COMPORTAMENTO DE CULTIVARES DE ALGODÃO (Gossypium hirsutum L.) NO CERRADO DO ESTADO DE GOIÁS (*) Camilo de Lelis Morello 1, Eleusio Curvelo Freire 2, João Batista Duarte 3 José Wellington dos Santos 4, Francisco Pereira de Andrade 2 José Henrique Assunção 5, Washington Bezerra 6, Junior Inácio Fernandes 7. (1) Embrapa Algodão, Núcleo de Goiás, Caixa Postal 714, 74001-970, Goiânia, GO, e-mail cmorello@cnpa.embrapa.br; (2) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB e-mail eleusio@cnpa.embrapa.br (3) Universidade Federal de Goiás-Escola de Agronomia, Caixa Postal 131, 74001-970, Goiânia, GO; (4) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB e-mail jwsantos@cnpa.embrapa.br (5) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB (6) Embrapa Algodão, Núcleo de Goiás, Caixa Postal 714, 74001-970, Goiânia, GO, tonzinho@cnpa.embrapa.br (7) Fundação Goiás, 75920-000, Santa Helena de Goiás, GO. RESUMO O algodão (Gossypium hirsutum L. r.), é uma cultura explorada em toda a região Nordeste do Brasil, aparecendo como alternativa geradora de emprego e renda para o pequeno produtor. Neste trabalho objetivou-se avaliar as características da fibra das cultivares CNPA 7H Branco, CNPA 7H Verde e Aroeira do Sertão submetidas a diferentes arranjos populacionais (90 x 18,5 cm), (80 x 20,8 cm), (70 x 23,8 cm), (60 x 27,8 cm) e (50 x 33,3 cm), em condições de sequeiro no Brejo Paraibano. As variáveis referentes as características tecnológicas da fibra foram obtidas a partir da amostra padrão (20 capulhos do terço médio das plantas) coletada por ocasião da colheita e as mensurações efetuadas no Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa Algodão. As cultivares 7H Branco e Aroeira do Sertão se destacaram na maioria das características intrínsecas da fibra. A fibra da cultivar Aroeira do Sertão mostrou maior resistência enquanto a da cultivar 7H Verde maior índice de fibras curtas e reflectância. A maioria das características da fibra não foi afetada pelos arranjos populacionais. INTRODUÇÃO Entre as principais demandas tecnológicas dos produtores de algodão no cerrado goiano figura a disponibilidade de cultivares de alto potencial produtivo, com resistência ou tolerância às principais doenças e com qualidades tecnológicas de fibra. Através do melhoramento genético, com o desenvolvimento contínuo de novas cultivares, tem-se buscado atender essa demanda. Atualmente, em nível nacional, são disponíveis 32 cultivares comerciais, sendo 21 destas indicadas para cultivo no cerrado (ABRASEM, 2002). Em função da interação de genótipos com ambientes (GxA), a obtenção de informações acerca da estabilidade e adaptabilidade produtiva das cultivares faz-se fundamental para a indicação dos ambientes mais adequados para seus cultivos. O presente estudo objetivou verificar a produtividade de algodão em pluma de cultivares de algodão, bem como a ocorrência e magnitude da interação GxA, frente as variações de ambiente. Sabe-se que esse tipo de estudo além de subsidiar diretamente o processo de recomendação de cultivares, pode auxiliar também na escolha dos locais mais apropriados para teste do germoplasma correspondente. (*) Trabalho desenvolvido em parceria com a Fundação Goiás e apoio financeiro do FIALGO.
MATERIAL E MÉTODOS Na safra 2001/2002, dezesseis cultivares comercias foram arranjadas no Ensaio Regional Cerrado de Cultivares Embrapa Algodão/Fundação Goiás. Os experimentos foram conduzidos em dez locais do Estado de Goiás (Tabela 1). Cada experimento foi instalado no delineamento experimental em blocos ao acaso, com quatro repetições. Por ocasião da colheita, obteve-se a produção de algodão em caroço, por parcela, e, após o descaroçamento, o percentual de fibra. Posteriormente, foram obtidas a produção e a produtividade de algodão em pluma, ambas em kg/ha. Foram realizadas análises de variância por local, seguidas de uma análise conjunta envolvendo os dados de todos os locais. As análises individuais objetivam, em síntese, estimar imparcialmente as médias dos cultivares em cada local e avaliar a homogeneidade dos ensaios com respeito à precisão experimental. A análise conjunta propicia a estimação e o teste dos efeitos da interação GxA. O passo seguinte do estudo consistiu no desdobramento da clássica interação GxA por meio da chamada análise AMMI (additive main effects and multiplicative interaction analysis). Esta análise combina, num único modelo, componentes aditivos para os efeitos principais de genótipos (g i ) e de ambientes (e j ), e componentes multiplicativos para o efeito (ge) ij, tradicionalmente atribuído à interação (Duarte & Vencovsky, 1999). Adicionalmente, a análise produz as coordenadas dos genótipos e dos ambientes para a construção de uma representação gráfica chamada biplot. Neste gráfico pode-se avaliar visualmente e de modo simples a estabilidade dos genótipos, as similaridades entre estes e entre os ambientes, com respeito à interação GxA, assim como as afinidades adaptativas entre certos genótipos e ambientes (Crossa, 1990). RESULTADOS E DISCUSSÃO Observando-se a análise conjunta da variância, associada à decomposição AMMI dos efeitos da interação GxA (Tabela 2), verifica-se primeiramente a diferenciação significativa entre os genótipos e entre os ambientes avaliados. Ademais, observa-se efeitos significativos da interação GxA, o que revela especificidades adaptativas de certos genótipos a ambientes particulares. Isto indica também a possibilidade de existirem genótipos de adaptação ampla; ou seja, mais estáveis em produtividade quando sujeitos à variação ambiental. Considerando-se as médias conjuntas de locais (Tabela 1), verifica-se que todos cultivares produziram acima de 1800 kg/ha (120 @/ha), com exceção para BRS Antares com uma produtividade um pouco inferior. Essas produtividades podem ser consideradas bastante razoáveis, haja vista se tratar-se de médias de ambientes com diferentes potenciais produtivos. Por suas vezes, as diferenças ambientais também são perceptíveis em termos de médias a partir do conjunto de cultivares (Tabela 1). Nesse sentido houveram ambientes de alto potencial, como Chapadão do Céu, Mineiros, Indiara e Palmeiras, acima de 2200 kg/ha (146 @/ha), bem como ambientes de menor potencial, como Jussara e Acreúna, abaixo de 1300 kg/ha (86 @/ha). Deve-se fazer ressalva com relação a Montividiu, onde os desempenhos produtivos foram afetados por questões de manejo cultural, Acreúna onde conduziu-se as avaliações sob forte pressão de doenças, sobretudo fusarium associado a nematóide e em Goiatuba, onde houve elevada incidência de broca da raiz. Com relação aos efeitos da interação GxA, na representação gráfica do comportamento dos cultivares e ambientes (Figura 1), observa-se que os cultivares BRS CEDRO (G16), STONEVILLE 474 (G12), CNPA ITA 90 (G1), FIBERMAX 986 (G8), IPR 94 (G15), CNPA 97-4565 (G7), BRS IPÊ (G4), IAC 23 (G13) e FABRIKA (G10) apresentaram desempenho produtivo estável, revelando ampla adaptabilidade. Entretanto, dentro desse grupo de cultivares, observa-se ainda tendências especiais, como a adaptação ampla da cultivar BRS CEDRO (G16) e a adaptação a ambientes de maior produtividade, como Mineiros (A4), Indiara (A2) e Palmeiras de Goiás (A10) da cultivar STONEVILLE
474 (G12), com certo distanciamento de ambientes de menor produtividade, como Acreúna (A1) e Jussara (A5). Já o cultivar IPR 94 (G15), além de mostrar-se adaptado a ambientes favoráveis como Indiara (A2), apresentou uma tendência de adaptação a ambientes de menor produtividade, como Acreúna (A1) e Jussara (A5). Por outro lado, os cultivares FIBERMAX 966 (G9), DELTA OPAL (G2), MAKINA (G11), IAC 24 (G14), BRS SUCUPIRA (G5) e BRS ANTARES (G6) apresentaram baixa estabilidade produtiva, com adaptação a ambientes específicos. Neste sentido, os resultados indicam: interação positiva da cultivar FIBERMAX 966 (G9) com o local Palmeiras de Goiás (A10), que se caracterizou como um ambiente de alta produtividade; adaptação especial da cultivar DELTA OPAL (G2) a Chapadão do Céu (A8), ambientes de alta produtividade, e adaptação das cultivares MAKINA (G11) e IAC 24 (G14) a Cristalina (A6), Santa Helena de Goiás (A7) e Indiara (A2), os dois primeiros de média produtividade e o terceiro local de alta produtividade. As cultivares BRS SUCUPIRA (G5) e BRS ANTARES (G6) tiveram adaptação específica aos locais Acreúna (A1) e Jussara (A5), ambientes de baixa produtividade. CONCLUSÕES 1. Entre as cultivares avaliadas houve distinção quanto a estabilidade de produção e adaptação aos locais de teste, 2. Diversas cultivares apresentaram, mesmo em nível de média de ambientes, excelente potencial produtivo; 3. A significância da interação GxA, associada a adaptações específicas de alguns cultivares, revela que a indicação de cultivares de algodão para cultivo na região deve-se basear em informações obtidas de experimentação em nível de locais. 4. A análise AMMI mostrou ser uma ferramenta de aplicação prática favorável para a avaliação da estabilidade e adaptabilidade das cultivares, quanto ao caráter produtividade de pluma. Tabela 1. Cultivares (genótipos - G), locais (ambientes - A) e médias de produtividade de algodão em pluma (kg/ha) conjuntas de locais e de cultivares, respectivamente. Estado de Goiás, safra 2001/2002. Cultivares Simbologia Média Locais Simbologia Média CNPA ITA 90 G1 1946 Acreúna A1 1328 DELTA OPAL G2 1986 Indiara A2 2428 BRS AROEIRA G3 1877 Montividiu A3 1698 BRS IPÊ G4 1981 Mineiros A4 2459 BRS SUCUPIRA G5 1812 Jussara A5 1298 BRS ANTARES G6 1721 Cristalina A6 1917 CNPA 97-4565 G7 1934 Santa Helena de Goiás A7 1807 FIBERMAX 986 G8 1947 Chapadão do Céu A8 2596 FIBERMAX 966 G9 2037 Goiatuba A9 1704 FABRIKA G10 2047 Palmeiras de Goiás A10 2215 MAKINA G11 1958 --- --- --- STONEVILLE 474 G12 2016 --- --- --- IAC 23 G13 1849 --- --- --- IAC 24 G14 1838 --- --- --- IPR 94 G15 2019 --- --- --- BRS CEDRO G16 2100 --- --- ---
Tabela 2. Análise conjunta de variância e decomposição AMMI dos efeitos da interação GxA, em nível de médias, para dados de produtividade de pluma, no ensaio regional cerrado de cultivares de algodão em Goiás, safra 2001/2002. Fontes de Variação GL SQ QM F Blocos/Locais 30 1239559,11 41318,64 - Genótipos (G) 15 1854874,24 123658,28 6,85** Ambientes (A) 9 31860837,16 3540093,02 85,68** Interação GxA 105 1 3921486,94 29048,05 1,61** AMMI1 23 1289017,34 56044,23 3,10** Resíduo AMMI1 112 2632469,60 23504,19 1,30 ** AMMI2 21 1014435,67 48306,46 2,68** Resíduo AMMI2 91 1618033,93 17780,59 0,98 ns Erro médio 340 1 8124491,51 18054,43-1 - Graus de liberdade ajustados em função de heterogeneidade das variâncias residuais (Pimentel IPCA2 (kg/ha) 1/2 30 20 10 0-10 -20 A1(9) G6(16) A5(10) G3(12) G16(1) G5(15) G7(11) G15(5) A9(7) A2(2) G13(14) A7(6) G14(13) -30-20 -10 0 10 20 30 IPCA1 (kg/ha) 1/2 G4(7) G1(10) A6(5) G11(8) G2(6) G10(3) A8(1) G8(9) G12(4) A4(3) A3(8) A10(4) G9(2) Figura 1. Representação biplot AMMI2 (dois eixos principais de interação GxA, IPCA1 e IPCA2) para dados de produtividade de pluma (kg/ha) de dezesseis cultivares de algodoeiro (G), em dez ambientes (A)- ensaio regional cerrado de cultivares (Embrapa Algodão / Fundação Goiás), safra 2001/2002 (os números entre parênteses informam as ordens decrescentes das produtividades médias para genótipos e ambientes). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRASEM. Associação Brasileira dos Produtores de Sementes. Anuário. Goiânia, 2002. 135p. CROSSA, J. Statistical analyses of multilocation trials. Advances in Agronomy. v. 44, p. 55-85, 1990.
DUARTE, J. B.; VENCOVSKY, R. Interação genótipos x ambientes: uma introdução à análise AMMI. Ribeirão Preto: Socied. Brasil. Genét., 1999. 60 p. (Série Monografias, n. 9.)