Análise dos fluxos de água e CO2 de um canavial, em pós-colheita mecanizada. Rubmara Ketzer Oliveira; Felipe Gustavo Pilau; Thais Letícia dos Santos

Documentos relacionados
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS

;

ESTIMATIVA DOS FLUXOS TURBULENTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO Maria Helena M. MARTINS 1,2 e Amauri P. de OLIVEIRA 1

ESTUDO PRELIMINAR DO FLUXO DE GÁS CARBÔNICO NA RESERVA FLORESTAL DE CAXIUANÃ, MELGAÇO P A

ANÁLISE DO BALANÇO DE RADIAÇÃO EM SUPERFÍCIE DO EXPERIMENTO CHUVA VALE DO PARAÍBA PARA DIAS SECOS E CHUVOSOS. Thomas KAUFMANN 1, Gilberto FISCH 2

COMPORTAMENTO DE ALGUNS PARÂMETROS ATMOSFÉRICOS SOBRE UM SOLO DESCOBERTO, PARA DOIS DIFERENTES PERÍODOS DO ANO, EM MOSSORÓ - RN RESUMO

Introdução, Conceitos e Definições

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Balanço de radiação e energia em superfícies naturais

Departamento de Engenharia de Biossistemas - ESALQ/USP LCE Física do Ambiente Agrícola Prova Final 2010/II NOME:

RELAÇÃO ENTRE A RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL E INSOLAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PETROLINA-PE. Antônio Heriberto de Castro TEIXEIRA. 1 RESUMO

MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO NOÇÕES SOBRE A ATMOSFERA TERRESTRE

Comparação interanual dos fluxos de energia em floresta primária na Amazônia Central: a seca de 2005

HIDROLOGIA AULA semestre - Engenharia Civil EVAPOTRANSPIRAÇÃO. Profª. Priscila Pini

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - SON PRIMAVERA -

Olival é carbono verde?

ANÁLISE SINÓTICA DE UM CASO DE TEMPO SEVERO OCORRIDO NA CIDADE DE SÃO PAULO (SP) DURANTE O DIA 7 DE FEVEREIRO DE 2009

TROCAS LÍQUIDAS DE CARBONO USANDO O MÉTODO DA COVARIÂNCIA DE VÓRTICES EM UMA FLORESTA DE ARAUCÁRIA NO SUL DO BRASIL

MEDIÇÕES IN SITU DA CONCENTRAÇÃO DE CO2 EM UM RESERVATÓRIO TROPICAL USANDO LI-7500A E UMA BOIA METEOROLÓGICA. Doutorando em Clima e Ambiente INPA/UEA

Estimativa da evapotranspiração em dois sistemas de cultivo para soja, utilizando o método Eddy Covariance

Hidrologia. 3 - Coleta de Dados de Interesse para a Hidrologia 3.1. Introdução 3.2. Sistemas clássicos Estações meteorológicas

Emissão de GEEs em Sistemas Integrados.

VAPOR DE ÁGUA NA ATMOSFERA / UMIDADE DO AR

Comportamento de Herbicidas em Áreas de Palhada e Plantio Direto

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 44

BALANÇO DE RADIAÇÃO EM MOSSORÓ-RN, PARA DOIS PERÍODOS DO ANO: EQUINÓCIO DE PRIMAVERA E SOLSTÍCIO DE INVERNO RESUMO

CONDIÇÕES PARA FORMAÇÃO DE NEVOEIRO EM PELOTAS - PARTE IV - MÉTODO DE PREVISÃO.

DADOS AGROMETEOROLÓGICOS 2015 PRESIDENTE PRUDENTE - SÃO PAULO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

JANEIRO / 2013 Versão 1.0 N O 1

Importância do Manejo de Solos

Dinâmica da Atmosfera. Prof. ªRegina Andrade 6º ano

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 69

MANEJO CONSERVACIONISTA DA ADUBAÇÃO POTÁSSICA JOÃO MIELNICZUK

IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS O Caos Ambiental das Cidades Brasileiras

2. ALTERAÇÕES NAS PRECIPITAÇÕES OBSERVADAS NA REGIÃO DE MANAUS - AM. MOTA, M. R.; FREITAS, C. E. C. & BARBOSA, R. P.

Física e Meio Ambiente

AGRICULTURA I Téc. Agroecologia

Geografia. Climas Do Brasil. Professor Luciano Teixeira.

, CALOR LATENTE E SENSÍVEL EM UMA ÁREA PRODUTORA DE ARROZ IRRIGADO NO CENTRO DO RIO GRANDE DO SUL.

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 42

PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES DE AIPIM EM FUNÇÃO DA CONDIÇÃO HÍDRICA DO SOLO

Nome do Sítio Experimental: Cruz Alta. Localização e Mapas do Sítio Experimental: Latitude: Longitude: Altitude: 432 m

EFEITO DA COBERTURA DE MILHO, MILHETO E SORGO NA TEMPERATURA E UMIDADE DO SOLO

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 46

Eventos climáticos extremos: monitoramento e previsão climática do INPE/CPTEC

OBJETIVO. Analisar a dinâmica dos níveis potenciométricos de aquífero aluvial intensamente monitorado, no Agreste Pernambucano; Relacionar com:

Umidade do ar. 23 de maio de 2017

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA PARA O MUNICIPIO DE APODI-RN

AGRICULTURA I Téc. Agronegócios

Impacto das práticas de gestão sobre a emissão de CO 2 do solo em áreas de produção de cana, no sudeste do Brasil. Newton La Scala Jr.

AGREGAÇÃO E ESTOQUE DE CARBONO DEEM SOLOS CULTIVADOS COM CAFÉ (COFFEA ARABICA L) NO OESTE BAIANO. Apresentação: Pôster

CONCEITO DE SOLO CONCEITO DE SOLO. Solos Residuais 21/09/2017. Definições e Conceitos de Solo. Centro Universitário do Triângulo

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS. Prof. Walter F.

INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE TEMPO E CLIMA

POLUIÇÃO SUBSTÂNCIA CERTA + LUGAR ERRADO

ASPECTOS OBSERVACIONAIS DO FLUXO E DA CONCENTRAÇÃO DE CO 2 EM ECOSSISTEMA DE MANGUEZAL AMAZÔNICO

ROTEIRO. Introdução Importância da Temperatura do Solo Fatores Condicionantes do Regime Térmico do Solo:

Componentes do Ambiente. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA

USO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA RECUPERAÇÃO DA FERTILIDADE DE ÁREAS DEGRADADAS. Apresentação: Pôster

POLUIÇÃO AMBIENTAL II (LOB1211) Aula 1. Meio Atmosférico

INFLUÊNCIA DE ANO DE LA NINÃ (1996), EL NINÕ (1997) EM COMPARAÇÃO COM A PRECIPITAÇÃO NA MUDANÇA DE PRESSÃO ATMOSFÉRICA NO MUNICIPIO DE TERESINA PIAUÍ

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO

PERDAS DE SOLO E ÁGUA EM UM LATOSSOLO VERMELHO- ESCURO SOB DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO.

Ciência e Natura ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

HIDROLOGIA ENGENHARIA AMBIENTAL. Aula 06

Erosão x Plantio Direto no Arenito Paranaense

Avaliação da Qualidade do Ar

Introdução. A importância da compreensão dos fenômenos meteorologicos Grande volume de dados

DECOMPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE PALHA DE MILHO, AVEIA E NABO FORRAGEIRO EM SISTEMA CONVENCIONAL E PLANTIO DIRETO

Palavras-chave: Dióxido de carbono. Micro-organismo. Manejo. Atmosfera.

CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Profa. Dra. Cristiane de Conti Medina Departamento de Agronomia

Novembro de 2012 Sumário

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIA BIOLÓGICA E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA SISTEMA DE PREPARO DO SOLO E PLANTIO

CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Photo gmeducation.org. Carbono como indicador

As influências do fluxo de ventos e das trocas térmicas por radiação nos registros da temperatura externa do ar

CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA Prof ª Gustavo Silva de Souza

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE DOIS MÉTODOS DE EVAPOTRANSPIRAÇAO DE REFERÊNCIA (ET0) PARA A REGIÃO AGRESTE DE ALAGOAS

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS AGRONOMIA UTILIZAÇÃO DE ENERGIA NA AGRICULTURA

Introdução à Disciplina Revisão Geral

Clima de Passo Fundo

Variação vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã em dois períodos distintos (chuvoso e seco).

EVAPOTRANSPIRAÇÃO NA CULTURA DO MILHO NA REGIÃO NOROESTE PAULISTA

COLÉGIO BATISTA ÁGAPE CLIMA E VEGETAÇÃO 3 BIMESTRE PROFA. GABRIELA COUTO

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - MAM OUTONO -

ESTAÇÃO DO VERÃO. Características gerais e como foi o Verão de 2018/2019 em Bauru. O verão é representado pelo trimestre dezembro/janeiro/fevereiro;

Dados meteorológicos de Cumaru PE ANO 2011

BOLETIM CLIMÁTICO Nº 39

TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS NO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO PETROLINA-PE/JUAZEIRO-BA. ANTÔNIO H. de C. TEIXEIRA 1

4. BALANÇO HÍDRICO DA REGIÃO DE MANAUS - AM.

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL NO BRASIL

Clima tempo atmosférico

Exercitando Ciências Tema: Solos. Esta lista de exercícios aborda o conteúdo curricular Solos Origem e Tipos de solos.

Grandes Problemas ambientais

Origem da atmosfera. Fim da acresção material; Gases foram liberados e ficaram presos à Terra pela ação da gravidade; e

CONDIÇÕES MICROMETEOLÓGICAS EM UMA CULTURA DE ACEROLA (Malpighia punicifolia L.) INTRODUÇÃO

VARIAÇÃO DE TEMPERATURA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE COMPOSTOS ORGÂNICOS COM ESTERCO BOVINO OU CAPRINO. Resumo

Camada onde se dão a vida e os fenômenos meteorológicos. As temperaturas são menores quanto maiores forem as altitudes.

Perfil de temperatura do ar e do solo para uma área com vegetação e sem vegetação em um pomar de mangas em Cuiaraná-PA

Transcrição:

Análise dos fluxos de água e CO2 de um canavial, em pós-colheita mecanizada. Rubmara Ketzer Oliveira; Felipe Gustavo Pilau; Thais Letícia dos Santos INTRODUÇÃO O conhecimento dos elementos meteorológicos e monitoramento de seu comportamento permite uma tomada de decisão mais segura quanto à gestão de recursos naturais. Dois fatores importantes a serem abordados em áreas de cultivos agrícolas são a perda de água do solo para a atmosfera, que é um processo que pode depender da demanda evaporativa atmosférica ou da mudança da estrutura do solo, e o dióxido de carbono (CO2) emitido, que pode variar conforme o manejo adotado na área de produção. Conforme Cerri et al. (2007), a realização de um manejo conservacionista no solo possibilita um aumento do estoque de carbono no solo. Incursões mecanizadas de revolvimento, que impõem desagregação e movimento da matéria vegetal de cobertura podem acelerar a degradação de matéria orgânica, incrementando a emissão de CO2 (Iamaguti et al., 2015). Este trabalho versa da análise dos fluxos de CO2 e água de um canavial, pós colheita mecanizada. MATERIAL E MÉTODOS As medições foram realizadas por meio de uma torre micrometeorológica instalada em uma área agrícola do município de Piracicaba (São Pulo), onde os fluxos de CO2 e vapor d água foram estimados pela metodologia de Eddy Covariance (Aubinet et al., 2012), com medidas de frequência de 20 Hz da densidade de CO2 e H2O, do componente vertical do vento e temperatura sônica, sendo corrigidos para concentrações (Webb, 1980) para se obter os dados de fluxos. Para análise foram considerados 80 dias de medições, de 29 de junho a 28 de setembro de 2017. Ao longo desse período a área apresentou duas situações distintas de superfície, inicialmente com cobertura de palhada residual da colheita de cana, até 14 de agosto, e após uma gradagem um solo descoberto. Foram realizadas as seguintes correções dos dados (1) Quando

erro do sensor os dados são descartados; (2) Cálculo do horário ao nascer e ao pôr do sol em relação à latitude e descarte dos dados no período noturno; (3) Descarte dos dados com valores negativos (erros); (4) Descarte de dados em dias com chuva para fluxo de água de CO2; e (5) Consideraram-se os dados com direção média diária dos ventos entre 22,5º e 202,5º (predominantes da área estudada). RESULTADOS Analisando os dados diários de temperatura e umidade do ar (Figura 1), observam-se as médias de temperatura de 19,4 ºC para os dias com cobertura de palha, 17ºC para os dias chuvosos que procedem o revolvimento do solo e 24,4ºC para os dias seguintes com solo descoberto, com uma tendência normal de aumento entre os meses de junho e setembro. De forma contrária, devido ao período seco (Figura1), a umidade do ar decresceu, chegando a valores médios diários com menos de 43% (Figura 1). Ocasionalmente, o revolvimento do solo foi acompanhado por um período de 5 dias chuvosos (Figura 1), enquanto os demais dias foram secos.

Figura 1. Dados diários da temperatura do ar, umidade relativa do ar e chuva. Dados primariamente coletados no período 1 (com palha na superfície) apresentaram uma pequena oscilação dos valores de evaporação e do fluxo de CO2. Imediatamente após a colheita da cana, já na estação seca, o resíduo que cobriu o solo, formando um mulching protetor, restringiu a perda de água e CO2 para a atmosfera. A não incorporação da palhada ao solo, a alta relação C:N e a baixa umidade do solo inibiram o processo de decomposição do material orgânico, limitando a emissão de CO2. A incorporação da palhada ao solo e o aumento da umidade devido a chuva - 28,7 mm acumulados - (Figura 1), e uma condição térmica favorável intensificou a ação microbiana. De imediato os dados coletados apontaram para um aumento esperado da emissão de CO2 e também da evaporação (Figura 2).

Figura 2. Fluxo de vapor d água e de CO2 nas situações de solo com palha na superfície e desnudo. Enquanto os dados coletados no período 1 apresentavam média de 1,9 μmol.m-2.s-1 de CO2 e 2,1 mm de evaporação, pós manejo mecanizado e ocorrência da chuva observaram-se um pico de 4,3 mm nos 20 dias subsequentes de evaporação e de 3,2 μmol.m-2.s-1 de CO2. Apesar das oscilações, ao longo desses 20 dias (24 de agosto a 12 de setembro) as emissões de gases superaram as de todo o restante do período considerado. Após o período destacado os dados do período 2 (solo desnudo) retornaram para uma média de 2,4 μmol.m-2.s-1 de CO2 e 2,3 mm próximos aos patamares observados no período 1.

BIBLIOGRAFIA AUBINET, M., VESALA, T., PAPALE, D. Eddy Covariance: A Practical Guide to Measurement and Data Analysis. Springer, 460 pp. 2012. CERRI, C. E. P.; SPAROVEK, G.; BERNOUX, M.; EASTERLING, W. E.; MELILLO, J. M.; CERRI, C. C. Tropical agriculture and global warming: Impacts and mitigation options. Scientia Agricola, v.64, p.83-99, 2007. IAMAGUTI, JL, MOITINHO, MR, TEIXEIRA, DD, BICALHO, EDS, PANOSSO, AR E LA SCALA JUNIOR, N. Preparo solo e emissão de CO2, temperatura do solo e umidade do solo em uma área de cana. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, pg.497-504, 2015. WEBB, E.K., PEARMAN, G.I. AND LEUNING, R. Correction of flux measurements for density effects due to heat and water vapour transfer. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society, 106: 85-100. 1980.