Estudo de corrosão por pite in situ da liga de alumínio EN AC 46000

Documentos relacionados
ESTUDO DE LIGAS Al-Si FUNDIDAS EM MOLDE DE AREIA VERDE: EFEITO DA ADIÇÃO DE REFINADOR E DE MODIFICADORES DE GRÃO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS

INFLUÊNCIA DA TAXA DE RESFRIAMENTO E ADIÇÃO DE SR NA MICROESTRUTURA DE UMA LIGA A356 SOLIDIFICADA SOB CONDIÇÕES CONTROLADAS

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

0,35 máx. 0,25 máx. 0,25 máx. Certificado 0,251 7,293 0,009 0,003 0,010 0,14 0,005. 0,03 máx

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG ESCOLA DE ENGENHARIA - EE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA - PPMEC MARCEL DIAS DA SILVA

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DE LIGAS HIPEREUTÉTICAS Al-Si

ZAMAC MEGA ZINCO METAIS

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE LIGAS DE ALUMÍNIO

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

INFLUÊNCIA DA PRESSÃO NA MACROESTRUTURA E MICROESTRUTURA DE UMA LIGA AL-0,35%SI-0,40%MG SOLIDIFICADA ATRAVÉS DO PROCESSO SQUEEZE CASTING.

INSTRUMENTAÇÃO DE NANOTECNOLOGIAS APLICADAS À MATERIAIS AVANÇADOS

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO AERONÁUTICA I SMM 0181

CARACTERIZAÇÃO DE SUPEREFÍCIES DE LIGAS HIPEREUTÉTICAS Al-Si APÓS CORROSÃO

Correlação entre Microestrutura, Resistência à Tração e Resistência à Corrosão. Campinas, 2010.

DESENVOLVIMENTO DE UMA MATRIZ PARA ESTUDOS DE SOLIDIFICAÇÃO DE LIGAS DE ALUMÍNIO SOB CONDIÇÕES CONTROLADAS

TRATAMENTO TÉRMICO DE RESSOLUBILIZAÇÃO EM UMA LIGA DE ALUMÍNIO 7475-T7351*

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DA LIGA Al 6063 APÓS TRATAMENTOS TERMOMECÂNICOS

Estudo da influência do teor de bismuto no revestimento de zinco sobre o comportamento de corrosão de um aço galvanizado

AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LIGAS NANOCRISTALINAS DO SISTEMA Ti-Mo-Fe-Sn

INFLUÊNCIA DA PRESSÃO NA MICROESTRUTURA E DUREZA DA LIGA ALSI1MG0.5MN OBTIDA PELO PROCESSO SQUEEZE CASTING *

Trabalho 2º Bimestre Ciências dos Materiais

ANÁLISE DA MICROESTRUTURA E DA DUREZA DA LIGA DE ALUMÍNIO A.380 SOB DIFERENTES TEORES DE ESTRÔNCIO

Efeito da temperatura de tratamento térmico sobre a dureza de um ferro fundido branco multicomponente com alto teor de molibdênio

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E METALÚRGICAS DE LIGAS Al-Si FUNDIDAS POR INJEÇÃO SOB BAIXA PRESSÃO

MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LIGA DE ALUMÍNIO 1050 NA OBTENÇÃO DE AEROSSÓIS

ESTUDO DA CORROSÃO DO Al RECICLADO DA INDÚSTRIA DE BEBIDAS

CARACTERIZAÇÃO METALOGRÁFICA DA ESTRUTURA NA LIGA Al- 10%Cu SOLIDIFICADA UNIDIRECIONALMENTE EM MOLDES DE AÇO E COBRE COM 63 MM DE ESPESSURA

ANÁLISE MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE UM AÇO BAIXO CARBONO (ABNT 1015), SUBMETIDO À RECRISTALIZAÇÃO TÉRMICA PÓS-DOBRAMENTO.

EFEITO DA VARIAÇÃO DE PRESSÃO NA ETAPA DE COMPACTAÇÃO DA LIGA FE-NI-MO NO PROCESSO DA METALURGIA DO PÓ.

INFLUÊNCIA DE UM TRATAMENTO TÉRMICO DE RESSOLUBILIZAÇÃO ANTES DA LAMINAÇÃO DE UMA LIGA DE ALUMÍNIO 7475-T7351*

VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica

ESTUDO DO EFEITO DA VIBRAÇÃO NA SOLIDIFICAÇÃO DA LIGA 356.0

O que são ligas Leves e quando são competitivas?

4 MATERIAL E MÉTODO 4.1 LIGAS METÁLICAS

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

ANALISE DA MICROESTRUTURA E MICRODUREZA DA LIGA Zn-9%Sn SOLIDIFICADAS PELOS PROCESSOS SQUEEZE CASTING E GRAVIDADE EM MOLDE DE AREIA

ESFEROIDIZAÇÃO DO AÇO SAE 1080*

INFLUÊNCIA DA TAXA DE RESFRIAMENTO NA MICROESTRUTURA DE FERROS FUNDIDOS*

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DO CROMO NA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADE DE LIGAS Cu-Al-Ni COM EFEITO MEMÓRIA DE FORMA

CARACTERIZAÇÃO DE CAMADAS OXIDADAS CICLICAMENTE EM ALTAS TEMPERATURAS EM LIGAS Fe-5Si-5Cr E LIGAS Fe-Mn-Si-Cr-Ni.

COMPARATIVO ENTRE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX (UNS S32304) PELOS PROCESSOS DE SOLDAGEM POR RESISTÊNCIA E TIG*

DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO DA DUREZA E DA MICROESTRUTURA DO AÇO AISI 5160 NA CONDIÇÃO PADRÃO E ESFEROIDIZADO.

Palavras chave: Bronze alumínio. têmpera; revenimento; martensita ABSTRACT


Aula 07: Solidificação de ferros fundidos e ligas de alumínio

Tratamento térmico T4: solubilização e envelhecimento de ligas Al3,5%Cu

MATERIAIS DE CONSTRUÇÂO MECÂNICA II EM 307 TRABALHO PRÁTICO N.º 1. Observação e análise microscópica de diferentes tipos de materiais cerâmicos

Alumínio e suas ligas. A.S.D Oliveira

Análise dos efeitos dos tratamentos térmicos de solubilização e envelhecimento artificial sobre a microestrutura da liga de alumínio A356

Tecnologia dos Materiais Outras ligas metálicas não ferrosas

3 Material e Procedimento Experimental

escrita deste trabalho e sua submissão, os CDP s ainda não haviam retornado da UNICAMP. INTRODUÇÃO O alumínio é um dos metais não-ferrosos mais

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A CORROSÃO INTERGRANULAR DA LIGA AA 2198-T851 SOLDADA PELO PROCESSO FSW

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DO AÇO INOXIDÁVEL 17-4 PH NITRETADO UTILIZADO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS

Efeito da microestrutura de uma liga de aço carbono obtido por processos distintos

LAMINAÇÃO EM UM E DOIS PASSES DA LIGA AA1100 PARA FABRICAÇÃO DE EVAPORADORES ROLL BOND. Fernando Frias da Costa, Kátia Regina Cardoso

COMPARAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DA LIGA CONVENCIONAL AA2024-T351 E DA LIGA Al-Li 2098-T351

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

ESTUDO DA VELOCIDADE DE CORROSÃO EM LIGAS DE Al-3%Cu E Al-5%Cu

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

23º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2018, Foz do Iguaçu, PR, Brasil

SOLDAGEM LASER ND:YAG PULSADO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S Resumo

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E MICRODUREZA DE UMA LIGA DE AL-SI PROCESSADA POR FUNDIÇÃO SOB ALTA E BAIXA PRESSÃO

Tratamentos Térmicos de Solubilização e Envelhecimento a 475 o C em Aços Inoxidáveis CF8M

INFLUENCIA DA TEMPERATURA DE ENVELHECIMENTO NA TENACIDADE AO IMPACTO DA LIGA AA2024

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE INTERCEPTAÇÃO LINEAR NA DETERMINAÇÃO DE TAMANHO DE GRÃO DE UMA LIGA DE MAGNÉSIO AZ61 FORJADA A QUENTE

EFEITO DA TEMPERATURA DE REVENIMENTO NO AÇO ASTM A 522 UTILIZADO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS *

Aula 15 Solubilização e Precipitação. Mecanismos de Endurecimentos por:

3 Materiais e Métodos

INFLUÊNCIA DO GRAU DE DEFORMAÇÃO A FRIO NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE AÇOS DUPLEX DO TIPO 2205

5.3. ANÁLISE QUÍMICA 5.4. ENSAIO DE DUREZA

FUNDIÇÃO SOB PRESSÃO DAS LIGAS DE AL-SI: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE INJEÇÃO NAS MICROESTRUTURAS E PROPRIEDADES MECÂNICAS.

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E MECÂNICA DA LIGA DE ALUMÍNIO 319 PROCESSADA POR SPRAY E FORJADA

longitudinal para refrigeração, limpeza e remoção de fragmentos de solos provenientes da perfuração, Figura 10.

DIAGRAMAS DE FASES DIAGRAMAS DE FASES

DEFEITOS CRISTALINOS

ANÁLISE TERMODINÂMICA E EXPERIMENTAL DA FORMAÇÃO DA FASE SIGMA EM UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX SAF 2205 *

MICROESTRUTURA DA LIGA EUTÉTICA NiAl-Mo

Avaliação da microestrutura de juntas soldadas com gás acetileno em chapas de aço 1020

4- RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 SIMULAÇÕES EM THERMOCALC

AVALIAÇÃO DA MICROESTRUTURA DA LIGA DE TITÂNIO TI6AL4V APÓS TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO.

EFEITO DA TAXA DE SOLIDIFICAÇÃO NA MICROESTRUTURA DAS LIGAS Al-Si. Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 2

Keywords: AISI 316 steel, Electrochemical corrosion, Electrochemical polarization spectroscopy

COMPORTAMENTO CORROSIVO DE LIGAS DE MAGNÉSIO ZK30 E ZK60 EM SBF KOKUBO*

AVALIAÇÃO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO SOBRE A MICROESTRUTURA E RESISTÊNCIA A CORROSÃO DE UM AÇO DUPLEX*

ANÁLISE COMPARATIVA DA ADIÇÃO DE NB E TI NAS LIGAS Cu-11,8Al-0,5Be E Cu-11,8Al-3,0Ni PASSÍVEIS DO EFEITO MEMÓRIA DE FORMA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO 3/3 Período: de 05/08/2009 a 04/02/2010 WHIRLPOOL S/A UNIDADE COMPRESSORES

BRUNO BRUM MOURA AVALIAÇÃO DE REVESTIMENTOS DE INCONEL 625 DEPOSITADOS POR PROCESSO GMAW COM VARIAÇÕES NO NÚMERO DE CAMADAS E GÁS DE PROTEÇÃO.

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE BANHO COM MODIFICADOR DE SILÍCIO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA LIGA DE ALUMÍNIO SAE 305 1

ANÁLISE GRAVIMÉTRICA DO REVESTIMENTO DE ZINCO-NÍQUEL DE UM AÇO 22MnB5 E ZINCO PURO

INFLUÊNCIA DO TAMANHO DE GRÃO SOBRE A RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL AISI 304

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE REFINADOR DE GRÃOS NA LIGA DE ALUMÍNIO FUNDIDA A356

ANÁLISE DE FALHA EM CABO DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

ESTUDO DO PROCESSO DE LAMINAÇÃO DE FIOS DE COBRE: INFLUÊNCIA DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E DA TEMPERATURA DE PROCESSAMENTO

RESISTÊNCIA AO DESGASTE DE AÇOS MICROLIGADOS COM NIÓBIO

Influência da temperatura de recozimento dos aços inoxidáveis ASTM F-138 e ASTM F-1586 sobre sua resistência à corrosão

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

SOLDAGEM TIG. Prof. Dr. Hugo Z. Sandim. Marcus Vinicius da Silva Salgado Natália Maia Sesma William Santos Magalhães

Transcrição:

Estudo de corrosão por pite in situ da liga de alumínio EN AC 46000 Bruno do Nascimento Amancio Silva, Silvano Leal dos Santos, Leandro Antônio de Oliveira, Renato Altobelli Antunes Universidade Federal do ABC Av. dos Estados, 5001, Santo André-SP CEP: 09210-580 mara.oliveira@ufabc.edu.br Resumo O fenômeno da corrosão por pite tem uma importância tecnológica marcante em ligas de alumínio. A liga de alumínio EN AC 46000 tem aplicações na indústria automobilística e sua resistência à corrosão localizada deve ser elevada a fim de evitar a nucleação de trincas que possam levar à ocorrência de falhas em componentes estruturais. Esta liga é composta majoritariamente por Al, Cu, Si e Fe, tendo uma microestrutura complexa caracterizada pela presença de diferentes tipos de fases. A formação de pites está relacionada à presença de precipitados. Neste trabalho esse fenômeno foi investigado in situ por meio da imersão de amostras do material em um eletrólito de NaCl 3,5%p em diferentes períodos de tempo para promover a formação de pites de forma que foi possível identificar a localização preferencial para o aparecimento do pite no material. A evolução do processo corrosivo foi acompanhada por microscopia confocal de varredura a laser. Os resultados revelaram que a corrosão se inicia preferencialmente nas regiões adjacentes à fase acicular rica em Si. Palavras-chave: liga de alumínio; EN AC 46000; corrosão in situ 1. INTRODUÇÃO O alumínio e suas ligas apresentam aplicações consolidadas em variados setores industriais em virtude de uma combinação interessante de propriedades tais 5098

como baixa densidade, propriedades mecânicas adequadas, boa usinabilidade, alta condutividade elétrica e resistência à corrosão (1,2). A liga AlSi9Cu3(Fe) (EN AC 46000) é usada principalmente na indústria automobilística. Ela contém uma quantidade relativamente grande de cobre, acarretando em boas propriedades mecânicas e facilidade de processamento por fundição. Ela é usada especialmente para produção de peças fundidas complexas com paredes finas expostas a cargas dinâmicas e para componentes de motor (3,4). Sua principal desvantagem é a baixa resistência à corrosão (5). Esta liga liga é classificada como hipoeutética e apresenta diferentes fases. Cristalinas. A fase predominante é a matriz α-al que apresenta uma estrutura em forma de dendritas e também e por uma estrutura eutética Al-Si que está presente entre os ramos das dendritas (6). Os intermetálicos que possuem alta quantidade de silício, em sua maioria possuem forma de agulha o que faz com que sua dureza seja aumentada, mas em contrapartida atuam concentrando tensões devido ao seu formato (6). Outra fase que é formada na liga é o β-al5fesi que nucleia e tem seu crescimento na matriz. Esta possui forma de agulhas e apresenta elevada dureza (7). O efeito da microestrutura sobre as propriedades mecânicas das ligas de alumínio de uso automotivo e aeronáutico é amplamente investigado na literatura (8-10). Do mesmo modo, a influência de características microestruturais sobre o comportamento de corrosão de ligas de alumínio de uso estrutural é bem documentado (11-13). No entanto, existem informações escassas sobre o fenômeno de corrosão in situ da liga de alumínio EN AC 46000, buscando investigar a correlação entre sua microestrutura e os sítios preferenciais para inicio do processo de corrosão. O objetivo deste projeto foi investigar o fenômeno da corrosão por pite in situ da liga de alumínio EN AC 46000. Para isso a microestrutura da liga foi caracterizada por microscopia confocal de varredura a laser (CLSM) antes e após ensaio de corrosão em solução de NaCl. Os ensaios de corrosão foram conduzidos por imersão e também por métodos eletroquímicos. 5099

2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Preparação da liga e preparação das amostras para ensaios de corrosão Para obtenção dos corpos de prova foi realizada a fusão de 1 kg da liga EN AC 46000 em um cadinho de carbeto de silício em um forno elétrico. A liga foi aquecida a uma taxa de 100ºC/minuto até a temperatura máxima de 720ºC e mantida por 40 minutos para sua completa fusão; posteriormente, foi feito o vazamento em um molde permanente para obtenção dos corpos de prova em forma de tarugos com dimensões de 120 mm de comprimento x 20 mm de largura x 20 mm de espessura. A caracterização da composição química da liga foi feita por meio de espectrometria por emissão óptica, utilizando espectrômetro de centelhamento Modelo Espectromax Série 115733. A composição obtida é mostrada na Tabela 1. Tanto a fundição da liga como a caracterização química foi realizada na FATEC-SP. Tabela 1. Composição química da liga EN AC 46000 utilizada no trabalho. Elemento Si Fe Cu Mn Mg Zn Al Massa (%) 10,3 1,1 2,0 0,2 0,1 0,6 Bal. Após essa etapa, os corpos de prova foram cortados utilizando cortadeira metalográfica do tipo cut-off, com discos de carbeto de silício, deixando os corpos de prova com aproximadamente 25 mm de comprimento e mantendo as outras dimensões inalteradas. Com a necessidade da análise metalográfica das amostras foi feito o lixamento utilizando a seguinte seqüência granulométrica das lixas 200, 400, 600, 800 e 1200; em seguida, o polimento com suspensão de alumina 6 μm; por fim, foi feito o ataque com ácido fluorídrico 0,5% v/v por aproximadamente 45 s. Com o intuito de acompanhar a evolução da corrosão por pite nas amostras se fez necessária uma marcação para que a evolução do processo de corrosão pudesse ser acompanhada, associando as características microestruturais da liga aos eventos relacionados ao processo corrosivo. Com a utilização de durômetro Vickers. As amostras foram marcadas com uma dureza de 1 kgf. Para este 5100

procedimento foram feitas três marcas distintas e não lineares de forma que todas as marcações se localizassem dentro da região que seria exposta ao meio corrosivo. A análise microestrutural foi feita por meio de um microscópio confocal de varredura a laser (MCVL) (Olympus LEXT OLS4100) sendo obtidas as imagens antes e após os ensaios de corrosão. Os ensaios de corrosão foram conduzidos de duas maneiras, ensaio de imersão e ensaio eletroquímico. 2.2 Ensaio de imersão Para o ensaio de imersão foi utilizado como eletrólito a solução de NaCl 3,5%p por tempos determinados, sendo estes de 0h, 1h, 2h, 4h, 7h, 24 h. A superfície da amostra foi observada antes e após cada período de imersão, tendo como objetivo acompanhar a evolução do processo corrosivo e identificar se sua ocorrência estaria associada a alguma característica microestrutural específica. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Ensaio de Imersão Foi selecionada apenas uma das marcações para ser acompanhada a evolução da corrosão. Para cada marcação foi feito registro de quatro imagens obtidas em quadrantes conforme o esquema mostrado na Figura 1. O centro da imagem é o local da marcação. 5101

1 2 4 3 Figura 1. Esquema mostrando a metodologia empregada para obtenção das imagens de microscopia confocal de varredura a laser a fim de acompanhar a evolução do processo corrosivo da liga EM AC 46000 imersa por diferentes tempos em solução de NaCl 3,5% em massa. 3.1.1 Ensaio de Imersão t = 0 h Inicialmente foi feito o registro das imagens da amostra com a utilização do microscópio confocal no tempo igual a zero, mostrando que a amostra não apresenta nenhum sinal de pite visível no inicio do experimento (Figura 2). As imagens mostram os quatro quadrantes analisados. A marcação feita com o microdurômetro Vickers pode ser visualizada junto ao centro da Figura 2, em cada um dos quadrantes. Além disso, é possível verificar as diferentes fases presentes no material mesmo que esta não esteja com uma ampliação alta. As únicas marcas iniciais, que se encontram no meio das quatro imagens representam a marcação realizada pelo microdurômetro Vickers. 5102

Figura 2. Micrografias de MCVL da liga EN AC 46000 antes da imersão. 3.1.2 Ensaio de Imersão t = 1 h Após a primeira hora de exposição à solução de NaCl, é possível notar que ocorre o início da formação de corrosão por pite na amostra, demonstrando a facilidade com que esse fenômeno pode ocorrer conforme evidenciado na Figura 3. Com a ampliação da imagem é possível identificar o local de preferência para inicio da corrosão por pite. Esta acontece em sua preferência nas fases em forma de agulhas, que contém uma alta concentração de silício, representadas na cor escura na Figura 4. 5103

Figura 3. Micrografias de MCVL da liga EN AC 46000 para o tempo de imersão de 1 h. 5104

Figura 4. Micrografia de MCVL da liga EN AC 46000 para o tempo de imersão de 1 h, mostrando sítio preferencial para formação de pite. 3.1.3 Evolução do processo de corrosão para tempos mais longos A partir do tempo de imersão de 1 h o processo de corrosão se intensificou. Houve a nucleação de novos pites, além do aparecimento de manchas escuras em regiões corroídas junto à matriz de Al-α e sinais de corrosão em torno da marcação feita com o microdurômetro Vickers. O aspecto superficial da liga EN AC 46000 após 24 h de imersão em solução de NaCl 3,5% em massa é mostrado na Figura 5. Os contornos de grão e os contornos das fases Si/Al foram principalmente os focos da corrosão por pite.. 5105

Figura 5. Micrografias de MCVL da liga EN AC 46000 para o tempo de imersão de 24 h. 4. CONCLUSÕES A partir do ensaio de imersão foi possível identificar os locais nos quais acontece a corrosão por pite, ou seja, esta ocorre preferencialmente nos contornos de grão e nas delimitações das fases Si/Al, sendo que o processo foi mais marcante nas fases com alta concentração de silício, fases escuras em forma de agulha. 5106

. REFERÊNCIAS (1) WU, Y.; LIAO, H. Corrosion behavior of extruded near eutectic Al-Si-Mg and 6063 alloys. Journal of Materials Science and Technology, v. 29, p. 380-386, 2013. (2) ARTHANARI, S.; JANG, J.C.; SHIN, K.S. Corrosion studies of high pressure die-cast Al-Si-Ni and Al-Si-Ni-Cu alloys. Journal of Alloys and Compounds, v. 749, p. 146-154, 2018. (3) TIMELLI, G.; BONOLLO, F. The influence of Cr content on the microstructure and mechanical properties of AlSi9Cu3(Fe) die-casting alloys. Materials Science and Engineering A, v. 528, p. 273-282, 2010. (4) KOSEC, G.; NAGODE, A.; BUDAK, I.; ANTIÉ, A.; KOSEC, B. Failure of the pinion from the drive of a cement mill. Engineering Failure Analysis, v. 18, p. 450-454, 2011. (5) VONCINA, M.; MOCNIK, N.; NAGODE, A.; STOIC, A.; BIZJAK, M. Dependence of mechanical properties on Cu contente in AlSi9Cu3(Fe) alloy. Tehnicki Vjesniki, v. 24, p. 229-231, 2017. (6) SANTOS, R. G. Transformações de fases em materiais metálicos., Editora Unicamp. 2 ed, 2006. (7) SANTOS, S. L.; ANTUNES, R. A.; SANTOS, S. F. Influence of injection temperature and pressure on the microstructure, mechanical and corrosion properties of a AlSiCu alloy processed by HPDC. Materials and Design, v.88 p.1071 1081, 2015. (8) PANUSKOVA, M.; TILLOVA, E.; CHALUPOVA, M. Relation between mechanical properties and microstructure of cast aluminum alloy AlSi9Cu3. Strength of Materials, v. 40, p. 98-101, 2008. (9) BIN, S.-B.; XING, S.-M.; TIAN, L.-M.; ZHAO, N.; LI, L. Influence of technical parameters on strength and ductility of AkSi9Cu3 alloys in squeeze casting. Transactions of Nonferrous Metals Society of China, v. 23, p. 977-982, 2013. (10) ACHILCHANDRA, A.R.; ARNBERG, L.; BONOLLO, F.; FIORESE, E.; TIMELLI, G. Evaluating the tensile properties of aluminum foundry alloys through reference castings A review. Materials, v. 10, p. 1011-1022, 2017. 5107

(11) ARRABAL, R.; MINGO, B.; PARDO, A.; MOHEDANO, M.; MATYKINA, E.; RODRÍGUEZ, I. Pitting corrosion of rheocast A356 aluminium alloy in 3.5 wt.% NaCl solution. Corrosion Science, v. 73, p. 342-355, 2013. (12) KUCHARIKOVA, L.; LIPTAKOVA, T.; TILLOVA, E.; KAJANEK, D.; SCHMIDOVA, E. Role of chemical composition in corrosion of aluminum alloys. Metals, v. 8, p. 581-593, 2018. (13) FARAHANY, S.; OURDJINI, A.; BAKHSHESHI-RAD, H.R. Microstructure, mechanical properties and corrosion behavior of Al-Si-Cu-Zh-X (X=Bi, Sb, Sr) die cast alloy. Transactions of Nonferrous Metals Society of China, v. 26, p. 28-38, 2016. 5108

Study of in situ pitting corrosion of the EN AC 46000 aluminum alloy Bruno do Nascimento Amancio Silva, Silvano Leal dos Santos, Leandro Antônio de Oliveira, Renato Altobelli Antunes Universidade Federal do ABC Av. dos Estados, 5001, Santo André-SP CEP: 09210-580 leandro.oliveira@ufabc.edu.br Abstract The pitting corrosion phenomenon has a remarkable technological relevance for aluminum alloys. The EN AC 46000 aluminum alloy has applications in the automotive industry and its localized corrosion resistance must be high to avoid the nucleation of crack which can lead to mechanical failures of structural components. This alloy is mainly comprised of Al, Cu, Si and Fe, presenting a complex microstructure characterized by the presence of different crystalline phases. Pitting formation is related to the presence of precipitates. In this work, we investigated this phenomenon in situ by immersing the samples in an electrolyte consisting of NaCl for different periods of time. The evolution of the corrosion process was accompanied by confocal laser scanning microscopy. The results allowed to identifying that corrosion begins preferentially at the interface between silicon-rich phases and the aluminum matrix. Palavras-chave: aluminum alloy; EN AC 46000; in situ corrosion 5109