Sumário. Prefácio: O Sonho de Mario Pedrosa Isabel Loureiro Algumas Palavras Introdução... 27

Documentos relacionados
ABRAMO, F.; KAREPOVS, D.(orgs.). Na contracorrente da história: documentos do trotskismo brasileiro ed. São Paulo: Sundermann, 2015

A MELHOR IDEIA DE JERICO PERPETRADA POR INTELECTUAIS

POLÍTICA OPERÁRIA. Sigla: POLOP Doação: Eduardo Navarro Stotz Datas-limite:

representantes do colunismo político no Brasil.

Escola de Formação Política Miguel Arraes

O MARXISMO BEM-HUMORADO: UM ESTUDO SOBRE O PENSAMENTO SOCIAL DE LEANDRO KONDER ( ) Mateus Tuzzin de Oliveira 1

RECONSTRUÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

Anexos. Frente Operária, nº 2. Dezembro de Capa.

HISTÓRIA - 2 o ANO MÓDULO 13 A ERA VARGAS: O GOVERNO CONSTITUCIONAL ( )

AS ESQUERDAS MARXISTAS NO BRASIL PÓS-60 E A DEMOCRACIA

Astrojildo Pereira: fundador do marxismo no Brasil.

JOSÉ PACHECO PEREIRA

Arcary, Valério. O martelo da história: ensaios sobre a urgência da revolução contemporânea. São Paulo: Editora Sundermann, 2016

Revolução e Democracia ( )

SENA JÚNIOR, Carlos Zacarias (org.). Capítulos de história dos comunistas no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2016.

Sequência Didática. A ditadura em agonia: As greves operárias do ABC de 1979

Better Call Getúlio Vargas

INTEIRATIVIDADE FINAL CONTEÚDO E HABILIDADES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA. AULA 7.1 Conteúdo: Era Vargas II

A NECESSIDADE DO ESTUDO DO MARXISMO E DA COMPREENSÃO DA SOCIEDADE

MARCELO CAMURÇA. Dados biográficos: indisponíveis. Histórico do acervo: indisponível. Organização da documentação:

Alguns passos de Mário Pedrosa Everaldo de Oliveira Andrade

MÁRIO PEDROSA, LÍVIO XAVIER E AS ORIGENS DO MARXISMO NO BRASIL

DOCUMENTOS DO ACERVO. Carta de Um homem do povo [Astrojildo Pereira] a J. N. [João Neves da Fontoura]

Programa de Formação Sindical

O TROTSKISMO NO BRASIL DA DÉCADA DE 1930: A HISTORIOGRAFIA RECENTE E SUAS FONTES

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

Socialismo reformista na Quarta República: o Partido Socialista Brasileiro entre

MANUAL DIDÁTICO PARA ELABORAÇÃO E FORMATAÇÃO DE TRABALHOS DE PESQUISA. Elaborado por: Prof. Adriano Cardoso

IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO RUSSA (1917)

O fortalecimento da democracia na América Latina em tempos de crise dos sistemas representativos

Rosa Luxemburgo em 1968

Seminário "Ética e Política" discute ideologias e corrupção (+ Repercussão e Fotos)

REVOLUÇÃO RUSSA. Situação Política: Até início do séc. XX a Rússia ainda era um país Absolutista, governada por um Czar.

Marx e a superação do Estado, Ademar Bogo. Editora Expressão Popular, 2018, por Luciano Cavini Martorano, da Editoria de marxismo21

Questões Extras. Geografia. 2 Ano 1 Bimestre. 1. Relacione o trecho a seguir aos conceitos de mais-valia e sociedade de consumo.

MANUAL DIDÁTICO PARA ELABORAÇÃO E FORMATAÇÃO DE TRABALHOS DE PESQUISA. Elaborado por: Prof. Adriano Cardoso

REVOLUÇÃO RUSSA (1917): Do czarismo à U.R.S.S. PROFESSOR ESPECIALISTA HAROLDO TRAZÍBULO JR.

Florestan Fernandes e sua trajetória como intelectual orgânico do socialismo

HISTÓRIA. História do Brasil. República Autoritária a 1984 Parte 1. Profª. Eulállia Ferreira

Era Vargas: Era Vargas: Estado Novo ( )

Análise crítica das posições do PSTU

MUNIZ FERREIRA. Sigla: MF Doação: MUNIZ GONÇALVES FERREIRA Data da Doação: novembro de 1995 Documentação: (período abrangido)

Brasil Tática e Estratégia. (José Renato André Rodrigues) Governo LULA 30 anos de petismo e o anticomunismo

Jornalista e político brasileiro Carlos Lacerda

PODERES COMENTÁRIOS, CONFLITOS E HISTÓRIA

DIRETÓRIO REGIONAL da PARAÍBA

Plano de ensino: História política. Disciplina: História política FLH0126. Tipo: semestral. Docente responsável: Luiz Bernardo Pericás.

A Revolução de 1930: Causas

10/03/2010 CAPITALISMO NEOLIBERALISMO SOCIALISMO

A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO

Metodologia. de Análise. da Realidade. Parte 01 Apresentação. ILAESE Instituto Latino-americano de Estudos Sócio-econômicos

O ANTIFASCISMO NO BRASIL: A ATUAÇAO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO E DA LIGA COMUNISTA INTERNACIONALISTA E SUAS DIVERGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Professores indicam dez livros para entender o golpe de 1964 e a ditadura

A O PAIS EM REVOLUÇÃO. Coordenação". J. M. BrandãoMe Brito. HT notícias editorial

FILOSOFIA DO SÉCULO XIX

GRAMSCI, INTELECTUAIS E EDUCAÇÃO

REVOLUÇÃO RUSSA (1917): Do czarismo à U.R.S.S. PROFESSOR ESPECIALISTA HAROLDO TRAZÍBULO JR.

O legado de Marx no Brasil

Catálogo seletivo da série Dossiês ( ) Sarkis Alves 1 Fábio Dantas Rocha 2 Aline Fernanda Maciel 3 Carlos Henrique Menegozzo 4.

DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE E SERVIÇO SOCIAL: PERÍODO DE 1954 A 1960

Brasil: Nacionalismo x Entreguismo

Renato Soares Coutinho * Anos 90, Porto Alegre, v. 21, n. 40, p , dez. 2014

Direito Constitucional Comparado E - Folio B

Plano de ensino: História política. Disciplina: FH0126 História política. Tipo: semestral. Docente responsável: Luiz Bernardo Pericás.

ZAIDAN FILHO, Michel; MACHADO, Otávio Luiz. Educação Superior. Recife: Ed. Universitária

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

Uma Comuna na América Latina

Getúlio Vargas e o Golpe de História 9.º ano Prof.ª Marilia C. C. Coltri Complementação: Colégio Ser!

Da Modernidade à Modernização. Prof. Benedito Silva Neto Teorias e experiências comparadas de desenvolvimento PPGDPP/UFFS

A trajetória da Democracia Socialista: da fundação ao PT *

ESCOLA DE FRANKFURT, MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E A INDÚSTRIA CULTURAL. Julian Dutra Sociologia Abril de 2017

Wilson do Nascimento Barbosa José R. Mao Jr.

Filosofia e Sociologia PROFESSOR: Alexandre Linares

BRASIL REPÚBLICA (1889 )

REVOLUÇÃO RUSSA. Monique Bilk História

Populismo II e Regime Militar I. História C Aula 13 Prof. Thiago

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz KARL MARX. Tiago Barbosa Diniz

- GUERRA RUSSO-JAPONESA. - DISPUTAS: CORÉIA + MANCHÚRIA. - CRISE DE ABASTECIMENTO + INFLAÇÃO. - DOMINGO SANGRENTO (1905): MASSACRE DE POPULARES PELOS

Capitalismo x Socialismo. Introdução para o entendimento do mundo bipolar.

Resenhas. Por Dentro da Cisão. 18 Tempo. Carlos Zacarias F. de Sena Júnior *

Modulo 11 - Brasil. Prof. Alan Carlos Ghedini

História B aula 15 História da URSS e a Revolução Mexicana.

Matriz de Referência de HISTÓRIA - SAERJINHO 5 ANO ENSINO FUNDAMENTAL

História B aula 18 História da URSS e a Revolução Mexicana.

IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO RUSSA (1917) Primeira revolução vitoriosa inspirada no socialismo.

OBJETIVOS BÁSICOS DO CURSO

9º ano Fênix Caderno 3 Continuação História RAFA NORONHA = ]

Lenin e a burocratização do Estado soviético

Professor Eustáquio Vidigal

Imagem: Propaganda do Estado Novo (Brasil) / desconhecido / Creative Commons CC0 1.0 Universal. Public Domain Dedication

A esquerda e o debate acerca do desenvolvimento econômico brasileiro

ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA

História. Revoluções Liberais na Europa : ondas de 1820, 1830 e 1848 Parte 3. Profª. Eulália Ferreira

O Marxismo de Karl Marx. Professor Cesar Alberto Ranquetat Júnior

Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.6, nº11 jul-dez, 2016.p Página 120

MATTOS, André Luiz Rodrigues de Rossi. Uma história da UNE ( ). Campinas: Pon tes Editores, p.

DEMOCRACIA X DITADURA. Prof. Dieikson de Carvalho

Dinarco Reis, o Tenente Vermelho. Written by Administrator Friday, 23 March :24 - Last Updated Friday, 24 June :25

Transcrição:

Sumário Prefácio: O Sonho de Mario Pedrosa Isabel Loureiro... 13 Algumas Palavras.... 23 Introdução.... 27 mario pedrosa e a política 1. O Militante Comunista.... 35 2. Nas Sendas de Leon Trotsky.... 47 3. Vanguarda Socialista: Pelo Socialismo Democrático... 79 4. O PSB: Um Socialismo Impotente em uma Democracia Imatura... 95 5. Além dos Partidos: A Revolução nos Espíritos... 125 6. O Limite: A Questão da Terra... 133 7. Com Alguma Merenda e Docinho : O Golpe de Estado de 1964... 145 8. O Último Exílio.... 165 9. A Volta ao Brasil e o Partido dos Trabalhadores... 173 mario pedrosa sob o olhar emocionado de seus companheiros 1. Um Príncipe do Espírito Cláudio Abramo.... 199 2. Mario Pedrosa 1900-1981: Depoimento de Fulvio Abramo Fulvio Abramo... 203 3. O Velho Mario e os Jovens Trotskistas Enio Bucchioni... 207 4. Adeus, Companheiro Pedrosa Convergência Socialista... 213

10 pas de politique mariô! mario pedrosa e a política 5. Mario Pedrosa 1900-1981 Plínio Mello.... 215 6. Presença de Mario Hélio Pellegrino... 219 7. Ele Era Continuidade e Revolução: Mario Pedrosa Júlio Tavares... 223 Anexos.... 227 Bibliografia Política de Mario Pedrosa... 239 Agradecimentos.... 277 Índice Remissivo... 279

Prefácio O Sonho de Mario Pedrosa Isabel Loureiro* Ser revolucionário é a profissão natural de um intelectual. 1 A frase, dita por Mario Pedrosa em entrevista ao Pasquim quase no fim da vida, poderia sem dúvida servir de epígrafe à trajetória dessa figura exemplar no cenário político-intelectual brasileiro. Reverenciado como nosso mais importante crítico de artes plásticas, é sabido que Mario Pedrosa nunca separou a lida estética da militância política. Mas, embora arte e política sempre andassem juntas, o fato é que a grande maioria dos estudos publicados a seu respeito trata da obra estética, ficando a atuação política praticamente resumida à militância no trotskismo, ainda que ele houvesse abandonado a organização em 1940, devido ao seu sectarismo esterilizante. Até hoje ninguém se aventurou a escrever uma biografia que juntasse o Mario Pedrosa crítico de arte e o militante político, em parte por causa da desinformação a respeito do último. A longa e paciente pesquisa do historiador Dainis Karepovs, dando acesso pela primeira vez a passagens pouco exploradas ou mesmo desconhecidas da trajetória política dessa que é uma das personagens mais importantes da esquerda brasileira do século XX, representa uma grande contribuição nesse sentido. * Professora aposentada do Departamento de Filosofia da Unesp, autora de Rosa Luxemburgo, os Dilemas da Ação Revolucionária (São Paulo, Editora Unesp/Fundação Perseu Abramo/Fundação Rosa Luxemburg, 2004). 1. Pasquim, Rio de Janeiro, 12-18.11.1981, n. 646. 13

14 pas de politique mariô! mario pedrosa e a política Intelectual irreverente, ardoroso e combativo, adepto a vida inteira de um marxismo avesso à ortodoxia dogmática, Mario Pedrosa foi jornalista, editor, professor de história, crítico de arte e militante político no PCB no começo da vida adulta, em seguida na construção da Oposição de Esquerda no Brasil, depois no Partido Socialista Brasileiro, na época da ditadura, no MDB; no fim da vida, já doente e debilitado, ainda contribuiu para a fundação do PT. Os grandes traços da sua atuação política são conhecidos. Mas agora esse homem dos sete instrumentos tem seu rico e atribulado itinerário pontuado por prisões, exílios, duas candidaturas a deputado federal exposto e analisado do começo ao fim, no intuito de pintar a personagem política em toda a sua inteireza. Procurando mostrar a coerência do percurso de Mario Pedrosa, Dainis Karepovs situa cada momento da sua vida política no contexto da época, passando pelos acontecimentos mais relevantes da história da esquerda nacional e internacional, dos fins da década de 1920 ao começo dos anos 1980. Ao fecharmos o livro, temos diante de nós uma trajetória ímpar, não isenta de ambiguidades, que se confunde com as lutas mais significativas do século XX em prol da liberdade e da igualdade social. Uma das primeiras novidades desta biografia consiste em mostrar que a adesão de Mario Pedrosa à Oposição de Esquerda no final da década de 1920 não foi uma resolução adotada subitamente em Berlim, quando entra em contato pessoal com os militantes que já haviam se afastado do stalinismo, mas o resultado da leitura das publicações comunistas, sobretudo francesas, desconhecidas da grande maioria da militância brasileira. Informado a respeito da luta pelo poder na URSS e do papel dos pcs como instrumentos da política externa soviética, Mario Pedrosa rompe com o comunismo oficial. Segundo Dainis Karepovs, foi uma decisão amadurecida, e não uma atitude intempestiva tomada no calor da hora. Sem dúvida, porém, a grande novidade e originalidade do livro está na exposição detalhada de uma fase da sua atividade política praticamente desconhecida e que sempre despertou a curiosidade dos pesquisadores. Refiro-me ao período que começa com o retorno ao Brasil em 1945 (depois de um exílio de sete anos nos Estados Unidos) e termina

prefácio: o sonho de mario pedrosa 15 perto do final da década de 1950, período em cuja boa parte militou no PSB até a ruptura em 1956. Além das palestras e entrevistas aqui comentadas por Dainis Karepovs, foi uma época em que exerceu intensa atividade jornalística publicando artigos na Tribuna da Imprensa, n O Estado de S. Paulo e no Diário de Notícias. Com exceção de alguns poucos estudos sobre a Vanguarda Socialista, semanário editado por ele no Rio de Janeiro de 1945 a 1948, que, em oposição ao stalinismo e ao varguismo, tinha por objetivo o esclarecimento ideológico da esquerda a fim de conquistá-la para as ideias socialistas democráticas, pela primeira vez a atuação política de Mario Pedrosa é iluminada em todos os detalhes. A defesa do socialismo democrático no plano teórico, inspirada nas ideias de Rosa Luxemburgo, procurava desesperadamente uma tradução no plano prático. O que oferecia o Brasil da época a um militante socialista que procurasse fugir ao baluartismo dos pequenos agrupamentos sectários? O amplo e heterogêneo espectro das forças políticas que se opunham ao varguismo, num leque que incluía desde o liberalismo conservador da UDN à esquerda radical representada justamente por figuras como Mario Pedrosa que, devido à sua marginalidade política, não viu alternativa a não ser apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes nas eleições presidenciais de 1945. Dainis Karepovs sugere que o projeto de Vanguarda Socialista, ancorado na crítica ao PCB, ao stalinismo e ao varguismo, não conseguiu superar a incompreensão do udenismo em relação a este último, como o próprio Mario Pedrosa reconheceu bem mais tarde. Não é o caso de fazermos aqui um comentário detalhado, mas apenas procurar entender esse período obscuro da vida política do nosso biografado, totalmente desconhecido até agora. O autor relata as peripécias da acidentada militância política de Mario Pedrosa no PSB, sempre pontuada por rusgas e divergências com a direção nacional, de perfil bastante conservador. Mas a atuação política do próprio Mario na década de 1950, cuja tônica era dada pela crítica virulenta a Vargas e ao PCB, num tom que beirava por vezes o moralismo udenista e o anticomunismo mas sempre contra o fechamento do PCB, é quase incompreensível aos olhos de hoje. Era tal sua repulsa ao populismo varguista que em novembro de 1955 compartilha por breve espaço de tempo a posição