decurrens Willd. A - Raios homogêneos, elementos vasculares e fibras, em seção longitudinal radial. B - Estrutura radial homogênea e fibras não septadas, em seção longitudinal radial. C - Aspecto geral da madeira, em seção longitudinal tangencial. D - Raios mui tisseriados e séries axiais cristalíferas (seta), em seção longitudinal tangencial. Escalas: 40 ~m (A,C); 25 ~m (B,D). 5

finos (5-20 - 28!-tm;s = 4,31), com 5-24- 57 células (s = 10,56) de altura (Figura 2C, D). Células cristalíferas, envolventes, eretas, esclerosadas, latericuliformes, oleíferas e quadradas, ausentes; conteúdo com aspecto de gomo-resina, abundante. Fibras: proeminentes, ocupando 67,8% do volume da madeira (s = 3,56). Fibras libriformes, não septadas e frequentemente gelatinosas, com pontoações simples diminutas, mais numerosas nas faces radiais da parede. Fibras curtas (1000-1216 - 1420!-tm;s = 101,72), estreitas (9-14 - 23!-tm;s = 2,56) e de paredes espessas (2,5-4 - 6,3!-tm;s = 0,84). Outros caracteres: canais secretores, tubos laticíferos e taniníferos, líber incluso, máculas medulares e estratificação, ausentes. Anéis de crescimento distintos, marcados por lenho tardio com fibras radialmente estreitas e lúmen reduzido, bem como pela concentração de séries cristalíferas no limite do anel (Figura lb). ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA Incluída na série Botryoeephalae (Bentham, 1875) ou no subgênero Heterophyllum (Vassal, 1972), a madeira de Acaeia deeurrens Willd. separa-se facilmente das espécies nativas no sul do Brasil. Com relação à Acaeia eaven (Molina) Molina 4, o bem conhecido "espinilho" (Marchiori, 1992), bem como à Aeaeia ibiroeayensis Marchiori 5 (Marchiori, 1993) e a Vaehellia farnesiana (L.) Wight & Arn. 6 (Marchiori 201 Ob), todas pertencentes ao subgênero Acaeia Vassal, o material em estudo distingue-se por ter parênquima axial pouco abundante (até 20% do volume da madeira), composto por séries de 2-4 células. De Acaeia bonariensis (Marchiori, 1996), Acaeia nitidifolia (Marchiori, 1991a), Acaeia 4 A espécie tem sido referida, ultimamente, como Vachellia caven (Molina) Seigler & Ebinger. 5 O mesmo que Vachellia ibirocayensis (Marchiori) Deble & Marchiori. 6 Na literatura mais antiga, a espécie é referida como Acaciafarnesiana (L.) WilId. plumosa (Marchiori 1991b), Acaeia reeurva (Marchiori, 1982), Aeaeia tueumanensis (Marchiori 1994) e Acaeia velutina (Marchiori, 1995), Aeaeia deeurrens separa-se pela ausência de fibras septadas na madeira. A madeira de Acaeia deeurrens assemelhase a outras espécies australianas cultivadas no sul do Brasil (A. podalyriaefolia, A. dealbata, A mearnsii, A. melanoxylon), seja pela ausência de fibras libriformes septadas, seja pelo parênquima axial pouco abundante (até 20%). De Acaeia podalyriaefolia (Marchiori, 201Oa), o material em estudo separa-se por ter raios com mais de 3 células de largura. Comparado a Acaeia dealbata (Marchiori, 1990) e A. mearnsii (Costa & Marchiori, 1980), Aeaeia deeurrens distingue-se por ter raios mais largos, com mais de 4 células de largura. Comparado a Acaeia melanoxylon (Marchiori, 2009), a distinção pode ser feita com base na freqüência de poros, posto que o caráter é nitidamente mais abundante na espécie presentemente descrita (> 16/ mm 2 ). Comparada aaeaeia longifolia (Illana & Marchiori, 1980), finalmente, a diferenciação requer o exame do comprimento de fibras, pois ultrapassa a 1000!-tmnesta espécie e fica abaixo deste valor em Acaeia deeurrens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENTHAM, G Revision of the sub-order Mimoseae. Trans. Linn. Soe. London, n. 30, p. 335-664, 1875. BURGER, L.M. Estudo anatômico do xilema secundário de sete espécies nativas do gênero Dalbergia, Leguminosae Faboideae. Curitiba: UFPR, 1979. 184 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal do Paraná. COPANT. Comissão Panarnericana de Normas Técnicas. Descrição macroscópica, microscópica e geral da madeira - Esquema I de recomendação. Colômbia, 1973. 19 p. (COPANT 30). COSTA, A.F. da; MARCHIORI, J.N.C. Estudo anatômico da madeira de Acaeia mearnsii De Willd. In: Anais do IV Congresso Florestal Estadual. Nova Prata, RS, 1980. p. 237-245. 6

DUJARDIN, E.P. Eine neue Holz-Zellulosenfaerbung. Mikrokosmos, n. 53, p. 94, 1964. EWART, AJ. Flora of Victoria. Melbourne: HJ. Greeen, 1930. 1527 p. FREUND, H. Handbuch der Mikroskopie in der Technik. Frankfurt: Umsham Verlag, 1970.379 p. HERTER, G. Estudios botánicos en la región uruguaya. IV. Florula uruguayensis Plantae vasculares. Montevideo: Ministerio de Industrias, 1930. 191 p. ILLANA, H.A.; MARCHIORI, J.N.C. Estudo anatômico do xii ema secundário de Acacia longifolia (Andr.) Willd. In: Anais do IV Congresso Florestal Estadual. Nova Prata, RS, 1980. p. 207-215. MARCrnORI, J.N.C. Estudo anatômico do xilema secundário de algumas espécies dos gêneros Acacia e Mimosa, nativas no estado do Rio Grande do Sul. Curitiba: UFPR, 1980. 186 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal do Paraná. MARCHIORI, J.N.C. Estudo anatômico do xilema secundário e da casca de Acacia recurva Benth. (Leguminosae Mimosoideae). Ciência e Natura, Santa Maria, v. 4, p. 95-105,1982. MARCHIORI, J.N.C. Anatomia das madeiras do gênero Acacia, nativas e cultivadas no estado do Rio Grande do Sul. Curitiba: UFPR, 1990. 226 f. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) - Universidade Federal do Paraná. Acacia nitidifolia Speg. (Leguminosae Mimosoideae). Ciência Florestal, Santa Maria, v. 1, n. 1, p. 46-63, 1991a. Acacia plumosa Lowe (Leguminosae Mimosoideae). Ciência e Natura, Santa Maria, v. 13, p. 67-77, 1991b. MARCHIORI, J.N.C. Anatomia da madeira e casca do espinilho, Acacia caven (MoI.) MoI. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 2, n. 1, p. 27-47,1992. MARCHIORI, J.N.C. Estudo anatômico do xilema secundário de Acacia ibirocayensis Marchiori (Leguminosae Mimosoideae). Ciência e Natura, Santa Maria, n. 15, p. 149-159, 1993. MARCrnORI, J.N.C. Anatomia da madeira e casca de Acacia tucumanensis Gris. Ciência e Natura, Santa Maria, n. 16, p. 85-104,1994. MARCHIORI, J.N.C. Anatomia da madeira e casca de Acacia velutina DC. Ciência e Natura, Santa Maria, n. 17, p. 99-114, 1995. Acacia bonariensis Gill. ex Hook. & Arn. Ciência Rural, Santa Maria, v. 26, n. 2, p. 209-216, 1996. Acacia melanoxylon R. Br. Balduinia, Santa Maria, n. 18, p. 26-32, 2009. Acacia podalyriaefolia A. Cunn. Balduinia, Santa Maria, n. 20, p. 10-15, 201Oa. Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn. Balduinia, Santa Maria, n. 22, p. 9-14, 201Ob. MATTOS, N.F. Espécies conhecidas como "acácia negra", cultivadas no Rio Grande do Sul. Roessléria, v. 3, n. 2, p. 67-79,1980. MUNSELL COLOR DIVISION. Soil color charts. Baltimore, 1971, s.p. RECORD, SJ.; HESS, R.w. Timbers of the New World. New Haven: Yale University Press, 1949. 640 p. RICO-ARCE, M. de L. American species of Acacia. México: Comisión Nacional para el Conocimiento y Uso de Biodiversidad (CONABIO), 2007.207 p. VASSAL,1. Ontogenetic and seed research applied to the morphological, taxonomical and phylogenetic study ofthe genusacacia. Travaux Lab. For. Toulouse, v. 1, n. 8, p. 1-125, 1972. 7