EX LIBRIS: ESTUDOS JURÍDICOS DA ULBRA CAMPUS CACHOEIRA DO SUL



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EX LIBRIS: ESTUDOS JURÍDICOS DA ULBRA CAMPUS CACHOEIRA DO SUL

DANIEL DOTTES DE FREITAS JOÃO ALEXANDRE NETTO BITTENCOURT Organizadores EX LIBRIS: ESTUDOS JURÍDICOS DA ULBRA CAMPUS CACHOEIRA DO SUL 2ª Edição São Paulo Perse Editora 2013

Título Ex Libris: Estudos Jurídicos da Ulbra campus Cachoeira do Sul. Todos os direitos reservados aos organizadores. Proibida a reprodução no todo ou em parte, salvo em citações com a indicação da fonte. Printed in Brazil/Impresso no Brasil ISBN 978-85-8196-270-2 Organização e diagramação: Organizadores Capa: Felipe Bonoto Fortes Autoria e revisão: Autores É de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos e opiniões, bem como a originalidade dos respectivos textos. Ficha Catalográfica A866e Freitas, Daniel Dottes de; Bittencourt, João Alexandre Netto. (Orgs). Ex Libris: Estudos Jurídicos da Ulbra campus Cachoeira do Sul /Daniel Dottes defreitas; João Alexandre Netto Bittencourt. São Paulo: Perse, 2013. 276 p.; 14x21 cm ISBN 978-85-8196-270-2 1. Empresa individual de responsabilidade limitada: Uma abordagem sobre a mais recente modalidade de pessoa jurídica. 2. A possibilidade da inimputabilidade da agente em razão da eliminação da consciência no crime de infanticídio. 3. Direito à imagem da pessoa pública: Uma análise sobre a colisão entre o direito à intimidade e á Liberdade de expressão. 4. Os contratos de crédito com livre estipulação de juros e a aplicabilidade da teoria dutyto mitigate teh loss como um dos princípios da boa-fé objetiva. 5. A investigação criminal e o Ministério Público: as controvérsias jurídico-constitucionais acerca da legitimidade do procedimento investigatório criminal como instrumento hábil para a busca de elementos de informação. I. Título. CDD: 342 Índice para catálogo sistemático: 1.1. Empresa individual de responsabilidade limitada- Uma abordagem sobre a mais recente modalidade de pessoa jurídica: A possibilidade da inimputabilidade da agente em razão da eliminação da consciência no crime de infanticídio: Direito à imagem da pessoa pública - Uma análise sobre a colisão entre o direito à intimidade e à Liberdade de expressão: Os contratos de crédito com livre estipulação de juros e a aplicabilidade da teoria dutyto mitigate teh loss como um dos princípios da boa-fé objetiva: A investigação criminal e o Ministério Público - as controvérsias jurídico-constitucionais acerca da legitimidade do procedimento investigatório criminal como instrumento hábil para a busca de elementos de informação. 342

Apresentação A presente publicação, denominada Ex Libris: Estudos Jurídicos da Ulbra campus Cachoeira do Sul, produzida elo Curso de Direito da Universidade Luterana do Brasil, campus Cachoeira do Sul, em sua segunda edição, tem por objetivo proporcionar um espaço que incentive o diálogo acadêmico-científico de jovens pesquisadores, todos em fase de conclusão da graduação. Traduz-se nesta publicação a necessidade de fomentar, na rotina do acadêmico, a pesquisa, a fim de modificar o status quo, mudanças de paradigmas, iniciadas ao seu próprio entorno, sempre que salutar, acompanhando a evolução do conhecimento humano. A pesquisa na Universidade está ligada diretamente ao comprometimento com a educação, como motor do progresso dos povos. Não é admissível um templo do conhecimento ser hermético, deve, o aprendizado ali gestado, ser devidamente solidificado e entregue a todos de que dele queiram se beneficiar, por isso a necessidade de publicações nos cursos universitários. O direito, como ciência, sofre transformações da sociedade contemporânea, cada vez mais velozes, movidas pela globalização da tecnologia e, neste ritmo, a presente obra contempla as inovações perquiridas pelos jovens autores sedentos, pela busca do conhecimento. Neste contexto, a Universidade Luterana do Brasil, campus Cachoeira do Sul, através de seu Curso de Direito, sempre fomentou o debate sobre os mais variados ramos da ciência

jurídica, por acreditar que o desenvolvimento do profissional do direito e do próprio curso, necessariamente, passa pela busca incessante do conhecimento, principalmente através da pesquisa metodológica. Conscientes de que a investigação cientifica é imprescindível para manter o nível acadêmico do ensino, se publica as mais qualificadas pesquisas dos acadêmicos formandos no segundo semestre de 2012. Os organizadores,

Sumário EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA: UMA ABORDAGEM SOBRE A MAIS RECENTE MODALIDADE DE PESSOA JURÍDICA. Douglas Vivian Martins...7 A POSSIBILIDADE DA INIMPUTABILIDADE DA AGENTE EM RAZÃO DA ELIMINAÇÃO DA CONSCIÊNCIA NO CRIME DE INFANTICÍDIO. Jéssica Fogliatto Choaire...82 DIREITO À IMAGEM DA PESSOA PÚBLICA: UMA ANÁLISE SOBRE A COLISÃO ENTRE O DIREITO À INTIMIDADE E À LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Juliana Pereira Luiz...127 OS CONTRATOS DE CRÉDITO COM LIVRE ESTIPULAÇÃO DE JUROS E A APLICABILIDADE DA TEORIA DUTY TO MITIGATE THE LOSS COMO UM DOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ OBJETIVA. Marcelo Saldanha Machado...174 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E O MINISTÉRIO PÚBLICO: AS CONTROVÉRSIAS JURÍDICO-CONSTITUCIONAIS ACERCA DA LEGITIMIDADE DO PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL COMO INSTRUMENTO HÁBIL PARA A BUSCA DE ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO. Teilor Santana da Silva...216

EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA: UMA ABORDAGEM SOBRE A MAIS RECENTE MODALIDADE DE PESSOA JURÍDICA Douglas Vivian Martins 1 RESUMO: A história e evolução do direito comercial se desenvolveu no decorrer dos séculos, onde estes se aprimoram e atualmente são indispensáveis para a sociedade empresarial. A presente pesquisa visa aprofundar os estudos sobre a história da evolução do empresário individual, conhecendo as influências que sofreu e suas reais inseguranças perante o patrimônio pessoal em conformidade com as instabilidades ocasionadas pelo mercado financeiro e pelas legislações. Para a obtenção dos objetivos propostos para esta pesquisa, utilizou-se como método de trabalho a pesquisa bibliográfica, a qual se caracteriza pela utilização de materiais já elaborados principalmente de livros e artigos científicos. Como resultado identificou-se que a criação do Empresário Individual de Responsabilidade Limitada supriu anseios dos 1 Douglas Vivian Martins, acadêmico do Curso de Direito da Universidade Luterana do Brasil ULBRA, campus Cachoeira do Sul, RS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Disciplina de TCC II, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Professor Orientador: Carlos Henrique Selbach. [7]

empreendedores que desejam desenvolver a sua atividade econômica, com a segurança de saber que seu patrimônio pessoal está assegurado. Com base nos estudos realizados, conclui-se que não existe empresa sem risco, porém, também quanto mais a legislação diminuir os riscos daqueles que se aventuram a produzir ou circular bens ou serviços para o mercado, mais pessoas serão estimuladas a constituírem empresas, por isso, a criação do Empresário Individual de Responsabilidade Limitada, vem atender esta necessidade, e disponibilizar uma nova modalidade de personalidade jurídica. PALAVRAS CHAVE: Direito Comercial. Empresário Individual. Empresário Individual de Responsabilidade Limitada. SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Direito de Empresa. 2.1 Origens do Direito de Empresa. 2.2 A Alteração na Regulação do Direito de Empresa no Brasil. 3. Empresário Individual. 3.1. A Personalidade Diferenciada do Empresário Individual. 4. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). 4.1 As Espécies de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. 4.2 A Inscrição na Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. 4.3 As Consequências para a Ausência de Registro. 4.4 A Capacidade da Pessoa Natural para Constituição da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. 4.5 A Capacidade de Pessoa Jurídica para Constituição da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada 4.6 O Capital Mínimo. 4.7 O Nome Empresarial. 4.8 Objetivo da Atividade. 4.9 Administração da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. 5 Conclusão. 6 Referências Bibliográficas. [8]

1 Introdução Durante a Antiguidade existiam institutos pertinentes ao Direito Comercial. Naquela época, a população já praticava empréstimos a juros, celebravam contratos de sociedade, de depósito e de comissão, com base nos preceitos do Código de Hamurabi. Os fenícios constituíam referência comercial da região do Mediterrâneo pois se motivaram a construir navios, tornando-se grandes construtores e sagazes navegadores. Porém a formalização do Direito Comercial só ocorreu na Idade Média, pelas corporações de ofícios, onde os mercadores designaram de um Direito próprio, mais dinâmico do que o Direito Romano. O Direito Comercial está inteiramente ligado à atividade econômica; seu surgimento ocorreu através de seus próprios interessados, os comerciantes, que iniciaram na edição das normas reguladoras da atividade comercial. Na antiguidade, as feiras que existiam nas cidades [9]

medievais, fez surgir a profissão de comerciante. Fazendo-se um paralelo com os dias atuais, refere-se a comerciantes, a utilização da expressão empresário individual para identificar a pessoa natural que exerce a atividade na empresa, sendo assim o empresário não deve ser confundido com a pessoa jurídica. O empresário individual é a pessoa natural sem personalidade jurídica, que coloca em risco parte do seu patrimônio no dia-a-dia empresarial. Porém, esta não é a única possibilidade legal de exercer a atividade de uma empresa, de forma unipessoal, isto é, sem a existência de sócios. Primeiramente ao tratar-se da empresa individual de responsabilidade limitada, quanto à natureza jurídica, esta não é uma sociedade empresária, mas sim uma forma diferenciada de constituição de empresário individual. A empresa individual de responsabilidade limitada foi criada para sanar os anseios [10]

daqueles que desejam desenvolver atividade econômica com a segurança de saber que seu patrimônio pessoal está assegurado, como nas sociedades limitadas e anônimas, concedendo a ela o reconhecimento de pessoa jurídica de direito privado, de acordo com o artigo 44 do Código Civil Brasileiro. 2 Direito de Empresa 2.1 Origens do Direito de Empresa Nos meados do século XIX, despertouse a necessidade de codificar as leis inerentes às atividades comerciais. Todavia, conforme ensina Maria Clara Leite de Oliveira e Souza: A origem das associações entre os indivíduos é muito antiga, o conceito de sociedade remonta ao Código de Manu, feito na Índia em 1400 a.c., e no Código de Hamurabi, no século XXIII a.c., já se falava sobre essas entidades e a respeito da repartição dos lucros entre os interessados. 2 2 SOUZA, Maria Clara Leite de Oliveira e. Desconsideração da Personalidade Jurídica: Incorporação da Teoria no Direito Brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2836, 7 abr.2011. Disponível em <http://jus.com.br/revista/texto/18853>. Acesso em 15 set. 2012. [11]

Nas costas libanesas, teve início a base de troca das atividades econômicas desenvolvidas pelos fenícios quando se tornaram uma referência comercial da região do Mediterrâneo. Considerando que a única saída para transporte de mercadorias era o Mar Mediterrâneo, os fenícios se motivaram a construir navios, tornando-os grandes construtores e sagazes navegadores. Segundo Geraldo Afonso da Cunha: No decorrer dos séculos XVI e XV a.c. os Fenícios se destacaram na atividade comercial, que foi de grande importância. Eles fundaram várias colônias e através da navegação, foram intermediários do comércio entre a Ásia e as costas do Mediterrâneo, marcando o aparecimento de normas costumeiras marítimas de índole internacional. 3 3 CUNHA, Geraldo Afonso da. O Surgimento do Direito Comercial Através da Evolução das Corporações X a Visão da Arbitragem na Solução de Conflitos Comerciais no Brasil. Disponível em <http://www.monografias.com/trabajos16/surgimentodireito-comercial/surgimento-direito-omercial.shtml>. Acesso em 16 set. 2012. [12]

Com a expansão do comércio e o desenvolvimento tecnológico utilizados nas navegações, houve a necessidade de uma uniformização da escrita, surgindo, desse modo, a escrita alfabética. Esta escrita era utilizada para facilitar a indispensável escrita comercial do registro das transações e a elaboração de contratos e recibos, verificandose, em pesquisa histórica, que: Os fenícios eram um povo que vivia principalmente do comércio. Eram chamados de fenícios por causa da tinta cor de púrpura que comerciavam, eles precisavam de uma escrita simples e prática para fazer o controle de suas transações comerciais. Os sistemas disponíveis, a escrita cuneiforme e o hieroglífico, eram muito complicados para serem utilizados no dia-a-dia, precisavam de uma escrita mais dinâmica, fácil para que seus negócios fossem realizados com rapidez. Assim eles criaram uma escrita nova e original baseada em 22 caracteres (letra ou símbolo com que se escreve). Cada um desses caracteres representam um som diferente. Surgia assim o primeiro sistema fonético de escrita, que logo seria adaptado pelos gregos e, mais tarde, pelos romanos. Dessas adaptações surgiria o alfabeto moderno hoje utilizado por muitas línguas. 4 4 Pesquisa Histórica. Disponível em <http://histoblogsu.blogspot.com.br/2009/02/escrita-dosfenicios.html>. Acesso em 20 out. 2012. [13]

As transações comerciais rotineiras passaram a seguir regras de regulamentação escritas, merecendo destaque a Lex Rhodiade Iactu, que previa que, em caso de risco, o navio que transportasse mercadorias e fosse obrigado a se desfazer de parte de sua carga, teria seu prejuízo dividido proporcionalmente com os proprietários das mercadorias, ressaltando Leonardo Gomes de Aquino que: Tanto Waldirio Bulgarelli como Rubens Requião destacam a importância dos povos primitivos na atuação mercantil, lembrando, inclusive, que não tiveram um conjunto de normas especialmente destinadas ao comércio, embora façam menção à Lex Rhodia de Iactu, lei romana de inspiração fenícia, que cuidava do lançamento de carga ou parte desta ao mar para evitar o naufrágio [...]. 5 A expansão comercial grega, no século VII a.c., levou vantagem sobre o comércio marítimo comercial dos fenícios, iniciando-se, com isso, a decadência deste. Os gregos, com suas atividades comerciais, deram início ao 5 AQUINO, Leonardo Gomes de. Disponível em <http://profleonardoaquino.wordpress.com/ 2012/04/07/2-1-direito-comercial-na-antiguidade-1a-fase-2/>. Acesso em 16 set. 2012. [14]

instituto foenus nauticum (câmbio marítimo), referindo Cunha que: Os gregos também desenvolveram intensa atividade comercial e o principal instituto mercantil que chegou à modernidade foi o Nauticum Foenus, que foi escolhido no Digesto e chamado empréstimo a risco ou câmbio marítimo, e que viria também a integrar o Código Comercial Brasileiro de 1850. 6 Já no século V a.c., iniciou-se a expansão territorial do que se tornaria o Império Romano. Com características agrícolas, a difusão da atividade comercial em Roma deu-se vagarosamente, à medida que expandia o território e conquistava novas províncias, de onde originavam importações de artigos de luxo, metais preciosos e cereais, tornando os grandes comerciantes e usuários concentradores de imensas fortunas em suas mãos. Mesmo com toda a evolução do Direito 6 CUNHA, Geraldo Afonso da. O Surgimento do Direito Comercial Através da Evolução das Corporações X a Visão da Arbitragem na Solução de Conflitos Comerciais no Brasil. Disponível em <http://www.monografias.com/trabajos16/surgimentodireito-comercial/surgimento-direito-omercial.shtml>. Acesso em 16 set. 2012. [15]