ANÁLISE MICROESTRUTURAL DE UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S32304 SUBMETIDO AO PROCESSO DE SOLDAGEM GMAW*

Documentos relacionados
PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

SOLDAGEM TIG. Prof. Dr. Hugo Z. Sandim. Marcus Vinicius da Silva Salgado Natália Maia Sesma William Santos Magalhães

COMPARATIVO ENTRE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX (UNS S32304) PELOS PROCESSOS DE SOLDAGEM POR RESISTÊNCIA E TIG*

EFEITO DA TEMPERATURA DE INTERPASSE DE SOLDAGEM SOBRE A MICROESTRUTURA, DUREZA E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX

ANÁLISE DA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO E AÇO CARBONO COM SOLDA DE ARAME TUBULAR MONOESTABILIZADO E BIESTABILIZADO

Amazonas, 5253, , Belo Horizonte, MG

CAPÍTULO V CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E DE MICRODUREZA

YGOR SILVA MARQUES ROCHA EDUARDO BARBOSA ZAMPROGNO

Influência das condições de tratamento isotérmico sobre a precipitação de fases secundárias em aço inox superduplex

Nos gráficos 4.37 a 4.43 pode-se analisar a microdureza das amostras tratadas a

Influência do aporte térmico sobre a microestrutura em juntas soldadas de aço inoxidável AISI 304

Tratamentos Térmicos de Solubilização e Envelhecimento a 475 o C em Aços Inoxidáveis CF8M

Caracterização microestrutural do aço ASTM-A soldado por GMAW.

Graduanda em Engenharia Metalúrgica, Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil.

INFLUÊNCIA DA VARIAÇÃO DA ENERGIA DE SOLDAGEM NA FORMAÇÃO DA MICROESTRUTURA DO AÇO UNS S32304

Engenheira Metalurgista, Mestranda em Engenharia de Materiais, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil.

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE RECOZIMENTO NA MICROESTRUTURA DO AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO DURANTE A RECRISTALIZAÇÃO*

ALTERAÇÕES MICROESTRUTURAIS ENTRE 550 C E 650 C PARA O AÇO UNS S31803 (SAF 2205) ABSTRACT

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA PRO-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM MATERIAIS

3 Material e Procedimento Experimental

Micrografia Amostra do aço SAF 2205 envelhecida por 768 horas a 750ºC. Sigma (escura). Ataque: KOH.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

CINÉTICA DE PRECIPITAÇÃO DE FASES INTERMETÁLICAS DELETÉRIAS EM AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX UNS S32205

ESTUDO COMPARATIVO DOS MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE PORCENTAGEM VOLUMÉTRICA DE FERRITA EM AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX UNS S31803 (SAF 2205)

PROJETO DE PESQUISA. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco Candidata: Mariana Bortoletto Paschoal n FEI

SOLDAGEM LASER ND:YAG PULSADO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S Resumo

Metalurgia da Soldagem dos Aços Inoxidáveis Duplex

INFLUÊNCIA DO TAMANHO DE GRÃO ORIGINAL NA CINÉTICA DE FORMAÇÃO DE FASE SIGMA EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDÚPLEX

SOLDABILIDADE DOS AÇOS INOXIDÁVEIS RESUMO DA SOLDABILIDADE DOS AÇOS INOXIDÁVEIS

AVALIAÇÃO DA MICROESTRUTURA DOS AÇOS SAE J , SAE J E DIN100CrV2 APÓS TRATAMENTOS TÉRMICOS*

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Engenharia de Materiais/Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S32101: INVESTIGAÇÃO DE REAGENTES 1

Laboratório de Materiais do Centro Universitário da FEI

Aços de alta liga resistentes a corrosão II

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO TÉRMICO NA MICROESTRUTURA E RESISTÊNCIA A CORROSÃO DO METAL DE SOLDA EM AÇO AISI 317L NO PROCESSO FSW

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

Metalurgia da Soldagem Particularidades Inerentes aos Aços Carbono

longitudinal para refrigeração, limpeza e remoção de fragmentos de solos provenientes da perfuração, Figura 10.

EFEITO DO TEOR DE FERRO RESIDUAL NO TAMANHO DE GRÃO E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO LATÃO 70/30*

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE JUNTA SOLDADA DE AÇO ASTM A 131M EH-36 UTILIZADO EM TUBULAÇÕES DE PETRÓLEO E GÁS

INFLUÊNCIA DO GRAU DE DEFORMAÇÃO A FRIO NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE AÇOS DUPLEX DO TIPO 2205

EFEITOS DA ENERGIA DE SOLDAGEM NA MICROESTRUTURA DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S32750 COBEF

Aço Inoxidável Ferrítico com 11% de Cromo para Construção Soldada. Columbus Stainless. Nome X2CrNil2. Elementos C Mn Si Cr Ni N P S

AVALIAÇÃO DO GRAU DE SENSITIZAÇÃO EM JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS GTAW E FCAW EM AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICO AISI 304 E AISI 304 L

EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO NA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES DE IMPACTO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERAUSTENÍTICO ASTM A 744 Gr.

5.RESULTADOS EXPERIMENTAIS E DISCUSSÃO

Aços Inoxidáveis Duplex: Características, aplicação na indústria de Óleo & Gás e soldabilidade

NOÇÕES DE SOLDAGEM. aula 2 soldabilidade. Curso Debret / 2007 Annelise Zeemann. procedimento de soldagem LIGAS NÃO FERROSAS AÇOS.

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

Efeito da temperatura de tratamento térmico sobre a dureza de um ferro fundido branco multicomponente com alto teor de molibdênio

CORROSÃO POR PITES DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS 316L E 317L SOLDADOS PELO PROCESSO GTAW E SOLUBILIZADOS A 1080 C

COMPARATIVO DE TÉCNICAS DE DETERMINAÇÃO DE FASE FERRITA NO AÇO UNS S31803

Efeito dos elementos de liga nos aços

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DA FASE SIGMA NO AÇO INOXIDÁVEL SUPERAUSTENÍTICO ASTM A744

Corrosão por Cloreto em Aços Inoxidáveis Duplex (AID s)

Caracterização da junta soldada multipasses de aço inoxidável duplex UNS S31803

CARACTERIZAÇÃO DE UMA UNIÃO SOLDADA DE AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX*

AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO PARA USO NAVAL PELO PROCESSO TIG

ESTUDO DAS TENSÕES RESIDUAIS GERADAS NA SOLDAGEM GTAW DE AÇO AISI 316L

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA JUNTA SOLDADA COM AÇO INOXIDÁVEL MARTENSÍTICO DE BAIXA TEMPERATURA DE TRANSFORMAÇÃO

Graduanda em Engenharia Metalúrgica, Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil.

Seleção de Materiais

PARÂMETROS DA CINÉTICA DE PRECIPITAÇÃO DE FASE INTERMETÁLICA EM UM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S32750

CORRELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA MECÂNICA E A CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S31803 SUBMETIDO A DIFERENTES TAXAS DE RESFRIAMENTO

ESFEROIDIZAÇÃO DO AÇO SAE 1080*

ANÁLISE TERMODINÂMICA E EXPERIMENTAL DA FORMAÇÃO DA FASE SIGMA EM UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX SAF 2205 *

ESTUDO DE TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE AÇOS INOXIDÁVEIS DÚPLEX POR MEIO MICROSCOPIA ÓPTICA.*

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E ANÁLISES QUÍMICAS SEMI-QUANTITATIVAS DAS FASES FERRITA E AUSTENITA EM AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX*

ANÁLISE DA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS EM AÇO INOXIDÁVEL AISI 439 PARA USO EM SISTEMA DE EXAUSTÃO VEICULAR

Identificação das fases e evolução da microdureza durante a formação de fase sigma em aço inoxidável dúplex SAF 2205

A precipitação de fases ricas em elementos ferritizantes a partir da ferrita, como

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO GÁS DE PURGA NA RAÍZ DE JUNTAS SOLDADAS PELO PROCESSO GTAW EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S32750

ESTUDO DO APORTE TÉRMICO DE SOLDAGEM NO COMPORTAMENTO BALÍSTICO DE UM AÇO DE ALTA DUREZA (HHA HIGH HARDNESS ARMOR)*

Conceitos de metalurgia física de aços inoxidáveis austeno-ferríticos para evitar problemas em serviço

Tratamentos térmicos de aços inoxidáveis

Identificação das Condições de Sensitização em um Aço Inoxidável Austenítico AISI 304 Através da Análise Microestrutural

EFEITO DE DIFERENTES PROCESSOS DE SOLDAGEM SOBRE A MICROESTRUTURA DO AÇO API X52*

MICROESTRUTURA E PROPRIEDADE MECÂNICA DOS AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX UNS S31803 E UNS S32304 APÓS LAMINAÇÃO A FRIO E RECOZIMENTO*

SOLDAGEM MULTIPASSE DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S31803 POR ELETRODO REVESTIDO.

CORROSÃO INTERGRANULAR EM JUNTAS SOLDADAS - PARTE III

SOLDA POR FRICÇÃO EM AÇO CARBONO

EFEITO DA ENERGIA DE SOLDAGEM NA ZONA AFETADA PELO CALOR DO AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO AISI 444

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NA MICROESTRUTURA DOS AÇOS RÁPIDOS AISI M2 E T15

ESTUDO DA FORMAÇÃO DA FASE SIGMA EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX UNS S32750 A 800ºC*

CARACTERIZAÇÃO DE UM AÇO LEAN DUPLEX POR TÉCNICAS ANALÍTICAS*

SOLDAGEM DO AÇO SUPERDUPLEX UNS S32750 COM LASER PULSADO Nd:YAG

ANÁLISE DA FASE SIGMA NO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S31803 POR RECONSTRUÇÃO TRIDIMENSIONAL

ESTUDO COMPARATIVO DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO NAVAL ASTM A131 GRAU AH36 PELOS PROCESSOS SMAW E FCAW

22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil

Keywords: AISI 316 steel, Electrochemical corrosion, Electrochemical polarization spectroscopy

4 Resultados e Discussão

Avaliação das propriedades mecânicas em ligas ferríticas com 5% de Mo e diferentes teores de Cr

GERAÇÃO DE DIAGRAMA TTP DE FORMAÇÃO DE CARBONETOS DE CROMO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO TIPO 316 USANDO O DICTRA

Análise do perfil de microdureza e do refino de grão em juntas soldadas multipasse do aço API 5L X65

4 Resultados (Parte 01)

INVESTIGAÇÃO DAS ALTERAÇÕES MICROESTRUTURAIS ENTRE 500 C E 650 C NO AÇO UNS S31803

GERAÇÃO DE DIAGRAMAS TTP E TRC PARA O AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO TIPO 254SMO USANDO O DICTRA

Efeitos do Envelhecimento Térmico na Microestrutura e na Resistência à Corrosão do Metal de Solda de Aço AISI 317L

ESTUDO DA SENSITIZA ÇÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 321 QUE OPERAM EM REFINARIA DE PETRÓLEO EM TEMPERATURAS ENTRE 500 E C.

Transcrição:

ANÁLISE MICROESTRUTURAL DE UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S32304 SUBMETIDO AO PROCESSO DE SOLDAGEM GMAW* Thales Renó Grilo 1 Rodrigo Pinto Siqueira 2 Gisele da Silva Arruda 3 Jefferson Fabrício Cardoso Lins 2 Resumo O presente trabalho teve como objetivo analisar as diferentes microestruturas do aço inoxidável duplex UNS S32304 obtidas pelo processo de soldagem Gas Metal Arc Welding (GMAW). As regiões do metal base, zona fundida e zona afetada pelo calor foram investigadas nos corpos de prova com diferentes aportes térmicos. As microestruturas obtidas foram caracterizadas utilizando-se a microscopia óptica (MO). As imagens de Mo obtidas na zona afetada pelo calor mostram que a fração de austenita aumentou com o aumento do aporte térmico. Este aumento está relacionado ao alto teor de cromo e molibdênio presentes no metal de adição utilizado na soldagem. Na zona fundida, a fração de austenita de widmansttaten foi observada com maior frequência na microestrutura do corpo de prova soldado com o aporte térmico de 1,87KJ/mm. Essa maior fração de austenita de widmansttaten observada para o aporte térmico de 1,87KJ/mm está relacionada com o maior tempo de permanência em altas temperaturas deste corpo de prova em relação aos outros corpos de prova investigados. Vale ressaltar que a adição de nitrogênio também promove a formação desta fase. De modo geral, os resultados da metalografia quantitativa mostram que a porcentagem de ferrita foi superior a 65% nas zonas termicamente afetadas e fundidas. Palavras-chave: Aços inoxidáveis duplex; Soldagem; GMAW; Fase sigma; Microestrutura. MICROSTRUCTURAL ANALYSIS OF A DUPLEX STAINLESS STEEL UNS S32304 SUBMITTED TO GMAW WELDING PROCESS. Abstract The microstructures of the duplex stainless steel obtained by the Gas Metal Arc Welding (GMAW) were evaluated. The base metal, fusion zone and the heat-affected zone were investigated in the samples with different heat inputs. The microstructures were characterized using light microscopy (LM). The LM images obtained in the heat-affected zone shows that the austenite volume fraction increased with the heat input increase. This increase is related to high contents of the chromium and molybdenum present in the filler metal used in welding. The fusion zone, the widmansttaten austenite volume fraction was observed more frequently in the microstructure with heat input of 1,87KJ/mm. This higher widmansttaten austenite volume fraction with the heat input of 1,87KJ/mm is related to the higher cooling time at high temperatures in this sample in relationship to the others investigated samples. It is noteworthy that the addition of nitrogen also promotes this phase. In general, the results of the quantitative metallography showed that the percentage of ferrite was greater than 65% in the heataffected and fusion zones. Keywords: UNS 32304; Welding microstructure; GMAW; Sigma-phase; Microestruture. 1 Mestrando em engenharia metalúrgica, Engenheiro metalúrgico, Programa de pós-graduação em engenharia metalúrgica, Universidade Federal Fluminense (UFF), Volta Redonda, RJ, Brasil. 2 Doutor em engenharia de materiais, Engenheiro de materiais, Programa de pós-graduação em engenharia metalúrgica, UFF, Volta Redonda, RJ, Brasil. 3 Graduando em engenharia metalúrgica, UFF, Volta Redonda, RJ, Brasil. 731

1 INTRODUÇÃO Os aços inoxidáveis duplex (AID) foram introduzidos no mercado durante a década de 1930. Nas duas últimas décadas, seu uso tem se tornado muito frequente em diversos setores industriais [1]. Com interesse de manter a resistência à corrosão localizada equivalente aos aços inoxidáveis austeníticos AISI 304L e 316L e reduzir o custo com relação aos AID, foram desenvolvidos os aços inoxidáveis lean duplex (AILD). Vale ressaltar que estes aços possuem teores reduzidos de molibdênio e níquel. Dentre esses aços AILD, o mais comumente utilizado é o UNS S32304. Diversas aplicações dos AILD foram reportadas na literatura [2], tais como, em tanques de estocagem na indústria de papel e celulose,na indústria offshoree também em tanques de armazenamento de alimentos. Os aços inoxidáveis duplex têm sido recentemente atraídos pelo grande interesse devido a sua combinação de economia de custos e propriedades desejadas para este aço tais como alta resistência mecânica, à corrosão localizada, à abrasão e ao desgaste. Essas propriedades dependem de uma microestrutura formada pelas fases ferrita e austenita em proporções praticamente iguais. Isso resulta em uma significativa quantidade de elementos de liga, bem como um baixo teor de carbono. Dependendo da quantidade dos elementos de liga presentes no aço AILD e do tratamento térmico aplicado, pode-se precipitar diferentes fases tais como sigma (σ) e Chi (χ) entre outras. Estas fases precipitam preferencialmente na ferrita, pois a difusão de elementos de liga na ferrita é cerca de 100 vezes maior do que na austenita, sendo a fase sigma o precipitado mais importante [3]. As fases σ e a fase Chi que podem precipitar durante a conformação a quente ou também em operações de soldagem são as mais indesejáveis, pois podem causar sensitização no aço. A fase sigma pode precipitar entre as temperaturas de 600 C e 1000 C [4]. A manutenção de quantidades próximas de fases ferrítica e austenítica é muito importante na soldagem desses aços AILD. Para isso, o controle do aporte térmico é bastante desejável. A literatura recomenda que o aporte térmico esteja entre os valores de 0,5KJ/mm e 2,5KJ/mm para a soldagem dos aços inoxidáveis duplex em geral [5]. Neste contexto, Aguiar e colaboradores [6] fizeram um comparativo da fração volumétrica das fases ferrita e austenita utilizando a técnica de difração de elétrons retroespalhados (EBSD) com o objetivo de caracterizar a microestrutura especialmente a sua morfologia e a constituição do aço inoxidável lean duplex. Estes resultados foram comparados com outros resultados obtidos usando a técnica de microscopia óptica. A soldabilidade dos aços inoxidáveis duplex é considerada inferior ao dos aços inoxidáveis austeníticos. Em geral a maior parte do problema da soldabilidade dos aços duplex resultam da redução da quantidade da austenita particularmente na zona fundida, na zona afetada pelo calor e precipitação de nitretos [7,8,9]. No presente trabalho teve por objetivo analisar e quantificar as fases presentes nas amostras soldadas via GMAW com o metal de adição OK Autrod 2509 com aporte térmico dentro da faixa especificada entre 0,5 e 2,5KJ/mm. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho, o material utilizado foi o aço inoxidável duplex UNS S32304 fornecido gentilmente pela Aperam South America na condição laminado a quente. Os corpos de prova (4 unidades) foram confeccionados no formato de chapas com 732

dimensões de 60x150x9mm. Em cada corpo de prova foi utilizado o processo de soldagem GMAW variando o aporte térmico com simples deposição sobre a chapa sem utilização de chanfro. A composição química do aço UNS S32304 utilizado neste trabalho pode ser observada na Tabela 1. Neste trabalho foi utilizado o metal de adição OK Autrod 2509 da marca ESAB de diâmetro de 1,2mm. A Tabela 2 apresenta a composição química do metal de adição. Tabela 1. Composição química do AID UNS S32304 (% em peso) C Mn Si P Cr Ni Mo Cu Co V Nb Sn W 17 1,34 9 0,3 56 25 22,5 58 3,5 72 0,25 9 0,4 24 36 33 14 0,9 93 10 Tabela 2. Composição química do metal de adição (% em peso) C Mn Si Cu Cr Mo Ni W <2 0,40 0,40 <0,3 25,0 4,00 9,80 < 1,0 O gás de proteção utilizado foi o Ar-CO2-N2 de composição química patenteada pela White Martins/Praxair. Para todos corpos de prova foi utilizado a mesma vazão de gás. Os corpos de prova soldados com os diferentes aportes térmicos podem ser observados na Figura 1. Figura 1. CPs soldados com aporte térmico de 1,87KJ/mm, 1,32KJ/mm, 1,09 KJ/mm, 0,74KJ/mm. Os parâmetros de soldagem, corrente (A) e voltagem em Volts (V) foram mantidos constantes. A velocidade de soldagem variou com o intuito de produzir um aporte térmico desejado. Estes parâmetros são apresentados na Tabela 4. Tabela 4. Parâmetros de soldagem utilizados. Corpo de Corrente Voltagem Velocidade Aporte prova (A) (V) (mm/s) (KJ/mm) 1 310 32 5,3 1,87 2 310 32 7,5 1,32 4 310 32 9,1 1,09 8 310 32 13,4 0,74 térmico 733

Ao término da soldagem, uma amostra de cada corpo de prova foi retirada. Essas amostras foram preparadas metalograficamente utilizando-se uma lixadeira/politrizecomet 250 da Buehler com a sequência de lixas: 200, 320, 500, 600, 800, 1000, 1200, 2400(mesh). Em seguida, o polimento das amostras foi feito utilizando-se a politriz rotativa da marca Struers com pasta de diamante na sequência: 6µm, 3µm, 1µm e posteriormente realizou-se o polimento com sílica coloidal. Com as amostras devidamente polidas, o ataque químico por imersão foi realizado utilizando a solução BEHARA II. O tempo de imersão das amostras foi de 10s. O exame metalográfico foi feito em um no microscópio óptico da marca LeitzMetallovert. A fração volumétrica das fases foi determinada seguindo a norma ASTM E562 utilizando o programa de análise de imagens marca Image-Pro Plus. Cada medida representa a média de 25 campos amostrados utilizando a ampliação de 500 vezes para as amostras do metal base, zona fundida e zona termicamente afeta exceto para a zona termicamente afeta da amostra com aporte térmico de 0,74KJ/mm que foi utilizado 1000 vezes. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ISSN 1516-392X A Figura 2 apresenta a micrografia do metal na condição inicial laminado a quente. A micrografia mostra uma região do metal base na qual os grãos estão dispostos de forma alongada na direção de laminação (DL). A microestrutura é formada por grãos lamelares de ferrita (fase escura) e de austenita (fase clara) dispostos alternadamente. Esta amostra na condição inicial foi utilizada para efeito de comparação com as outras amostras soldadas. Podemos observar que as lamelas de austenita não são contínuas devido ao processo de laminação. Figura 2. Microestrutura do metal base. A seta indica a direção de laminação (DL). As frações volumétricas de austenita e de ferrita foram obtidas. O valor de fração volumétrica determinado foi muito próximo do encontrado na literatura, o valor de 57±4% para a ferrita e de 42±4% para a austenita [6]. Para a zona fundida, as frações volumétricas de austenita e de ferrita determinadas para os diferentes aportes térmicos são mostrados na Tabela 5. 734

Tabela 5. Fração volumétrica de ferrita e austenita das amostras soldadas com diferentes aportes térmicos na zona fundida. Aporte térmico(kj/mm) Austenita Ferrita 0,74 17,1 82,9 1,09 18,2 81,8 1,32 20,1 79,9 1,87 25,5 74,5 Com o aumento do aporte térmico, pode-se observar que a fração volumétrica de austenita aumenta significativamente devido ao maior tempo de resfriamento. A amostra com aporte térmico de 1,87KJ/mm permanece por um tempo mais longo nas temperaturas entre 1300 e 1400 C. Esta faixa de temperatura promove a transformação da ferrita em austenita [7]. Na Figura 3 podemos observar as micrografias da zona fundida das amostras soldadas com diferentes aportes térmicos de 1,87KJ/mm, 1,32KJ/mm, 1,09KJ/mm e 0,74KJ/mm. (a) (c) (b) (d) Figura 3. Microestrutura da zona fundida das amostras com aporte térmico de 1,87KJ/mm(a), 1,32KJ/mm(b), 1,09KJ/mm(c) e 0,74KJ/mm. 735

Na soldagem, as propriedades mecânicas estão diretamente relacionadas com a microestrutura formada na zona fundida. Como esse aço contém elementos ferritizantes e austenitizantes, a solidificação pode-se iniciar tanto da formação da austenita como da ferrita delta. A transformação de fase é um fenômeno cuja nucleação heterogênea requer um substrato[10]. Na literatura, verificou-se que a adição de nitrogênio juntamente com aporte térmico elevado proporcionou uma maior formação de ferrita de Widmanstätten, pois o tempo de permanência em altas temperaturas é maior de modo que a adição de nitrogênio facilita a formação de ferrita de Widmanstätten [11,12]. Com o aumento do aporte térmico, a precipitação da fase austenita mais alongada com morfologia de widmansttaten foi ainda maior, como indicado por setas na micrografia da Figura 3. Esta fase pode ser nucleada tanto na interface entre grãos ferríticos e austeníticos como também pode ser formada a partir da austenita alotriomórfica formada no contorno de grão da ferrita [8,9]. Vale ressaltar que na zona fundida, o valor percentual da fase ferrita esteja na faixa de 35 a 65%, de modo a aliar boa resistência à corrosão e boas propriedades mecânicas [13]. Quando os teores estão excessivamente altos de ferrita, a fragilidade pode ocorrer. Todos os aportes térmicos utilizados neste trabalho tiveram um teor de ferrita superior a 65%. Portanto, pode-se afirmar que esse efeito está relacionado ao metal de adição que possui alto teor de elementos ferritizantes tais como cromo e molibdênio. A micrografia da zona termicamente afetada (ZTA) pode ser observada na Figura 4. Com a diminuição do aporte térmico, obteve-se uma menor região de ZTA, o que ocasionou uma diminuição do tamanho de grão austenítico. As porcentagens de ferrita e austenita encontradas na ZTA dos diferentes corpos de prova são apresentadas na Tabela 6. (a) (c) 736

(b) (d) Figura 4. (a) Zona afetada pelo calor da amostra 1 amplitude de 150µm,(b) Zona afetada pelo calor da amostra 2 com amplitude de 150µm,(c) Zona afetada pelo calor da amostra 4 com amplitude de 75µm e (d) Zona afetada pelo calor da amostra 8 com amplitude de 75µm. A microestrutura acima revela que com o maior aporte térmico observamos essencialmente um tamanho de grão elevado. É possível notar que uma pequena quantidade de austenita está presente em alguns contornos de grão. Portanto a força motriz para a formação de partículas de austeníta durante o resfriamento é um maior tempo em temperatura superior a 1000 C na amostra com maior aporte térmico [14]. Tabela 6. Fração volumétrica de ferrita e austenita das amostras soldadas com diferentes aportes térmicos na zona afetada pelo calor. Aporte Austenita Ferrita térmico(kj/mm) 0,74 17,9 82,1 1,09 18,1 81,9 1,32 19,9 80,1 1,87 19,8 80,2 No resfriamento dos AID, parte da ferrita é transformada em austenita primária. Caso esse resfriamento seja muito rápido, a formação da austenita primaria pode ser prejudicada, obtendo-se uma microestrutura metaestável com elevados teores de ferrita ou da austenita secundária. A austenita secundária pode precipitar a partir da ferrita ou da austenita primaria durante a soldagem [15]. Na Figura 4, a austenita secundaria no interior do grão é indicada pela seta. Na amostra soldada com aporte térmico de 1,87KJ/mm foi encontrada uma maior quantidade de finas partículas aciculares de austenita secundária do que nas outras amostras. Desta forma, pode-se atribuir essa maior quantidade de austenita secundaria ao maior tempo de difusão. A literatura relata que o processo de nucleação e crescimento desta austenita acicular apresenta uma cinética de transformação do tipo curva em C", o que sugere que a transformação é controlada por difusão [16]. Com o maior aporte térmico aplicado, a precipitação da fase austenítica ocorreu de forma intensa tanto na região de contorno de grão como também na região central do grão. Com a progressiva diminuição do aporte térmico, a fase austenítica precipitou-se preferencialmente na região de contorno de grão. Isto ocorre devido à 737

diminuição do tempo de resfriamento, desta forma, não há tempo suficiente para a formação da austenita na região central do grão [6]. 4 CONCLUSÃO Neste trabalho foi realizada a soldagem sobre uma chapa de aço inoxidável UNS S32304 pelo processo GMAW com os diferentes aportes térmicos. A caracterização de regiões tais como metal de base, zona fundida e zona termicamente afetada permite as seguintes conclusões: a) Na zona fundida, o aumento do aporte térmico proporcionou uma maior precipitação da austenita com morfologia de widmansttaten. b) Na zona termicamente afetada. Pode-se concluir que a variação do aporte térmico influenciou de forma pouco significativa a variação das frações volumétricas de ferrita e austenita. c) A precipitação de fase sigma não foi encontrada em nenhuma das amostras estudadas neste trabalho. Isto pode ser explicado devido ao pouco tempo em que as amostras foram expostas a faixa de temperatura de formação da fase sigma. d) Os resultados obtidos sugerem que a amostra soldada com aporte térmico de 1,87KJ/mm permaneceu mais tempo na faixa de temperatura entre 1300 C e 1400 C, portanto, tendo maior fração volumétrica de austenita [7]. e) Todas as condições de soldagem nesse trabalho apresentaram uma fração de ferrita superior a 65%. Agradecimentos À CAPES, ao CNPq e à FAPERJ pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ISSN 1516-392X 1 Gosh,S.K.;Mondal, S., High temperature ageing behaviour of a duplex stainless steel, ELSEVIER, abr.2008. 2 Souza, G.C.;Pardal, J.M.; Tavares, S.S.M. et al., Avaliação da Proporção de Fases em Juntas Soldadas de Tubulações de Aço Inoxidável Duplex Mediante Aplicação de Ensaios Não Destrutivos, soldagem einspeção, V.18, n.02, p.158-168, Abril. 2013. 3 Berecz, T.; Szabo, P.J., Crystallographic relations during decomposition of the ferritic phase by isothermal ageing of duplex stainless steel. Journal of Applied Crystallography, vol.46, p.135-141,2013. 4 Tavares, S.S.M.; Pardal, J.M;Guerreiro, J.L. et al.,magnetic detection of sigma phase in duplex stainless steel UNS S31803,Journal of Magnetism and Magnetic Materials, v.322,l29-l33. 2010. 5 Zamprogno E. B; Rocha Y. S. M. ; Luz, T. S.,influência da variação da energia de soldagem na formação da microestrutura do aço uns s32304, VI national congress of mechanical engineering,agosto, 2010. 6 Aguiar, I.V; Escobar, D.P. et al., Microstructure characterization of a duplex stainless steel weld by electron backscattering diffraction and orientation imaging microscopy techniques, Revistamateria, v.20, n.01,p.212-226, Set.2014. 7 Badji, R.; Bouabdallah, M.; Bacroix, B. et al., Phase transformation and mechanical behaviorin annealed 2205 duplex stainless steel welds, Materials Characterization, v.59, n.4, p. 447-453, Abril.2008. 738

8 Koussy, M.R.; Mahallawi, I.S.; Khalifa, W. et al., Effects of thermal aging onmicrostructure and mechanical properties of duplex stainless steel weldments, Materials Science andtechnology, v.20, n.3, p. 375-381, Mar.2004. 9 Chan, K. W. ; Tjong, S. C, Effect of Secondary Phase Precipitation on the Corrosion Behavior of Duplex Stainless Steels, Materials, v.7, p. 5268-5304, Jul.2014. 10 Bhadeshia, H. K. D. H. et al. The austenite grain structure of low-alloy steel weld deposits. JournalofMaterials Science, v. 23, pp. 3947-3951, 1986. 11 Chen, T. H.; Yang, J. R. Microstructural characterization of simulated heat affected zone in a nitrogen-containing 2205 duplex stainless steel. Materials Science and Engineering A338 166-181, 2002. 12 Nunes, E. B.; Batista, H. J.; Barreto, A. S. et al.influência da Energia de a na Microestrutura e na Microdureza de Revestimentos de Aço Inoxidável Duplex, Soldagem e inspeção, v. 17, n.2, p. 114-122, Abril. 2012 13 Nunes, E. B.; Batista, H. J.; Barreto.Efeito da Energia de Soldagem sobre a Microestrutura e Propriedades Mecânicas da Zona Afetada pelo Calor dejuntas de Aço Inoxidável Duplex, Soldagem e inspeção, v.16,n. 3, p. 223-231, julho. 2010. 14 Shewmon, P.G.; Transactions of the metallurgical society of AIME, New York, v.233, p. 736-748.1965. 15 Londono, A. J. R. Precipitação de fases intermetálicas e austenita secundária na ZAC de soldagens multipasse de aços inoxidáveis duplex. Tese (Doutorado) - Departamento de Eng. Metalúrgica, Escola Politécnica, U. de São Paulo, São Paulo, 2001. 16 Távara, S. A. et al. Influence of nickel on the susceptibility to corrosion fatigue of duplex stainless steel welds. International Journal of Fatigue 23 619 626, 2001. 739