1 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA CIDADE DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA - PA Nilvete Cardoso dos Santos (1) Graduanda em Tecnologia de Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA). Endereço: Rua dose, 4276, Emerêncio Conceição do Araguaia, CEP: 68.540-000 Pará Brasil. E-mail: cardosonilvet@hotmail.com Aline Rocha Lima Graduada em Tecnologia Agroindustrial de Alimentos pela Universidade Estadual do Pará. Pós-Graduada em Processamento e Controle e Qualidade de Alimentos pela Universidade Federal de Lavras-MG. Graduanda em Tecnologia de Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA). Endereço: Rua 01, Emerêncio Conceição do Araguaia, CEP: 68.540-000 Pará Brasil. E-mail: aline_rocha01@hotmail.com Rubens Chaves Rodrigues Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestrando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil PPGEC/UFPA. Professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Hidráulica e Saneamento GPHS/UFPA. Endereço: Rua Trinta de Maio, 1750, Capalinha Conceição do Araguaia, CEP: 68.540-000 Pará Brasil. E-mail: rubens.vitoria@gmail.com Resumo A importância da água destinada para consumo humano como veículo de transmissão de enfermidades tem sido largamente difundido e reconhecido, motivo da crescente preocupação da humanidade em termos da qualidade e quantidade de água para o abastecimento público. Diante disso, o presente trabalho buscou avaliar se o sistema de abastecimento de água no Município de conceição do Araguaia utiliza métodos de tratamento suficientes para atender aos padrões de potabilidade definidos nas portarias vigentes, por meio de pesquisas de campo e registros fotográficos das etapas de tratamento. Verificou-se que o sistema utilizado é do tipo convencional, sendo observados alguns fatores como exemplo a falta de manutenção dos equipamentos da estação de tratamento principalmente nos filtros com perda de suas camadas filtrantes,
2 além disso, a tubulação que conduz a água tratada até as residências é muito antiga podendo interferir diretamente na qualidade da água que é oferecida à população. Sendo necessários alguns ajustes, ficando a cargo dos órgãos competentes contribuírem para que a estação de tratamento de água da cidade de Conceição do Araguaia possa fornecer água dentro dos padrões de qualidade para o consumidor. Palavras-chave: Qualidade da água, Saúde, Meio Ambiente. 1 INTRODUÇÃO O abastecimento público de água em termos de quantidade e qualidade é uma preocupação crescente da humanidade, devido à escassez desse recurso e a deterioração das águas dos mananciais. A importância da água destinada para consumo humano como veículo de transmissão de enfermidades tem sido largamente difundido e reconhecido. A maior parte das enfermidades existentes em países em desenvolvimento onde os saneamentos são deficientes é causada por bactérias, vírus, protozoários e helmintos. Estes organismos causam enfermidades que variam em intensidade e vão desde gastrenterites a graves enfermidades, algumas vezes fatais e/ou de proporções epidêmicas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, em 2010 a média da população total brasileira atendida com abastecimento de água por rede geral foi de 81,5% e da população urbana de 91,4%. A proporção da água distribuída com tratamento também varia de acordo com o tamanho da população dos municípios. Naqueles com mais de 100.000 habitantes, a água distribuída é quase totalmente tratada. Já nos municípios com menos de 20.000 habitantes, 32,1% do volume distribuído não recebe qualquer tipo de tratamento. A qualidade da água tem sido comprometida desde o manancial, pelo lançamento de efluentes e resíduos, exigindo investimento nas plantas de tratamento e mudanças na dosagem de produtos para se garantir a qualidade da água na saída das estações. No entanto, tem se verificado que a qualidade da água decai no sistema de distribuição pela intermitência do serviço, pela baixa cobertura da população com sistema público de esgotamento sanitário, pela obsolescência da rede de distribuição, manutenção deficiente, entre outros. Nos domicílios os níveis de contaminação se
3 elevam pela precariedade das instalações hidráulico-sanitárias, pela falta de manutenção dos reservatórios e pelo manuseio inadequado da água (Ministério da saúde, 2004). A água bruta apresenta inúmeras impurezas, sendo várias delas inócuas e outras prejudiciais à saúde humana, tais como substâncias tóxicas, bactérias e vírus. Assim, as Estações de Tratamento de Água (ETA s) têm a finalidade de transformar a água denominada bruta (sem tratamento e imprópria ao consumo humano) em água denominada potável (tratada e adequada ao consumo humano). Segundo a Agência Nacional de Águas ANA, o Estado do Pará possui 143 municípios que reúnem cerca de 5,2 milhões de habitantes. A Companhia de Saneamento do Pará presta serviços de abastecimento de água a 41% dos municípios. Os demais sistemas de abastecimento são operados por serviços municipais de saneamento (80 sedes) e por uma empresa privada, 5 sedes municipais. De forma geral, os sistemas de abastecimento de água no Pará são bastante precários. Mais da metade dos municípios do Estado (77 sedes urbanas) não possuem tratamento da água distribuída à população. Ao todo, 58% dos municípios necessitam de alguma adequação em seus sistemas de produção de água, considerando ampliações da infraestrutura existente ou a implantação de novas instalações, 35 sedes municipais requerem novos mananciais, devido a problemas de disponibilidade hídrica ou a qualidade das águas (ANA, 2010). Diante disso, o presente trabalho de pesquisa buscou realizar diagnóstico do sistema de tratamento e distribuição de água realizado no município e verificar se este utiliza métodos de tratamento suficientes para atender os parâmetros de potabilidade estabelecidos pelas leis e normas vigentes. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O município de Conceição do Araguaia está localizado a sudeste do estado do Pará, sob coordenadas 08º 15 28 de latitude sul e 49º 15 53 de longitude oeste, com aproximadamente 45mil habitantes. O presente trabalho foi realizado por meio de pesquisas de abordagem qualitativa, sendo elas, pesquisas bibliográficas e levantamento de campo (visita a ETA acompanhados por técnico da companhia de abastecimento de água do município, bem como, registros fotográficos das etapas do processo de tratamento).
4 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 CAPTAÇÃO E ADUÇÃO A Estação de Tratamento de Água ETA de Conceição do Araguaia utiliza água de manancial superficial (Rio Araguaia), sendo esta captada pelo método de bombeamento, já que o nível do local de captação se encontra bem abaixo do nível da ETA. O local de captação é bem próximo à margem do rio, principalmente durante a estiagem, de modo que a água captada torna-se mais impura devido aos resíduos lançados em suas margens, porém na estação chuvosa apesar da captação se encontrar mais no leito do rio com o aumento da vazão as enxurradas levam diversas impurezas ao corpo d água, alterando a qualidade da água do manancial. Dessa forma, durante todo ano é necessário um tratamento eficaz da água para que essa atenda aos padrões de potabilidade. A adução da água bruta da captação à ETA é por meio de uma tubulação tipo mangote com 300mm de diâmetro transportando cerca de 650 m 3 /h de água, conforme figura 01. Figura 01: Captação de água no Rio Araguaia. Fonte: Santos N. C. 3.2 ADIÇÃO DE COAGULANTE No tratamento da água em estudo é adicionado o Policloreto de Alumínio (PAC), coagulante com o intuito de transformar as impurezas em flocos e na medida em que as impurezas vão se agregando, ficam cada vez mais pesadas e maiores, podendo ser removidas pelos decantadores e pelos filtros. O PAC é um coagulante inorgânico, que substitui o sulfato de alumínio. Apesar de ser mais caro, começa a ser empregado com certa frequência tanto em clarificação de
5 água para uso industrial como na utilizada para abastecimento público. Isso se deve principalmente por causa de suas vantagens no custo global do tratamento, visto que sua utilização realiza uma melhor coagulação que os sulfatos. 3.3 DECANTAÇÃO A estação possui 2 decantadores de fluxo horizontal com cones de acumulação de lodo na parte inferior, bandeja intermediária e saída do efluente líquido na parte superior. A entrada do efluente da unidade de anterior ocorre na parte intermediária do decantador, o que obriga a massa líquida a ter movimento horizontal e ascensional, facilitando, portanto, a sedimentação dos flocos. Figura 02: Tanques de decantação da ETA, à esquerda e o do meio. Fonte: Santos N. C. 3.4 SISTEMA DE FILTRAÇÃO A água decantada é encaminhada às unidades filtrantes, sendo estas divididas em 2 (dois) sistemas filtrantes. No primeiro sistema de filtros a água passa por um desarenador, ficando parte da areia retida, posteriormente é enviada aos 4 (quatros) filtros de fluxo ascendentes, compostos por camadas com granulometria diferentes, desde seixo na camada suporte à areia de diversas granulometrias nas camadas superiores, após a filtragem a água é transferida para o tanque de armazenamento. O filtro russo é outra forma de filtração utilizada na ETA de Conceição do Araguaia, este é composto por camadas em fluxo ascendente, também constituído de seixo à areia fina. São 2 (dois) filtros russos, porém atualmente apenas um está em funcionamento. Todos os filtros existentes na ETA de Conceição do Araguaia são formados por quatro camadas com fluxo ascendente. Todavia, é necessária a manutenção desse
6 sistema. Uma vez que, os materiais filtrantes vão sendo perdidos ao longo do tempo, principalmente com o processo de lavagem que é feito a cada 6 horas durante a estação chuvosa e a cada 12 horas durante o período de estiagem. Diante disso, atualmente não se encontram todas as camadas de filtração, o que pode comprometer o sistema de tratamento. 3.5 CLORAÇÃO OU DESINFECÇÃO Após a etapa de filtração é adicionado o cloro visando à eliminação dos microrganismos patogênicos. A água dos sistemas de filtração é reunida em um só tanque, onde é adicionado o cloro, sendo este em forma de pastilha. Porém o seu uso está sendo substituído pelo cloro gasoso, devido à facilidade de aplicação. O cloro se decompõe com o tempo, a concentração de cloro apresentada na torneira das residências é inferior à aplicada no sistema de tratamento de água. A concentração exata na torneira depende da distância do sistema de tratamento, quanto tempo á água ficou armazenada na tubulação da rede, manutenções da rede e quantidade inicial dosada. De acordo com portaria nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde, recomenda-se que o teor máximo de cloro residual livre em qualquer ponto do sistema de abastecimento seja de 2 mg/l e deve-se assegurar que a água fornecida contenha um teor mínimo de cloro residual livre de 0,5 mg/l. 3.6 QUALIDADE DA ÁGUA O monitoramento da qualidade da água é de fundamental importância para atender os requisitos exigidos pela legislação. No laboratório da ETA em estudo, são realizados: teste de colorimetria, turbidez, testes microbiológicos e teste de cloro residual. A legislação Recomenda que, no sistema de distribuição, o ph da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5. Sendo que na ETA de Conceição do Araguaia não está sendo verificado, devido defeito no aparelho. De acordo com o estudo observou-se que é realizado o tratamento da água bruta para transformá-la em água potável, demonstrando eficiência no tratamento quanto às características organolépticas, por meio da observação das características físicas (cor, turbidez) e análise da quantidade de cloro residual na água já tratada ainda na estação.
7 Porém após a distribuição da água quando esta chega às residências, apresenta cor desagradável, como pode ser observado na figura 03, sendo levado em consideração que a tubulação existente é antiga e nunca foi reparada, considerando este, como principal fator responsável pela alteração da qualidade da água que chega à população. Figura 03: Água que chega ás residências. Fonte: Santos N. C. De acordo com estudos realizados anteriormente, a população prefere utilizar água de poços, que a fornecida pelo sistema de abastecimento, mesmo sem conhecer a qualidade microbiológica da mesma, pois o aspecto cor é muito levado em consideração. Verifica-se então que existe um alto custo para realizar o tratamento da água da ETA, mas como o padrão de qualidade que sai da estação não é mantido até o final da rede de distribuição, esta não é utilizada como deveria, sendo desprezada pela população e usada para fins menos nobre. 3.7 DISTRIBUIÇÃO Para chegar às casas, a água passa por vários canos enterrados sob a pavimentação das ruas da cidade, chamadas redes de distribuição. De acordo com pesquisas realizadas, falta água em muitas residências da cidade, isto devido à pressão na rede de distribuição não ser eficiente. Para que esta possa funcionar perfeitamente, é necessário haver pressão satisfatória em todos os seus pontos. CONCLUSÃO No sistema de tratamento de água deve ser levado em consideração todo o processo, desde a escolha do manancial, sua captação, o tratamento da água bruta até a sua distribuição, dando importância também à tubulação pela qual a água é transportada
8 após o tratamento, pois de acordo com a legislação existem parâmetros a serem seguidos, e de nada adianta estes parâmetros serem alcançados apenas na saída da água da estação de tratamento, estes devem ser mantidos até chegar ao destino final, no caso as residências. Com relação às características organolépticas, em especial a cor, observou-se que este padrão não é mantido até chegar às residências, tendo em vista que a tubulação existente é muito antiga interferindo nesse aspecto. Sendo necessário observação e investimento do órgão responsável para garantir a qualidade da água que chega ás residências do município de Conceição do Araguaia. REFERÊNCIAS ANA Agência Nacional de Águas. Atlas Brasil: Abastecimento Urbano de Água, 2010. Disponível em: <atlas.ana.gov.br/atlas/>. Acesso em: 04 de Outubro de 2012. BRASIL. Programa nacional de vigilância em saúde ambiental relacionada à qualidade da água para consumo humano, 2004. Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/programa_vigiagua.pdf>. Acesso em: 04 de Outubro de 2012. BRASIL, Portaria nº 518 de 25 de Março de 2004. Ministério da Saúde: Norma de qualidade da água para consumo humano, p 3,9, 2004. BRASIL. Portaria 2.914 de 12 de Dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Ministério da Saúde. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso em: 04 de outubro de 2012. Biblioteca Didática de Tecnologias Ambientais. Saneamento Ambiental: O tratamento da Água, 2001. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~bdta/indexv.html>. Acesso em: 08 de Outubro de 2012. Google Earth (2010) - software de visualização de terrenos via-satélite. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. Março de 2002. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/27032002pnsb.shtm>. Acesso em: 13 de Outubro de 2012.