ANATOMIA DA MADEIRA DE ENTEROLOBIUM GLAZIOVII (BENTH.) MESQUITA 1

Documentos relacionados
ANATOMIA DO LENHO DE MACLURA TINCTORIA D. DON EX STEUD. 1

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO LENHO DE BRUNFELSIAAUSTRALIS BENTHAM (SOLANACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE EUGENIA L. (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DE MELIA AZEDARACH L. (MELIACEAE) 1

ANATOMIA DO LENHO DE TRÊS ESPÉCIES EXÓTICAS DO GÊNERO VACHELLIA WIGHT & ARN. 1

ANATOMIA DO LENHO DE ALLOPHYLUS GUARANITICUS (ST.-HIL.) RADLK. (SAPINDACEAE)\

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE MYRCIA DC., NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

ANATOMIA DO LENHO DE CALYPTRANTHES D. LEGRAND (MYRTACEAE)t

ANATOMIA DO LENHO DE MIMOSA MICROPTERIS BENTH. 1

ANATOMIA DO LENHO DE HETEROTHALAMUS PSIADIOIDES LESSING (ASTERACEAE - ASTEREAE)1

ESTUDO ANATÔMICO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa trachycarpa Benth.

ANATOMIA DA MADEIRA DE EUGENIA UNIFLORA L. (MYRTACEAE)I

ANATOMIA DO LENHO DE BERNARDIA PULCHELLA (EUPHORBIACEAE) 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE PLINIA RIVULARIS

ANATOMIA DO LENHO DE MIMOSA PIGRA BENTH. 1

ANATOMIA DAS MADEIRAS DE CAMPOMANESIAAUREA O. BERG E EUGENIA MYRCIANTHES NIEDENZU (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DA MADEIRA DO GUAMIRIM-FACHO, Calyptranthes concinna DC. WOOD ANATOMY OF Calyptranthes concinna DC. (Myrtaceae).

ANATOMIA DA MADEIRA DE Mimosa eriocarpa Benth. WOOD ANATOMY OF Mimosa eriocarpa Benth. Celso Carnieletto 1 José Newton Cardoso Marchiori 2 R E S U M O

ANATOMIA DA MADEIRA DE CAMPOMANESIA RHOMBEA O. BERG (MYRTACEAE)]

LUCIANO DENARDF JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP MARCOS ROBERTO FERREIRN

MYRCIA BOMBYCINA (O. BERG) NIEDENZU

ANATOMIA DO LENHO DE HETEROTHALAMULOPSIS WAGENITZIl (F. HELLW.) DEBLE, OLIVEIRA & MARCmORI (ASTEREAE - ASTERACEAE) 1

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS CESALPINIOÍDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINA

ANATOMIA DA MADEIRA DE BERBERIS LA URINA BILLB.l

ANATOMIA COMPARATIVA DA MADEIRA DE QUATRO ESPÉCIES DA SUBTRIBO BACCHARINAE LESSING (ASTERACEAE - ASTEREAE)l

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE SAPIUM HAEMATOSPERMUM MÜLL. ARG (EUPHORBIACEAE)I

PROGRAMA ANALÍTICO DISCIPLINA NOME: ANATOMIA DA MADEIRA CÓDIGO: IF 301 CRÉDITOS: 04 (T-02 P-02) DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FLORESTAIS

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa incana (Spreng.) Benth. ANATOMY OF THE SECONDARY XYLEM OF Mimosa incana (Spreng.) Benth.

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS FABOÍDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES -ARGENTINA!

ANATOMIA DA MADEIRA DE ESCALLONIA MEGAPOTAMICA SPRENGEV

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS LEGUMINOSAS MIMOSOIDEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINA 1

ESTUDO COMPARATIVO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE TRÊS ESPÉCIES ORNAMENTAIS DE Euphorbia

ANATOMIA DA MADEIRA DE Xy/osma tweedianum (Cios) Eichler (Flacourtiaceae)

DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA DA ANATOMIA DA MADEIRA DE QUATRO ESPÉCIES DO GÊNERO Ocotea Aubl.

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS BIGNONIÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES - ARGENTINAl

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ANATOMIA DA MADEIRA DE MYRCIANTHES GIGANTEA (Legr.) Legr. 1

ANATOMIA DAS MADEIRAS DE EUGENIA BURKARTIANA (D. LEGRAND) D. LEGRAND E MYRCIARIA CUSPIDATA O. BERG, DUAS MIRTOÍDEAS NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DEALBATA LINKl

ANATOMIA DA MADEIRA DE CALYCOPHYLLUM SPRUCEANUM (BENTH.) K. SCHUM. E CALYCOPHYLLUM SPRUCEANUM F. BRASILIENSIS K. SCHUM.¹

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE MYRCEUGENIA EUOSMA (O. BERG) D. LEGRAND (MYRTACEAE)l

ESTUDO ANATÔMICO DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa sparsa Benth

ANATOMIA DA MADEIRA DE SALIX HUMBOLDTIANA WILLD. (SALICACEAE) I

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO LENHO DE Melaleuca leucadendron (L.) L. ANATOMICAL DESCRIPTION OF Melaleuca leucadendron (L.) L WOODEN

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ANATOMIA DO LENHO DE PLINIA TRUNCIFLORA KAUSEL (MYRTACEAE)l

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE COLUBRINA GLANDULOSA PERKINSl

ANATOMIA DA MADEIRA DE

Profª. M.Sc.: Josiane Silva Araújo

ANATOMIA DO LENHO DE CONDALIA BUXIFOLIA REISSEK (RHAMNACEAE)I

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa berroi Burk.

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DAS ESPÉCIES Gossypium hirsutu, Couratari spp e Clarisia racemosa Ruiz et Pavon.

ANATOMIA DA MADEIRA DE SALIX X RUBENS SCHRANK (SALI CA CEAE) 1

Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.

São descritos os caracteres anatõmicos da madeira de Celtis pallida Torrey, um pequeno

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE EUGENIA MANSOI O. BERG (MYRTACEAE)l

V Semana Acadêmica da UEPA Campus de Marabá As problemáticas socioambientais na Amazônia Oriental 22 a 24 de Outubro de 2014

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE EUGENIA HIEMALIS CAMBESS. (MYRTACEAE)l

ANATOMIA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP MARIA CRISTINA SCHULZE-HOFER3

ANATOMIA DA MADEIRA DE ACACIA DECURRENS Willd. 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE BACCHARlS L. (ASTERACEAE - ASTEREAE)l.

ESTUDO ANATÔMICO DO LENHO DE EUGENIA SCHUECHIANA O. BERG (MYRTACEAE)l

ABSTRACT [Wood anatomy of Myrceugenia miersiana (Gardner) D. Legrand et Kausel (Myrtaceae)].

o USO DA MADEIRA NAS REDUÇÕES JESUÍTICO-GUARANI DO RIO GRANDE DO SUL VII - VIGA DO CORO DA IGREJA DA IGREJA DE SÃO MIGUEL ARCANJO)

ANATOMIA DOS LENHOS DE MIMOSA INTRICATA BENTH. E MIMOSA TAIMBENSIS BURKART (FABACEAE) 1

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Recebido para publicação em 26/11/2004 e aceito em 24/08/2005.

Ciência Florestal ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

DIFERENCIAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE 4. ESPÉCIES DO GÊNERO Caryocar.

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF

José Newton Cardoso Marchiori 1 RESUMO

ANATOMIA DA MADEIRA DE VACHELLIA FARNESIANA (L.) WIGHT & ARN.I

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ARALlÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISIONES, ARGENTINA

ANATÔMIA DA MADEIRA DE Cordia alliodora C. (R & P.) Oken e Cordia goeldiana Huber, COMERCIALIZADAS COMO FREIJÓ NA REGIÃO AMAZÔNICA

ANATOMIA DA MADEIRA DE TETRORCHIDIUM RUBRIVENIUM POEPP. & ENDL. (EUPHORBIACEAE) 1

ANATOMIA DA MADEIRA DE DUAS ESPÉCIES DE BACCHARIS, NATIVAS NO RIO GRANDE DO SUV

ANATOMIA DA MADEIRA E CASCA DO MARICÁ, Mimosa bimucronata (DC.) O. Kuntze

ESTUDO ANATÔMICO DO XI LEMA SECUNDÁRIO DE Ephedra tweediana C. A. Meyer

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE BOTUCATU FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM Ciência Florestal PLANO DE ENSINO

Anatomia Comparada de Três Espécies do Gênero Vochysia

Características anatômicas de 20 espécies do mato grosso

ANATOMIA DA MADEIRA DE CALYCOPHYLLUM CANDIDISSIMUM (VAHL) DC. (RUBIACEAE)¹

PLANO DE ENSINO DISCIPLINA. Anatomia da madeira de coníferas e de folhosas

José Newton Cardoso Marchiori Departamento de Ciências Florestais. Centro de Ciências Rurais.UFSM. Santa Maria, RS.

RESUMO. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Restinga, Mata Atlântica. INTRODUÇÃO

II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira Belo Horizonte - 20 a 22 set 2015

Merilluce Samara Weiers 1, João Carlos Ferreira de Melo Jr. 2 1 INTRODUÇÃO

Identificação botânica de cinco amostras de material vegetal carbonizado Cova da Baleia, Cabeço do Pé da Erra e Barranco do Farinheiro

Figura 12 Procedimentos realizados para a determinação da espessura e proporção de casca, teor de umidade e peso específico da madeira.

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE NOVE ESPÉCIES DA FAMÍLIA LEGUMINOSAE

Ciência Florestal, Santa Maria, v.8, n.1, p ISSN CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA DE Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage

ANATOMIA DA MADEIRA DE TRÊS APOCINÁCEAS DA FLORESTA ESTACIONAL DE MISSIONES, ARGENTINA

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DE CALYCOPHYLLUM MULTIFLORUM GRISEB. (RUBIACEAE)¹

MADEIRA E CASCA DE Acacia

o presente trabalho trata da descrição dos caracteres gerais e

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO XILEMA SECUNDÁRIO DE Mimosa ramulosa benth (FABACEAE)

Identificação de carvões de madeira no âmbito do Projecto O Bronze Final do Sudoeste na Margem Esquerda do Guadiana. Paula Fernanda Queiroz

Transcrição:

BALDUINIA, n. 50, p. 11-15, 30-XI-2015 http://dx.doi.org/10.5902/235819820324 ANATOMIA DA MADEIRA DE ENTEROLOBIUM GLAZIOVII (BENTH.) MESQUITA 1 PAULO FERNANDO DOS SANTOS MACHADO 2 JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORI 3 ANELISE MARTA SIEGLOCH 4 RESUMO A madeira de Enterolobium glaziovii é microscopicamente descrita e ilustrada com base em amostra procedente do estado do Espírito Santo, a qual era confundida, inicialmente, com Acacia conferta. A principal diferença em relação ao lenho de Enterolobium contortisiliquum reside na abundância de fibras septadas, as quais apresentam, ainda, paredes mais espessas do que na referida espécie sul-brasileira, facilitando o reconhecimento do parênquima axial em plano transversal. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Enterolobium glaziovii, Fabales, Fabaceae. ABSTRACT [Wood anatomy of Enterolobium glaziovii (Benth.) Mesquita]. The wood of Enterolobium glaziovii is microscopically described and illustrated based on a sample collected in the State of Espírito Santo (Brazil) that was initially misidentified as Acacia conferta. The main difference with respect to Enterolobium contortisiliquum lies in the abundance of septate fibers, which also exhibit thicker walls than the southern Brazilian named species, contributing to the recognition of axial parenchyma in cross section. Keywords: Enterolobium glaziovii, Fabales, Fabaceae, Wood anatomy. INTRODUÇÃO Em recente pesquisa anatômica com madeiras do antigo gênero Acacia, uma amostra de Acacia conferta coletada no Brasil mostrou-se estruturalmente incompatível à identidade botânica fornecida. O referido binômio, cabe salientar, remete a uma espécie arbustiva de até 4m de altura, nativa da Austrália (Nova Gales do Sul, Queensland) e cultivada como ornamental, sobretudo em sua pátria de origem, pelo efeito decorativo dos densos filódios de até 1,5cm de comprimento e capítulos globosos de flores amarelas. 1 Recebido em 13-5-2015 e aceito para publicação em 2-9-2015. 2 Engenheiro Florestal, mestrando do Programa de Pós- Graduação em Engenharia Florestal UFSM. 3 Engenheiro Florestal, Dr. Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq Brasil). 4 Engenheira Florestal, doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES. Constatada a discrepância anteriormente resumida, a investigação feita a partir dos dados constantes na ficha de registro do material, juntamente com pesquisa bibliográfica e a busca da respectiva exsicata em herbários do Brasil, comprovou que a amostra de madeira CVRD 242 (Col. J. Spada 107, 30-11-1972) pertence, efetivamente, a Enterolobium glaziovii (Benth.) Mesquita, e que o correspondente material botânico foi examinado pelo autor da espécie, em sua descrição original. Uma vez comprovado que a espécie botânica foi descrita apenas em 1993 e que a literatura sobre a mesma, por conseqüência, ainda é escassa, o presente trabalho justifica-se como reforço à valorização dessa essência florestal, e por agregar conhecimento sobre a estrutura do lenho, no gênero botânico a que pertence. REVISÃO DE LITERATURA Nativa no sudeste e nordeste do Brasil, nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, Enterolobium glaziovii (Benth.) Mesquita apresenta estreita afinidade 11 BAL 50.p65 11

com Enterolobium schomburgkii Benth., da qual separa-se, facilmente, pelo fruto lenhoso de epicarpo rugoso, pelas sementes ovais de apenas 1cm de comprimento, e pelos ramos e flores totalmente cobertos por indumento ferrugíneo-viloso, entre outros aspectos morfológicos (Mesquita, 1993). No tocante à sinonímia botânica, Corrêa (1926) informa que o binômio Enterolobium lutescens Mart., indicado por Freire Allemão, Saldanha da Gama e Rebouças, entre outros autores, constitui nomen nudum, por carecer de publicação válida. Árvore de até 30m de altura e 18cm de DAP, Enterolobium glaziovii apresenta distribuição alopátrica com E. schomburgkii Benth., e distribuição simpátrica com E. monjollo (Vell.) Mart. (Mesquita, 1993). A respeito da madeira, a literatura ainda é carente de maiores detalhes, justificando a realização do presente estudo. Para o gênero Enterolobium Mart., Metcalfe & Chalk (1972) reportam: vasos pequenos, principalmente solitários, em múltiplos de 2-3 ou em racemos; placas de perfuração simples; pontoações alternas, pequenas e ornamentadas; parênquima axial vasicêntrico e confluente, com cristais em câmaras no contato com fibras; raios unisseriados ou com até 3 células de largura; e fibras de paredes finas. Em chave para identificação anatômica do lenho de Leguminosas Mimosoídeas e Cesalpinioídeas argentinas, Cozzo (1951) segrega o gênero Enterolobium pela ausência de estrutura estratificada e de espessamentos espiralados em vasos, aliada à ocorrência de fibras de paredes delgadas, frequentemente tabicadas (septadas), e raios 1-3-seriados, compostos, inteiramente, de células procumbentes. Das madeiras do gênero Enterolobium, a mais investigada é a timbaúva (Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong), espécie de ampla distribuição geográfica no Brasil e países vizinhos, e para a qual se encontram descrições microscópicas em Bolzon (1993), Marchiori et al. (2009), Mattos et al. (2003) e Tortorelli (1956), entre outros autores. MATERIAL E MÉTODOS O material em estudo consiste na amostra de madeira CRVD 242 (Col. Spada, J., n. 107, 30-11-1972), coletada no município de Linhares, Espírito Santo, e identificada, originalmente, pelo binômio Acacia conferta e o nome comum de cobi-orelha-de-macaco. Nos capítulos precedentes relatou-se a comprovação da identidade, e que a mesma se trata de Enterolobium glaziovii (Benth.) Mesquita. Para a confecção de lâminas histológicas foram extraídos três corpos-de-prova (1x2x3 cm) da amostra de lenho, orientados para a obtenção de cortes anatômicos nos planos transversal, longitudinal radial e longitudinal tangencial. Do fragmento restante foram extraídos palitinhos, com vistas à maceração. O preparo de lâminas de cortes anatômicos seguiu a metodologia descrita em Burger & Richter (1991) e, no caso do macerado, o método de Jeffrey (Freund, 1970). Os cortes anatômicos foram tingidos com acridina-vermelha, crisoidina e azul-de-astra (Dujardin, 1964); o macerado, apenas com safranina. Usou-se Entellan na montagem das lâminas. A descrição anatômica baseou-se nas recomendações do IAWA Committee (Wheeler et al., 1989). No caso da percentagem dos tecidos foram realizadas 600 determinações ao acaso, com o auxílio de contador de células, conforme proposto por Marchiori (1980). A abundância de poros foi obtida a partir de um quadrado de área conhecida, superposto a fotomicrografias de seções transversais da madeira. As medições foram realizadas em microscópio Carl Zeiss, no Laboratório de Anatomia da Madeira da Universidade Federal de Santa Maria. Na citação dos caracteres quantitativos, os números entre parênteses correspondem aos valores mínimo e máximo observados; o valor que acompanha a média é o desvio padrão. As fotomicrografias foram tomadas em aparelho Leica DM 1000, equipado com câmera digital Olympus Camedia CX 40, no Laboratório de Anatomia da Madeira do CESNORS/UFSM. 12 BAL 50.p65 12

DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA Anéis de crescimento: fracamente distintos, delimitados por 1-3 fileiras de fibras radialmente estreitas, pelo parênquima marginal associado a poros de pequeno diâmetro, e pelo tênue alargamento de raios no limite do anel. Vasos: escassos (5 ± 2 (3-9) poros/mm 2 ), ocupando 13 ± 3 % do volume da madeira. Porosidade difusa. Poros solitários (73%), em múltiplos radiais de 2-5 (15%), e em múltiplos racemiformes (12%); circulares ou ovais (186 ± 30 (133-255) µm) e de paredes finas até espessas (9 ± 2 (2,5-13) µm) (Figura 3A,B). Elementos vasculares médios (425 ± 118 (230-640) µm), com placas de perfuração simples, oblíquas ou transversais ao vaso. Apêndices curtos (39 ± 25 (10-100) µm), geralmente em uma extremidade. Pontoações intervasculares pequenas (6,0 ± 0,9 (5,2-7,2) µm) e ornamentadas, alternas, circulares, com abertura em fenda inclusa, por vezes coalescente (Figura 3F). Pontoações raio-vasculares, semelhantes às intervasculares, embora menores (5,0 ± 0,6 (4-6) µm). Espessamentos espiralados, ausentes. Conteúdos, presentes. Parênquima axial: representando 30 ± 6 % do volume da madeira; em arranjo vasicêntrico e diagonal-confluente, além de apotraqueal marginal. Conteúdo, presente em células radiais (Figura 3 A,B). Séries parenquimáticas de 553 ± 118 (300-745) µm de altura, com 3,8 ± 1,2 (2-6) células (Figura 3F). Cristais romboédricos, em séries de 2-30 cristais (Figura 3A,B). Raios: numerosos (5 ± 0,9 (3-8) /mm), ocupando 14 ± 1,8 % do volume da madeira; homogêneos, compostos inteiramente de células procumbentes, com 3 (2-5) células e 33 ± 11 (18-55) µm de largura (Figura 3E,F). Os multisseriados, de 327 ± 124 (100-550) µm e 6-31 células de altura. Os unisseriados, de 110 ± 35 (40-200) µm e 3-13 células de altura. Conteúdos, escassos. Raios agregados e fusionados, presentes. Células envolventes, células radiais de paredes disjuntas e células perfuradas, ausentes. Fibras: libriformes, septadas, de 1390 ± 185 (1030-1670) µm de comprimento, com 17 ± 3 (12-23) µm de largura e paredes medianamente espessas 4 ± 1,3 (2,5-7,5) µm, ocupando 43 ± 5 % do volume da madeira (Figura 3B). Fibras gelatinosas, escassas; espessamentos espiralados e traqueídeos, ausentes. Outros caracteres: variantes cambiais, tubos laticíferos e taniníferos, canais intercelulares, células oleíferas, células mucilaginosas, estratificação e máculas medulares, ausentes. Cristais, presentes. ANÁLISE ANATÔMICA A madeira de Enterolobium glaziovii reúne o conjunto de caracteres anatômicos típico das Fabaceae Mimosoideae: placas de perfuração simples; pontoações intervasculares alternas e ornamentadas; parênquima paratraqueal; fibras libriformes; raios homogêneos; ausência de estratificação; e abundantes cristais em câmaras, na periferia do parênquima axial. Comparada a Enterolobium contortisiliquum, a espécie em estudo distingue-se pelas fibras de paredes medianamente espessas, caráter que lhe confere, muito provavelmente, uma maior massa específica e resistência mecânica. A parede mais espessa das fibras, por sua vez, ressalta o contraste entre esse tecido e o parênquima axial, facilitando o reconhecimento dos padrões paratraqueal vasicêntrico, diagonal-confluente e apotraqueal marginal, muito conspícuos em Enterolobium glaziovii. A presença conspícua de septos nas fibras da espécie em estudo contrasta com o descrito por Marchiori et al. (2009), Mattos et al. (2003) e Muñiz (1993) para E. contortisiliquum, autores que não assinalaram a presença do caráter no lenho da referida espécie sul-brasileira. Cabe ressaltar, entretanto, que Tortorelli (1956) refere fibras libriformes para a mesma, e con frecuencia tabicadas. 13 BAL 50.p65 13

FIGURA 1 Fotomicrografias do lenho de Enterolobium glaziovii. A Porosidade difusa, poros solitários, em múltiplos radiais, e parênquima paratraqueal confluente e marginal (seção transversal). B Anel de crescimento marcado por parênquima marginal, 1-3 fileiras de fibras radialmente estreitas e tênue alargamento de raios (seção transversal). C Raio composto inteiramente de células procumbentes e parênquima axial abundante (seção radial). D Raio de células procumbentes, cristais em câmaras, parênquima axial seriado e fibras septadas (seção radial). E Raios uni e multisseriados, e parênquima axial (seção tangencial). F Elemento vascular com pontoações intervasculares ornamentadas, raios multisseriados e parênquima axial abundante (seção tangencial). 14 BAL 50.p65 14

Enterolobium glaziovii separa-se muito facilmente de E. contortisiliquum por seus raios mais largos, de até 5 células de largura, ao passo que na segunda predominam os bi e unisseriados, com raros trisseriados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURGER, L.M.; RICHTER, H.G. Anatomia da Madeira. São Paulo: Ed. Nobel, 1991. 154 p. CORRÊA, M.P. Dicionário de plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura : Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1984. v. 3, p. 26. COZZO, D. Anatomia del leño secundario de las Leguminosas Mimosoideas y Cesalpinioideas argentinas silvestres y cultivadas. Revista del Instituto Nacional de Investigación de las Ciencias Naturales, Buenos Aires, 1951, v. 2, n. 2, p. 63-146. DUJARDIN, E.P. Eine neue Holz-Zellulosenfaerbung. Mikrokosmos, n. 53, p. 94, 1964. FREUND, H. Handbuch der Mikroskopie in der Technik. Frankfurt: Umsham Verlag, 1970. 375 p. MARCHIORI, J.N.C. Estudo anatômico do xilema secundário e da casca de algumas espécies dos gêneros Acacia e Mimosa, nativas no estado do Rio Grande do Sul. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal). Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1980. 186 f. MARCHIORI, J.N.C.; MUÑIZ, G.I.B. de; SANTOS, S.R. dos. Madeiras do Rio Grande do Sul. 1 Descrição microscópica de 33 espécies nativas. Santa Maria: [s.n.], 2009. 80 p. MATTOS, P.P. de; TEIXEIRA, L.L.; SEITZ, R.A.; SALIS, S.M. de; BOTOSSO, P.C. Anatomia de madeiras do Pantanal matogrossense (Características microscópicas). Colombo: Embrapa, 2003. 182 p. MESQUITA, A. de L. Enterolobium glaziovii (Benth.) Mesquita, comb. nov. et status novum para as regiões sudeste e nordeste do Brasil. Acta Bot. Bras., v, 7, n. 2, p. 17-23, 1993. MUÑIZ, G.I.B. de. Anatomia da madeira de espécies arbóreas da Floresta Estacional Semidecidual de Misiones, Argentina. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1993. 152 f. Tese (Concurso de Professor Titular) Universidade Federal do Paraná. RECORD, S.J.; HESS, R.W. Timbers of the New World. New Haven: Yale Univ. Press, 1949. 640 p. TORTORELLI, L.A. Maderas y bosques argentinos. Buenos Aires: Ed. ACME, 1956. 910 p. WHEELER, E.A.; BAAS, P.; GASSON, P.E. IAWA list of microscopic features for hardwood identification. IAWA Bulletin, v. 10, n. 3, p. 218-359, 1989. 15 BAL 50.p65 15