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Transcrição:

DIREITO CONSTITUCIONAL I. História Constitucional do Brasil... 003 II. Constituição: conceito e classificação... 006 IIII. Poder Constituinte... 008 IV. Normas Constitucionais... 012 V. Hermenêutica Constitucional... 014 VI. Direitos Humanos... 014 VII. Controle de Constitucionalidade... 015 VIII. Dos Princípios Fundamentais... 025 IX. Declaração de Direitos... 027 X. Direitos e Garantias Individuais e Coletivos. Princípio da Legalidade, Princípio da Isonomia. Regime Constitucional da Propriedade. Habeas Corpus, Mandado de Segurança, Mandado de Injunção, Habeas Data e Liberdades Constitucionais... 029 XI. Direitos Políticos e Partidos Políticos... 055 XII. Direitos Sociais e sua Efetivação... 060 XIII. Princípios Constitucionais do Trabalho... 064 XIV. Estado Federal: conceito e sistemas de repartição de competência; direito comparado... 064 XV. União: bens e competência... 066 XVI. Estado Federal: conceito e sistemas de repartição de competência; direito comparado 068 XVII. Municípios: bens, competência e autonomia... 068 XVIII. Intervenção Federal nos Estados, Distrito Federal e Territórios; Intervenção nos Municípios... XIX. Administração Pública: princípios constitucionais... 069 071 1

XX. Servidores Públicos: princípios constitucionais... 073 XXI. Organização dos Poderes, Mecanismos de Freios e Contrapesos... 075 XXII. Poder Legislativo: organização; atribuições; processo legislativo... 076 XXIII. Poder Executivo: presidencialismo e parlamentarismo; ministro de estado e Presidente da República... XXIV. Crimes de Responsabilidade do Presidente da República e dos Ministros de Estado... 080 083 XXV. Poder Judiciário: organização; estatuto constitucional da magistratura... 085 XXVI. Supremo Tribunal Federal... 087 XXVII. Superior Tribunal De Justiça... 087 XXVIII. Justiça Federal... 088 XXIX. Justiça do Trabalho... 088 XXX. Ministério Público... 089 XXXI. Advocacia-Geral da União. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional... 090 XXXII. Representação Judicial e Consultoria Jurídica dos Estados e do Distrito Federal... 093 XXXIII. Advocacia e Defensoria Pública... 093 XXXIV. Defesa do Estado e das Instituições Democráticas; Estado de Defesa e Estado de Sítio... 094 XXXV. Sistema Tributário Nacional... 096 XXXVI. Limitações Constitucionais do Poder de Tributar... 096 XXXVII. Orçamento e Finanças Públicas... 099 XXXVIII. Ordem Econômica e Ordem Financeira: Princípios Gerais; Princípios Constitucionais da Ordem Econômica; Intervenção do Estado no Domínio Econômico... 102 XXXIX. Atos das Disposições Constitucionais Transitórias... 103 2

DIREITO CONSTITUCIONAL I. HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DO BRASIL 1. A CONSTITUIÇÃO DE 1824, DO IMPÉRIO A Constituição foi outorgada em marco de 1824, por Pedro I. Tal Constituição possuía as seguintes características, um sistema baseado em eleições indiretas e censitárias. Aqui, para poder votar e ser votado era necessário preencher os requisitos de renda. Nesta Constituição existia um quarto poder, o Moderador, ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. O quarto poder era exclusivo do monarca e, através dele, o imperador controlava a organização política do Império do Brasil e nomeava os membros vitalícios do Conselho de Estado os presidentes de província, as autoridades eclesiásticas da Igreja oficial católica apostólica romana, o Senado vitalício. Tal poder conferia autoridade para nomear e suspender os magistrados do Poder Judiciário, bem como os ministros do Poder Executivo. 2. A CONSTITUIÇÃO DE 1891, A REPUBLICANA A Constituição de 1891 foi a primeira republicana, originada do movimento políticomilitar que derrubou o Império em 1889. Tal texto constitucional foi debatido e aprovado pelo Congresso Constituinte nos anos de 1890 e 1891, abolindo as principais instituições monárquicas, como o Poder Moderador, o Conselho de Estado e a vitaliciedade do Senado, trazendo o sistema de governo presidencialista. Passa aqui o presidente da República a ser eleito pelo voto direto para um mandato de quatro anos, sem direito à reeleição. Todos os homens alfabetizados maiores de 21 anos podiam votar. Nesta Constituição o Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Os Estados passam a ter seu poder ampliado com a introdução do princípio federalista, organizando-se pelas suas leis desde que observados os princípios estabelecidos pela Constituição Federal. Também foi abolida a religião oficial com a separação entre o Estado e a Igreja Católica, cuja unidade era fixada pela antiga Constituição Imperial. Em parte da Primeira República (1889-1930) começou a acontecer a discussão sobre a necessidade de se reformar a Constituição de 1891, com a ampliação dos poderes da União e do presidente da República. A Emenda Constitucional de 1926 atenderia essas necessidades, sendo que a Revolução de 1930 acabaria com o período de vigência da primeira Constituição da República. 3

3. A CONSTITUIÇÃO DE 1934 Em julho de 1934 foi promulgada a nova Constituição, mantendo o princípio federalista, assegurando assim a autonomia relativa dos Estados, e ampliando o poder da União nos novos capítulos referentes à ordem econômica e social. As minas, jazidas minerais e quedas d'água passariam ser nacionalizadas, como também os bancos de depósito e as empresas de seguro. Também passaram a viger medidas que beneficiavam os trabalhadores, como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas e descanso semanal. Ainda, foram aprovadas a pluralidade e da autonomia sindicais em lugar do sindicato único por categoria profissional. Também passou a existir um capítulo exclusivo sobre a família, bem como a Igreja obteve a oficialização do casamento religioso. Nesta Constituição ficou definido que a primeira eleição presidencial após sua promulgação seria indireta, ou seja, pelo voto dos membros da Assembleia Nacional Constituinte. As futuras eleições deveriam realizar-se pelo voto direto. A Constituição de 1934 teve vida curta. 3. A CONSTITUIÇÃO DE 1937 Tal Constituição foi outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas, justificada como a única alternativa possível diante do clima de desagregação, iniciando uma forte repressão. No mesmo dia por meio de um golpe de Estado, foi implantada no país a ditadura do Estado Novo. Segundo Vargas era uma forma de se defender do perigo do comunismo, e tinha como objetivo o bem-estar e o desenvolvimento da nação. Entre algumas medidas estava a submissão dos governadores ao governo federal e a eliminação dos órgãos legislativos, o que levaria à criação de novas interventorias e departamentos administrativos. A Constituição de 1937, foi outorgada para concentrar o poder político nas mãos do Presidente da República. A principal característica da Constituição era a enorme concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo, ficando a cargo do Presidente da República a nomeação das autoridades estaduais, os interventores, que por sua vez nomeavam as autoridades municipais. A intervenção estatal na economia, passou a ter mais força com a criação de órgãos técnicos voltados para esse objetivo. Vale referir, por fim, que tal Carta previa no seu artigo 187, a realização de um plebiscito que a referendasse, o que nunca foi feito. Com a queda de Getúlio Vargas e o fim do Estado Novo em outubro de 1945, foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, em pleito paralelo à eleição presidencial, assim com a eleição da Constituinte, seus membros elaboraram a nova Constituição, que passou a viger setembro de 1946. 4

4. A CONSTITUIÇÃO DE 1946 Foi promulgada em setembro de 1946, por uma Assembleia eleita conjuntamente com o novo Presidente da Republica, General Eurico Gaspar Dutra. Os poderes desta Assembleia foram ilimitados. Como inovações nesta Constituição temos o restabelecimento do cargo de Vice-presidente da República; a vedação da organização, registro ou funcionamento de qualquer partido político ou associação cujo programa da ação contrariasse o regime democrático; criação do Tribunal Federal de Recurso e do Conselho Nacional de Economia; integração da Justiça do Trabalho no âmbito do poder judiciário e outros tantos. 5. A CONSTITUIÇÃO DE 1967 O Congresso Nacional foi fechado em 1966, só sendo reaberto para aprovar a Constituição de 1967 e eleger o candidato único Marechal Costa e Silva para a Presidência da República. Essa Constituição foi aprovada praticamente sem discussões, com regras determinadas pelo Ato Institucional n.º 4, de dezembro de 1966. Tal Carta mal chegou a ser posta em prática, rapidamente atropelada por novos Atos Institucionais. Iniciando, a Quinta República. 6. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 A chamada Constituição cidadã, trouxe a democracia com a sua publicação em 05 de outubro de 1985. A Carta atual conta com a maior participação popular, trazendo grande preocupação do Estado brasileiro com os direitos Humanos e o cidadão. A Carta Magna de 1988. Criou novos instrumentos de proteção e garantia dos direitos individuais e coletivos. Passou a tratar no seu texto da erradicação da miséria, com a diminuição das diferenças entre as classes sociais. 5

II. CONSTITUIÇÃO: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO Para Carl Schimitt, em resumo, a Constituição era produto de uma decisão política do titular do poder constituinte. Já para Ferdinand Lassalle, representante da visão sociológica, a Constituição de um país era a soma dos fatores reais de poder que nele atuavam, sendo que para ele poderiam conviver paralelamente duas Constituições, a Real, que seria a soma dos fatores reais de poder que regem o País, e a Escrita, que só teria validade se correspondesse à Constituição Real. 2. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: 2.1. Quanto à forma: ESCRITAS: A Escrita é aquela que codifica e sistematiza num texto único, elaborado por órgão constituinte, trazendo as normas fundamentais sobre a estrutura do Estado, a organização dos poderes, sua forma de exercício e limites de atuação, os direitos fundamentais (políticos, coletivos, econômicos e sociais). NÃO ESCRITAS: A não escrita é aquela em que as normas não constam de um documento único e solene, baseando-se nos costume, na jurisprudência e nas convenções e em textos constitucionais esparsos. 2.2. Quanto ao conteúdo: MATERIAL: As Constituições materiais são as normas em que o conteúdo é materialmente constitucional, estejam ou não inseridas num único documento. FORMAL: Constituições formais são aquelas em que escritas e documentadas de forma solene em um único documento estabelecido pelo Poder Constituinte originário. 2.3. Quanto ao modo de elaboração: DOGMÁTICA: A Dogmática é aquela escrita e sistematizada por um Órgão Constituinte, a partir de princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante. 6

HISTÓRICA OU COSTUMEIRA: A Constituição histórica ou costumeira é aquela que nasce da lenta e contínua síntese da história e tradições do povo. 2.4. Quanto á origem PROMULGADA: A promulgada é aquela que nasce da vontade do povo, que elege a Assembleia Nacional Constituinte para em nome de ele atuar, são Constituições democráticas como as de 1891 1934, 1946 e 1988. OUTORGADA: As Outorgadas são aquelas impostas ao povo pelo Agente Revolucionário (Grupo ou Governante) de forma unilateral, também conhecidas como Cartas, são as Constituições de 1824, 1937, 1967 e a E-C 1-69. Tem também, segundo o autor José Afonso da Silva, a Constituição Cesarista, que é aquela formada por plebiscito popular sobre um projeto elaborado por um Imperador ou Ditador, sendo que o povo apenas ratifica a vontade do detentor do poder. E, por fim, temos a Pactuada, que exprime um compromisso (ainda que instável) entre a realeza e a burguesia. 2.5. Quanto à estabilidade: IMUTÁVEL: Imutável é a Constituição em que é vedada qualquer alteração. RÍGIDA: Rígida é a que necessita de um processo legislativo mais rígido para aceitar alteração. FLEXÍVEL: A Flexível pode ser alterada segundo o mesmo processo de reforma estabelecido para as leis ordinárias. SEMIRRÍGIDA: Semirrígida é aquela em que algumas regras podem ser alteradas pelo processo legislativo ordinário e outras normas só pelo processo legislativo mais dificultoso. 2.6. Quanto à extensão: ANALÍTICA: A Constituição analítica é aquela que examina e regulamenta todos os assuntos que entende serem importantes à formação, destinação e funcionamento do Estado. 7

SINTÉTICA: Já a Constituição Sintética é aquela que traz apenas as regras gerais do Estado, bem como os seus princípios. A nossa atual CF é classificada como rígida, formal, escrita, dogmática, promulgada, e analítica. III. PODER CONSTITUINTE 1. CARACTERÍSTICAS O poder constituinte é o poder de criar, de estabelecer uma nova Constituição. Ele se divide em Originário e Derivado. Trata-se da expressão da vontade política suprema de um povo direcionada à elaboração ou alteração do texto constitucional. É, portanto, o poder de criar a Constituição ou reformá-la. Nos regimes democráticos, este poder, cujo titular é sempre o povo, é exercido por representantes eleitos, os quais formam uma Assembléia Nacional Constituinte. Isso está consagrado no Preâmbulo da Constituição Federal de 1988. 2. ESPÉCIES São espécies de Poder Constituinte: a) Originário b) Derivado Reformador c) Derivado Revisor d) Mutações Constitucionais e) Derivado Recorrente 8

2.1. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO a) Conceito: consiste no poder de elaborar uma constituição, inaugurando uma nova ordem jurídico-constitucional. O poder constituinte originário traz consigo uma ideia de ruptura em face da ordem jurídica anterior. b) Recepção e não-recepção: essa ruptura, entretanto, não ignora os atos legislativos de um ordenamento anterior, porquanto vai recepcionar os atos normativos antecedentes, desde que compatíveis com a nova Constituição. Ao contrário, tudo o que se mostrar incompatível com as novas normas constitucionais será considerado não recepcionado e, em consequência, revogado. Em nosso sistema não se admite a inconstitucionalidade superveniente, ou seja a norma anterior é considerada revogada e não inconstitucional. c) Desconstitucionalização: também não é aceita em nossa ordem constitucional a desconstitucionalização, assim entendida a situação em que permanece em vigor uma ordem constitucional mesmo em face da promulgação de uma nova Constituição. Todavia, a permanência do texto anterior implicaria na redução de sua hierarquia, passando do plano constitucional para o infraconstitucional. d) Titularidade do poder constituinte originário: a titularidade do poder constituinte é do povo, que o exerce, em regra, da forma representativa, através de representantes eleitos, que vão reunir-se em uma Assembleia Geral Constituinte. Também há formas de manifestação direta desse poder constituinte, como o plebiscito e o referendo. e) Características: o poder constituinte originário possui as seguintes características: inicial, autônomo, ilimitado e incondicionado. Inicial instaura uma nova ordem jurídica. Autônomo quem exerce o poder constituinte vai dispor sobre o novo ordenamento jurídico, estabelecendo a nova estrutura estatal e normas de regência. Incondicionado não lhe são impostas formas de manifestação. Ilimitado ou, melhor dizendo, juridicamente ilimitado, porquanto não há direito ou norma anterior lhe impondo limites ou restrições, embora limitado por valores sociais, econômicos e culturais. 9

Em face dessas características, uma nova constituição não contém normas inconstitucionais. Se não há norma anterior lhe servindo de fundamento, um poder constituinte originário não produz normas viciadas ou inconstitucionais. Desde já alerte-se que as emendas constitucionais podem ser inconstitucionais, como adiante será demonstrado. O poder constituinte originário também será permanente, porquanto permanece apto a manifestar-se quando assim entender seu titular, qual seja, o povo. 2.2. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR a) Conceito: também denominado de poder constituído, instituído ou de segundo grau, porquanto instituído ou previsto pelo constituinte originário, que estabelece limites e condições para reforma da constituição, bem como aponta quem poderá revisar o texto constitucional. Em nossa atual Constituição, em face de sua rigidez, o processo legislativo de reforma constitucional se dá através das emendas constitucionais, disciplinadas no art. 60. b) Limitações: o poder de reforma constitucional, limitado por natureza, mostra várias ordens de limitações: formais ou processuais, circunstanciais, temporais e materiais. Em nossa atual Constituição, as limitações apresentam-se da seguinte forma: Processuais ou formais - dizem respeito ao processo legislativo de reforma da Constituição. (Ex. exigência de dois turnos de votação, maioria qualificada de 3/5 para aprovação, iniciativas legislativas especiais, proibição de ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa em que rejeitada ou tida por prejudicada.) Limitações circunstanciais - entendem-se aquelas que impedem a reforma da Constituição na vigência de estado de sítio, estado de defesa ou intervenção federal. Limitações temporais - ocorrem quando se impede a reforma constitucional durante um período de tempo. A atual Constituição não contém essa espécie de limite, porquanto pode ser alterada a qualquer momento. Limitações materiais - determinadas matérias ou núcleos temáticos da Constituição as cláusulas pétreas que não admitem qualquer possibilidade de alteração. Impede-se que sejam objeto de reforma as decisões políticas fundamentais do legislador constituinte originário, assim consideradas aquelas que dão identidade à Constituição. Exatamente por isso, veda-se qualquer emenda, porquanto alterar essas matérias constitucionais será retirar sua própria identidade. Com essa imutabilidade preserva-se a identidade e a continuidade de um sistema constitucional. 10

O art. 60, 4º, da Constituição Federal de 1988 elenca como cláusulas pétreas a forma federativa de estado, o voto direto secreto, universal e periódico, a separação dos poderes e os direitos e garantias individuais. 2.3. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR a) Conceito: denomina-se de revisão constitucional o poder constituinte, também derivado do constituinte originário, que se manifesta de forma extraordinária e transitória. Difere da reforma constitucional que é via permanente de alteração da constituição. Ex. art. 3º do ADCT. 2.4. MUTAÇÕES INFORMAIS DA CONSTITUIÇÃO a) Conceito: constituem-se mutações informais da Constituição as alterações da norma constitucional, que ocorrem sem que o texto sofra modificações. Ou seja, a constituição não é reformada mediante um processo legislativo formal (emenda), mas seu significado e alcance sofrem mudanças, em regra através dos usos e costumes, evolução cultural ou jurisprudencial. 2.5. PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE a) Conceito: denomina-se poder constituinte decorrente à parcela de poder constituinte atribuída aos Estados-membros, permitindo-lhes dotar-se de uma constituição própria. Os Estados-membros e o Distrito Federal auto-organizam-se através de constituições locais, no Distrito Federal denominada de Lei Orgânica. É também derivado, porquanto estabelecido pelo legislador constituinte originário. b) Limitações: a limitação está nos princípios da Constituição Federal. São os princípios constitucionais sensíveis, estabelecidos e extensíveis. c) Sensíveis: encontram-se previstos no art. 34, VII, da Constituição Federal, e sua inobservância permite a intervenção da União. d) Estabelecidos: designam-se as normas de observância obrigatória encontradas em todo o texto constitucional, que estabelecem preceitos de observância compulsória pelos Estados-membros. e) Extensíveis: constituem-se em normas que regulam determinadas matérias concernentes à União e que devem ser também (de forma extensiva) observadas pelos Estados. 11

IV. NORMAS CONSTITUCIONAIS 1. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: Utilizamos a principal forma de classificação, lembrando que temos ainda a classificação de Maria Helena Diniz e Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto Normas Constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral são as que assim que a Constituição entrar em vigor estão prontas par produzir seus efeitos. Tal norma não depende de nenhuma outra para completar seu alcance, sendo capaz de desde a entrada em vigor de a Constituição produzir seus efeitos. As normas Constitucionais de eficácia contida não necessitam de outras leis para ter aplicabilidade, cabendo à norma infraconstitucional apenas à restrição que limita a sua eficácia e aplicabilidade. Normas de eficácia contida são aquelas de aplicabilidade imediata e de eficácia plena enquanto não restringidas por outra norma. Aqui a atuação da norma que complementa é restritiva. Já as normas de eficácia limitada são aquelas que não produzem seus efeitos essenciais com a entrada em vigor da Constituição, mas apenas quando editada a legislação infraconstitucional integrativa que a complementa. Os princípios Constitucionais podem ser resumidos da seguinte forma: - Supremacia da Constituição: A Constituição é a Lei soberana do estado e nenhuma outra lei infraconstitucional ou internacional pode confronta-la. A Exceção foi à adesão do Brasil às decisões do Tribunal Penal Internacional. - Supremacia do interesse público sobre o privado: via de regra o primeiro se sobrepõe ao segundo em um caso de conflito. - Legalidade: Nenhum cidadão é obrigado a fazer algo ou deixar de fazer se não m virtude da lei, existindo exceções que abrangem o Direito Administrativo e o Tributário, nos quais o princípio vincula todos os atos à previsão de lei. Tal princípio merece uma análise mais detalhada, pois é à base da própria noção de Estado de Direito, está previsto no inciso II do art. 5 da CF. Segundo o Autor José Afonso da Silva, o princípio da legalidade pode também vincular-se, em um segundo momento, à atuação de outros poderes, mas que se mostra indispensável à vinculação primária ao Poder Legislativo. No que diz respeito à diferenciação entre o princípio da legalidade e o princípio da reserva legal, José Afonso da Silva refere que a diferenciação passa pela generalidade ou especificidade da matéria regulada, ou seja, se a 12

Constituição outorga ao Legislativo um poder amplo e geral para a regulação de qualquer espécie de relação, trata-se do princípio da legalidade. Já quando a Constituição especifica uma matéria particular para ser regulada por lei, estaria configurado o princípio da reserva legal. - Pessoalidade: Não pode o Estado conceder privilégios ou fazer discriminação. - Publicidade: Não cabe alegar o desconhecimento da lei. Já no Direito Administrativo tal princípio é que todo ato depende de publicidade. - Dignidade da pessoa humana: Todos tem direito a uma vida digna e ao livre exercício do pensamento, expressão, educação, saúde a trabalho. - Moralidade: É obrigação de a Administração Pública demonstrar transparência e probidade em seus atos. - Propriedade: O proprietário do bem tem direito de usar, gozar, fruir e dispor de acordo com a sua vontade, devendo o bem ter fim social. - Isonomia: Com relação aos direitos fundamentais todos são iguais perante a lei. - Igualdade: Os iguais devem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual na medida de sua desigualdade, devendo, contudo, a desigualdade ser motivada. - Irretroatividade: A lei não retroage, salvo no Direito Penal ou sanção tributária. 2. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS Normas constitucionais programáticas são as normas de eficácia limitada, que esperam dos Órgãos Estatais uma determinada atuação, na consecução de um objetivo definido pelo Legislador Constituinte. Estabelecem um programa a ser seguido, são voltadas para os Órgãos Estatais. As normas programáticas embora não produzam seus plenos efeitos de imediato, possuem eficácia negativa, pois revogam as disposições contrárias ou incompatíveis com os seus comandos (o direito infraconstitucional anterior à norma constitucional programática contrariada não será recepcionado). 13