Calibração e validação do modelo SEBAL para as condições semi-áridas do Nordeste brasileiro

Documentos relacionados
OBTENÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM ESCALA REGIONAL COM O USO DA EQUAÇÃO DE PENMAN-MONTEITH

Uso do sensoriamento remoto para a determinação da produtividade de água no Submédio São Francisco

evapotranspiração no perímetro irrigado de JAÍBA utilizando imagens de satélite

Modelagem de parâmetros biofísicos em pomares de mangueira por sensoriamento remoto no município de Petrolina-PE, Brasil

DETERMINAÇÃO DO BALANÇO DE ENERGIA COM IMAGENS LANDSAT 8 NO PERÍMETRO DE IRRIGAÇÃO NILO COELHO

Anais III Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006

APLICAÇÃO DE MODELO AGROMETEOROLÓGICO ESPECTRAL NO PERÍMETRO IRRIGADO DA BACIA DO SÃO FRANCISCO, UTILIZANDO IMAGENS RAPIDEYE

RELAÇÕES SOLO-ÁGUA-PLANTA-ATMOSFERA EM CULTURAS IRRIGADAS E VEGETAÇÃO NATURAL

MODELAGEM DA DINÂMICA DO BALANÇO DE ENERGIA COM IMAGENS LANDSAT 8 NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO-BA

Análises dos componentes dos balanços de radiação e de água por sensoriamento remoto em videiras para mesa no município de Petrolina-PE, Brasil

ESTIMATIVA DO FLUXO DE CALOR NO SOLO UTILIZANDO O ALGORITMO SEBAL/METRIC E IMAGENS SATÉLITES NA REGIÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA

ZONEAMENTO DAS CONDIÇÕES TÉRMICAS E HÍDRICAS DA VIDEIRA PARA VINHO NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO.

SENSORIAMENTO REMOTO NA ESTIMATIVA DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO BALANÇO DE ENERGIA E EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REGIÃO SEMIÁRIDA.

10º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 04 de agosto de 2016 Campinas, São Paulo ISBN

evapotranspiração e produção imagens landsat 8 no perímetro irrigado nilo coelho parte A: variações espaciais resumo

Determinação dos componentes do balanço de energia com imagens MODIS no município de Petrolina-PE, Brasil

REGIONALIZAÇÃO DE VARIÁVEIS HÍDRICAS POR SENSORIAMENTO REMOTO EM DIFERENTES AGRO-ECOSSISTEMAS

ESTIMATIVA DO SALDO DE RADIAÇÃO UTILIZANDO IMAGEM DO SENSOR MODIS/TERRA EM SUB-BACIAS DO PARACATU

Características do saldo de radiação na Amazônia Ocidental

ESTIMATIVA DO BALANÇO RADIATIVO EM ÁREA DE CAATINGA ATRAVÉS DE IMAGENS ORBITAIS MODIS. Francineide A. C. Santos 1, Carlos A. C.

Determinação da Produção de Biomassa e da Evapotranspiração em larga escala na bacia do Submédio São Francisco

ESTIMATIVA DO ALBEDO E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE UTILIZANDO IMAGENS ORBITAIS PARA O MUNICÍPIO DE BARRA BONITA SP

DETERMINAÇÃO DO REQUERIMENTO HÍDRICO DE VIDEIRAS PARA MESA EM LARGA ESCALA NO PÓLO PRODUTOR PETROLINA-PE/JUAZEIRO-BA

DETERMINAÇÃO DAS COMPONENTES DO BALANÇO DE ENERGIA À SUPERFÍCIE COM TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO NA REGIÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA

ESTIMATIVA DE PARÂMETROS BIOFÍSICOS EM ÁREAS IRRIGADAS UTILIZANDO IMAGENS DE ALTA RESOLUÇÃO ESPACIAL

Saldo de Radiação em Região Semiárida do Nordeste do Brasil

DERIVING THE LARGE SCALE WATER PRODUCTIVITY VARIABLES IN THE JUAZEIRO MUNICIPALITY, BRAZIL.

Obtenção de evapotranspiração e indicadores hídricos em perímetros irrigados usando imagens RapidEye

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO E UMIDADE DO SOLO USANDO DADOS DE SENSORES ORBITAIS EM ÁREA IRRIGADA

VALIDAÇÃO DO ALGORITMO SEBAL NO PERIMETRO IRRIGADO SENADOR NILO COELHO PETROLINA-PE RESUMO

Estimativa do albedo da superfície para o município de Itaituba PA a partir de imagens TM Landsat 5

EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL DIÁRIA UTILIZANDO PRODUTOS DO SENSOR MODIS/TERRA NA BACIA DO RIO PARACATU

MODELAGEM AGROMETEOROLÓGICA DA PRODUTIVIDADE DA ÁGUA DA BANANEIRA NAS CONDIÇÕES SEMIÁRIDAS DO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

Revista Brasileira de Geografia Física

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM ÁREAS COM DIFERENTES CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS UTILIZANDO O ALGORITMO SEBAL

Documentos 99. ISSN Outubro, Modelagem espaçotemporal dos componentes dos balanços de energia e de água no Semiárido brasileiro

IX SIMPÓSIO DE MEIO AMBIENTE INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS ANAIS DE RESUMOS EXPANDIDOS. Editor. Gumercindo Souza Lima ISSN

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DO NDVI UTILIZANDO O MODELO SEBAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

SALDO DE RADIAÇÃO POR MEIO DE IMAGENS ORBITAIS NA REGIÃO DA CHAPADA DO ARARIPE 1

2 Doutor Prof. Instituto de Ciências Atmosféricas, ICAT/UFAL,

Estimativa da evapotranspiração real diária para a microbacia do rio das Lontras utilizando algoritmo SEBAL e imagens Landsat 8

ANÁLISE DOS PARÂMETROS FÍSICOS DA SUPERFÍCIE DO SOLO EM CAATINGA PERNAMBUCANA

Acesso à qualidade dos dados em sistema das correlações turbulentas e impacto no cálculo da evapotranspiração da cultura da mangueira

Estimativa dos valores de saldo de radiação e fluxo de calor no solo em diferentes condições antrópicas na bacia do rio Ji-Paraná, Rondônia

TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS NO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO PETROLINA-PE/JUAZEIRO-BA. ANTÔNIO H. de C. TEIXEIRA 1

BALANÇO DE RADIAÇÃO PELO EMPREGO DO ALGORITMO SEBAL E IMAGEM LANDSAT 8 NO MUNICÍPIO DE TABULEIRO DO NORTE-CE

Estimativa dos valores de Saldo de Radiação e de Fluxo de Calor no Solo no município de São José do Sabugi PB (Brasil), utilizando o algoritmo SEBAL

Estimativa do balanço de radiação em áreas irrigadas utilizando imagem do Landsat 5 - TM

Alexandro Medeiros Silva 1 Richarde Marques da Silva 2

Uso do satélite Landsat 8 na determinação da produtividade da água em bacia hidrográfica com predomínio do uso agrícola da cana-de-açúcar

ANÁLISE DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE CULTURAS IRRIGADAS ATRAVÉS DE SENSORIAMENTO REMOTO 1 Folhes, M.T 2.; Soares, J.V 3.; Rennó, C.D 4

NYRON FERNANDO SILVA DA COSTA 1,2 FREDERICO TEJO DI PACE 2 SAMUELLSON LOPES CABRAL 2

BALANÇO HÍDRICO EM LARGA ESCALA COM IMAGENS LANDSAT 8 EM AGROS-ECOSSISTEMAS DO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

USO DE IMAGENS TM LANDSAT 5 PARA ANÁLISE DO ALBEDO E SALDO DE RADIAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CAMARAGIBE: DESTAQUE PARA SÃO LUIZ DO QUITUNDE-AL

Quantificação de parâmetros da produtividade da água com imagens Landsat em condições de mudança de uso da terra no distrito de irrigação Nilo Coelho

AVALIAÇÃO DO SALDO DE RADIAÇÃO OBTIDO COM IMAGENS MODIS NA REGIÃO NORTE FLUMINENSE, RJ

OBTENÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO CARIRI COM USO DO METRIC GETTING THE SURFACE TEMPERATURE OF CRIRI USING THE METRIC

Determinação do coeficiente de cultivo e da evapotranspiração real do algodão irrigado utilizando imagens de satélite

Obtenção do albedo e IVDN em áreas heterogêneas do estado do Ceará com imagens TM - Landsat 5 e algoritmo SEBAL/METRIC

OBTENÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA VEGETAÇÃO DE CAATINGA NO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA DO NORTE RN

7 Agrometeorologia. Janice Freitas Leivas Antônio Heriberto de Castro Teixeira Ricardo Guimarães Andrade

Análise da Variabilidade Espaço-Temporal da Evapotranspiração na Parte Cearense da Chapada do Araripe

Estimativa de fluxos de energia por meio do modelo METRIC em região semi-árida

VARIABILIDADE ESPAÇO TEMPORAL DO EVI E DO FLUXO DE CALOR NO SOLO NO SERTÃO DE PERNAMBUCO COM BASE EM IMAGENS DO MODIS/TERRA

Hotel Ritz Lagoa da Anta - Maceió - AL 30 de julho a 03 de agosto de 2017

Relações do fluxo de calor no solo com o uso e cobertura das terras na bacia hidrográfica do salitre, sertão da Bahia

ÍNDICES HÍDRICOS PARA ÁREAS IRRIGADAS NA REGIÃO DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA PETROLINA/JUAZEIRO 1 RESUMO

COMPONENTES DO BALANÇO DE ENERGIA ESTIMADOS PELO SEBAL-SURFACE ENERGY BALANCE ALGORITHM FOR LAND - E MEDIDOS EM CAMPO RESUMO

ESTIMATIVA DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE UTILIZANDO DADOS DE NOAA AVHRR* RESUMO

MONITORAMENTO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POR SENSORIAMENTO REMOTO EM ÁREAS DE AGRICULTURA IRRIGADA NO BRASIL

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA NO ESTADO DO CEARÁ

5. Evaporação e Transpiração

Saldo de radiação e Fluxo de calor no solo para a Micro Bacia Hidrográfica de Serra Branca PB Usando técnicas de Sensoriamento remoto

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO REQUERIMENTO HÍDRICO DA CULTURA DO MILHO NO ESTADO DE SÃO PAULO

AVALIAÇÃO DA FRAÇÃO EVAPORATIVA PARA CONVERSÃO DE MEDIDAS INSTANTÂNEAS EM VALORES DIÁRIOS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO

AVALIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO SALDO DE RADIAÇÃO NO FOOTPRINT DO SENSOR LAS (LARGE APERTURE SCINTILLOMETER)

Revista Brasileira de Geografia Física

Estudo da evapotranspiração real diária utilizando imagem de satélite na bacia do rio Paracatu

RESPOSTA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA VEGETAÇÃO CAATINGA AOS CENÁRIOS REGIONALIZADOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

CONSTRUÇÃO DE SÉRIES TEMPORAIS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL POR SENSORIAMENTO REMOTO USANDO REGRESSÃO LINEAR: ESTUDO DE CASO NA BACIA DO RIO PRETO DF 1

DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL ENERGETICO FOTOVOLTAÍCO NA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI POR IMAGEM DE SATÉLITE

OBTENÇÃO DO ALBEDO DE ÁREAS IRRIGADAS E DE VEGETAÇÃO NATIVA EM PETROLINA E VIZINHANÇAS COM IMAGEM LANDSAT 7 - ETM+

RELATÓRIO PRELIMINAR DE VALIDAÇÃO E INTERCOMPARAÇÃO DOS MODELOS DE TRANSFERÊNCIA RADIATIVA ADOTADOS NO PROJETO SWERA

COMPARAÇÃO DA MEDIÇÃO DE RADIAÇÃO DE ONDA LONGA ATMOSFÉRICA COM MÉTODOS DE ESTIMATIVAS EM ÁREA DE PASTAGEM NO ESTADO DE RONDÔNIA.

EFEITOS DA FUMAÇA SOBRE A DETERMINAÇÃO DO NDVI MARCELO LIMA DE MOURA LÊNIO SOARES GALVÃO

BALANÇO DE RADIAÇÃO EM ÁREAS IRRIGADAS UTILIZANDO IMAGENS LANDSAT 5 - TM

Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE

DIAGNÓSTICO DA VARIABILIDADE ESPACIAL DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE NUM MUNICÍPIO DO SEMI-ÁRIDO PERNAMBUCANO

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DOS ÍNDICES DE VEGETAÇÃO EM ÁREA CONTENDO A BACIA DO RIO PRATAGY-AL

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE DOIS MÉTODOS DE EVAPOTRANSPIRAÇAO DE REFERÊNCIA (ET0) PARA A REGIÃO AGRESTE DE ALAGOAS

Estimativa da Temperatura da TST

8º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 14 de agosto de 2014 Campinas, São Paulo

MODELAGEM HÍDRICA NA CULTURA DA MANGUEIRA NO PÓLO PRODUTOR BRASILEIRO PETROLINA-PE/JUAZEIRO-BA

Estimativa do balanço de energia na RMRJ utilizando dados de sensoriamento remoto.

Estimativa de Evapotranspiração a partir da Radiação global estimada por Satélite no Nordeste do Brasil

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE

Utilização da detecção remota para estimar a distribuição espacial da evapotranspiração de região semiárida e série temporal MODIS.

EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL PARA DIFERENTES COBERTURAS VEGETAIS NO NOROESTE PAULISTA EM PERÍODO SECO 1

ANÁLISE COMPARATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL ENTRE AS ÁREAS DE PASTAGEM E FLORESTA NA AMAZÔNIA CENTRAL RESUMO ABSTRACT

USO DO SENSORIAMENTO REMOTO NA IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS VULNERÁVEIS AO PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO

Transcrição:

Calibração e validação do modelo SEBAL para as condições semi-áridas do Nordeste brasileiro Antônio Heriberto de Castro Teixeira 1 Wim G.M. Bastiaanssen 2,3 1 Embrapa Semi-Árido, CP 23, 56302-970, Petrolina, PE, Brasil. heribert@cpatsa.embrapa,br 2 WaterWatch, Generaal Foulkesweg 28, 6703 BS, Wageningen, The Netherlands; 3 Delft University of Technology, Stevinweg 1, 2600 GA, Delft, The Netherlands w.bastiaanssen@waterwatch.nl Abstract. There is a growing interest in quantifying regional scale actual evapotranspiration (ET) for water accounting and for water productivity assessments at river basin scale. Methods that provide point values fail to describe the situations at larger scales. Remote sensing measurements can be used at different spatial scales. This paper applies the theory of the Surface Energy Balance Algorithm for Land (SEBAL). SEBAL was originally derived for Egypt, Spain and Niger (Bastiaanssen, 1995) and was calibrated and validated using ground measurements from four flux sites and from seven agro-meteorological stations in the semi-arid region of the Low- Middle São Francisco River basin, Brazil. Measured parameters included surface albedo, surface temperature, atmospheric and surface emissivity, soil heat flux, surface roughness, net radiation, air temperature gradients, sensible heat flux, latent heat flux, evaporative fraction, and photosynthetically active radiation. Most of the expressions required a slight correction for acquiring agreement with the field data. The daily ET was estimated for mixed agricultural and natural ecosystems. The improved coefficients for the local conditions can now be used to study the impact of expanding irrigated agriculture on the regional water balance and to quantify the water productivity of irrigated horticulture that is the largest water consumer in the Brazilian semi-arid region. Keywords: latent heat flux, sensible heat flux, soil heat flux, net radiation, evaporative fraction, evapotranspiration. Palavras chaves: fluxo de calor latente, fluxo de calor sensível, fluxo de calor no solo, saldo de radiação, fração evaporativa, evapotranspiração. 1. Introdução A precisão na determinação da evapotranspiração atual (ET) reduz significativamente incertezas no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. Medidas de ET em áreas de parreirais, pomar de manga e vegetação natural (caatinga) foram feitas no sub-médio São Francisco. Métodos micro-meteorológicos foram usados que fornecem valores pontuais para locais específicos (Teixeira et al., 2007, 2008a,b). As extrapolações diretas de dados pontuais para escala regional podem conduzir erros nas estimativas de ET, porque medidas locais de fluxos não podem fornecer uma amostragem precisa para uma área maior (Wylie et al., 2003). Um dos algoritmos usados para estimativa da ET em escala regional por sensoriamento remoto é o Surface Energy Balance Algorithm for Land - SEBAL (Bastiaanssen, 1995). Embora este algoritmo tenha sido elaborado para calcular os componentes do balanço de energia em escala regional usando um mínimo de dados de campo, a parametrização local das equações pode melhorar a precisão das equações (Duchemin et al., 2006). Este trabalho atual combina dados do satélite Landsat e medições de campo para rever as equações empíricas do algoritmo SEBAL, assim como a validação final do evapotranspiration 4905

regional em escala diária. As equações relevantes foram adaptadas para as condições semi-áridas do sub-médio São Francisco, e aplicadas então a cada imagem individual do satélite Landsat. 2. Metodologia de trabalho 2.1. Medições do satélite Landsat O algoritmo SEBAL exige dados de radiação espectral juntamente com dados agrometeorológicos. O algoritmo computa o saldo de radiação (R n ), fluxo de calor sensível (H) e o fluxo de calor no solo (G) para cada pixel de uma imagem de satélite e o fluxo de calor latente (λe) é adquirido como resíduo na equação do balanço de energia no momento da passagem do satélite: λ E= R n H G (1) All terms in Equation 1 are expressed in W m -2. O saldo de radiação de ondas curtas disponível na superfície depende da radiação solar global incidente (R G ) e do albedo da superfície (α 0 ). O segundo parâmetro é calculado através das radiações espectrais para cada banda do satélite, seguido por aplicações de expressões matemáticas para a integração espectral e correções atmosféricas. Neste trabalho foram usadas uma imagem do Landsat 7 (10/09/2001) e nove imagens do Landsat 5 (04/10/2001, 06/07/2003, 24/09/2003, 12/10/2004, 14/11/2004, 15/10/2005, 16/11/2005, 30/07/2006, 22/01/2007). R G em escala regional neste trabalho foi computado pela interpolação de dados de sete estações agrometeorológicas em Pernambuco e na bahia. O albedo planetário para cada banda do Landsat ( α ) foi calculado como: 2 Lbπd α p = (2) b R cosϕ ab onde L b é a radiação espectral para comprimentos de onda da banda b, d é a distância relativa terra-sol; R a radiação solar média na parte superior da atmosfera para cada banda (W m -2 µm - a b 1 ); e ϕ é o ângulo zenital solar. O albedo planetário (α p ) é calculado como a soma total dos valores de α p de acordo com o peso cada banda (w b b ). As faixas 1 5 e 7 do Landsat fornecem dados para as bandas de radiação visível e infravermelho próximo usadas para os cálculos do albedo. A radiação espectral na banda 6 (L 6 ) do Landsat é convertida em uma temperatura radiativa aplicável na parte superior da atmosfera (T sat ) pela inversão da lei da Plank na faixa de comprimento de onda 10.4-12.5 µm: p b T sat K 2 = (3) K1 ln( ) L + 1 6 4906

onde L6 é a radiação térmica não corrigida recebida pelo sensor do satélite; e K1 (607.76 e 666.09 para Landsat 5 e 7, respectivamente) e K2 (1260.56 e 1282.71 para Landsat 5 e 7, respectivamente) são coeficientes de conversão. A radiação de ondas longas emitida (RL ) é obtida usando a equação de Stefan- Boltzmann com a emissividade da superfície (ε 0 ) e a temperatura de superfície (T 0 ) adquirida pelo satélite após correções. A radiação de ondas longas incidentes (RL ) é calculada também usando a equação de Stefan-Boltzmann com a emissividade atmosférica (ε a ) e dados da temperatura do ar (T a ). As calibrações locais dos termos do balanço de radiação são explicadas nas seções seguintes. A segunda etapa do SEBAL é computar os valores regionais de G e de H. O primeiro termo é calculado pela relação G/R n. H é obtido pelos gradientes de temperatura próximos à superfície ( T). O algoritmo SEBAL computa T através do seu relacionamento linear com T 0, e os coeficientes desta relação são adquiridos depois de um procedimento interno da calibração (Allen et al., 2007a). O algoritmo usa dois pixels de referência em que valores para H podem ser estimados com base nas estimativas em uma área seca pixel quente (H q ) e em uma área úmida pixel frio (H f ). 2.2. Medições de campo Os quatro experimentos de campo envolveram medições de balanço de radiação e energia nas principais culturas irrigadas e na vegetação natural na região semi-árida do Submédio São Francisco (Tabela 1). Tabela 1: Experimentos de balanço de energia usados na calibração e validação do SEBAL na região semi-árida do Submédio São Francisco. Vegetação Coordenadas Área Sistemas de Métodos (latitude, longitude) (ha) irrigação Uva para vinho 9 o 16' 01.73'' S; 40 o 11 32.62''W 4.13 Gotejamento Razão de Bowen Uva para mesa 9 o 18' 40.84'' S; 40 o 22' 29.47''W 5.13 Micro aspersão Razão de Bowen Manga 9 o 22' 32.20'' S; 40 o 33' 54.23''W 11.92 Micro aspersão Correlações turbulentas Caatinga 9 o 03' 30.71'' S; 40 o 19' 45.21''W - Sem irrigação Correlações turbulentas Os experimentos são descritos em Teixeira et al. (2007), em Teixeira et al. (2008a) e em Teixeira et al. (2008b). Dados de sete estações agro-meteorológicas automáticas foram usados através de interpolação para os cálculos do SEBAL e para computar os valores regionais da evapotranspiração da referência (ET 0 ) pelo método do Penman-Monteith para grama (Teixeira et al., 2007). 3. Resultados e discussão 3.1 Obtenção dos componentes do balanço de radiação em escala regional A atmosfera perturba o sinal que alcança o sensor do satélite. Parte de R G é refletida de volta para antes que alcance a superfície de terra. Uma correção é então necessária para a estimativa do albedo da superfície (α 0 ). Para correção desse efeito uma regressão através de medições de campo de α 0 de α p pelo Landsat foi aplicada: 4907

α = α b (4) 0 a p + Com os coeficientes a = 0,61 e b = 0,08 (R 2 = 0,90), a Equação 4 foi aplicada a todas as imagens Landsat para determinar a variação espacial de α 0. Uma segunda equação de regressão foi necessária para produzir os valores diários de α 0 a partir dos valores instantâneos, que foi então usada no cálculo do saldo de radiação para 24 horas requerida para a obtenção da evapotranspiração na escala diária (Teixeira et al., 2008b). A Figura 1 mostra a variação regional do albedo diário para as épocas seca e chuvosa na região de estudo. Figura 1. Valores diários de albedo para o período seco em outubro de 2005 (a) e para o período chuvoso em janeiro de 2004, na região semi-árida do Submédio São Francisco. Pela Figura 1 pode-se perceber a diminuição regional dos valores diários de albedo tanto nas áreas irrigadas como nas áreas de caatinga de acordo com o regime de chuvas. A modificação dos valores de albedo está relacionada com as condições de unidade do solo. Com os dados obtidos nos experimentos de campo de H, T a próxima aos dosséis vegetativos e resistência aerodinâmica (r a ), o gradiente vertical de temperatura entre duas alturas foi estimado ( T): H r a T= (5) ρ a c p onde ρ a (kg m -3 ) e c p (J kg -1 K -1 ) são a densidade do ar e o calor específico do ar sob pressão constante. A radiação térmica medida pelo sensor do Landsat precisa ser corrigida tanto por causa da emissão de ondas longas pela atmosfera como pela diferença entre temperaturas radiativa e aerodinâmica. Para correção desses efeitos, os resultados da Equação 5 foram usados para a obtenção de uma regressão entre T 0 (T a + T) e T sat : T = at b (6) 0 sat + Os resultados da regressão apresentaram os coeficientes a = 1,07 e b = -20,17 e um coeficiente de determinação de 0,93. A Equação 6 foi aplicada na obtenção da variação espacial de T 0 para uso no cálculo dos valores regionais de H. A Figura 2 apresenta essa variação para os períodos seco e chuvoso na região de estudo. 4908

Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 4905-4912. T0 (K) 323 (a) (b) 317 311 305 299 293 Figura 2. Valores de temperatura da superfície no momento da passagem do satélite para o período seco em outubro de 2005 (a) e para o período chuvoso em janeiro de 2004, na região semi-árida do Submédio São Francisco. Percebe-se claramente a redução da temperatura em Janeiro, dentro da estação chuvosa, resultante de um efeito conjugado da posição aparente do sol, cobertura de nuvens e umidade do solo. Medições de radiação de ondas longas emitida pela atmosfera (RL ) em conjunto com Ta sobre a caatinga permitiram a obtenção de uma equação de estimativa para a emissividade da atmosfera (εa) descrita em Teixeira et al. (2008b). A equação de Stefan Boltzman foi então aplicada nas imagens conjuntamente com os valores interpolados de Ta das sete estações agrometeorológicas para a obtenção de RL em escala regional. Valores obtidos em campo de radiação de ondas longas emitida pela superfície, juntamente com estimativas de T0 permitiram a obtenção da emissividade da superfície (ε0). Os valores de ε0 foram correlacionados com os valores de NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) obtidos por sensoriamento remoto, onde NDVI : ε 0 = andvi + b (7) onde NDVI é a razão da diferença sobre a soma dos albedos planetários nas bandas de comprimento de onda do infravermelho próximo e do visível. Os valores dos coeficientes a e b foram respectivamente 0,06 e 1,00 com um R2 igual a 0,83. As estimativas de ε0 foram usados com os dados de T0 para obtenção da radiação de ondas longas emitidas pela superfície RL em escala regional. O saldo de radiação para todos os comprimentos de onda foi então obtidos pela diferença entre os saldos de radiação de ondas curtas e longas, sendo o próximo passo a partição desta energia disponível na superfície. 3.2 Obtenção dos componentes do balanço de energia em escala regional Valores do comprimento de rugosidade para transferência de momentum (z0m) descritos em Teixeira et al. (2008b) foram relacionados com parâmetros obtidos por sensoriamento remoto para extrapolação em larga escala: 4909

NDVI z 0 m = exp a + b (8) α0 Com os coeficientes de regressão a = 0,26 e b = -2,21 (R 2 = 0,92), a Equação 8 foi usada para extrapolação de z 0m, necessária para a espacialização de H. Medições obtidas em campo de G e R n, juntamente com medições por sensoriamento remoto de T 0, α 0 e NDVI foram usadas na seguinte regressão múltipla: G R n 0 4 ( aα + b)( 1 0.98NDVI ) = T (9) 0 A regressão gerou os coeficientes a = -0,11 e b = 0,02 com um coeficiente de determinação de 0,87. A Equação 9 foi usada para a espacialização de G. O pixel quente e o pixel frio no presente trabalho foram representados, respectivamente, pela caatinga e pelo pomar de manga irrigado onde os sistemas das correlações turbulentas estavam instalados. As curvas de ET/ET 0 nesses ecossistemas para o ano de 2005 foram usadas para o cálculo de H nestes pixels nos anos em que não se dispunham de dados das torres de fluxos. Nesse último caso, ET foi estimado com dados de ET 0 no momento da passagem do satélite e H foi obtido como resíduo na Equação 1, sendo então T calculado pela Equação 5. A regionalização de T ocorreu assumindo-se sua relação linear co T 0. Os resultados para os valores instantâneos de λe apresentaram um R 2 = 0.93 e um desvio médio de 10%. A seguinte equação foi aplicada na extrapolação dos valores instantâneos para diários: ET = be F R (10) 24 isnt n24 onde E F é a fração evaporativa para o momento da passagem do satélite (E F = λe/r n G) e os subscritos inst e 24 significam valores instantâneos e diários, respectivamente e b é um coeficiente de correção o qual foi encontrado um valor de 1,18 (Figura 3a). O saldo de radiação para 24 horas foi Calculado de acordo com Teixeira et a. (2008b), de posse dos valores de albedo, radiação solar global e transmissividade atmosférica para esta mesma escala de tempo. Após o coeficiente 1.18 ser na Equação 10, a relação entre os valores diários de ET provenientes de experimentos de campo (CP) e de sensoriamento remoto (SR) apresentaram um melhor coeficiente de determinação e um desvio médio bem menor de 1% (Figura 3b). 4910

Evapotranspiração por experimentos de campo 4,0 (a) (b) 3,2 2,4 1,6 0,8 ET CP = 1,18ET SR a ET sat a R 2 = 0,87 field ET =1.18 ET CP = a =1.01 1,01ET ET SR sat a field R 2 = 0,91 R 2 = 0.87 R 2 = 0.91 0,0 0,0 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 0,0 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 Evapotranspiração por sensoriamento remoto Figura 3. Relações da evapotranspiração diária obtida por dados de campo (CP) e por sensoriamento remoto (SR). (a) considerando os valores instantâneos e diários de E F similares. (b) aplicando o fator de correção na extrapolação dos valores instantâneos de E F para valores diários. Os símbolos pretos e brancos são para caatinga e culturas irrigadas, respectivamente. A evapotranspiração regional diária representativa para o período seco e para o período chuvoso do ano é mostrada na Figura 4. ET (mm d -1 ) 5,2 4,2 3,1 2,1 (a) Figura 4. Evapotranspiração diária: (a) para o período seco de outubro de 2005; (b) para o período chuvoso em janeiro de 2007. (b) 1,0 0,0 Durante a época seca, caatinga converteu a maior parte da energia disponível em H, enquanto as culturas irrigadas apresentaram altos valores de ET (Figura 4a). Em geral, os intervalos de irrigação foram curtos durante esse período (irrigação diária) e a aplicação de água foi uniforme, reduzindo o fluxo de calor sensível para a atmosfera nas culturas irrigadas. No período chuvoso, as taxas evapotranspiratórias da caatinga foram, em alguns casos, semelhantes as das culturas irrigadas, sendo uma grande parte da energia disponível convertida em λe (Figura 2b), fazendo com que os valores de E F permaneçam em torno de 0,50 tanto para vegetação natural como para culturas irrigadas. 4. Conclusões As expressões do algoritmo SEBAL necessitaram de calibração para uma maior precisão na estimativa da evapotranspiração atual nas condições semi-áridas do Vale do São Francisco. A comparação direta dos resultados da evapotranspiração atual obtidos por sensoriamento remoto e experimentos de campo evidenciou que a distinção entre escalas instantâneas e diárias é essencial. 4911

A utilização da razão da evapotranspiração atual pela evapotranspiração de referência em conjunto com a equação do balanço de energia no processo de obtenção do fluxo de calor sensível se mostrou bastante eficaz, tornando possível a obtenção da evapotranspiração em escala regional pelo SEBAL mesmo no período chuvoso. 5. Referências Bibliográficas Allen, R.G.; Tasumi, M.; Trezza, R.. Satellite-based energy balance for mapping evapotranspiration with internalized calibration (METRIC) - Model. Journal of Irrigation and Drainage Engineer ASCE, v. 133, p. 380-394, 2007. Bastiaanssen, W.G.M.. Regionalization of surface flux densities and moisture indicators in composite terrain: A remote sensing approach under clear skies in Mediterranean climates. 1995. 273p. Ph.D. dissertation, CIP Data Koninklijke Bibliotheek, Den Haag, The Netherlands. 1995. Duchemin, J.; Hadria, R.; Er-Raki, S.; Boulet, G.; Maisongrande, P.; Chehbouni, A.; Escadafal, R.; Ezzahar, J.; Hoedjes, J.; Karroui, H.; Khabba, S.; Mougenot, B.; Olioso, A.; Rodriguez, J.-C.; Simonneaux, V.. Monitoring wheat phenology and irrigation in Central Morocco: on the use of relationship between evapotranspiration, crops coefficients, leaf area index and remotely-sensed vegetation indices. Agricultural Water Management, v. 79, p. 1-27, 2006. Teixeira, A.H. de C.; Bastiaanssen, W.G.M.; Bassoi, L.H.. Crop water parameters of irrigated wine and table grapes to support water productivity analysis in Sao Francisco River basin, Brazil. Agricultural Water Management, v. 94, p. 31-42, 2007. Teixeira, A.H. de C.; Bastiaanssen, W.G.M.; Moura, M. S. B.; Soares, J. M.; Ahmad, M ud D; Bos, M. G.. Energy and Water Balance Measurements for Water Productivity Analysis in Irrigated Mango Trees, Northeast Brazil. Agricultural and Forest Meteorology, v. 148, p.1524-1537, 2008a. Teixeira, A.H. de C.; Bastiaanssen, W.G.M.; Ahmad, M.D.; Moura, M.S.B.; Bos, M.G.. Analysis of energy fluxes and vegetation-atmosphere parameters in irrigated and natural ecosystems of semi-arid Brazil. Journal of Hydrology, v. 362, p. 110-127, 2008b. Wylie, B.; Johnson, D.; Laca, E.; Saliendra, N.; Gilmanov, T.; Reed, B.; Tieszen, L.; Bruce B.; Worstell, B.. Calibration of remotely sensed, coarse resolution NDVI to CO2 fluxes in a sagebrush-steppe ecosystem. Remote Sensing of Environment, v. 85, p. 243-255, 2003. 4912