INFLUÊNCIA DO FALAR REGIONAL NA PRODUÇÃO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS REGIONAL DIALECT AND ITS INFLUENCE ON FOREIGN LANGUAGE PRODUCTION

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Transcrição:

INFLUÊNCIA DO FALAR REGIONAL NA PRODUÇÃO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS REGIONAL DIALECT AND ITS INFLUENCE ON FOREIGN LANGUAGE PRODUCTION Clerton Luiz Felix Barboza 1 Mylani Nathalini Dantas Costa 2 RESUMO: O estudo tem por objetivo analisar a realização do detalhe fonético da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do Português Brasileiro (PB) e sua influência na produção do Inglês Língua Estrangeira por aprendizes de brasileiros do Ceará (CE) e do Rio Grande do Norte (RN). Os referidos falares regionais do PB apresentam características distintas quanto à realização das oclusivas alveolares, uma vez que no CE emerge o fenômeno da palatalização /t, d/ [tʃ, dʒ] de forma marcante. No referencial teórico, realizamos uma revisão da literatura envolvendo a pesquisa da interfonologia português-inglês, enfatizando uma visão de língua enquanto Sistema Adaptativo Complexo (SAC), além da relevância do detalhe fonético fino na construção da representação mental defendido pela Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e pelo Modelo de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001). A metodologia envolve a reanálise de dados coletados no estudo de Barboza (2013), cuja pesquisa envolve a produção de oclusivas alveolares desvozeadas em diversas palavras do PB e do ILE, sujeitas à emergência do fenômeno da palatalização das alveolares devido ao contexto fonotático. A análise dos dados foca na realização dos parâmetros de duração e intensidade do burst de soltura da alveolar desvozeada. Resultados indicam que o detalhe fonético de realização do PB influencia de forma significativa a produção do ILE de aprendizes brasileiros dos diversos níveis de proficiência. Palavras-chave: Interfonologia. Português brasileiro. Inglês língua estrangeira. ABSTRACT: This study investigates the realization of phonetic detail associated to Brazilian Portuguese (BP) voiceless alveolar stop /t/ and its influence on the production of English as a Foreign Language (EFL) by Brazilian learners from the states of Ceará (CE) and Rio Grande do Norte (RN). Aforementioned BP regional dialects realize their voiceless alveolar stops in distinct ways, once CE informants allow palatalization emergence /t, d/ [tʃ, dʒ]. On the literature overview section, we examined researches involving BP/EFL interphonology, emphasizing a view of language as a Complex Adaptive System (CAS), besides the relevance of phonetic detail for the mental representation as defended by Usage-based Phonology (BYBEE, 2001) and the Exemplar Model (PIERREHUMBERT, 2001). Methodology involves data reanalysis in a previous study Barboza (2013), which involved the production of voiceless alveolar stops in many BP and EFL words which allowed alveolar palatalization owing to phonotactic context. Data analysis focus on the realization of duration and intensity of the release burst associated to the voiceless alveolar stop. Results indicate BP phonetic detail influences significantly EFL by Brazilian learners in all proficiency levels. 1 Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). 2 Graduando em Letras, Habilitação em Língua Inglesa, pela UERN. 106

Keywords: Interphonology. Brazilian Portuguese. English as a Foreign Language. 1 INTRODUÇÃO Este estudo tem por objetivo analisar a realização do detalhe fonético da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do Português Brasileiro (PB) e sua influência na produção do Inglês Língua Estrangeira (ILE) por aprendizes de brasileiros do Ceará (CE) e do Rio Grande do Norte (RN). Os referidos falares regionais do PB apresentam características distintas quanto à realização das oclusivas alveolares, uma vez que no CE emerge o fenômeno da palatalização das oclusivas alveolares /t, d/ [tʃ, dʒ] de forma marcante, enquanto no RN o fenômeno encontra-se ainda em seus estágios iniciais (BARBOZA, 2013). Partindo deste objetivo, temos por pergunta problema: de que maneira é realizada a oclusiva alveolar desvozead /t/ do PB e do ILE de aprendizes brasileiros que fazem uso dos falares regionais do CE e do RN? Temos por hipótese básica que a produção das oclusivas alveolares desvozeadas do ILE apresenta detalhe fonético influenciado pela realização do falar regional do PB. Estudos envolvendo a influência do detalhe fonético de realização do PB na produção do ILE por aprendizes brasileiros são bastante limitados. Por este motivo, a seção de revisão de literatura foca na análise da emergência do fenômeno da palatalização das oclusivas alveolares no PB e ILE de aprendizes brasileiros. Em sequência, apresentamos a seção de metodologia do estudo. A análise e discussão dos dados são apresentadas na penúltima seção, com as conclusões elencadas ao final do artigo. 107

2 REVISÃO DA LITERATURA Iniciamos esta seção discutindo o detalhe fonético de realização das oclusivas alveolares /t, d/ do PB, além de sua influência na realização do ILE de aprendizes brasileiros. Alguns falares do PB realizam as oclusivas alveolares /t, d/ como africadas alveolopalatais [tʃ, dʒ] diante de vogal anterior alta em nível fonológico /i/, e.g. [dʒia], ou fonético [i], e.g. [ noitʃi]. A associação entre a emergência da palatalização e a caracterização de falares regionais foi observada por Camara Jr. (1995, p. 35) [...] no Rio de Janeiro pronuncia-se /t/ e /d/ diante de /i/ tônico de maneira <<soprada>> (dita <<africada>>), em contraste com a dental firme que aparece em São Paulo. O estudo de Castro e Pisciotta (2002) discute a palatalização a partir da dialetologia, numa revisão dos atlas linguísticos. Observamos que a emergência do fenômeno segue um padrão geral: estados ao norte do país (Paraíba) desfavorecem o fenômeno; estados ao sul (Minas Gerais, Paraná) o favorecem; e estados em região intermediária (Bahia, Sergipe) oscilaram entre as duas possibilidades de realização. Tal divisão regional entre falares do norte e do sul é uma confirmação da proposta de Nascentes (1953, p. 25) dos falares brasileiros, ainda utilizado para discutir a realidade linguística do país (LEITE; CALLOU, 2002). Exceções ao padrão não foram raras, com regiões de São Paulo em que não há palatalização marcante, e no Ceará, local em que o fenômeno tende a emergir. Relevantes estudos evidenciaram o caráter variável de realização do detalhe fonético das oclusivas alveolares /t, d/ no PB, observando a influência de diversos fatores sociais e estruturais numa visão sociolinguística (HORA, 1990; BISOL, 1991; ABAURRE; PAGOTTO, 2002; BATTISTI et al, 2007; BATTISTI; HERMANS, 2008; BATTISTI; DORNELES, 2010). Os principais fatores extralinguísticos favorecedores de uma realização palatalizada são a região do país, o nível socioeconômico e a idade dos informantes. Os principais fatores linguísticos envolvem o desvozeamento da oclusiva, a tonicidade silábica e, principalmente, o contexto seguido de vogal anterior alta /i/. À tradição de pesquisa sociolinguística de estudo da palatalização do PB, vem sendo adicionados estudos cujos referenciais teóricos enfocam a palatalização 108

numa perspectiva emergente, levando em consideração o papel da variação, da frequência de ocorrência e do detalhe fonético em sua realização. Os resultados dos estudos realizados por Albano (1999, 2001), Cristrófaro-Silva (2003a, 2003b, 2003c), Guimarães (2004, 2008), Leite (2006) e, finalmente, Barbosa (2011) apontam um continuum de emergência do fenômeno de palatalização das oclusivas alveolares do PB. O fato vai de encontro à visão categórica do fenômeno, de cunho principalmente sociolinguista, indicando uma distribuição não-categórica marcada pela emergência gradiente em contextos fonotáticos e palavras específicas. Em se tratando do detalhe fonético de realização das oclusivas alveolares do inglês (WELLS, 1982), a palatalização é apenas uma dentre muitas possibilidades: (a) a realização aspirada da oclusiva desvozeada [t] em sílaba tônica, como em tip [tʰɪp]; (b) a geminação quando duas consoantes idênticas são justapostas, como em red dress [ˈrɛddrɛs]; (c) a glotalização da oclusiva desvozeada em alguns dialetos, como Peter [ˈpʰi:ʔə]; e (d) a realização das oclusivas alveolares como tepe em contextos primordialmente intervocálico pós-tônico seguido de vogal, como em city [ˈsɪɾi] e sadder [ˈsæɾɚ]. O entendimento da realização da palatalização em nível pós-lexical motiva o estudo de Bush (2001), que conclui que a frequência de ocorrência dos itens lexicais influencia significativamente na emergência da palatalização por falantes nativos do inglês. O fenômeno é favorecido entre duas palavras que ocorrem frequentemente justapostas. Assim, sequências como would you [wʊdʒə] são regularmente palatalizadas, enquanto em sequências como good you [gʊdjə], o fenômeno não é recorrente. No único estudo envolvendo a palatalização das oclusivas alveolares /t, d/ do PB e sua influência na realização do ILE de aprendizes brasileiros, Barboza (2013) constata a influência do detalhe fonético do PB na produção do ILE por parte de informantes cujo falar regional permite a palatalização de modo recorrente. O estudo em questão faz uso de uma classificação categórica dos dados. Esta pesquisa faz uma reanálise parcial dos dados de Barboza (2013), objetivando o início de uma discussão gradiente do fenômeno. Isso posto, a literatura envolvendo o detalhe fonético do PB e sua influência na produção do ILE de aprendizes brasileiros trata o fenômeno como objeto 109

marginal de análise (FERREIRA, 2007, 2011; BETTONI-TECHIO, KOERICH, 2006, 2008; BETTONI-TECHIO; RAUBER; KOERICH, 2007). As referências mais consistentes são encontradas em contexto de oclusiva alveolar em posição final de sílaba e final de palavra, como dad e cat. Não tivemos sucesso na localização de estudos anteriores envolvendo o contexto de oclusiva alveolar seguida de vogal anterior alta e seus derivados. Portanto, a realização deste estudo proporciona novas perspectivas à compreensão da utilização do detalhe fonético em falares do PB, especialmente no que tange ao percurso de construção da gramática fonológica de línguas estrangeiras. Após concluirmos a seção de referencial teórico, passamos à apresentação dos procedimentos metodológicos de coleta e análise de dados utilizados no estudo a seguir. 3 METODOLOGIA Esta é uma pesquisa de cunho experimental, com corte transversal. O universo de pesquisa engloba 36 aprendizes de inglês língua estrangeira (ILE), divididos em dois grupos, dos estados do Ceará (CE) e Rio Grande do Norte (RN). Os referidos informantes foram selecionados devido ao fato de os primeiros fazerem uso de um falar caracteristicamente palatalizador das oclusivas alveolares /t, d/ do português brasileiro (PB), enquanto os segundos apresentam tendência pela realização não-palatalizada (Figura 1). Os dados foram coletados numa pesquisa anterior (BARBOZA, 2013), que devido a limitações de cunho temporal, não puderam ter o detalhe fonético analisado a contento. Optamos por focar apenas na oclusiva alveolar desvozeada /t/ neste momento inicial de reanálise dos dados. 110

Figura 1: Universo de pesquisa envolvendo grupos de informantes do ILE das cidades de Fortaleza-CE e Mossoró-RN, regiões em que emergem variantes palatalizadas e não-palatalizadas das oclusivas alveolares [t, d] do PB. O estudo de Barboza (2013) envolveu diversas palavras do PB e do ILE. Todavia, o presente estudo opta por delimitar a 10 palavras o conjunto de itens reanalisados, pelo foco no detalhe fonético. Assim, são analisadas as palavras til do PB, além das palavras fifteen, tea, tv, cat, empty, meet you, to e teacher do ILE. Todas os itens lexicais supracitados estão sujeitos à maior ou menor influência do falar regional do PB em sua realização, possibilitando a emergência do fenômeno da palatalização da oclusiva alveolar /t/ no ILE. Os itens anteriores foram coletados em 4 experimentos de coleta de dados envolvendo, por exemplo, a leitura de frases-veículo, a repetição de áudio distorcido e um jogo da memória. As 10 palavras são realizadas por cada um dos 36 informantes, totalizando 360 ocorrências. Cada ocorrência é analisada levando em consideração os dados de duração e intensidade de realização do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/, totalizando assim 720 dados quantitativos analisados neste estudo, com o programa Praat (BOERSMA; WEENINK, 2014) A análise estatística foi realizada com o pacote computacional SPSS (DANCEY; REIDT, 2006), com o valor p <,05 definindo a significância estatística. O 111

hardware de coleta de dados incluiu microfone headset direcional dinâmico Shure WHL-20, com frequência de resposta entre os 50 e os 15.000Hz. O microfone operou conjugado a um gravador digital Zoom H4n, granvando arquivos Wave de alta qualidade. Um maior detalhamento da metodologia de análise acústica pode ser obtido em Barboza (2013). Passamos a seguir à seção de resultados e discussão. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Iniciamos a seção de análise e discussão apresentando nas Figuras 2 e 3 boxplots dos dados relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do PB no falar do CE e do RN. O referido gráfico indica a mediana do conjunto de dados (linha preta), além de dois quartis em ambas as direções da mediana, sendo o primeiro quartil o limite da caixa e o segundo quartil o limite do bigode da caixa. Outliers são indicados fora do diagrama dos boxplots por asteriscos ou círculos. Resultados estatísticos são apresentados abaixo de cada figura. Figuras 2 e 3: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do PB de informantes do CE e do RN. Duração: t(34)= 12,4; p <,001 Intensidade: t(34)= 3; p =,002 As figuras anteriores indicam que o grupo de informantes do CE apresenta uma realização do brust da desvozeada /t/ do PB com maior duração e intensidade do que seus colegas do RN. O resultado é esperado tendo em vista que o falar do CE é descrito como palatalizador, enquanto o falar do RN ainda apresenta-se nos estágios iniciais de implementação do fenômeno (BARBOZA, 2013). A análise 112

estatística indica que as diferenças entre-falares do PB atinge significância estatística. Conclui-se como esperado que o detalhe fonético de realização do PB associado aos falares regionais do CE e do RN são distintos, tendo em vista as variáveis de duração e intensidade do burst de realização da oclusiva alveolar desvozeada /t/. Constatada a diferença entre os falares do PB, passamos à análise da influência do detalhe fonético em questão na realizado do ILE de aprendizes do CE e do RN. As Figuras 4 e 5 apresentam boxplots dos dados relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do PB e do ILE de informantes do CE. Figuras 4 e 5: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do PB e do ILE de informantes do CE. Duração: t(34)= 8,6; p <,001 Intensidade: t(34)= 8; p <,001 As figuras anteriores evidenciam que no CE o burst de soltura da oclusiva alveolar /t/, o ILE é realizado com menor duração e intensidade do que as variáveis do PB. Os resultados apontam a realização de detalhe fonético distinto no PB e no ILE de aprendizes de aprendizes do CE. Os testes estatísticos corroboram a visão inicial, observando diferenças significativas entre o PB e o ILE em ambas as variáveis analisadas. Portanto, os dados permitem afirmar que o detalhe fonético de realização do ILE de aprendizes do CE caracteriza-se por menores valores de duração e intensidade do que os encontrados em seu respectivo falar regional do PB. Observadas as diferenças em informantes do grupo do CE com relação à realização do PB e do ILE, apresentamos nas figuras 6 e 7 boxplots dos dados 113

relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do PB e do ILE de informantes do RN. Figuras 6 e 7: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do PB e do ILE de informantes do RN. Duração: t(34)= -5,7; p <,001 Intensidade: t(34)= -0,3; p =,74 As figuras anteriores evidenciam no RN uma maior duração do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ no ILE do que no PB. Todavia, os dados apontam resultados aproximados de intensidade no PB e no ILE de aprendizes do RN. Resultados apontam que informantes do RN, diferentemente do que ocorre com seus colegas do CE, permitem a influência da intensidade do PB na realização do ILE. Em se tratando dos testes estatísticos, são confirmadas as impressões iniciais, uma vez que os resultados apontam diferença significativa entre os dados do PB e do ILE na análise da variável duração, e diferença não-significativa no caso da intensidade. Pode-se afirmar, portanto, que o falar regional do PB associado ao RN influencia a produção de aprendizes do ILE no que tange à variável intensidade de realização do burst de soltura da oclusiva alveolar /t/. Findadas as comparações envolvendo os falares regionais do PB e a produção do ILE de aprendizes dentre-regiões, apresentamos nas Figuras 8 e 9 boxplots dos dados relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do ILE de informantes do CE e do RN entre-regiões. 114

Figuras 8 e 9: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do ILE de informantes do CE e do RN. Duração: t(34)= 4,4; p <,001 Intensidade: t(34)= 0,04; p =,48 A comparação dos dados anteriores de realização do ILE evidencia uma maior duração do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ por parte dos informantes do CE do que do RN. Por outro lado, os dados de intensidade são aproximados, apesar da marcante variação encontrada no grupo de informantes do RN quando comparada aos do CE. Lembramos que na comparação dentre-falares, informantes do CE apresentam uma redução da duração do burst do ILE quando comparado ao PB, enquanto informantes do RN seguiram um comportamento inverso, aumentando a duração do burst no ILE quando comparado ao PB. O fato indica a existência de um atrator agindo sobre os dois sistemas, já que o detalhe fonético de realização do ILE por informantes do CE e do RN é mais semelhante do que o encontrado no PB. Do ponto de vista estatístico, observa-se que a diferença de duração entre os informantes do CE e do RN atingiu níveis significativos com relação à variável duração, mas apenas níveis não-significativos na análise da intensidade. Os dados permitem inferir, que a produção do ILE por aprendizes do CE e do RN foi influenciada pela duração do burst de realização da oclusiva desvozeada /t/ do PB do respectivo falar regional, mas não pela intensidade. Observado este importante fato, apresentamos nas Figuras 10 e 11 boxplots dos dados relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ de informantes do CE com relação ao nível de proficiência no ILE. 115

Figuras 10 e 11: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do ILE de informantes do CE com diferentes níveis de proficiência. Duração: F(2,15)= 0,3; p =,75 Intensidade: F(2,15)= 0,3; p =,74 As figuras anteriores apresentam dados semelhantes de duração e intensidade do burst de realização da oclusiva /t/ em todos os níveis de proficiência do ILE no grupo de informantes do CE. Os dados de duração apresentam menor variação do que os dados da intensidade. Os testes estatísticos encontram apenas diferenças não-significativas entre as realizações dos grupos iniciantes, intermediários e avançados. É possível afirmar que aprendizes de ILE do CE não alteram o detalhe fonético do burst de realização da oclusiva /t/ com o aumento do nível de proficiência na língua estrangeira. Os dados vão de encontro à literatura de aprendizado de línguas, que aponta uma maior aproximação de padrões linguísticos da língua-alvo com o aumento da proficiência. O fato indica a dificuldade de adaptação de aprendizes do CE às novas rotinas neuromotoras necessárias para a aquisição do ILE. Observados os dados dos informantes do CE discutidos anteriormente, as Figuras 12 e 13 apresentam boxplots dos dados relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ de informantes do RN com relação ao nível de proficiência no ILE. 116

Figuras 12 e 13: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do ILE de informantes do RN com diferentes níveis de proficiência. Duração: F(2,15)= 2,2; p =,15 Intensidade: F(2,15)= 1; p =,38 Dados de informantes do RN associados a diferentes níveis de proficiência do ILE são semelhantes aos encontrados no grupo do CE, i.e. apresentam tendência constante de realização de duração e intensidade do burst da oclusiva /t/ nos grupos iniciante, intermediário e avançado. Observa-se todavia uma maior variação nos dados dos informantes do RN, principalmente na variável duração, quando comparada ao grupo de informantes do CE. As impressões iniciais são confirmadas pela análise estatística, que indica diferenças não-significativas tanto na duração quanto na intensidade do burst. A conclusão é que informantes de ambos os falares regionais do PB alteram significativamente o detalhe fonético de realização do ILE no primeiro contato, mantendo essa realização estável mesmo com o aumento da proficiência tanto nos informantes do CE quanto nos do RN. Após a constatação da irrelevância da variável nível de proficiência no ILE na realização do detalhe fonético de informante do CE e do RN, passamos nas Figuras 14 e 15 a apresentar boxplots dos dados relativos à realização da duração e intensidade do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ de informantes do CE com relação a diferentes palavras do ILE. 117

Figuras 14 e 15: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do ILE de informantes do CE em diferentes palavras. Duração: F(3,68)= 2,1; p <,001 Intensidade: F(3,68)= 4,8; p =,004 Os dados de duração e intensidade de diferentes palavras realizadas por aprendizes de ILE do CE indicam que cada item lexical apresenta características distintas. Observa-se principalmente menores valores de duração e intensidade do burst de realização da palavra teacher no CE. Estas impressões observadas nas figuras anteriores são confirmadas pelas análises estatísticas, uma vez que são observadas diferenças significativas entre as palavras supramencionadas tanto na duração quanto na intensidade. Testes estatísticos post-hoc do tipo Tukey indicam que o burst de realização do item teacher foi realizado com menor duração e intensidade que a maioria dos outros itens lexicais analisados. Conclui-se que a variável palavra influi significativamente na realização do burst de soltura da oclusiva /t/ no caso dos informantes do CE, indicando sua relevância na compreensão do fenômeno no grupo em questão. Constatada a relevância da variável no caso dos dados do CE, passamos à análise dos dados de realizado do burst da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do RN em diferentes palavras nas Figuras 16 e 17 a seguir. 118

Figuras 16 e 17: Boxplots de realização da duração (ms.) e da intensidade (db) do burst da oclusiva alveolar /t/ do ILE de informantes do RN em diferentes palavras. Duração: F(3,68)= 3,6; p =,017 Intensidade: F(3,68)= 4,4; p =,007 Os dados apontam uma distribuição mais homogênea dos dados do RN quando comparados aos dados do CE, principalmente os associados à realização da intensidade de realização. Chama também a atenção a grande variação associada à realização do item lexical meet you. O fato é decorrente da tendência observada nos informantes do RN por uma realização do tipo tepe ou flepe da alveolar /t/, como em ci[t ]y. A análise dos dados do RN deve portanto descartar esta variável interveniente. A observação dos dados de duração aponta que a menor duração está associada ao item teacher, enquanto a variável intensidade apresenta dados bastante aproximados da mediana para todos os itens lexicais. Os testes estatísticos apontam diferenças significativas na realização do burst da oclusiva /t/ tanto na duração quanto na intensidade. Todavia, devemos discutir estes resultados mais aprofundadamente, tendo em vista que os dados do item meet you dificultam a análise. No caso da variável duração, os testes post-hoc do tipo Tukey apontam diferenças significativas entre o item teacher e os itens to e tea. No caso da intensidade, encontramos o mesmo resultado, com teacher atingindo diferenças significativa com to e tea. Os resultados apontam que, de modo semelhante ao que ocorre com os informantes do CE, os informantes do RN realizam o burst da oclusiva /t/ da palavra teacher de modo distinto de outros itens lexicias analisados. O fato reforça a relevância da análise do item lexical e sua influência no percurso de construção da fonologia do ILE por aprendizes brasileiro. 119

Uma vez constatada a relevância do fator palavra nos dados, aprofundamos a comparação da duração dos itens lexicais teacher e to entre informantes do CE e do RN nas Figuras 18 e 19. Figuras 18 e 19: Boxplots de realização da duração (ms.) do burst da oclusiva alveolar /t/ do PB das palavras teacher e to de informantes do CE e do RN. Duração: t(34)= -0,58; p =,57 Duração: t(34)= 2,8; p =,007 Os dados das figuras anteriores evidenciam a semelhança do detalhe fonético de realização da duração do burst da alveolar /t/ nos informantes do CE e do RN no caso do item teacher, mas não no caso do item to, entre-grupos. Os testes estatísticos apontam diferença não-significativa para duração do burst da palavra teacher entre informantes, mas diferença significativa no caso da duração do burst da palavra to entre informantes do CE e do RN. O fato reforça a pertinência da variável palavra na análise do detalhe fonético de realização da oclusiva alveolar desvozeada /t/ deste estudo. Conclui-se que a variável palavra chega a ser capaz de anular a influência do detalhe fonético do falar regional do PB associado aos informantes do CE e do RN na produção do ILE, como observado no caso da duração do burst da alveolar /t/ na palavra teacher. Encerramos neste ponto a seção de análise e discussão do presente artigo. Passamos na seção a seguir à apresentação das conclusões mais pertinentes desta pesquisa. 5 CONCLUSÃO Os dados demonstraram que os informantes tomaram por base o detalhe fonético de realização do PB de seu falar regional na produção das oclusivas 120

alveolares do ILE. O fato foi observado primordialmente pelas diferenças significativas de duração do burst de soltura da oclusiva alveolar desvozeada /t/ do PB entre os falares do CE e do RN refletido em diferenças significativas na realização do detalhe fonético na produção do ILE associado a cada falar. Dados relativos ao nível de proficiência do ILE, todavia, reportaram diferenças nãosignificativas entre os níveis iniciante, intermediário e avançado associados aos grupos do CE e do RN. Com relação à variável palavra e sua influência do detalhe fonético do PB na realização do ILE, observou-se a relevância dos itens lexicais teacher e to, capazes de romper a força dos atratores associado a cada falar regional, comportando-se de maneira inesperada. Tendo em vista os resultados deste estudo, tomamos a hipótese básica como confirmada, uma vez que a produção das oclusivas alveolares desvozeadas do ILE de cada região apresentou detalhe fonético associado à realização do falar regional do PB de cada grupo de informantes. A confirmação da hipótese básica implicou relevância desta pesquisa do ponto de vista da linguística aplicada. Os resultados indicaram a necessidade de enfatizar o falar regional do PB, algo normalmente deixado em segundo plano, uma vez que a variável influenciou significativamente a realização do ILE. Por fim, uma importante limitação desta pesquisa foi fazer uso de um pequeno percentual dos dados coletados no estudo de Barboza (2013). Temos como objetivo posterior a análise do detalhe fonético de todo o conjunto de dados em estudos futuros. 6 REFERÊNCIAS ABAURRE, Maria B. M.; PAGOTTO, Emílio G. Palatalização das oclusivas dentais no português do Brasil. In: ABAURRE, Maria B. M.; RODRIGUES, Angela C. S. Gramática do português falado: novos estudos descritivos. v. 8. Campinas: Editora da Unicamp, 2002. p. 577-603. ALBANO, Eleonora Cavalcante. O português brasileiro e as controvérsias da fonética atual: pelo aperfeiçoamento da fonologia articulatória. Delta, v. 15, p. 23-50, 1999.. O gesto e suas bordas: esboço de fonologia acústico-articulatória do português brasileiro. São Paulo: Mercado de Letras, 2001. 121

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