ESTIMATIVA DO RENDIMENTO DE SOJA USANDO DADOS DO JOINT RESEARCH CENTRE EM UM MODELO AGROMETEOROLÓGICO-ESPECTRAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

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Transcrição:

INTERNATIONAL WORKSHOP OF CROP MONITORING AND FORECAST Montevideo, 9-11 october 2006 ESTIMATIVA DO RENDIMENTO DE SOJA USANDO DADOS DO JOINT RESEARCH CENTRE EM UM MODELO AGROMETEOROLÓGICO-ESPECTRAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Ricardo Wanke de Melo, Denise Cybis Fontana Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Faculdade de Agronomia Caixa Postal 15100 Porto Alegre RS Brasil melo_rw@yahoo.com.br, dfontana@ufrgs.br ABSTRACT: INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Para um melhor planejamento, por parte de entidades governamentais e não governamentais ligadas ao setor agrícola, de ações como preparação de máquinas, mãode-obra, armazenagem, transporte e comercialização (incluindo importação e exportação) da produçãos de grãos, é essencial obter informações sobre o rendimento das culturas agrícolas, com a maior antecedência e exatidão possíveis. No Brasil, metodologias objetivas para a obtenção destas informações são necessárias, devido à sua grande extensão territorial e ao volume de produção. Dentre as ferramentas utilizadas para a obtenção de estimativas de rendimentos, destacam-se os modelos agrometeorológicos, que são baseados nas respostas das culturas às condições meteorológicas ocorridas nas lavouras (Berlato, 1987; Ortolani et al., 1996; Delgado-Rojas & Barbieri, 1999; Fontana et al., 2001). Modelos agrometeorológicoespectrais agregam às informações meteorológicas, dados de biomassa vegetal obtidos através de sensores remotos. Nestes modelos, o termo agrometeorológico expressa as condições meteorológicas, enquanto que o componente espectral expressa outros fatores que contribuem na definição dos rendimentos, como práticas de manejo, cultivares, pragas e moléstias, entre outras (Rudorff & Bastista, 1990). No Estado do Rio Grande do Sul, Fontana & Berlato (1998), Melo et al. (2003), Rizzi (2004) e Bianchi et al. (2006) ajustaram modelos agrometeorológico-espectrais para estimar os rendimentos da cultura da soja, mostrando claro avanço na precisão das estimativas quando da incorporação dos dados espectrais. Entretanto, existe dificuldade de obtenção de dados meteorológicos em tempo hábil para que as estimativas possam ser produzidas em um tempo adequado às necessidades dos órgãos governamentais e do setor agrícola. Além de uma defasagem de tempo entra a coleta dos dados nas estações meteorológicas de superfície e o recebimento destes dados pelo usuário para a aplicação dos modelos, a baixa densidade de estações é responsável por deixar grandes áreas

agrícolas sem informações meteorológicas confiáveis, principalmente quando se tratam de dados de precipitação pluvial. O Joint Research Centre (JRC), que funciona como um centro de referência de ciência e tecnologia para a União Européia (UE), está desenvolvendo tecnologias e organizando um sistema de monitoramento e previsão de rendimento de culturas agrícolas em diferentes partes do mundo. O JRC disponibiliza em seu website, na internet, dados meteorológicos com uma resolução de 0,5 grau de latitude e longitude. A disponibilização destes dados em curto espaço de tempo e a facilidade de obtenção dos mesmos pelos usuários é de grande importância para programas de previsão de safras, que necessitam constantemente de dados atuais e confiáveis para utilização nos modelos de estimativas de rendimentos. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho do modelo agrometeorológicoespectral de estimativa de rendimento de soja, ajustado por Bianchi et al. (2006), para a região maior produtora de soja no Estado do Rio Grande do Sul, utilizando dados de estações meteorológicas de superfície e dados simulados pelo Joint Research Centre, em três safras agrícolas. METODOLOGIA Nesta avaliação é utilizado o modelo agrometeorológico-espectral ajustado por Bianchi et al. (2006), para a região maior produtora de soja no Estado do Rio Grande do Sul definida por Berlato e Fontana (1999) (Figura 1). Esta região está localizada na parte norte-noroeste do Estado e responde por aproximadamente 76% do total de soja produzido no Estado (IBGE, 2005). A região é dividida em três sub regiões (Figura 2), classificadas conforme os rendimentos de soja obtidos nos municípios que as compõem (Melo et al., 2004). Santa Catarina -28º Argentina Uruguay Oceano Atlântico -33º Estação Meteorológica -56º -51º Figura 1. Estado Rio Grande do Sul. Em cinza está representada a região de maior produção de soja. Os pontos amarelos situam as estações meteorológicas utilizadas (Fonte: Berlato & Fontana, 1999).

Figura 2. Sub regiões de produção agrupadas conforme o rendimento médio da soja (Fonte: Melo et al., 2004). A estimativa de rendimento foi obtida pela equação (Bianchi et al., 2006): [( a TA) + ( b TE) ] Y Ym = (1) em que: Y é o rendimento estimado (kgha -1 ), Ym rendimento máximo observado na série de anos utilizada no ajuste do modelo (respectivamente 2.929, 2.578 e 2.261kgha -1 para as regiões 1, 2 e 3), TA o termo agrometeorológico, TE o termo espectral e a e b (Tabela 1) são os coeficientes de ajuste da equação. Tabela 2. Coeficientes para estimação do rendimento médio da cultura da soja através do modelo agrometeorológico-espectral (Bianchi et al., 2006) Região Coeficientes a b 1 0,882 0,083 2 0,852 0,123 3 0,799 0,173 O termo agrometeorológico foi obtido pela equação proposta por Jensen (1968), modificada por Berlato (1987): n TA= i= 1 ETr ETo λ i i (2) em que ETr/ETo é a evapotranspiração relativa do período i (meses) e λ é o expoente que expressa a sensibilidade relativa da planta ao déficit hídrico em cada período i. (Tabela 2).

Tabela 2. Expoentes para estimação do termo agrometeorológico do modelo de estimativa do rendimento da cultura da soja (Bianchi et al., 2006) Região Expoentes Dezembro Janeiro Fevereiro Março 1 0,299 0,261 0,652 0,586 2 0,361 0,277 0,720 0,727 3 0,427 0,233 0,630 0,487 Os dados meteorológicos para a obtenção de TA foram obtidos das estações meteorológicas pertencentes ao 8 Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (8º DISME/INMET) e à Fundação de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO). Foram utilizados dados meteorológicos das estações de Erechim, Cruz Alta, Santa Rosa, São Luiz Gonzaga, Iraí, Júlio de Castilhos e Passo Fundo (Figura 1), do período de novembro a março das safras de 2003, 2004 e 2005. A evapotranspiração de referência (ETo) foi calculada pelo método de Penman (1956). A evapotranspiração real (ETr) foi obtida a partir do balanço hídrico meteorológico, pelo método de Thornthawaite & Mather (1955), utilizando uma capacidade de armazenamento de água disponível no solo, média para a região, de 75mm. Foram obtidas, a partir do website do JRC (JRC, 2006), as imagens de temperatura média e evapotranspiração simuladas para a mesma região de produção de soja. Os dados de evapotranspiração das imagens foram transformados devido à diferença existente nas equações que determinam o saldo de radiação em função da cobertura do solo, através da seguinte equação: ET = 0,328 ( ET x1,053) (3) soja + JRC em que ET soja é o valor utilizado como evapotranspiração de referência (ETo), utilizada como dado de entrada no balanço hídrico de Thornthawaite & Mather (1955), para a obtenção da evapotranspiração real (ETr), e ET JRC é o valor de evapotranspiração nas imagens disponibilizadas pelo JRC. O termo TE é representado pela média das composições mensais de máximo valor do índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) nos meses de janeiro e fevereiro de cada safra. As imagens que originaram as composições são provenientes do sensor AVHRR (Advanced Very High Resolution Radiometer), a bordo dos satélites da série NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). As imagens foram fornecidas pelo Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). RESULTADOS E CONCLUSÔES As três safras de soja avaliadas apresentaram rendimentos bastante diferenciados. O ano de 2003 foi o recorde de rendimento do Estado. Em 2004 os rendimentos se mantiveram próximo à média histórica, enquanto que o ano de 2005 se constituiu na maior frustação de safra da história desta cultura no Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos da aplicação do modelo de estimativa de Bianchi et al. (2006) com dados de estações de superfície e com dados simulados pelo JRC foram muito semelhantes, quando consideradas as médias de estimativa para toda a região de produção de soja. Os rendimentos, calculados com os dados simulados pelo JRC, foram mais

próximos dos rendimentos estimados pelo IBGE nas safras de 2003 e 2004 do que os rendimentos estimados com dados de estações meteorológicas (Figura 3). Na safra de 2005, a estimativa que mais se aproximou da estimativa do IBGE foi a realizada com dados de estações meteorológicas. Nas três safras, os rendimentos estimados com os dados do JRC foram superiores aos estimados com os dados de estações meteorológicas. Este fato ocorre pois os valores de evapotranspiração estimados pelo JRC, que são a expressão da disponibilidade hídrica, principal determinante do rendimento final de grãos de soja, são maiores do que os valores de evapotranspiração calculados a partir dos dados observados nas estações meteorológicas. Na safra de 2005, os rendimentos médios estimados pelo IBGE foram mais baixos pois, devido à grande estiagem ocorrida na região produtora de soja, muitas lavouras foram abandonadas, por ser economicamente inviável realizar a colheita das mesmas. 3000 2743 IBGE MAE Est MAE JRC 2500 2310 2359 Rendimentos 2000 1500 1000 1427 1219 1379 589 753 920 500 0 2003 2004 2005 Safras Figura 3. Rendimentos médios estimados pelo IBGE e pelo modelo agrometeorológicoespectral, usando dados do JRC e de estações meteorológicas, para a região produtora de soja do Rio Grande do Sul em três safras agrícolas. Nas Figuras 4, e 5 são apresentadas imagens de estimativas de rendimento realizadas para a região de produção de soja obtidas através da aplicação do modelo utilizando o dado meteorológico das duas fontes. Na Figura 6 são apresentadas as diferenças entre as estimativas de rendimento utilizando dados estimados pelo JRC e dados meteorológicos de estações de superfície. Observa-se que no ano de 2003, não ocorreu grande diferença entre as estimativas obtidas com os dados das estações meteorológicas (Figura 4) e as obtidas com os dados do JRC (Figura 5), sendo que estas foram, em geral, superiores àquelas. Nos demais anos existiram maiores diferenças entre as estimativas, sendo que as realizadas com os dados do JRC tendem a ser superiores às realizadas com os dados de estações, na maior parte da região de produção.

Figura 4. Estimativas de rendimento para a região maior produtora de soja no Estado do Rio Grande do Sul, realizada utilizando dados de estações meteorológicas de superfície, em três safras agrícolas.

Rendimento 2003 Rendimento 2004 Rendimento 2005 Figura 5. Estimativas de rendimento para a região maior produtora de soja no Estado do Rio Grande do Sul, realizada utilizando dados estimados pelo JRC, em três safras agrícolas.

Desvios de rendimento 2003 Desvios de rendimento 2004 Desvios de rendimento 2005 Figura 6. Diferenças entre as estimativas de rendimento para a região maior produtora de soja no Estado do Rio Grande do Sul, realizadas utilizando dados estimados pelo JRC e dados meteorológicos de estações de superfície, em três safras agrícolas.

Observa-se também que existe uma tendência de aumento das estimativas de rendimento dentro da região de produção, de oeste para leste. Esta tendência é observada em todas as estimativas realizadas com os dados do JRC e nos anos de 2003 e 2004 quando realizada com os dados de estações meteorológicas. Este é o padrão esperado de obtenção de rendimento da cultura da soja no Rio Grande do Sul, visto que as condições meteorológicas tornam-se mais favoráveis a medida em que vai em direção a porção leste da região (citar zoneamento). No ano de 2005, esta tendência não foi verificada na imagem de estimativas realizada com dados das estações devido à grande estiagem que atingiu mais fortemente a parte central da região de produção. O efeito desta estiagem é verificado nas imagens de diferença de entre as estimativas com dados do JRC e com dados das estações meteorológicas (Figura 6). Particularmente, no ano de 2005, os dados do JRC não apresentaram a sensibilidade necessária para detectar a ocorrência desta estiagem, sendo que nesta safra ocorreu, na média, a maior diferença entre as estimativas obtidas. Quando as estimativas para cada município pertencente à região maior produtora de soja são extraídas das imagens de rendimento geradas, estas também apresentam diferença entre as duas fontes de dados meteorológicos. As correlações entre as estimativas de rendimento obtidas para cada município através da aplicação do modelo de Bianchi et al. (2006) e estimadas pelo IBGE são apresentadas na Tabela 3. Observa-se que a aplicação do modelo utilizando os dados do JRC apresentaram valores de coeficiente de correlação semelhantes à aplicação com dados meteorológicos, quando na comparação com os dados estimados pelo IBGE.,. Entretanto, observa-se a tendência das correlações obtidas com os dados do JRC apresentarem, em todos os anos agrícolas, maiores valores do que as obtidas com os dados de estações meteorológicas. Quando foi analisada a correlação entre as informações geradas pelos dois modelos, observa-se, valores que variaram de 0,992 a 0,500, o que demonstra que as estimativas do modelo estão mais próximas entre si do que das estimativas do IBGE. Tabela 3. Coeficientes de correlação entre os rendimentos estimados pelo IBGE e pela aplicação do modelo agrometeorológico espectral utilizando dados estimados pelo JRC e observados em estações meteorológicas. Safras 2003 2004 2005 IBGE x MAE estações 0,609 0,551 0,179 IBGE x MAE JRC 0,625 0,611 0,391 MAE estações x MAE JRC 0,992 0,914 0,500 Os resultados mostram, também, que em anos com menores valores de evapotranspiração, maiores são as diferenças entre os valores de rendimento estimados para cada município ao serem usadas as duas fontes de dados. A dispersão dos pontos quando visualizados em conjunto, no entanto, não apresenta grande diferença (Figura 7). Cabe ressaltar que, apesar dos agrupamentos de pontos se apresentarem bastante similares, as diferenças entre as estimativas, dentro de um mesmo município, são muito grandes quando são avaliados os resultados obtidos da utilização de diferentes fontes de dados.

4000 4000 3500 2003 2004 2005 3500 2003 2004 2005 3000 3000 Rendimentos IBGE (kg.hā 1 ) 2500 2000 1500 1000 Rendimentos IBGE (kg.hā 1 ) 2500 2000 1500 1000 500 500 0 0 1000 2000 3000 4000 Rendimentos MAE Figura 7. Rendimentos médios estimados para cada município da região maior produtora de soja do Rio Grande do Sul em três safras agrícolas. CONSIDERAÇÕES FINAIS (a) O teste de aplicação do modelo agrometeorológico espectral proposto por Bianchi et al. (2006) utilizando dados meteorológicos de estações de superfície e dados estimados pelo JRC, demonstrou que os dados do JRC podem ser utilizados com opção de fonte de dados para o cálculo da estimativa de rendimento de soja na região maior produtora do Estado do Rio Grande do Sul. No entanto, quando esta estimativa é realizada para áreas menores (municípios), os desvios entre as estimativas realizadas apresentam grande divergência, principalmente em anos com menor disponibilidade hídrica. Por outro lado, esta divergência pode ser devida ao fato do modelo ter sido ajustado para as três sub regiões dentro da região de produção de soja, sendo que uma possível reparametrização, ou ajuste do modelo, possa eliminar este problema. 0 0 1000 2000 3000 4000 Rendimentos MAE (b) REFERÊNCIAS BIANCHI, C. A. M.; FONTANA, D. C.; MELO, R. W. Estimativa do rendimento da soja no Rio Grande do Sul usando um modelo agrometeorológico-espectral regionalizado. Encaminhado para publicação na Revista Ciência Rural, 2006. BERLATO, M. A Modelo de relação entre o rendimento de grãos e soja e o déficit hídrico para o Estado do Rio Grande do Sul. 1987. 103f. Tese (Doutorado) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos. BERLATO, M. A.; FONTANA, D. C. Variabilidade interanual de precipitação pluvial e rendimento de soja no Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.7, n.1, p.119-125, 1999. DELGADO-ROJAS, J.S.; BARBIRI, V. Modelo agrometeorológico de estimativa da produtividade da cana-de-açucar. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.7, n.67-73, 1999. FONTANA, D. C. & BERLATO, M. A. Modelo agrometeorológico-espectral para a estimativa do rendimento da soja no Estado do Rio grande do Sul: um estudo preliminar. In:

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