Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

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Transcrição:

A VOGAL PRETÔNICA /e/ NA FALA URBANA DE XAPURI Lindinalva Messias do Nascimento Chaves (UFAC) lindinalvamessias@yahoo.com.br Darlan Machado Dorneles (UFAC) darlan.ufac@yahoo.com.br 1. Introdução Sabemos que, no português do Brasil, as vogais pretônicas /e/ e /o/ possuem comportamento variável, atrelado, em geral, às diferentes regiões do país. No Acre, por ser um estado povoado inicialmente por nordestinos 26, sobretudo cearenses, houve forte impressão das marcas nordestinas no falar local, contudo, nos últimos decênios, essas características parecem atenuar-se, o que decorre, talvez, das levas de migrantes sulistas 27 vindas para a região, principalmente na década de setenta. Alie-se a esse fato a influência da mídia, principalmente a televisiva, que tem, aparentemente, contribuído para uma padronização dos falares regionais. Por conseguinte, nosso objetivo, neste estudo, é verificar, em 4 informantes do município de Xapuri, se essa vogal ainda está sendo produzida aberta ou se está ocorrendo um certo fechamento na sua pronúncia. Estudo semelhante foi empreendido por Pereira (2011), que analisou as ocorrências de /e/ e de /o/ na fala de uma zona urbana de Rio Branco, capital do Acre, em um corpus de 36 informantes, 18 do sexo masculino e 18 do sexo feminino, nas faixas etárias 16 a 29 e 30 a 45 anos, com nível de escolaridade no ensino fundamental e no superior. Essa autora concluiu em seu trabalho que os homens se destacam quanto à abertura, sobretudo da faixa etária mais jovem (15-29 anos) entre os níveis médio e superior. No entanto, como afirma Pereira é importante ressaltar a probabilidade de que num estudo mais acurado sobre o assunto seja possível elucidar esse caso do comportamento das médias pretônicas na capital acriana. Embora retomemos, de certa forma, a pesquisa de Pereira, é importante destacar que nosso viés se distancia do da referida autora por ela ter trabalhado no âmbito da sociolinguística e por nós situarmos nossa análise na dialetologia e na geolinguística. 26 Estamos nos referindo aqui às primeiras entradas de homens brancos na região. Evidentemente, os primeiros habitantes foram os indígenas. 27 Nome dado, no estado do Acre, aos migrantes da década de 70, sobretudo os da região sul e centro este do país. 180 Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012

2. A vogal pretônica /e/ no português do Brasil O sistema vocálico do português brasileiro (PB), em geral, tem sido alvo de múltiplos estudos e discussões, uma vez que a língua possui uma grande diversidade linguística, ou seja, apresenta variações em seus vários níveis de organização, sintático, fonológico, lexical, morfológico. A maioria dos estudos atuais se baseia ou, pelo menos, parte, ampliando a discussão, dos postulados estruturalistas de Matoso Câmara Jr. (1970). Este autor define as vogais levando em consideração a posição tônica, sendo sete vogais nesta posição da palavra, /a, e, E, i, o, O, u/. Em posição pretônica, essas vogais se reduzem a cinco em virtude do processo de neutralização que consiste na perda do traço distintivo entre dois fonemas, no caso, /e/ e /E/, /o/ e /O/. Assim, palavras como elefante e Bolívia podem ser pronunciadas opcionalmente com as pretônicas e e o abertas ou fechadas, não ocorrendo diferenciação de significados. Diversos autores têm se debruçado sobre a descrição das vogais pretônicas no português brasileiro (PB), porém, Silva (1999, p. 84) afirma que, apesar dos vários estudos já realizados acerca da variação dialetal das vogais pretônicas no português brasileiro, urge ainda uma investigação detalhada com vistas à demarcação dialetal do país, nisso residindo, também, a importância da nossa investigação. De fato, estudos dessa natureza remontam a Nascentes (1953) com sua divisão da pronúncia das pretônicas em algumas regiões brasileiras. Para ele, enquanto na região Sul (do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul) a pronúncia é fechada, a região Norte (Amazonas, Pará até a Bahia) apresenta uma pronúncia aberta dessas vogais. Mais recentemente, Callou e Leite (2004, p.40) verificaram os limites relativos das vogais pretônicas em cinco grandes centros urbanos brasileiros, São Paulo, Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Comparando os dados, elas obtiveram os seguintes percentuais no que se refere às pretônicas médias abertas [E] e [O]: 60% em Salvador, 47% em Recife, 5% no Rio de Janeiro, 0% em São Paulo e 0% em Porto Alegre. Araújo abordou, sob a perspectiva variacionista, a realização variável das médias pretônicas em posição interconsonântica no português popular dos fortalezenses. Ela concluiu que ocorre o predomínio das variantes baixas (c[o]rrente) (g[e]lado), exceto em dois ambientes, diante da vogal média não nasal (p[o]rteiro), d[e]scer) e diante da vogal alta (n[u]tícia), (r[i]vista) em que, na maioria das vezes, ocorrem vogais da mesma altura (ARAÚJO, 2007, p. 145). Carmo (2009) ao investigar a Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012 181

variação das vogais pretônicas /e/ e /o/ nos verbos da fala do município de São José do Rio Preto, constata que 84% das vogais pretônicas /e/ são realizadas sem alçamento e 16% com alçamento, já no que se refere a vogal /o/ 90% com alçamento e 10% sem alçamento. Dessa forma, percebe-se que a frequência de alçamento é maior para a vogal /e/ do que para a vogal /o/. Brandão e Cruz (2005), por sua vez, examinam as vogais médias pretônicas nas cartas fonéticas do Atlas Linguístico do Amazonas (A- LAM) e no Atlas Sonoro do Pará (ALiSPA), constatando o predomínio da média fechada (46%) na fala do Amazonas e da média aberta (36%), na do Pará, embora, neste último caso, a variante concorra com a média fechada (35%), tendo em vista que a diferença que as separa é de apenas um ponto percentual. Elas concluem que as cartas selecionadas do ALAM e do ALiSPA confirmam a existência, na fala amazonense e na paraense, de vogais abertas em situação pretônica, como sugerira Nascentes na sua proposta de divisão dialetal do Brasil em áreas linguísticas. Sobre o falar do Acre, temos o estudo de Pereira (2011), mencionado na introdução, que não pôde confirmar sua hipótese de que estaria ocorrendo o fechamento da pretônica na população mais jovem desse estado. 3. Percurso metodológico Neste trabalho, utilizamos os dados coletados para o projeto Atlas Linguístico do Acre- (ALiAC) no segundo semestre de 2012. Para a recolha do corpus, aplicamos o questionário fonético-fonológico elaborado pela equipe do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB, 2001), no município de Xapuri. Os informantes são naturais da localidade, não tendo dela se afastado por mais de um terço de suas vidas. São quatro informantes, dois do sexo masculino e dois do sexo feminino, com escolaridade máxima até o 5º ano do ensino fundamental e, distribuídos em duas faixas etárias: 18 a 30 anos e 50 a 65 anos. Registramos os dados com um gravador digital e um microfone unidirecional, para garantir a qualidade do som. Armazenamos esses dados em computador e, em seguida, fizemos gravações em CD-ROM. Submetemos ao processo de transcrição grafemática e fonética as palavras que apresentavam variação na realização da pretônica /e/. Na análise, levamos em consideração os elementos a seguir descritos: 182 Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012

A) Fatores linguísticos: abertura e fechamento da vogal pretônica /e/; casos em que a pretônica /e/ foi alçada ou trocada por /o/. B) Fatores extralinguísticos: sexo que mais abriu e fechou a vogal pretônica /e/; idade que mais abriu e fechou a vogal pretônica /e/. 3.1. Informantes: breve descrição Todas as entrevistas foram realizadas nas residências dos informantes, que colaboraram de forma significativa para a concretização desta pesquisa. Informante 1 30 anos; sexo masculino; não estudou; aprendeu sozinho a ler e escrever o próprio nome; não é casado em cartório; trabalha como vigilante; no começo da entrevista pareceu um pouco tímido, porém, no decorrer da entrevista foi se descontraindo. Informante 2 30 anos; sexo feminino; atualmente estuda o 5º ano do Ensino Fundamental; devido à necessidade do município lecionou para o primário em uma escola da zona rural; casada; têm três filhos e vive em um ramal próximo ao município de Xapuri. Informante 3 50 anos; sexo masculino; estudou até o 5º ano do Ensino Fundamental; trabalha ainda como eletricista; não é casado em cartório. Informante 4 50 anos; sexo feminino; estudou até o 5º ano do Ensino Fundamental; não é casada em cartório; dona de casa; mora com o companheiro e os dois filhos; ficou inibida no começo. 3.2. Localidade: breve histórico e descrição Xapuri é uma cidade conhecida mundialmente, berço da Revolução Acreana e terra do seringalista e ecologista Chico Mendes; possui uma área de 5.347 km 2 e uma população estimada de acordo com o IBGE (2010) em 16.091 habitantes. Limita-se ao norte com o município de Rio Branco, ao sul com o município de Epitaciolândia, a leste com o município de Capixaba, a oeste, com o município de Sena Madureira e a sudo- Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012 183

este, com o município de Brasileia. O acesso ao município é feito por meio rodoviário através da BR-317. A região onde atualmente Xapuri se encontra era habitada pelas tribos indígenas Xapurys, Catianas e Monoteris. Xapuri é um dos municípios mais visitados no Estado por conta principalmente dos monumentos históricos da época da Revolução Acreana e da casa onde residia Chico Mendes. Há também novos empreendimentos criados para desenvolver a economia do Município, como a fábrica de preservativos masculinos, que utiliza o látex extraído nos seringais da região, a fábrica de pisos de madeira, uma pousada ecológica no Seringal Cachoeira, além da indústria moveleira, pecuária extensiva e a- gricultura de subsistência. Durante muitos anos Xapuri foi tratada como Princesinha do Acre graças à grande riqueza que ostentava nos anos áureos tempos do ciclo da borracha. 4. Abertura e fechamento da vogal pretônica /e/ na fala urbana de Xapuri Nas cartas a seguir, apresentamos os resultados concernentes à abertura e fechamento do /e/ no município de Xapuri, bem como aos casos de alçamento dessa vogal e de uma ocorrência de troca por [o]. A carta número 1 apresenta os dados gerais, isto é, o grau de fechamento, o grau de abertura, o alçamento da pretônica, sua substituição por [o], sem se levar em consideração nenhum fator individualmente. 184 Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012

Em linhas gerais, percebemos que a pronúncia de /e/ na fala urbana de Xapuri apresenta um índice significativo de fechamento, 65,7%, contra apenas 17,3%, percentual de abertura. Além dessas duas realizações, registramos casos de alçamento (realização [i], 16,3%, e troca por [o], 0,7%. Nos casos de alçamento, temos como exemplos as palavras t[i]soura, c[i]bola, [i]strada, [i]mprego, [i]scola, [i]contrar, f[i]rida, [i]squerdo. A alteração para [o] ocorreu na palavra esquerdo, pronunciada [o]squerdo. Na carta número 2, a apresentação dos dados é feita em função do fator gênero dos informantes, buscando-se verificar qual dos grupos, masculino e feminino, abre ou fecha mais a vogal. Concomitantemente, colocamos os percentuais relativos ao alçamento e à troca de /e/ por [o]. Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012 185

Há certo equilíbrio nas realizações dos dois grupos no que se refere ao fechamento da vogal: o grupo masculino alcançou o percentual de 32,2% e o grupo feminino, 31,5%, números bastante próximos. Quanto à abertura, as mulheres levam a vantagem com 11,9% contra 5,49% dos homens. Os demais percentuais referem-se ao alçamento de /e/ e à sua troca por [o], já mencionados na primeira carta; note-se que os homens efetuam mais alçamento (9,7%) do que as mulheres (6,6%). Na carta número 3, focalizamos os dados, em função do fator faixa etária. 186 Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012

No que tange à idade, o percentual de fechamento é mais significativo na faixa mais velha (60-65 anos) 34,2% contra 31,5% da faixa mais jovem. Os mais velhos também foram os que mais realizaram o alçamento, 10,4%, comparados aos mais jovens, 5,9%. A única mudança da vogal por [o] foi feita por um informante da faixa mais jovem. 5. Considerações finais A vogal pretônica /e/ nos nossos dados é majoritariamente pronunciada fechada, sobretudo pelo grupo masculino e pela faixa de mais idade. Esse fato corrobora os estudos de Pereira (2011) que também encontrou maior fechamento nessa população e contraria nossa hipótese, bem como a de Pereira, de que a população mais jovem estaria fechando mais a vogal. Resta-nos ampliar os dados em outros municípios e com mais informantes para verificar se essa tendência permanece. Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012 187

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Aluiza Alves de. As vogais médias pretônicas no falar popular de Fortaleza: uma abordagem variacionista. Fortaleza: Doutorado em Linguística, 2007. CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. CARMO, Márcia Cristina do. As vogais médias pretônicas dos verbos na fala culta do interior paulista. São José do Rio Preto: UNESP, 2009. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Xapuri. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=120070>. Aceso em: 03-11-2012. MESSIAS, Lindinalva. Projeto Atlas Linguístico do Acre (ALiAC). CE- DAC/UFAC, 2012. NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Simões, 1953. PEREIRA, Ceildes da Silva. A realização aberta ou fechada das vogais médias pretônicas /e, o/ no falar de uma zona urbana de Rio Branco (AC). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Acre, 2011. SILVA, Thais Cristófaro. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 1999. 188 Revista Philologus, Ano 18, N 54 Suplemento: Anais da VII JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012