ANATOMIA DA MADEIRA DE MYRCIANTHES GIGANTEA (Legr.) Legr. 1

Documentos relacionados
ANATOMIA DA MADEIRA DE PLINIA RIVULARIS

ANATOMIA DO LENHO DE PLINIA TRUNCIFLORA KAUSEL (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DO GUAMIRIM-FACHO, Calyptranthes concinna DC. WOOD ANATOMY OF Calyptranthes concinna DC. (Myrtaceae).

MYRCIA BOMBYCINA (O. BERG) NIEDENZU

ANATOMIA DO LENHO DE CALYPTRANTHES D. LEGRAND (MYRTACEAE)t

LUCIANO DENARDF JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP MARCOS ROBERTO FERREIRN

ANATOMIA DAS MADEIRAS DE CAMPOMANESIAAUREA O. BERG E EUGENIA MYRCIANTHES NIEDENZU (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE MYRCIA DC., NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

ANATOMIA DAS MADEIRAS DE EUGENIA BURKARTIANA (D. LEGRAND) D. LEGRAND E MYRCIARIA CUSPIDATA O. BERG, DUAS MIRTOÍDEAS NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

Recebido para publicação em 26/11/2004 e aceito em 24/08/2005.

ANATOMIA DA MADEIRA DE ESCALLONIA MEGAPOTAMICA SPRENGEV

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE EUGENIA L. (MYRTACEAE)l

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO LENHO DE BRUNFELSIAAUSTRALIS BENTHAM (SOLANACEAE)l

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE EUGENIA MANSOI O. BERG (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE BERBERIS LA URINA BILLB.l

ANATOMIA DA MADEIRA DE EUGENIA UNIFLORA L. (MYRTACEAE)I

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE MYRCEUGENIA EUOSMA (O. BERG) D. LEGRAND (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DO LENHO DE HETEROTHALAMUS PSIADIOIDES LESSING (ASTERACEAE - ASTEREAE)1

ANATOMIA DA MADEIRA DE SALIX HUMBOLDTIANA WILLD. (SALICACEAE) I

ANATOMIA DA MADEIRA DE CAMPOMANESIA RHOMBEA O. BERG (MYRTACEAE)]

ANATOMIA DA MADEIRA DE SALIX X RUBENS SCHRANK (SALI CA CEAE) 1

ABSTRACT [Wood anatomy of Myrceugenia miersiana (Gardner) D. Legrand et Kausel (Myrtaceae)].

ANATOMIA DO LENHO DE MACLURA TINCTORIA D. DON EX STEUD. 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE MELIA AZEDARACH L. (MELIACEAE) 1

ANATOMIA DO LENHO DE BERNARDIA PULCHELLA (EUPHORBIACEAE) 1

ANATOMIA DO LENHO DE HETEROTHALAMULOPSIS WAGENITZIl (F. HELLW.) DEBLE, OLIVEIRA & MARCmORI (ASTEREAE - ASTERACEAE) 1

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE EUGENIA SCHUECHIANA O. BERG (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DO LENHO DE ALLOPHYLUS GUARANITICUS (ST.-HIL.) RADLK. (SAPINDACEAE)\

ANATOMIA COMPARATIVA DA MADEIRA DE QUATRO ESPÉCIES DA SUBTRIBO BACCHARINAE LESSING (ASTERACEAE - ASTEREAE)l

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE EUGENIA HIEMALIS CAMBESS. (MYRTACEAE)l

Figura 12 Procedimentos realizados para a determinação da espessura e proporção de casca, teor de umidade e peso específico da madeira.

ANATOMIA DA MADEIRA DE ENTEROLOBIUM GLAZIOVII (BENTH.) MESQUITA 1

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO LENHO DE Melaleuca leucadendron (L.) L. ANATOMICAL DESCRIPTION OF Melaleuca leucadendron (L.) L WOODEN

DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA DA ANATOMIA DA MADEIRA DE QUATRO ESPÉCIES DO GÊNERO Ocotea Aubl.

Profª. M.Sc.: Josiane Silva Araújo

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DAS ESPÉCIES Gossypium hirsutu, Couratari spp e Clarisia racemosa Ruiz et Pavon.

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS BIGNONIÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINAl

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.

V Semana Acadêmica da UEPA Campus de Marabá As problemáticas socioambientais na Amazônia Oriental 22 a 24 de Outubro de 2014

PROGRAMA ANALÍTICO DISCIPLINA NOME: ANATOMIA DA MADEIRA CÓDIGO: IF 301 CRÉDITOS: 04 (T-02 P-02) DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FLORESTAIS

ESTUDO ANATÔMICO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa trachycarpa Benth.

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE BACCHARlS L. (ASTERACEAE - ASTEREAE)l.

ANATOMIA DO LENHO DE MIMOSA MICROPTERIS BENTH. 1

ANATOMIA DO LENHO DE CONDALIA BUXIFOLIA REISSEK (RHAMNACEAE)I

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS CESALPINIOÍDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINA

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE SAPIUM HAEMATOSPERMUM MÜLL. ARG (EUPHORBIACEAE)I

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS FABOÍDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES -ARGENTINA!

ANATOMIA DA MADEIRA DE Xy/osma tweedianum (Cios) Eichler (Flacourtiaceae)

ANATOMIA DA MADEIRA DE Mimosa eriocarpa Benth. WOOD ANATOMY OF Mimosa eriocarpa Benth. Celso Carnieletto 1 José Newton Cardoso Marchiori 2 R E S U M O

Recebido para publicação em 13/01/2005 e aceito em 3/06/2005.

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa incana (Spreng.) Benth. ANATOMY OF THE SECONDARY XYLEM OF Mimosa incana (Spreng.) Benth.

ANATOMIA DO LENHO DE TRÊS ESPÉCIES EXÓTICAS DO GÊNERO VACHELLIA WIGHT & ARN. 1

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF

ESTUDO ANATÔMICO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa sparsa Benth

Anatomia Comparada de Três Espécies do Gênero Vochysia

ANATOMIA DO LENHO DE MIMOSA PIGRA BENTH. 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE CALYCOPHYLLUM SPRUCEANUM (BENTH.) K. SCHUM. E CALYCOPHYLLUM SPRUCEANUM F. BRASILIENSIS K. SCHUM.¹

II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira Belo Horizonte - 20 a 22 set 2015

UFSM. Dissertação de Mestrado

ANATOMIA DA MADEIRA DE TETRORCHIDIUM RUBRIVENIUM POEPP. & ENDL. (EUPHORBIACEAE) 1

ESTUDO ANATÕMICO DA MADEIRA DE Myrciaria tenel/a (DC.) Berg

DIFERENCIAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE 4. ESPÉCIES DO GÊNERO Caryocar.

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

ESTUDO COMPARATIVO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE TRÊS ESPÉCIES ORNAMENTAIS DE Euphorbia

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE COLUBRINA GLANDULOSA PERKINSl

ANATOMIA DA MADEIRA DE

ANATOMIA DA MADEIRA DE TRÊS ESPÉCIES BRASILEIRAS DE BACCHARIS L. (ASTERACEAE - ASTEREAE) 1

Química da Madeira. MADEIRA - Material heterogêneo

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa berroi Burk.

ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DEALBATA LINKl

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS MIMOSOIDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINA 1

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa

ESTUDO ANATÔMICO DO XI LEMA SECUNDÁRIO DE Ephedra tweediana C. A. Meyer

o presente trabalho trata da descrição dos caracteres gerais e

A CLASSIFICAÇÃO INTERNA DA TRIBO MYRTEAE, SOB O PONTO DE VISTA DA ANATOMIA DA MADEIRA 1

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Ciência Florestal, Santa Maria, v.8, n.1, p ISSN CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage

Merilluce Samara Weiers 1, João Carlos Ferreira de Melo Jr. 2 1 INTRODUÇÃO

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ARALlÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES, ARGENTINA

São descritos os caracteres anatõmicos da madeira de Celtis pallida Torrey, um pequeno

Sistema Vascular. Xilema. Atividade do Procâmbio ou Câmbio Vascular

POTENCIALIDADE DA MADEIRA DE Eucalyptus tereticornis PARA PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL

RESUMO. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Restinga, Mata Atlântica. INTRODUÇÃO

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Contribuição ao estudo anatômico da madeira de Anonáceas da Amazônia

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE BACCHARIS, NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DECURRENS Willd. 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE VACHELLIA FARNESIANA (L.) WIGHT & ARN.I

II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira Belo Horizonte - 20 a 22 set 2015

Tecidos Vasculares. TECIDOS CONDUTORES - Introdução. Xilema primário. Procambio. Floema primário. Tecidos vasculares. Xilema.

ANATÔMIA DA MADEIRA DE Cordia alliodora C. (R & P.) Oken e Cordia goeldiana Huber, COMERCIALIZADAS COMO FREIJÓ NA REGIÃO AMAZÔNICA

ANÁLISE DE AGRUPAMENTO DE 16 GÊNEROS E 71 ESPÉCIES DE MYRTEAE, COM BASE EM DADOS DA ANATOMIA DA MADEIRA 1

o USO DA MADEIRA NAS REDUÇÕES JESUÍTICO-GUARANI DO RIO GRANDE DO SUL VII - VIGA DO CORO DA IGREJA DA IGREJA DE SÃO MIGUEL ARCANJO)

ANATOMIA DA MADEIRA DE CALYCOPHYLLUM CANDIDISSIMUM (VAHL) DC. (RUBIACEAE)¹

Características anatômicas de 20 espécies do mato grosso

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE NOVE ESPÉCIES DA FAMÍLIA LEGUMINOSAE

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE BOTUCATU FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM Ciência Florestal PLANO DE ENSINO

Transcrição:

BALDUINIA. n.12, p. 27-31, 15-1-2008 ANATOMIA DA MADEIRA DE MYRCIANTHES GIGANTEA (Legr.) Legr. 1 JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF LUCIANO DENARDP MARCOS ROBERTO FERREIRN RESUMO A estrutura anatômica do xiiema secundário de Myrcianthes gigantea (Legr.) Legr. é descrita e ilustrada com fotomicrografias. O lenho apresenta poros solitários, parênquima apotraqueal difuso-em-agregados, raios heterogêneos e fibras com pontoações areoladas. A ausência de traqueídeos vasicêntricos e de cristais no parênquima axial permitem separar a espécie de outras Mirtoídeas nativas no Rio Grande do Sul. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Myrtaceae, Myrcianthes gigantea. ABSTRACT [Wood anatomy of Myrcianthes gigantea (Legr.) Legr.]. The wood of Myrcianthes gigantea (Legr.) Legr. is anatomically described and illustrated with photomicrographs. The anatomical structure shows solitary vessels, diffuse-in-aggregates apotracheal parenchyma, heterogeneous rays and fibres with bordered pits. The absence ofvasicentric tracheids as well as chrystals in the axial parenchyma distinguishes the species from other native Myrtoids from the State of Rio Grande do Sul. Key-words: Wood anatomy, Myrtaceae, Myrcianthes gigantea. INTRODUÇÃO A família Myrtaceae reúne numerosas espécies da subfamília Myrtoideae no continente americano e apenas Tepualia stipularis, que habita no extremo sul do Chile e Argentina, entre as Leptospermoideae. Dos 24 gêneros representados na flora brasileira, 19 ocorrem no Rio Grande do Sul: Acca, Blepharocalyx, Calycorectes, Calyptranthes, Campomanesia, Eugenia, Gomidesia, Hexachlamys, Marlierea, Myrceugenia, Myrcia, Myrcianthes, Myrciaria, Myrrhinium, Neomitranthes, Paramyrciaria, Plinia, Psidium e Sphoneugena (Marchiori & Sobral, 1997). Com cerca de 50 espécies (Rotman, 1979), o gênero Myrcianthes Berg. apresenta três espécies no Rio Grande do Sul: Myrcianthes cisplatensis (Camb.) Berg, Myrcianthes pungens (Berg) Legr. e Myrcianthes gigantea (Legr.) Legr. (Marchiori & Sobral, 1997). Conhecida regionalmente por araçá-da-mato, Myrcianthes gigantea alcança 15 m de altura e distribui -se do norte do Uruguai (o tipo procede de Quebrada de Los Cuervos, Taquarembó) até o nordeste brasileiro, habitando, no Rio Grande do Sul, principalmente a submata dos pinhais e capões, na Serra do Sudeste, Planalto Médio e Depressão Central (Marchiori & Sobral, 1997). Sobre a anatomia das Mirtáceas, Metcalfe & Chalk (1972) referem: vasos usualmente pequenos, numerosos e solitários; elementos vasculares médios até grandes, com placas de perfuração simples e pontoações intervasculares I Recebido em 05/05/2007 e aceito para publicação em 17/08/2007. 2 Engenheiro Florestal, Dr., bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). balduinia@mail.ufsm.br 3 Engenheiro Florestal, Bolsista do CNPq - Brasil, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). lucianodenardi@yahoo.com.br 4 Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). markus@mail.ufsm.br 27

alternas, pequenas, ornamentadas; e raios usualmente heterogêneos, exclusivamente unisseriados, ou então multisseriados, com 2-3 (até 6) células de largura. O parênquima, tipicamente apotraqueal-difuso ou em faixas unisseriadas, nas madeiras com poros solitários, é predominantemente paratraqueal nas com múltiplos numerosos, ao passo que as fibras, com pontoações tipicamente areoladas, são geralmente de comprimento médio. Traqueídeos vasicêntricos são freqüentes na família, mas canais intercelulares axiais, de origem traumática, restringem-se a poucos gêneros. Marchiori & Sobral (1997) comentam que o conjunto desses caracteres sugere primitividade ao xilema das Mirtáceas. O presente trabalho visa a descrição e análise da estrutura anatômica da madeira de Myrcianthes gigantea, tendo por base referências bibliográficas sobre outras Mirtoídeas nativas do Rio Grande do Sul. MATERIAL E MÉTODO O material em estudo consiste de uma amostra de madeira e respectivo material botânico, coletados Santana da Boa Vista - RS (Cerro do Diogo), e anexados à Xi loteca e Herbário do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria (HDCF), sob o número 2151. Da amostra de madeira, foram preparados três corpos-de-prova com 2 cm de lado, extraídos da porção mais externa do lenho e orientados para obtenção de cortes histológicos nos planos transversal, longitudinal radial e longitudinal tangencial. Um quarto bloco foi também retirado, com vistas à maceração. No preparo das lâminas histológicas, seguiuse a técnica padrão no Laboratório de Anatomia da Madeira da Universidade Federal do Paraná: os corpos-de-prova foram amolecidos por fervura em água e seccionados em micrótomo de deslize, regulado na espessura de 18 11m. Os cortes foram tingidos com acridinavermelha, crisoidina e azul-de-astra (Dujardin, 1964), desidratados em série alcoólica, 28 diafanizados em xilol e montados em lâminas permanentes, com "Entellan". Para a confecção de lâminas de macerado, o lenho foi dissociado pelo método de Jeffrey (Burger & Richter, 1991); no preparo de lâminas usou-se coloração com safranina 1% e "Entellan" como meio de montagem. A descrição microscópica baseia-se nas recomendações do IAWA Committee (1989) e a determinação dos diferentes tipos celulares, na metodologia proposta por Marchiori (1980); foram mensuradas, ainda, a altura de raios em rnicrômetros e em número de células. Os dados quantitativos da madeira são exibidos na Tabela 1. As fotomicrografias foram tomadas em aparelho Carl Zeiss, no Laboratório de Anatomia da Madeira da Universidade Federal do Paraná. DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA Camadas de crescimento: distintas, marcadas por fibras radialmente estreitas no lenho tardio (Figura IA). Vasos: com freqüência de 161 ± 25 (131-200)' por mm 2 (Figura IA) e 27 ± 4 (17-32) 11mde diâmetro; exclusivamente solitários e em distribuição difusa (Figura IA, B). Elementos vasculares de 542 ± 68 (400-650) 11mde comprimento, com placas de perfuração simples, oblíquas (Figura 1D) e apêndices geralmente em ambas as extremidades. Pontoações raiovasculares distintamente areoladas; pontoações intervasculares, não observadas devido ao escasso contato entre vasos. Espessamentos espiralados, traqueídeos vasicêntricos, tiloses e gomas, ausentes no material em estudo. Parênquima axial: apotraqueal difuso-emagregados, tendendo a formar faixas estreitas ou linhas (Figura IA, B); composto, geralmente, de 5 a 8 células por série. Cristais, ausentes. Raios: com 1-3 células de largura (Figura 1D) e 198 ± 66 (100-312) 11mde altura; não estratificados e com freqüência superior a l4/mm. * x ± s (valor mínimo - valor máximo), onde: x = média; s = desvio padrão.

FIGURA I: Fotomicrografias da madeira de Myrcianthes gigantea. A, B - Anel de crescimento distinto, poros solitários e parênquima apotraqueal difuso-em-agregados, em plano transversal (escala A = 50 11m;B = 100 11m). C - Raio heterogêneo, em seção radial, com células procumbentes, quadradas e eretas (escala = 50 11m).D - Raios com 1-3 células de largura e vasos com placas de perfuração oblíquas, em seção tangencial (escala = 50 11m). 29

TABELA 1: Dados quantitativos da estrutura anatômica. Característica Mínimo Média Máximo s CV(%) Freqüência de vasos (vasos/mm 2 ) 131 161,2 200 25,5410 15,8 Comprimento de elementos vasculares (f!m) 400 542 650 68,2519 12,6 Diâmetro do lume de vasos (f!m) 17,5 27,5 32,5 3,9528 14,4 Freqüência de raios (mm) 10 14 17 1,7483 12,3 Altura de raios (f!m) 100 197,9 312,5 66,3116 33,5 Altura de raios (células) 3 8,7 16 3,7336 42,6 Comprimento de fibras (f!m) 660 875,2 1140 125,6025 11 Fração de vasos (%) 13 16 18 1,8708 11,7 Fração de parênquima axial (%) 10 14,2 16 2,4899 17,5 Fração de raios(%) 16 19 21 1,8708 9,8 Fração de fibras(%) 47 50,8 53 2,3875 4,7 s desvio padrão; CV - coeficiente de variação; f!m - micrômetros. Raios compostos de células procumbentes no centro e 2-4 fileiras marginais de células quadradas e eretas (Figura 1C); células oleíferas, células perfuradas e canais intercelulares, ausentes. Fibras: de 875 ± 125 (660-1140) f.lmde comprimento, com paredes estreitas até espessas (Figura IA, B) e pontoações areoladas com menos de 3 f.lm de diâmetro; fibras septadas, espessamentos espiralados e cristais, ausentes. Quanto à composição do lenho, as fibras correspondem a 51% do total, seguida pelos raios (19%), vasos (16%) e parênquima axial (14%). Máculas medulares, ocasionalmente presentes. ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA A estrutura anatômica da madeira de Myrcianthes gigantea concorda com o descrito por Metcalfe e Chalk (1972) para as Mirtáceas. A presença de poros solitários e em distribuição difusa, de placas de perfuração simples, de fibras com pontoações areoladas, de parênquima apotraqueal e de raios heterogêneos, tidos como predominantes na família, foram também observados em outras Mirtoídeas nativas do Rio Grande do Sul: Feijoa sellowiana (Marchiori, 1984a), Myrrhinium loranthoides (Marchiori, 1984c), Myrceugenia myrtoides (Marchiori & Muniz, 1987b), Myrceugenia glaucescens (Marchiori & Muniz, 1988), Calyptranthes concinna (Marchiori & Brum, 1997), Campomanesia guazumaefolia (Marchiori, 1998), Blepharocalyx salicifolius (Denardi, 2004) e Plinia rivularis (Denardi et ai., 2005). À semelhança das espécies anteriormente referidas, Myrcianthes gigantea também apresenta fibrotraqueídeos. Cabe lembrar, todavia, que fibras com pontoações areoladas de diâmetro inferior a 311m, como presentemente observado, devem ser consideradas libriformes, segundo as recomendações do IAWA Committee (1989). A norma COPANT (1973), utilizada na descrição das espécies mencionadas, vale-se apenas do tipo de pontoação (simples ou areolada) para a classificação das fibras em libriformes ou fibrotraqueídeos. No material em estudo, o comprimento médio de fibras e elementos vasculares, bem como a freqüência de vasos, situam-se dentro da amplitude verificada para o conjunto de Mirtoídeas. A ausência de cristais no parênquima axial de Myrcianthes gigantea permite diferenciar a espécie de Feijoa sellowiana, Eugenia involucrata (Marchiori, 1984b), Myrrhinium loranthoides, Blepharocalyx salicifolius e 30

PUnia rivularis. A presença de máculas medulares, ao contrário, não tem valor diagnóstico, decorrendo de danos fisicos causados por intempéries, insetos ou patógenos. CONCLUSÕES A análise anatômica da madeira de Myrcianthes gigantea (Legr.) Legr. permite a formulação das seguintes conclusões: - A estrutura microscópica concorda, em linhas gerais, com o descrito para o conjunto das Mirtáceas; - A ausência de traqueídeos vasicêntricos, tidos como predominantes na família, e de cristais no parênquima axial, são aspectos importantes para diferenciar a espécie de algumas Mirtoídeas nativas do Rio Grande do Sul; - A presença de poros solitários, de parênquirna axial apotraqueal, de raios heterogêneos e de fibras com pontoações areoladas, confere primitividade ao xilema secundário, estando de acordo com o referido na literatura para a família Myrtaceae. REFERÊNCIAS BmUOGRÁFIcAS Burger, L. M., Richter, H. G Anatomia da Madeira. São Paulo: Ed. Nobel, 1991. l54p. Copant - Comissão Panamericana de Nonnas Técnicas. Descrição macroscópica, microscópica e geral da madeira - esquema I de recomendação. Colômbia, 1973.l9p. (COPANT30). Denardi, L. Estudo anatômico do lenho e morfologia foliar de Blepharocalyx salicifolius (H.B.K.) Berg, em duas regiões do Rio Grande do Sul. 2004. 94f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. Denardi, L., Marchiori, 1.N. e., Ferreira, M. R.Anatomia da madeira de Plinia rivularis (Camb.) Rotman. Balduinia, n. 3, p. 21-25, Santa Maria, 2005. Dujardin, E. P. Eine neue Holz-ZeIlulosenfaerbung. Mikrokosmos, n. 53, p. 94, 1964. IAWA Committee. IAWA list of microscopic features for hardwood identification. IAWA Bulletin, v.l 0, n.3,p.2l8-359,1989. Legrand, e. D., Klein, R. M. Mirtáceas. In: Reitz, P. R. Flora llustrada Catarinense. ltajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, 1978. p.770. Marchiori, 1. N.e. Estudo anatômico do xilema secundário de algumas espécies dos gêneros Acacia e Mimosa, nativas no Estado do Rio Grande do Sul. 1980. l86f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Marchiori, 1. N. e. Anatomia descritiva do lenho de Feijoa sellowiana Berg. Ciência & Natura, Santa Maria, v. 6, p. 117-125, 1984a. Marchiori, J. N. e. Anatomia da Madeira de Eugenia involucrata DC. (Myrtaceae). Ciência & Natura, Santa Maria, v. 6,p. 127-136, 1984b. Marchiori, 1.N. e. Anatomia descritiva da madeira de murtilho, Myrrhinium loranthoides (Hook. et Am.) Borret, Myrtaceae. Rev. Centro de Ciências Rurais, Santa Maria, v. 14, p. 43-50, 1984c. Marchiori, 1. N. e. Estudo microscópico da madeira de sete-capotes, Campomanesia guazumaefolia (Camb.) Berg, Myrtaceae. Ciência Rural, Santa Maria, v. 28, n. 1,p.47-5l, 1998. Marchiori,1. N. C., Mufiiz, G L B. Anatomia descritiva da madeira de Myrceugenia myrtoides Berg. Ciência & Natura, Santa Maria, v. 9, p. 113-120, 1987b. Marchiori, 1. N. C., Muniz, G. L B. Estudo anatômico da madeira de Myrceugenia glaucescens (Camb.) Legr. et Kausel. Ciência & Natura, Santa Maria, v. 1O,p. 105-113, 1988. Marchiori, 1. N. e., Brom, E. T. Anatomia da madeira do guamirim-facho, Calyptranthes concinna De. Ciência Rural, Santa Maria, v. 27, n. 2, p. 217-222,1997. Marchiori, 1. N. e., Sobral, M. Dendrologia das angiospermas: Myrtales. Santa Maria: UFSM, 1997.304p. Metcalfe, C. R., Chalk, L. Anatomy of the Dicotyledons. Oxford: Clarendon Press, 1972. v. 2, p. 621. Rotman, A. D. Las espécies argentinas dei género Myrcianthes (Myrtaceae). Darwiniana, San Isidro, v.22,n.i-3,p.109-l23, 1979. 31