AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO QUANTITATIVO (FITOMASSA E PRODUÇÃO ECONÔMICA) E QUALITATIVO (FIBRA E FIO) DE VÁRIAS POPULAÇÕES DA CULTIVAR BRS 200 DE PORTE ARBÓREO NO SERTÃO PARAIBANO Fabiana X. Costa (UFCG / faby.xavier@ig.com.br), Napoleão E. de M. Beltrão (Embrapa Algodão), Amanda Micheline A. de Lucena (UFCG), José Wellington dos Santos (Embrapa Algodão), Tatiana da S. Santos (UEPB), Vera Lúcia A. de Lima (UFCG), Sany G. Costa (UEPB), Fabiana S. Guimarães (UEPB), Uilma C. de Queiroz (UFPB), Elenilson S. B. Dantas (Embrapa Algodão). RESUMO - Este trabalho teve como objetivo analisar o crescimento da fitomassa, produção econômica, fibra e fio do algodoeiro arbóreo em várias populações. O experimento foi conduzido no Campo Experimental da EMBRAPA no município de Patos no Estado da Paraíba, Brasil. Foram testados cinco tratamentos com cinco repetições, delineamento de blocos ao acaso. Dos resultados obtidos das variáveis analisadas: altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão nos períodos de 02/03/04; 23/03/04 e 13/04/04, somente houve significância estatística ao nível de 0,05 pelo teste F para a variável: cmpf. Os tratamentos não diferiram entre si, populações de 10.000,00 a 100.000,00 plantas, possivelmente por causa da baixa precipitação pluviométrica. Palavras-chave: algodão, crescimento, plantas EVALUATION OF QUANTITATIVE (PHYTOMASS AND ECONOMICAL PRODUCTION) AND QUALITATIVE (FIBRE AND THREAD) DEVELOPMENT OF COTTON CROP, CV. BRS 200, IN PARAÍBA STATE ABSTRACT - This work aimed to analyze the growth of phytomass, economical production, fibre and thread in several populations of cotton plant. The experiment was carried out in the Experimental Field of Embrapa in the Municipality of Patos, Paraíba State, Brazil. Five treatments were tested with five repetitions, random blocks design. Statistical differences (α = 0,05) was observed in the variables: plant height, medium lef length, leaf number, and dry weigh of the cotton plants in the periods 02/03/04; 23/03/04 and 13/04/04. The other treatments did not differ in F Test., probably because of the low pluviometric precipitation. Key words: cotton, growth, plants INTRODUÇÃO O algodão com fibras naturalmente coloridas já existe há cerca de 5.000 anos, nativo de uma ampla dispersão geográfica que engloba o Egito, Paquistão, China e Américas Central, do Norte e do Sul (VREELAND JUNIOR, 1993). É encontrado em duas cores, verde e marrom, em várias tonalidades. Estas variedades foram sendo mantidas ao longo dos anos por comunidades tradicionais do México, Guatemala e Peru. Cerca de 15 mil índios e pequenos agricultores peruanos, que ainda cultivam rotineiramente variedades nativas de algodão colorido e foram os responsáveis por sua manutenção ao longo dos anos, representam o maior grupo de produtores de fibras e fios naturalmente coloridos no mundo (BIO- PIRATERIA, 1999).
Variedades naturalmente coloridas foram mantidas em casas de vegetação por pesquisadores interessados em determinadas características genéticas, como resistência a pragas e doenças, sem, contudo incorporar melhorias na qualidade da fibra. A partir dos anos oitentas, visando atender a um nicho de mercado, algumas dessas variedades foram recuperadas e patenteadas por empresas norte-americanas e posteriormente adaptadas para cultivo em sistemas de produção orgânicos. Assim, características desejáveis da fibra como comprimento, uniformidade, finura, resistência e manutenção da cor, entre outras, passaram a ser objeto de melhoramento genético nos últimos dez anos, inclusive no Brasil pelo Centro Nacional de Pesquisa de Algodão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (CHAUDRY, 1994; SANTANA et al., 1997). A principal vantagem do emprego da fibra colorida é a eliminação do uso de corantes na fase de acabamento do tecido, o que reduz o impacto ambiental do processo de tingimento, sendo apropriado para produção de tecidos ecológicos e orgânicos. Outra vantagem da fibra naturalmente colorida é o prêmio de até 100% que pode ser obtido pelos produtores, em relação à fibra branca convencional. Mas o algodão colorido também apresenta desvantagens. Pode contaminar algodões brancos durante o cultivo e o beneficiamento deve ser realizado separadamente. Sua produtividade é cerca de 10% menor do que as variedades brancas comerciais e a pluma colorida nem sempre alcança as exigências da fiação industrial. Além disso, são poucas as opções de cores e há problemas de comercialização, dada a grande incerteza que ainda existe nesse mercado (THE ICAC, 1993). Se as estimativas de produção de algodão orgânico são escassas, as informações sobre algodão orgânico colorido são ainda mais difíceis de serem obtidas. A área total cultivada com algodão orgânico colorido nos Estados Unidos foi estimada em 2.500 a 2.800 ha em 1994 (CHAUDRY, 1993). Há registros de apoio governamental para produção em Israel, na Índia e na Austrália, além da produção por comunidades tradicionais da Guatemala, México e Peru. No Peru cultiva-se cerca de 3.000 ha por ano. As 3.500 toneladas de algodão colorido atendem basicamente ao mercado local, com a produção de camisetas para uniformes escolares distribuídos pelo governo (VREELAND JUNIOR, 1993). O cultivo do algodão colorido por comunidades tradicionais do Peru com potencial para ser certificado como orgânico, representa uma alternativa ao cultivo de coca, além de apresentar fortes elementos de fair trade, ou comércio justo. Parte dessa produção vem sendo organizada por empresas como a Pakucho, que recebe a certificação orgânica da agência holandesa SKAL, e a Verner Frang, cuja produção é certificada pela sueca KRAV. As principais empresas norte-americanas que incentivam o cultivo da fibra orgânica e colorida nos Estados Unidos são a Natural Cotton Colours, Inc., que utiliza a marca registrada Fox Fibre, e foi responsável pelo cultivo de 2.000 a 2.500 ha em 1994, e a BC Cotton, Inc., com cerca de 400ha cultivados nesse mesmo ano (CHAUDRY, 1994). No Brasil, a iniciativa de produzir tecidos orgânicos com algodão orgânico e colorido foi da Baobá, uma empresa de tecidos artesanais de São Paulo, que já trabalhava com algodão orgânico. Os tecidos orgânicos da empresa são certificados pelo Instituto Biodinâmico (IBD), de Botucatu (SP), conforme os padrões orgânicos para têxteis estabelecidos pela IFOAM3. Diante da falta de fibra orgânica colorida certificada no País, foi necessário recorrer à importação de matéria-prima da empresa peruana Pakucho. Objetiva-se com este trabalho analisar o desenvolvimento da fitomassa, produção econômica, fibra e fio de várias populações do algodoeiro BRS 200 de porte arbóreo.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Campo Experimental da Embrapa do município de Patos, estado da Paraíba, Brasil, no ano de 2004. Foram envolvidos cinco tratamentos com cinco repetições, delineamento de blocos ao acaso, com parcelas de 6,0 m x 10,0 m (60,0m 2 ), com 20,0 m 2 de área útil para estimativa de produtividade e qualidade de fibra e duas fileiras para retirada das plantas para análise do crescimento. A área total foi de 58,0 m x 34,0 m = 1.972 m 2. Cada colheita de fitomassa foi feita de 20 em 20 dias, após, a emergência das plântulas até a primeira colheita, próximo dos 120 dias. Os tratamentos utilizados foram: T1 1,0 m x 1,0 m, uma planta/cova (10.000 plantas/ha); T2 1,0 m x 0,5 m, uma planta/cova (20.000 plantas/ha); T3 1,0 m x 0,3 m, uma planta/cova (33.333 plantas/ha); T4 1,0 m x 0,2 m, uma planta/cova (50.000 plantas/ha); T5 1,0 m x 0,1 m, uma planta/cova (100.000 plantas/ha); As variáveis analisadas foram: 1. Altura de planta (alt); 2. Comprimento médio por folha (cmpf); 3. Número de folha (nf); 4. Peso seco (ps) No controle as ervas daninhas os implementos utilizados foram: cultivo tração animal e retoque à enxada. RESULTADOS E DISCUSSÃO As análises de variância referentes à altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão no período de 02/03/2004, encontram-se na Tabela 1, pode-se verificar diante dos resultados obtidos que só houve significância estatística à nível de 0,05 pelo teste F para a variável: cmpf, portanto as outras variáveis: alt, nf e ps não foram significativas. Pelas Tabelas 2 e 3, pode-se verificar as análises de variância referentes à alt, cmpf, nf e ps da cultura do algodão nos períodos de 23/03/2004 e 13/04/2004 respectivamente, portanto observa-se comportamento semelhante ao período de 02/03/2004 da Tabela 01. Na Tabela 4 estão expostos os valores médios dos dados de alt, cmpf, nf e ps da cultura do algodão para os períodos: 02/03/04; 23/03/04 e 13/04/04, no entanto, as médias foram às mesmas nos diferentes períodos, ou seja, não havendo diferença significativa estatística ao nível de 0,05 de probabilidade pelo teste de Tukey.
Tabela 1. Resumos das análises de variância dos dados de altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão no período de 02/03/2004. (EMBRAPA /Campo Experimental / Patos, PB, Brasil, 2004). Quadrados Médios F.V. GL alt cmpf nf ps Tratamento 4 10,77 ns 9,39* 0,38 ns 0,63 ns Bloco 4 20,00 8,83 5,60 0,53 Erro 16 99,45 11,05 10,39 1,00 C.V. (%) 16,57 11,84 15,82 37,46 Significativo a 0,05 (*) e a 0,01 (**) de probabilidade; ns não significativo, pelo teste F. Tabela 2. Resumos das análises de variância dos dados de altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão no período de 23/03/2004. (EMBRAPA /Campo Experimental / Patos, PB, Brasil, 2004). Quadrados Médios F.V. GL alt cmpf nf ps Tratamento 4 10,77 ns 9,39* 0,38 ns 0,63 ns Bloco 4 20,00 8,83 5,60 0,53 Erro 16 99,45 11,05 10,39 1,00 C.V. (%) 16,57 11,84 15,82 37,46 Significativo a 0,05 (*) e a 0,01 (**) de probabilidade; ns não significativo, pelo teste F. Tabela 3. Resumos das análises de variância dos dados de altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão no período de 13/04/2004. (EMBRAPA /Campo Experimental / Patos, PB, Brasil, 2004). Quadrados Médios F.V. GL alt cmpf nf ps Tratamento 4 10,77 ns 9,39* 0,38 ns 0,63 ns Bloco 4 20,00 8,83 5,60 0,53 Erro 16 99,45 11,05 10,39 1,00 C.V. (%) 16,57 11,84 15,82 37,46 Significativo a 0,05 (*) e a 0,01 (**) de probabilidade; ns não significativo, pelo teste F.
Tabela 4. Valores médios dos dados de altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão para os períodos: 02/03/04; 23/03/04 e 13/04/04.(EMBRAPA /Campo Experimental / Patos, PB, Brasil, 2004). Médias Tratamentos Alt cmpf nf ps 1 14,47 a 6,15 a 5,13 a 0,74 a 2 14,23 a 6,41 a 5,20 a 0,62 a 3 16,04 a 7,35 a 5,07 a 0,94 a 4 15,47 a 7,49 a 4,87 a 0,52 a 5 15,03 a 7,68 a 5,20 a Em cada coluna e fator, médias seguidas de mesma letra não diferem entre si a nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. CONCLUSÃO Diante dos resultados obtidos das variáveis analisadas: altura de planta (alt), comprimento médio por folha (cmpf), número de folha (nf) e peso seco (ps) da cultura do algodão nos períodos de 02/03/04; 23/03/04 e 13/04/04, só houve significância estatística ao nível de 0,05 pelo teste F para a variável: cmpf. As médias foram às mesmas nos diferentes referidos períodos e variáveis estudadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIO-PIRATERIA. la história de los algodones de pigmentación natural em las Américas. Rafi Communique, 1993. 6 p. Disponível: <http://www.rafi.org/espanol/e19935.html>acessado em 31 mar. 1999]. CHAUDRY, M. R. Status of organic cotton production. In: INTERNATIONAL WORKSHOP ON COTTON PRODUCTION PROSPECTS FOR THE NEXT DECADE, 1994. Ismailia, 1994. 6 p. SANTANA, J. C. F. et al. O potencial de novas linhagens do algodoeiro arbóreo de fibras coloridas selecionadas no Nordeste do Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 1., Fortaleza, 1997. Anais... Campina Grande: Embrapa CNPA, 1997. p. 407-410. THE ICAC RECORDER: International Conference on Organic Cotton. The ICAC Recorder, v. 11, n. 4, 1993. p.11-14. VREELAND JUNIOR, J.. Naturally colored and organically grown cottons: anthropological and historical perspectives. In: BELTWIDE COTTON CONFERENCES, 1993. Proceedings... p.1533-1536.