AS REVISTAS EM ACESSO ABERTO & AS POLÍTICAS DE DIREITOS AUTORAIS: O CASO DE REVISTAS NA PLATAFORMA SCIELO-BRASIL Ariadne Chloe Furnival Bianca Miranda Almeida Biredial-ISTEC 2014, Porto Alegre
Axiomas do estudo A publicação em revistas acesso aberto tem crescido continuamente no Brasil desde a inauguração da plataforma SciELO em 1997, e a ampla promoção do sistema SEER pelo IBICT. Mas mesmo entre essas publicações acesso aberto, ainda existem pontos confusos e contraditórios em torno de direitos autorais e direitos de reuso por autores e usuários-leitores. Esses pontos confusos às vezes se manifestam nas políticas de algumas revistas acesso aberto brasileiras.
Motivação do estudo O estudo aqui relatado foi inspirado pelo folheto publicado por SPARC, PLoS e OASPA HowOpenIsIt? (que agora existe em português). O Acesso Aberto engloba um conjunto de princípios relacionados com a leitura, a reutilização, os direitos de autor e as versões dos conteúdos legíveis e utilizáveis por máquinas. Nestas áreas, os editores e financiadores de ciência adotaram muitas políticas diferentes, umas mais abertas que outras. Em geral, quanto menos restrições à disponibilização imediata e reutilização são definidas pela política de uma revista, maior é o seu nível de abertura (SPARC, Plos, OASPA,2013).
Objetivo principal Aferir o conceito de acesso aberto explícita e implicitamente adotado no conjunto de revistas acesso aberto levantadas no SciELO, averiguando assim, o grau de abertura destas.
Fonte: http://www.crestock.com/image/338052-rail-road.aspx Duas vias para o Acesso Aberto
Repositórios digitais A via verde Brasil O OpenDOAR registra atualmente 85 repositórios de acesso aberto no Brasil (http://tinyurl.com/kay3cln)
A via dourada Publicar artigos científicos numa revista em OA pleno (p. ex.: PLoS, as revistas no SciELO) 937 revistas OA registradas no para o Brasil OU www.doaj.org Publicar numa revista híbrida que oferece a opção de publicar em acesso aberto ao lado dos modos tradicionais, com o autor ou agência de fomento à pesquisa pagando pela publicação.
Disponibilidade em OA por disciplina Björk B-C, Welling P, Laakso M, Majlender P, et al. (2010) Open Access to the Scientific Journal Literature: Situation 2009. PLoS ONE 5(6): e11273. doi:10.1371/journal.pone.0011273 http://www.plosone.org/article/info:doi/10.1371/journal.pone.0011273
Fonte: Scopus/ISI/M. Laakso/B.-C. Björk In: Van Noorden (2012)
Fortalecimento da via dourada no Brasil: SciELO Scientific Electronic Library Online Inaugurada em 1997 como um programa especial da FAPESP e em parceria com a BIREME. Com objetivo de dar visibilidade às publicações científicas da América Latina e o Caribe. Indicadores do SciELO hoje: 1.192 Periódicos 34.921 Fascículos 510.139 Artigos 11.392.293 Citações
Revistas OA A maioria segue as políticas editoriais e práticas das revistas convencionais; o rigor do processo de editoração, revisão e publicação de revistas em OA não deveria ser duvidado, como os padrões altos de muitos títulos do SciELO atestam. Mas ser acesso aberto não significa apenas ser livremente acessível online (Suber, 2010). Os idealizadores & gestores do DOAJ apoiam a definição seminal e forte de OA consagrada na Declaração da Budapest Open Access Initiative (BOAI):
DOAJ ::acesso aberto Da definição BOAI* de acesso aberto, apoiamos os direitos dos usuários a ler, fazer download, copiar, distribuir, imprimir, realizar buscas em, ou linkar aos textos completos desse artigos como mandatórios/obrigatórios para que uma revista seja incluída no Diretório (DOAJ, 2014, tradução nossa). http://doaj.org/about#definitions *BOAI = Budapest Open Access Initiative
BOAI Acesso aberto à literatura científica revisada por pares significa a disponibilidade livre na Internet, permitindo a qualquer usuário ler, fazer download, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar o texto integral desses artigos, recolhe-los para indexação, introduzi-los como dados em software, ou usá-los para outro qualquer fim legal, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas que não sejam inseparáveis ao próprio acesso a uma conexão à Internet. As únicas restrições de reprodução ou distribuição e o único papel para o direito autoral neste domínio é dar aos autores o controle sobre a integridade do seu trabalho e o direito de ser devidamente reconhecido e citado. http://www.budapestopenaccessinitiative.org/boai-10- translations/portuguese-brazilian-translation
Como isso se manifesta? No entanto, ao que parece, essa definição clássica e holística de acesso aberto não tem sido unanimemente abraçado por editores, autores, pesquisadores......pois existe um espectro variado de permissões, declarações de copyright, direitos autorais etc. vinculado às publicações disponíveis em plataformas como a SciELO e, inclusive, cadastradas no DOAJ.
HowOpenIsIt? O grau de abertura das revistas OA é nebuloso Um conglomerado de organizações ativas em promover a publicação científica em acesso aberto o SPARC, PLoS e OASPA recentemente publicou um folheto intitulado HowOpenIsIt? ( QuãoAbertoÉ? ) que esquematiza sucintamente atributos e critérios que podem ser usados para julgar se um dado documento/item pode ser caracterizado como acesso aberto de fato.
Questão da pesquisa Quão aberto são as revistas de acesso aberto da SciELO do ponto de vista dos direitos autorais, copyright e direitos de re-uso? Quais são os direitos de reuso do leitor/usuário? Quais são os direitos do autor do artigo publicado numa revista OA? Os direitos que o autor detém de um artigo seu determinarão o que esse autor poderá fazer com seu artigo após publicado na revista de acesso aberto, p.ex. auto-arquivá-lo num repositório digital, que representa a passagem da via dourada para a via verde...
Objetivos do estudo Identificar, a partir do levantamento de uma pequena amostra de revistas científicas disponíveis a partir da SciELO- Brasil, as políticas de direitos autorais e direitos de reusos das mesmas; Analisar as políticas editorais para averiguar o conceito de acesso aberto explícita ou implicitamente usado nas revistas levantadas, sinalizando, de certa forma, o grau de abertura destas.
Materiais e Método Pesquisa exploratória por natureza: condições limitadas não buscamos resultados generalizáveis. Pesquisa documental: leitura cuidadosa de documentos e páginas dos sites da internet das revistas OA, para colher dados. A amostragem envolveu o levantamento de títulos de periódicos correntes das áreas de Ciências da Saúde e Ciências Biológicas no SciELO-Brasil, o que correspondeu a um total de 117 títulos de periódicos correntes.
Passos seguidos DOAJ Checagem se título indexado (busca por título da revista) SciELO Página cada título: licenciado sob licença aberta? P.ex. CC Revista Instruções aos autores : cessão de direitos? Termos usados: copyright, direitos, autorais, cessão, termo, reservar, reservados, e seus equivalentes em inglês.
Resultados Quadro 1 Detalhes da amostra das revistas Total de Títulos Correntes no SciELO Títulos indexados no DOAJ (Não está no DOAJ) Ciências da Saúde Ciências Biológicos 91 83 8 26 23 3 117 106 11
Resultados Quadro 2 Políticas editoriais de direitos autorais e direitos de re-uso Títulos Licença Exige a Não CorrenLicença CC BY- CC BY-NC cessão permite exigem que: a tes outros no remixem, NC adaptem, dos e criem cessão obras dos SciELO derivadas no sobre a obra direitos licenciada, direitos sendo vedado index SciELO o uso com fins comerciais. As novas autorais autorais obras devem conter menção ao autor nos créditos ados e também não podem ao ser usadas com fins no comerciais, porém submeter as obras derivadas não DOAJ precisam ser Todo licenciadas o conteúdo o artigo sob os do mesmos termos desta licença Ciências periódico, (CREATIVE exceto COMMONS onde está BRASIL, da Saúde 83 identificado, 2014). 83 65 está (78%) licenciado 4 14 sob uma licença Creative Commons do tipo atribuição Não consta informação sobre direitos autorais de forma explícita Ciências BY-NC. Biológicos 23 23 9 (39%) 4 10 Total 106 106 74 8 24
Resultados Quadro 2 Políticas editorais de direitos autorias e direitos de re-uso Títulos Corren tes no SciELO index ados no DOAJ Licença CC BY- NC no SciELO Exige a cessão dos direitos autorais ao submeter o artigo Não exigem a cessão dos direitos autorais Não consta informação sobre direitos Cessão = Transferência autorais dos de direitos patrimoniais que forma Direitos patrimoniais também incluem: direito de explícita englobam os direitos de distribuição, adaptação, Ciências posterior utilização pelo autor, tradução, disseminação 14 da Saúde 83 83 incluindo pública, 65 (78%) o depósito publicação. 4 num repositório digital, por Ciências exemplo (MELERO, 2010). Biológicos 23 23 9 (39%) 4 10 Total 106 106 74 8 24
Exemplo: cessão de direitos autorais 3. O CEDENTE [autor] cede e transfere todos os direitos autorais relativos à OBRA à CESSIONÁRIA [revista], especialmente os direitos de edição, de publicação, de tradução para outro idioma e de reprodução por qualquer processo ou técnica. A CESSIONÁRIA passa a ser proprietária exclusiva dos direitos referentes à OBRA, sendo vedada qualquer reprodução, total ou parcial, em qualquer outro meio de divulgação, impresso ou eletrônico, sem que haja prévia autorização escrita por parte da CESSIONÁRIA (Visa em Debate, 2014). OBS: esta revista utiliza o software OJS do Public Knowledge Project
Exemplo: não cessão de direitos Boa prática Autores que publicam neste periódico concordam com os seguintes termos: 1. Autores mantêm os direitos autorais e concedem ao periódico o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial neste periódico. 2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico. 3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre). (AMBIENTE & SOCIEDADE, 2014).
Conclusão Uma certa contradição/confusão existe em relação aos direitos autorais e direitos de reuso: ao mesmo tempo que todas as revistas OA examinadas operam sob uma licença Creative Commons BY-NC, a maioria delas também exige que os autores dos artigos transfiram todos os direitos autorais à revista.?? Há de se lembrar que não existe regra que dite que as revistas OA não podem exigir a cessão dos direitos autorais...
As revistas OA aqui analisadas se localizam na parte do espectro a mais aberta ao falar dos direitos de reuso pelos usuários, mas ao mesmo tempo, a maioria delas tb. está localizada apenas um passo do ponto no espectro que marca a posição a mais fechada no que diz respeito aos direitos autorais, pela qual a Editora (Publisher) detém o copyright. Conclusão Direitos de reuso: direitos do leitor Todas as Revistas no Muitas revistas no SciELO Direitos autorais: ficam c/revista
Conclusão Assim, precisamos de maiores esclarecimentos com editores de revistas OA sobre que deveria significar OA para usuários e autores, para que as políticas editoriais de tais revistas possam ser cada vez mais coerentes e assim, trabalhar em prol da circulação e alcance de novas pesquisas científicas brasileiras.
Fonte: http://www.crestock.com/image/338052-rail-road.aspx Junção das duas vias para o OA
OBRIGADA! GRACIAS! Thank you for your attention! chloe@ufscar.br
References HARNARD, S. (2006). Opening access by overcoming Zeno s paralysis. In N. Jacobs, Open Access: key strategic, technical and economic aspects (pp. 73-86). Oxford: Chandos. MELERO, R. MELERO, R. Guia prática sobre los derechos partrimoniales o de explotación (copyright) y su relación con el auto-archivo en repositorios de acesso aberto. [S.l.]: [s.n.], 2010. Disponível em: <http://www.accesoabierto.net/es/bibliografia/guia-practica-sobre-los-derechos-patrimoniales-o-deexplotacion-copyright-y-su-relacion>. Acesso em: 4 ago 2014. PACKER, A. The SciELO Open Access: A gold way from the South. Canadian Journal of Higher Education, v. 39, n. 3, p. 111-126, 2009. SILVA, A. C.; LARA, C. Políticas Editoriales de Publicaciones Académicas en Línea en Latinoamérica. Santiago : Derechos Digitales, 2011. Disponível em: https://www.derechosdigitales.org/quehacemos/publicaciones/ ; acesso em: 4 ago 2014. SPARC, PLoS, OASPA. (2013). HowOpenIsIt? Disponível em: www.sparc.arl.org/sites/default/files/apps/plos%20oas_hoii%20portuguese0603%20final.pdf Acesso em: 10 out.2014. SUBER, P. (2012). Open Access. Cambridge, MA: MIT Press. WILLINSKY, J. (2006). The access principle: The case for open access to research and scholarship. Cambridge MA: MIT Press. VAN NOORDEN, (2012). Britain aims for broad open access. Nature News, 19 June, 2012. Disponível em: wavelets.ens.fr/boycott_elsevier/newspapers/2012_06_19_nature.pdf WILLINSKY, J. The access principle: The case for open access to research and scholarship. Cambridge MA: MIT Press, 2006.