PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=618>. Leishmaniose tegumentar americana em cão da raça Cocker Spainel proveniente da área urbana de Cachoeiro de Itapemirim atendido no HOVET-UFES Relato de caso Kelvinson Fernandes Viana 1, Lívia Ramos Teixeira 1, Natália Soares Teixeira 1, Patrícia Coleto de Freitas 2, Marcos Santos Zanini 2 ¹Acadêmicos de Medicina Veterinária UFES ²Departamento de Medicina Veterinária - UFES RESUMO As leishmanioses do Velho e do Novo Mundo compreendem variadas manifestações clínicas, acometendo em sua diversidade uma significativa parte da população mundial, incluindo adultos e crianças, além de várias espécies de animais silvestres e domésticos. Essa enfermidade tem apresentado perfis epidemiológicos periurbanos e urbanos bem caracterizados pela positividade de casos humanos em áreas de colonizações antigas, sugerindo uma antropozoonose entre os animais domésticos, como o cão, ou mesmo uma antroponose. Este trabalho relata um caso clínico de um cão proveniente da área urbana de Cachoeiro de Itapemirim, atendido no Hospital Veterinário da UFES, localizado em Alegre-ES, com Leishmaniose Tegumentar Americana e diagnosticado pela técnica de Western Blotting. Palavras - chave: Leishmaniose Tegumentar Americana, cão, Western Blotting
Leishmaniasis in the dog Cocker Spainel from the urban area of Cachoeiro of Itapemirim served in HOVET-UFES Case report ABSTRACT The leishmaniases in the Old and New World include varied clinical manifestations, affecting in their diversity a significant part of the world's population, including adults and children, and several species of wild and domestic animals. This disease has made epidemiological profiles and peri urban and characterized by the positive human cases in areas of ancient colonizations, suggesting an antropozoonose among domestic animals such as dogs, or even a antroponose. We report a case of a dog from the urban area of Cachoeiro of Itapemirim, served in the Veterinary Hospital of UFES located in Alegre-ES, with American leishmaniasis and diagnosed by the technique of Western Blotting. Keywords: leishmaniasis American, dog, Western Blotting INTRODUÇÃO As leishmanioses do Velho e do Novo Mundo compreendem variadas manifestações clínicas, acometendo em sua diversidade uma significativa parte da população mundial, incluindo adultos e crianças, além de várias espécies de animais silvestres e domésticos (WHO, 1990). As leishmanioses são basicamente resultantes da transmissão das formas infectantes promastigotas metacíclicas para hospedeiros mamíferos, quando o inseto vetor fêmea infectado vai exercer seu hematofagismo. Os hospedeiros invertebrados das espécies de Leishmania são dípteros flebotomíneos (subfamília Phlebotominae) do gênero Phlebotomus (distribuído no Velho Mundo) e do gênero Lutzomyia (distribuído no Novo Mundo). Duas espécies bastante estudadas e que podem ser encontradas no Brasil transmitindo os parasitas são: Lutzomyi intermedius e L. whitmani, as quais possuem a
denominação popular de mosquito palha (AZEVEDO et al., 1996; BRANDÃO- FILHO et al., 1994; MUTEBI et al., 1999; URIBE, 1999). A intensificação das investigações sobre a leishmaniose tegumentar americana (LTA) atualmente, principalmente no que se refere à Leishmania (Vianna) braziliensis na Região Sudeste, vem identificando um padrão epidemiológico diferente do já conhecido. Essa enfermidade tem apresentado perfis epidemiológicos periurbanos e urbanos bem caracterizados pela positividade de casos humanos em áreas de colonizações antigas, sugerindo uma antropozoonose entre os animais domésticos, como o cão, ou mesmo uma antroponose (MARZOCHI & MARZOCHI, 1994). A leishmaniose cutânea (LC) é definida pela presença de lesões exclusivamente na pele, que se iniciam no ponto de inoculação das promastigotas infectantes, através da picada do vetor, para qualquer das espécies de Leishmania causadoras da doença. A lesão primária é geralmente única, embora eventualmente múltiplas picadas do flebotomíneo ou a disseminação local possam gerar um número elevado de lesões (MARZOCHI, 1992). Segundo FALQUETO et al. (1986), a ocorrência de LTA no Espírito Santo mostrou nítida relação entre a presença de cães infectados e o surgimento de novos casos humanos da doença. O presente trabalho tem por finalidade, relatar um caso de leishmaniose tegumentar americana em um cão da raça Cocker Spainel proveniente da área urbana de Cachoeiro de Itapemirim, atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Espírito Santo. RELATO DE CASO Um cão da raça Cocker Spainel foi encaminhado ao Hospital Veterinário da UFES pelo Centro de Controle de Zoonoses de Cachoeiro de Itapemirim no mês de abril de 2009 para aula prática de anestesiologia veterinária. O animal apresentava-se senil, com aparência apática e imunodeprimido. Na altura da
articulação úmero-radial havia uma lesão em formato circular de aproximadamente 5 centímetros de diâmetro com borda alta, extremamente contaminada e com presença de miíases ao seu redor. Havia sido relatado que os proprietários do animal o doaram ao CCZ de Cachoeiro de Itapemirim em decorrência da ferida que há muito tempo não cicatrizava. O animal recebeu tratamento local com curativos à base de ungüento, açúcar e antibióticos, porém, a ferida não retrocedeu. Diante da suspeita clínica, uma amostra de sangue foi colhida da veia cefálica e encaminhada ao Laboratório de Microbiologia Veterinária da UFES para teste de leishmaniose tegumentar americana pela técnica de Western Blotting. Os dois primeiros testes realizados mostraram-se inconclusivos perante a técnica, com a marcação muito fraca das bandas de proteínas de Leishmania (Viannia) braziliensis da ordem de 27, 30 e 32 KDa (kilodaltons). Após o período de uma semana, outra amostra de sangue foi colhida e avaliada novamente, obtendo-se uma reação positiva satisfatória frente aos antígenos de Leishmania (leishmania) amazonensis (27, 30, 32, 45, 66 e 68 KDa). O cão foi então encaminhado ao setor de patologia do HOVET e eutanasiado. Resultados de testes de Western Blotting com soro canino para Leishmaniose Tegumentar Americana. Da esquerda para a direita: marcador de peso molecular, soro 1 (controle positivo) e soro 2 (soro do cão atendido no Hovet)
97,4 KDa 66,2 KDa 45 KDa 31 KDa 21,5 KDa 14,4 KDa DISCUSSÃO A lesão que o animal apresentava era sugestiva de leishmaniose por se tratar de uma lesão com bordos altos, em moldura e fundo granulomatoso, porém, o fato do cão estar constantemente mordendo a região, poderia sugerir também, que se tratava de uma ulcera traumática ou por contato do membro com o chão, não descartando a possibilidade de infecção por Staphylococcus aureus resistente, já que havia sido relatado que o animal apresentava a lesão há muito tempo; podendo os proprietários ter utilizado diversos antimicrobianos sem o devido sucesso. Um fato curioso neste caso, baseia-se na reação dos anticorpos IgG-2 frente aos antígenos testados na técnica de immunoblot, pois, nos dois primeiros testes a marcação das proteínas foi quase imperceptível, ao passo que no terceiro teste a reação se deu semelhante a uma alta titulação humoral. Vale ressaltar que o Cocker apresentou-se durante todo o período que passou no HOVET em estado de imunodeficiência, o que responderia a fraca resposta ao teste, que possui segundo BRITO et al. (2000), 91% de sensibilidade e 100% de especificidade, mas não responde a forte reação ao teste uma semana depois, visto que o cão encontrava-se nas mesmas condições.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, A. C. et al. The sand fly fauna (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) of a focus of cutaneous Leishmaniasis in Ilheus, state of Bahia, Brazil. Memórias do instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 91, n. 1, p. 75 79, 1996. BRANDÃO FILHO, S. P. et al. American cutaneous leishmaniasis in Pernambuco, Brazil: Ecoepidemiological aspects in Zona da Mata region. Memórias do instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 89, n. 3, p. 445 449, 1994. BRITO, M. E. F et al. Identification of Potentially Diagnostic Leishmania braziliensis Antigens in Human Cutaneous Leishmaniasis by Immunoblot Analysis. Clinical and Diagnostic Laboratory Immunology, v.7, n.2, p. 318 321, 2000 FALQUETO, A et al. Participação do cão no ciclo de transmissão de leishmaniose tegumentar no município de Vianna, Estado do Espírito Santo, Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.31, p.155-163, 1986. MARZOCHI, M. C. A Leishmanioses no Brasil: as leishmanioses tegumentares. Journal Brasileiro de Medicina v.63: p.82-104, 1992. MARZOCHI, M. C. A. & MARZOCHI, K. B. F. Tegumentary and visceral leishmaniasis in Brazil Emerging antropozoonosis and possibilities for their control. Cadernos de Saúde Pública, v10, p.359-375, 1994. MUTEBI, J. P. et al. Breeding structure of the sand fly Lutzomyia longipalpis (Lutz & Neiva) in Brazil. The American journal of medicine and tropical hygiene, Baltimore, v.61, n.1, p.149 157, 1999. URIBE, S. The status of the Lutzomyia longipalpis species complex and possible implications for Leishmania transmission. Memórias do instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 94, n. 6, p. 729 734, 1999. WHO (World Health Organization). Control of the Leishmaniasis. WHO Technical Report Series.Geneva: WHO, 1990